Ontem, além de se iniciar a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão, a tv Bandeirantes promoveu o primeiro debate com candidatos a governador do Rio de Janeiro. Participaram os cinco candidatos mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto: Anthony Garotinho (PR), Marcello Crivella (PRB), Pezão (PMDB), Lindberg Farias (PT) e Tarcísio Motta (PSOL), respectivamente.

A princípio sequer assistiria ao debate, por causa do horário e por já ter definido voto no candidato petista, mas acabei parando para assistir e observar um bom retrato do que é a política carioca nos dias de hoje.

À exceção do candidato do PSOL – que recentemente foi derrotado na eleição para reitor do Colégio Pedro II, curiosamente para o professor que foi meu coordenador nos meus tempos de aluno do colégio – todos os demais trabalharam juntos em um momento ou outro, e isso ficou claro durante o debate. A ponto de, nas considerações finais, o candidato psolista ter se saído com uma ótima tirada ao classificar os demais como “quatro Cabrais”, em referência ao ex-governador do Estado do Rio de Janeiro.

Durante as cerca de duas horas e meia de debate, entremeadas por perguntas de telespectadores, jornalistas, especialistas e dos próprios candidatos, algumas questões ficaram claras.

A primeira delas é a segurança. Pezão deixou claro que a política considerada ideal é a Polícia entrando na favela para matar e oprimir, a fim de manter “tranquilos” os bairros de elite. A UPP é um fim em si para o atual governador em exercício, não sendo necessária maior intervenção em comunidades carentes.

debate rio 2Garotinho, de quem divirjo fortemente, fez uma colocação bastante coerente sobre este caso. Ele pontuou que a política de segurança pública não pode se restringir às UPPs e que se necessita haver trabalho de inteligência e de formação social. Lindberg também enfatizou isso e se mostrou a favor da desmilitarização da Polícia.

Outro ponto sobre o assunto muito bem levantado nas considerações finais – infelizmente, não me lembro quem foi, peço ajuda aos leitores – é que com a formação atual dos policiais militares, feita em apenas seis meses, não há a menor condição de se ter um contingente preparado nas ruas. Temos quantidade e não qualidade.

Uma pergunta sobre algo que não pode ser tratado pelo governador, porque a legislação é federal – a liberação/legalização das drogas – rendeu um dos momentos mais divertidos do debate. Para mostrar a sua convicção contrária à legalização da maconha, o candidato disse que na Holanda, onde o consumo é permitido, aviões da Fokker caíram porque “os empregados ficam fumando maconha e não conseguem trabalhar”.

O candidato psolista, ainda sobre o assunto, afirmou que o debate deveria ser sobre a legalização e não sobre a liberação, “porque no Rio a maconha é liberada”.

Vale ressaltar, também, os embates entre Garotinho e Pezão em diversos momentos. O atual governador foi duramente questionado por razões como o socorro às enchentes da Serra anos atrás – onde teria havido desvio de recursos – e posteriormente sobre a falta de água na Baixada Fluminense, com acusações de que bairros de elite são privilegiados no abastecimento em detrimento de locais de menor renda.

Também foi objeto de debate entre os dois candidatos a questão do transporte alternativo no Rio de janeiro, com Pezão sendo acusado de ceder aos empresários de ônibus e Garotinho, insinuado que teria privilegiado grupos com ligações ilícitas. A questão do Metrô também foi alvo dos candidatos, com a oposição a Pezão questionando a construção da Linha 4 (Zona Sul-Barra) antes da Linha 3 ou da expansão para a Baixada Fluminense.

O ex-governador teve um bom momento ao lembrar que foi ele quem iniciou a política de cotas em universidades, comentando respostas de Lindberg e Tarcísio – ambos se mostraram a favor. Por outro lado, o candidato petista lembrou que Campos, cidade governada diversas vezes por Garotinho – e onde sua esposa e também ex-governadora é a atual prefeita – tem o pior indicador de qualidade de educação não somente do estado do Rio de Jneiro como da Região Sudeste, apesar da enxurrada de recursos que a cidade recebeu proveniente dos royalties do petróleo.

Aliás, a postura de Garotinho durante o debate rendeu diversas ironias nas redes sociais, na linha “eu queria ter morado neste Rio de Janeiro que ele afirma que deixou”. Obviamente ele tem uma boa oratória – ao contrário de Pezão – e isso auxilia em um evento como esse.

Também deve se destacar a contradição de Pezão, apontada por outros candidatos, de estar ao mesmo tempo apoiando Aécio Neves e participando de eventos de campanha ao lado da Presidenta Dilma Rousseff.

debate rio 3Lindberg enfatizou a parceria com Lula e Dilma, bem como resgatar o legado de Leonel Brizola, em especial na educação. Além de ressaltar em diversos momentos que, “como Lula, pretendo governar para todos”.

Algo que eu não sabia e que Garotinho levantou ao final do debate – sem ser rebatido por Pezão, sinal que é verdade – em resposta à pergunta sobre o sistema de tributação, foi que estabelecimentos como uma rede de salão de cabeleireiros e um conhecido prostíbulo próximo ao aeroporto Santos Dumont desfrutam de isenções e incentivos fiscais por parte do governo estadual. Por outro lado o atual governador lembrou que os outros três principais candidatos são parlamentares (Garotinho é deputado e os demais, senadores) e que eles pouco fizeram sobre o tema no Congresso.

Ressalte-se, também, que todos os principais candidatos defenderam a diversificação da economia carioca, bastante dependente do petróleo e dos investimentos da Petrobras. Entretanto, nenhum deles apresentou propostas factíveis para tal. Também foram bem rasteiros os debates sobre a questão da cultura, no meu entendimento.

Não esgoto aqui os temas tratados, mas sem dúvida alguma o primeiro debate – haverá outros – trouxe aos indecisos e mesmo àqueles que tem seu voto decidido um bom painel do que pensam os principais candidatos ao governo do Rio de Janeiro. Especialmente o candidato do PSOL aproveitou de forma bastante inteligente a possibilidade de se mostrar conhecido do eleitorado.

Garotinho se despediu ao final com uma tirada impagável: “Aqui temos candidato da Record, da Globo, do Mensalão, da Fetranspor. Estou aqui pelo povo. Não há uma cidade em que não haja meu amor e carinho, dos anos em que estive no poder”. Ele e Tarcísio, a meu juízo, foram os que obtiveram melhor desempenho, com Lindberg em um meio termo.

Pezão sofreu bastante com as contradições apontadas por seus contendores nas políticas de governo atual e Crivella mostrou despreparo em diversos momentos, ainda mais levando-se em conta que é senador há 12 anos. Que fique claro que estou avaliando o desempenho no debate, não os candidatos e suas propostas de governo.

Vamos ver o desenrolar da campanha e os demais debates.

Imagens: O Dia

4 Replies to “Algumas notas sobre o primeiro debate para governador do Rio de Janeiro”

  1. Muito boa análise do debate , concordo com tudo .Se não estou enganado foi o crivella que falou da formação dos policiais.

  2. O candidato Crivela é esquisitíssimo. Em um momento, diz que a legalização da maconha provocou queda de aviões talvez porque os pilotos(?)ficaram “sonados”…ou sei lá por qual razão…nunca ouvi uma besteira tão grande. Aliás, dia destes ele disse que os moradores da baixada deveriam ter maior atenção..”porque senão essas pessoas vem roubar na zona sul”(?)…pegou tão mal que dizem que perdeu intenção de votos. Garotinho é ótimo orador. Desconfio que, se for para o segundo turno, e com tempo igual, e com debates, não seja tão fácil derrotá-lo como se pensa. A conferir. Acho que o candidato petista quis polarizar com Garotinho, mas ser o contraponto a este. É uma estratégia. Mas, entendo que em debates de segundo turno, o humor de Garotinho de provocar problemas para ele…embora ache que, neste caso, a briga fica mais favorável a Lindberg. Pezão é péssimo orador. Tem alguns bons aspectos de seu governo a defender…mas acho que se for para o segundo turno com Garotinho, pode perder. Foi muito bem o candidato do PSOL. Para mim, a disputa está entre Garotinho, Pezão e Lindberg. Ontem, como já se esperava, o destaque foi Garotinho. Mas, o petista deve crescer nas pesquisas.

  3. O Crivella é um imbecil, o Pezão é despreparado e o discurso do Garotinho é o mesmo há trocentos anos. O Lindberg tem um problema contra si: no fim de suas considerações, disse que a política do Rio é “velha”. Mas engraçado… não foi ele quem fez carreata com Cabralho e PaesPalho?

    Conclusão: o único que destoou foi Tarcísio Motta, que com seu “São quatro Cabrais” ao fim do debate ganhou a noite.

    Ah… antes que eu me esqueça… a história das Termas Aeroporto e do Werner’s Coiffeur é antiga e já foi pauta na imprensa. Só que não foi explorada como deveria. Por que será?

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