Quando se fala em samba, o cenário natural que vem à cabeça é o Rio de Janeiro. Berço do mais brasileiro dos ritmos, palco maior das escolas de samba, a Cidade Maravilhosa é a cidade do samba. São Paulo é quase o contraste. Cidade que não dorme, que abriga todos os povos, todos os ritmos e que tem em seus nativos um estereótipo longe do que se convenciona a chamar de sambista.

São Paulo, porém, também é terra de muito samba. Logo no início do Século XX, Grupos Carnavalescos surgiam para brincar o Carnaval. O primeiro deles nasceu em 1914, o Grupo Carnavalesco Barra Funda que, de camisas verdes e calças brancas, saía pelas ruas para festejar. Anos depois, o grupo viraria o Cordão e posteriormente a escola de samba Camisa Verde e Branco.

Os grupos viraram blocos e os blocos viraram escolas. Na década de 40, surgiram os primeiros concursos de escolas de samba, mas foi apenas em 1968 que os desfiles foram oficializados e a festa passou a fazer parte do calendário da Terra da Garoa. A iniciativa foi do então Prefeito Faria Lima, carioca de Vila Isabel e apreciador do samba. Na Avenida Tiradentes, o Carnaval Paulistano rapidamente explodiu e logo superou a Folia de Santos, com quem competiu em igualdade por muitos anos, culminando inclusive na criação de um campeonato Estadual de Escolas de Samba que, a princípio, era sempre vencido pelas agremiações da Baixada.

Camisa Verde e Branco, Nenê de Vila Matilde e Vai-Vai fizeram história na Avenida e se sagraram as maiores campeãs. Hegemônico na década de 70, o Camisa conquistou sete títulos e foi a maior campeã dos desfiles oficiais na Tiradentes. A Vai-Vai ganhou seis e a Nenê cinco, mas a Águia da Zona Leste já havia levantado taça no período pré-oficial em outras seis oportunidades.

A “segunda linha” das grandes escolas era composta pelo trio Unidos do Peruche, Mocidade Alegre e Rosas de Ouro. A Peruche, no entanto, havia ganho todos os seus cinco títulos antes da oficialização. A Mocidade Alegre foi quatro vezes campeã e a Rosas de Ouro levou dois canecos, sendo todos os seis pós-oficialização.

Hegemônica nos primeiros anos do Carnaval, a Lavapés já estava longe dos seus dias mais gloriosos, enquanto outras agremiações hoje mais tradicionais apareciam com algum destaque vez ou outra, como a Unidos do Morro da Vila Maria (hoje só Unidos de Vila Maria), a Acadêmicos do Tucuruvi, a Morro da Casa Verde, a Acadêmicos do Tatuapé e a Pérola Negra.

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O Carnaval de São Paulo passou a ser grande demais para a Avenida Tiradentes. Já famoso no Brasil, o ápice da fama veio em 1985, quando a Riotur convidou a campeã de São Paulo para participar do Desfile das Campeãs do Rio, sendo a Nenê a primeira paulistana a pisar na Sapucaí. Com o tempo, passou a crescer a ideia de se construir um Sambódromo.

Em 1990, começou a crescer o desejo da construção do Sambódromo por parte da prefeita Luiza Erundina, então filiada ao PT. Entretanto, o projeto encontrava forte resistência por parte da bancada oposicionista na Câmara dos Vereadores. A licitação para o início das obras foi aprovada somente em junho de 1990. O custo, à época, era orçado em 9 milhões de dólares.

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Em janeiro de 1991, a Folha de S. Paulo já noticiava que a procura por ingressos para o desfile de nove de fevereiro, o primeiro no Sambódromo, era baixíssima. O novo palco do samba paulistano estava muito inacabado. Para se ter uma ideia, apenas pouco mais de 10 mil lugares estavam disponíveis. A iluminação era péssima e o Anhembi lembra em quase nada o Anhembi dos tempos atuais.

A disputa na Avenida prometia ser acirrada. Dez escolas desfilariam no sábado de Carnaval pelo Grupo Especial pela glória de ser a primeira campeã do Sambódromo. Campeãs de 1990, as últimas na Avenida Tiradentes, Camisa Verde e Branco e Rosas de Ouro buscavam defender o título com enredos sobre a cerveja e sobre a ascensão da mulher na sociedade brasileira, respectivamente.

Vice-Campeã, a Unidos do Peruche traria para a Avenida um enredo que falava sobre quem arriscou tudo para atingir seus objetivos. Sempre favorita, a Vai-Vai falaria da arte dos negros, enquanto a Leandro de Itaquera faria uma crítica a quem queria acabar com o Brasil. A Barroca da Zona Sul falaria sobre a moda, a Mocidade Alegre também apostaria na crítica ao Brasil, comparando os planos econômicos recentes a outros que deram errado.

A Nenê de Vila Matilde tentaria superar o resultado ruim de 1990 falando sobre mentiras. Voltando ao Grupo Especial, Águia de Ouro e Passo de Ouro fechavam o Grupo das grandes escolas com uma homenagem aos italianos da Cidade de São Paulo e falando sobre quem perdeu a cabeça, respectivamente.

Em 9 de fevereiro de 1991, a escola de samba Passo de Ouro entrava para a história como a primeira a fazer um desfile oficial no Sambódromo do Anhembi. As arquibancadas ainda eram improvisadas e a pista sequer estava pintada como atualmente. Com o enredo “Cabeças e Plumas”, a escola apresentava um conjunto visual simples, mas ligeiramente luxuoso para os padrões da época.

O enredo era bem humorado, mas ficou ligeiramente confuso. A escola apresentou uma divisão cromática que apostava em muitas cores, mas em alegorias e fantasias monocromáticas. Ou seja: tudo de uma cor só, mas repetindo pouco. A preocupação com o tamanho dos carros foi grande, mas era visível que a escola não conseguia ocupar todo o espaço de 14 metros de largura do Anhembi.

O carro que representava Medusa, todo em verde, é de fazer quem conhece apenas o Carnaval de hoje perguntar qual era aquele bloco com uma alegoria tão fraca. O samba não era dos melhores, mas a bateria teve um bom desempenho. No fim das contas, foi uma apresentação simpática para a abertura da noite.

Segunda escola da noite, a Águia de Ouro homenagearia os imigrantes italianos com o enredo “São Paulo, Pátria Mia”. O visual da escola me pareceu bem pior que o da Passo de Ouro. Os carros praticamente não tinham adereços. Os que representavam o barco em que os italianos chegavam ao Brasil e a Estação de Luz estavam sofríveis. O carro dos cortiços tinha apenas algumas representações simples de casas pichadas com uma destaque vestida como uma típica italiana.

O desenvolvimento do enredo me soou confuso, misturando características históricas dos italianos com a herança deixada na capital paulista. O samba era relativamente bom, misturando características da década de 90 com outras que só viriam a aparecer com mais frequência no Século XXI. O ponto negativo era um “lalalaiá” em ritmo de tarantela, que complicou bastante a vida da bateria. O intérprete Douglinhas Aguiar já se mostrava um dos melhores da cidade no quesito incendiar a Passarela. Para piorar, a escola teve que trocar a ordem de algumas alas por problemas na evolução. O rebaixamento era praticamente inevitável.

A terceira escola a desfilar no Anhembi foi a Nenê de Vila Matilde com o confuso enredo “É tudo mentira, será que é?”. Em crise, a escola contou com a boa vontade do experiente Tito Arantes, então Carnavalesco da Mocidade Alegre, que deixou a Morada para assinar o desfile da Águia. Além do mais, o intérprete era o famoso Armando da Mangueira e ainda tinha Dom Marcos fazendo os cacos.

O enredo era confuso, mas bem humorado. O abre-alas mostrava que a história da cegonha era mentira, mas o bebê era de verdade. A escola tinha claras dificuldades financeiras mostradas no acabamento dos carros, mas vinha relativamente luxuosa. Com a divisão cromática sempre pendendo para o azul e o branco criava um ótimo efeito. A fantasia do segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira, toda em azul claro, não me agradou, ainda mais por deixar o mestre-sala “pelado” na cabeça.

Apesar da chuva que começava a castigar o Anhembi, os componentes se mostravam empolgados, muito por conta do samba, que era tido como um dos melhores do ano, além de ser muito bem humorado, e da performance irrepreensível da Bateria de Bamba.

Passado o abre-alas, os carros perderam totalmente o luxo e a imponência. Mais modestos, perderam um pouco do bom gosto, mas ainda assim eram muito superiores aos das duas agremiações anteriores. E apesar da boa vontade das antecessoras, a Nenê foi a primeira a enfim levantar o Anhembi.

Apesar de todas as dificuldades, a Nenê fez um desfile que poderia a credenciar para uma boa colocação. Pensar em título poderia ser um pouco de exagero e se tornou impossível depois que a chuva foi, aos poucos, desmanchando o ótimo trabalho de Tito Arantes. Ao menos, não havia mais qualquer risco de rebaixamento como nos anos anteriores.

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Com o enredo “O negro em forma de arte”, a Vai-Vai foi a quarta a pisar na Avenida. Com pista seca, o excelente samba cantado com correção por Thobias da Vai-Vai sacudiu as arquibancadas do Anhembi. O tema era fácil de ser carnavalizado e ganhou um desenvolvimento muito correto.

Com um “chão” impressionante, a bateria deu show com paradinhas e bossas muito criativas, especialmente no que se pode chamar de “quase refrão” principal. Os componentes evoluíam com alegria e o conjunto visual era muito interessante. A divisão cromática não era das melhores e o luxo também não estava muito presente, mas tudo estava muito bem acabado e pertinente ao enredo.

Desde Angola passando por Aleijadinho, a cozinha, a religião e chegando as expressões artísticas mais comuns dos negros como o próprio samba, a Vai-Vai fez um desfile que se destacou mais pelos quesitos de pista do que pela plástica. Por outro lado, praticamente não errou e se colocou como a primeira favorita ao título. Foi indiscutivelmente a melhor das quatro escolas que já haviam desfilado.

Passando por um período conturbado em que não estava nem entre as melhores, mas nem entre as piores, a Mocidade Alegre foi a quinta a abrir seu desfile com o enredo “A história se repete”. A crítica aos planos econômicos mirabolantes feitos pelo Governo ganhou uma excelente apresentação da Morada do Samba.

O abre-alas representando as caravelas que chegaram ao Brasil foi o melhor e mais luxuoso carro a desfilar no Anhembi até então. Apesar dos problemas financeiros que a escola atravessava, tendo que inclusive que recorrer a um Carnavalesco de Florianópolis, o primeiro carro era grande e acima dos padrões da época.

O enredo costumava contando a história de D. João, que levou o ouro do Brasil e provocou a primeira crise financeira no país. A partir daí, a “Mocidade modernizada”, como dizia seu Carnavalesco, fazia um passeio bem humorado pela história das crises econômicas atravessadas pelos brasileiros.

A crítica, apesar do bom humor, era pesada. A representação da Coroa Imperial tinha ratos saindo do símbolo máximo do Império. O samba tinha talvez a melhor letra do ano, com versos bastante interessantes como: “surge a cada plano uma esperança / desde o tempo do Império a história se repete / é sempre assim / é um sururu danado / vai ao banco é feriado / na mudança do poder / e o povo vai tocando como pode”.

A bateria, apesar da exibição correta, não se destacou em um desfile além das condições econômicas da escola. A impressão passada, porém, é que o dinheiro acabou depois do abre-alas. Os outros carros, apesar da genial concepção, estavam pessimamente mal desenvolvidos.

Um exemplo claro é o segundo carro chamado de “Aquazélia do Brasil”. Brincando com a música Aquarela do Brasil, ele trazia um “pacotão dourado” com a imagem da então Ministra da Fazenda, Zélia Cardoso, dando uma banana para o povo. Genial, apesar de mal acabado. No fim das contas, a Morada do Samba fez uma apresentação bastante simpática, que animou o público, mas que não deu à escola muitas esperanças de título.

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“De piloto de fogão a chefe da Nação”. Uma das campeãs de 1990, a Rosas de Ouro trazia um enredo muito à frente do seu tempo. Vinte anos antes de Dilma Rousseff assumir a Presidência da República, a escola da Freguesia do Ó já falava sobre as conquistas da mulher no sexto desfile da noite.

O “pede passagem” da agremiação já era mais luxuoso que mais da metade dos carros que haviam passado pela passarela nos cinco desfiles anteriores. A divisão cromática proposta pelo excelente Carnavalesco Raúl Diniz se mostrou bastante pertinente ao enredo. Raúl usou bastante das cores ditas femininas, especialmente, é claro, o rosa, mas também usou muito branco. Foi um desfile de cores leves, que remetiam de fato ao universo feminino.

O abre-alas não foi o melhor a passar pela Avenida em 1991, mas era bonito e bem acabado. As fantasias transbordavam bom gosto e as alegorias, ao contrário do que se viu nas cinco apresentações anteriores, mantiveram um padrão de qualidade do início ao fim. A crítica fica por conta do desenvolvimento do enredo, que em alguns momentos parecia ser mais sobre culinária que sobre a mulher. Raúl propôs os primeiros setores falando justamente do tato da mulher para fazer maravilhas na cozinha e só depois falar de direitos e conquistas.rosas1991b

O samba-enredo também não era dos mais poéticos com versos inacreditáveis como “caldo cheiroso e gostoso / separa a gema do ovo / para poder melhorar”, também tinha problemas melódicos, mas conquistou o Anhembi e foi cantado a plenos pulmões pelos componentes, muito por conta da aula de interpretação dada por Royce do Cavaco, que conseguia cantar com correção ao mesmo tempo em que empolgava a Avenida com cacos e gritos de empolgação sensacionais. Foi uma apresentação que credenciou a Roseira mais uma vez a brigar pelo título.

Depois da excelente apresentação da Rosas, foi a vez da Unidos do Peruche pisar na Avenida. E ao menos no quesito intérprete, não dava para reclamar. A voz feminina de Eliana de Lima foi mais uma vez um dos destaques do Carnaval na interpretação do enredo “Quem não arrisca não petisca”.

O desfile da Filial do Samba sobre quem se arriscou através dos tempos alternou bons e maus momentos. O primeiro carro, por exemplo, ficou muito abaixo do pede passagem da Rosas, mas, as fantasias, embora simples, conseguiram bom efeito em mais um enredo bem humorado.

O samba, embora também não fosse lá muito poético, era animado e foi bem cantado, enquanto a bateria optou por uma apresentação bastante conservadora e acompanhou bem o samba. A harmonia teve bom desempenho e ajudou a salvar um desfile muito prejudicado plasticamente. A divisão cromática optou por carros quase monocromáticos e não conseguiu bom efeito. Foi uma apresentação sem grande destaque, típica de meio de tabela, que melhorou bastante em sua segunda metade, mas sem dar maiores esperanças aos torcedores perucheanos, muito por conta do enredo confuso e que não transmitiu uma mensagem muito clara.

Já com o dia claro, a Barroca Zona Sul entrou na Avenida para confirmar sua ascensão demonstrada desde 1988, quando voltou ao Grupo Especial, com o enredo “Vestindo a Moda”. Apesar da alegria dos componentes, a escola vinha mais triste pela morte de Mestre Fubá, dias antes do desfile.

Falando sobre as modas que acompanharam a humanidade e as tendências que surgiram dessas modas, a escola fez uma apresentação bastante simpática, muito por conta do bom samba. Talvez prejudicada pela morte de Fubá, a bateria não teve um desempenho notável, mas o intérprete Thru conseguiu garantir um bom desempenho.

O enredo era ligeiramente confuso, misturava moda com Carmem Miranda indo aos Estados Unidos mostrar o samba brasileiro, mas a escola fez um bom desfile. Sem luxo, mas com excelentes fantasias e alegorias, a escola comprovou seu bom momento com uma divisão cromática interessantíssima. Sempre pendendo para o verde e rosa, suas cores principais, a escola abriu o desfile falando dos mascates, que traziam da Europa novas tendências.

Depois de fazer quase uma definição científica do que é náilon, o que é jeans e o que é poliéster, a escola seguiu sua viagem pelo Egito de Cleópatra, por Carmem Miranda e pelos “balangandãs”. A moda dos fraques e cartolas no início do Século XX que conquistou os “almofadinhas fora de cartaz”, como dizia o samba, ganhou destaque.

Depois do setor da moda das noivas, a escola tentava, de maneira bastante pretensiosa, prever como seria a moda no futuro, fazendo um paralelo com o passado. O maiô já havia virado biquíni nas praias do litoral, como também dizia o samba, “e o bumbum ficou de fora / com o tal do fio dental”. No fim das contas, uma apresentação muito simpática que afastou qualquer risco de rebaixamento, ainda mais por conta das duas primeiras escolas a desfilar.

Não há qualquer registro em vídeo sobre a apresentação da nona escola da noite, a Leandro de Itaquera. O que se sabe é que o enredo “Querem acabar comigo” também seguiu a linha crítica da Mocidade Alegre, mas pareceu bem mais conservador.

O enredo começava citando o roubo do pau-brasil por parte dos portugueses, em linha semelhante à adotada pela Morada do Samba. A impressão que se tem ouvindo o samba e vendo alguns outros documentos do desfile, é que o enredo se perdeu um pouco. A ideia de mostrar quem tentou acabar com o Brasil através do tempos foi interessante, tinha um bom início e um excelente fim, mas faltou meio.

O desfile se perdeu um pouco ao abordar desmatamento e riquezas tropicais e poderia ter rendido bem mais se apostasse em uma crítica mais incisiva à situação do Brasil à época.

O que também se sabe é que foi uma apresentação muito competente nos quesitos plásticos e com mais um show da bateria do Mestre Lagrilla. O risco de rebaixamento era praticamente nulo, mas também não era grande a chance de título. Para a escola que encantou a Avenida Tiradentes dois anos antes com o seu “Afoxés”, ficou a sensação de que poderia ser melhor.

camisa1991aPara encerrar o Carnaval de 1991, o Camisa Verde e Branco tentava o bicampeonato com o enredo “Combustível da Ilusão”, que contava a história da cerveja. Desde a sinopse observa-se um cuidado em fazer um tratado histórico, apontando do que é feita a cerveja, as origens da bebida, sua trajetória na Europa e só depois sua chegada ao Brasil e seu papel como “combustível da ilusão”.

Com o dia completamente claro, o Trevo da Barra Funda pisou na Avenida ao seu melhor estilo. Com um grande samba, uma apresentação fantástica de sua bateria e um “chão” espetacular. Mesmo prejudicado pelo excesso de história da sinopse, o samba conseguiu seguir uma linha que, se não poética, foi irreverente e cumpriu bem o seu papel.

Foi um desfile bastante regular. Até pelo horário do desfile, o Carnavalesco Cláudio Quartucci abusou do branco, garantindo ótimo efeito, mas poderia ter sido mais feliz na concepção das alegorias, algumas contraditoriamente escuras demais. As fantasias, por outro lado, foram de ótimo gosto.camisa1991b

O Camisa não conseguiu repetir a apresentação arrebatadora de 1990, mas fez uma apresentação bastante correta, que poderia ter sido ainda melhor se explorasse mais o lado “combustível da ilusão” da cerveja. Aliás, curioso como a sinopse cita abertamente o nome de algumas cervejarias famosas como a própria Brahma. De todo modo, um bicampeonato não estava exatamente descartado.

Ao final dos desfiles, a Rosas de Ouro despontou como maior favorita ao título, com Vai-Vai e Camisa Verde e Branco podendo ameaçar o bi da Roseira. Passo de Ouro e Águia de Ouro fizeram apresentações muito abaixo das demais e só escapariam do rebaixamento por milagre. O ano ainda ficou marcado pela boa apresentação da Nenê de Vila Matilde, se recuperando dos desfiles ruins que vinha fazendo.

Na apuração, mais uma vez um empate na primeira colocação. Como não havia critério de desempate, Rosas de Ouro e Camisa Verde e Branco dividiram mais uma vez o título, com 266 pontos, quatro a mais que a Vai-Vai, que terminou em terceiro. A propósito, o leitor que está pouco habituado ao Carnaval de São Paulo pode ir se acostumando com essa história de título dividido.

Apesar do desfile menos empolgantes que nos anos anteriores, a Leandro conseguiu o quarto lugar, seguida por Unidos do Peruche, Mocidade Alegre e Barroca Zona Sul. Inexplicavelmente, a Nenê de Vila Matilde terminou apenas em oitavo lugar, 248 pontos, 19 a mais que a Águia de Ouro, rebaixada com 229. A Passo de Ouro terminou em último, com 215.

No Grupo 1, a Gaviões da Fiel foi campeã e voltou ao Grupo Especial, que havia disputado apenas em 1990, quando foi rebaixada. A Colorado do Brás terminou em segundo e também garantiu presença no grupo das grandes escolas em 1992.

Curiosidades

– A Globo transmitiu os desfiles de 1991 com apenas um narrador e um comentarista no ar. Leci Brandão comentou as transmissões do início ao fim, acompanhada por Carlos Tramontina e Cléber Machado, que se alternaram na narração.

– Como dito anteriormente, o Sambódromo de 1991 em nada lembra o de hoje em dia. Nem aquela espécie de portal colocado na linha que dá início ao desfile existia, bem como as torres de iluminação tão características do Anhembi. Em 1992, a Passarela do Samba já ganharia contornos mais atuais.

– Certa vez, o famoso intérprete Thobias da Vai-Vai disse que a iluminação não só estava ruim em 1991, como só foi se acertar lá para 1995.

– 1991 foi o ano da última apresentação da Gaviões no Grupo de Acesso no Século XX. A partir de 1992, a escola iniciaria uma caminhada de sucesso no Grupo Especial, com quatro títulos, até 2004, quando foi rebaixada em circunstâncias que serão tratadas mais adiante.

– À época, a Lavapés, tradicional escola da década de 50, já se encontrava no Grupo 4, último antes do chamado Grupo de Avaliação, ficando a frente de apenas três dentre 11 agremiações.


Links

O primeiro desfile da história do Anhembi, da Passo de Ouro
http://www.youtube.com/watch?v=clcWYtjj008

A boa apresentação da Vai-Vai
http://www.youtube.com/watch?v=UBMGIrb3MtA

O show de Royce do Cavaco com a Rosas de Ouro
http://www.youtube.com/watch?v=iBUssvsscYg

O samba campeão de 1991 com o Camisa Verde e Branco
http://www.youtube.com/watch?v=tsLafW2bCI0

8 Replies to “Bodas de Prata – 1991: Camisa e Rosas dividem título em Sambódromo improvisado”

  1. Ótimo resumo sobre 91, o sambódromo foi inaugurado mas de forma eleitoreira do que qualquer coisa, a iluminação era de doer, Sobres os desfiles, a Passo de Ouro que viria a ser X-9 Paulistana, foi rebaixada mas pelo nome, do que pelo desfile em si,relatos da época indicam que a rebaixada deveria ser a Nenê, a Leandro foi aquele meio-termo, nem bom, nem ruim, a Mocidade como de costume na década de 90 foi bem coadjuvante, inclusive tem pessoas no bairro do Limão que dizem que a escola jamais seria campeão se a Elaine ainda administrasse a escola. Vai-Vai e Peruche, grandes apresentações, mas que sempre deixaram a sensação de que faltaria alguma coisa para título, mesma sensação para a Camisa, que sabe-se lá como foi Campeã com a Rosas, essa sim sobrou e até 94 sempre faria desfiles para ponta de tabela, depois veio o jejum quebrado com gosto de Chocolate, mas isso é papo de outra coluna.

  2. Parabéns Leonardo, belo trabalho de pesquisa, acompanharei a série com entusiasmo… E sobre 91 foi o primeiro ano que se tem notícia que os sambas foram lançados em cd, por sorte eu tenho um exemplar.

    1. Bem lembrado, Raphael. Algumas escolas tem gravações mais antigas, mas é o primeiro LP de que se tem notícia.

  3. Enfim começando mais esta saga! Conheci boa parte destes desfiles de 1991 graças a uma fita VHS de um amigo. Um assunto que sempre vinha à tona na transmissão era a ocupação correta da pista, afinal, 14 m (16 m, se levarmos em consideração os corredores de imprensa, que não devem ser ocupados por desfilantes, mas “atrapalham” o conjunto visual se o “meio” não estiver certo) é complicado, principalmente quando se sai da compacta Tiradentes para o aberto Anhembi.

    Será muito bom ver a luta das escolas de samba paulistanas para desfilarem bem neste sambódromo, que é muito prático para se assistir, mas complicado de dar um bom visual.
    Depois de quase duas décadas arriscando tudo para se mostrarem bonitas na pista, esta batalha foi vencida!
    Em 2014, a iluminação, tão ruim nestes primeiros anos, voltou a ser o foco da atenção.
    Depois de anos de pura brancura, o Anhembi voltou a ser cinza como forma de valorizar a iluminação dos carros. Funcionou bem, mas ainda pode melhorar!
    Não me espantaria ver em 2015 as lâmpadas dos tão característicos postes cobertas por placas de acrílico, tal qual fizeram neste ano na Sapucaí.

    Bem, estes assuntos deveriam ser falados mais para frente, mas não resisti!
    Post de inauguração muito bom!
    Que venham os outros anos!

  4. Boas lembranças!! Me lembro vagamente da construção do sambódromo. Pena que o projeto perde muito espaço. Embaixo das arquibancadas, por exemplo. Mas isso é outra história.

    E a oposição só reclamou porque era “obra do PT”. É sempre assim. Basta ver o VLT aqui em Santos: os vermelhos reclamam porque é “obra tucana”.

    Em tempo: merecido bi-campeonato da Camisa, mesmo com o chororô da Rosas!

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