Acabou a Copa do Mundo, acabou o período da alegria completa e absoluta e agora é hora de tocar esse país para frente. A vida perdeu um pouco da graça, mas ainda tem os seus encantos, então, que tratemos de sobreviver até as Olimpíadas de 2016 ou seja lá qual for o próximo evento pelo qual o leitor anseia.

A próxima disputa que promete parar o Brasil não tem bola, campo e muito menos fair play. Também não tem torcidas divertidas – embora muitas delas tenham argumentos como “Maradona é maior do que Pelé” ou muito menos nos faz torcer fervorosamente por A ou B, salvo algumas cada vez mais raras exceções, mas é muito importante. De maneira geral, é muito mais importante para o Brasil do que a Copa do Mundo.

Falo, claro das Eleições.

eleições 89 IPara o leitor que ainda não me conhece, fique sabendo que completo 16 anos no próximo mês de setembro e, portanto, as Eleições de 2014 serão as primeiras em que votarei. No entanto, acompanho o processo eleitoral com certo entusiasmo há pelo menos oito anos. De lá para cá, acredite, já fui de tudo. Já fui de esquerda, já fui de direita, já fui PT, já fui PSDB, já acreditei em quase tudo e, no entanto, hoje não acredito em quase nada. E é exatamente esse o ponto que abordo na primeira coluna em que trato do tema Eleições. E não vou falar de mim, não.

Dia desses, vagando pelo YouTube, decidi ver alguns vídeos de campanhas eleitorais antigas, além de debates, jingles, enfim, essas coisas. Evidentemente, não tardei para cair no fatídico ano de 1989, as maiores Eleições presidenciais da história. Com o fim do Regime Militar, o Brasil estava em polvorosa para enfim poder escolher um Presidente e, até por isso, tivemos o astronômico número de 26 candidatos, capitaneados por Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva.

eleições 89 IIVendo alguns vídeos, não só o horário eleitoral, porque ele pouco representa o sentimento da Nação, pensei que bonito era tudo aquilo. Que bonito era ver uma parte x do País acreditando que repousava naquele homem imponente, de fala boa e bem articulado, um futuro melhor. Que bonito era ver uma parte y pensando que o Brasil só entraria nos eixos através do Lula, aquele homem do povo. Aquele barbudo que tropeçava no português poderia ser, quem diria, a nossa salvação. Isso sem falar na parte z que acreditava em Covas, Maluf, Brizola, Ulysses ou até mesmo Marronzinho, Gabeira, Enéas ou mesmo o Silvio Santos.

Ali, o país todo tinha sua crença, especialmente os jovens. São eles sempre os mais entusiasmados. Pouco se desiludiram com a política, tem ideias novas, uma esperança pouquíssimo abalada e, no caso de 89, viam um país praticamente recém-nascido no assunto democracia. No fim das contas, a parte x prevaleceu o desejo por Collor. Alguns gostaram, outros já ficaram mais desconfiados, mas só os mais pessimistas poderiam imaginar o desastre que viria pela frente.

Collor decepcionou, confiscou, errou, enfim, caiu fora da Presidência, assumida por Itamar Franco. Então, em 1994, as esperanças foram renovadas, mas a maioria pendeu, naturalmente, pelo PSDB. O sucesso do plano econômico capitaneado por Fernando Henrique Cardoso fez dele o novo Presidente e, então, o País tinha novamente em um homem de ternos chiques e falas boas, sua esperança.

Por Victor Soares/ABrNão foi um desastre como Collor, os primeiros quatro anos foram até bons, mas, depois, o povo sentiu falta de algo mais. Deixar apenas de fazer contas a cada mudança de moeda, como acontecia anos antes, não era suficiente. Os problemas continuavam grandes e o país praticamente estacionou de 1999 a 2002.

O povo concluiu: era a vez de Lula. Inteligente, ele aparou a barba, tomou mais cuidado com o português e tentou desmistificar a visão “comunista” que carregava – o que posteriormente seria visto como uma “traição” pela esquerda e uma “mudança de mentira”, digamos assim, pela direita.

Com Lula, o Brasil voltava a ter as esperanças que tinha em 1989 porque era algo totalmente novo. Lula não era mais do mesmo. Lula era o novo, do povo. Até por isso, foi naquele dia 1º de janeiro de 2003 que se escreveu o mais belo capítulo da história da democracia recente do Brasil. Não por Lula, não pelo PT. Não só por, depois de muito tempo, um Presidente eleito pelo povo passar a faixa para outro Presidente eleito pelo povo, mas pelo povo estar enfim recebendo essa faixa e enfim se sentir representado. Aquela multidão com bandeiras e faixas tomando conta do Palácio do Planalto para festejar. Talvez a última vez que o povo – aqui excluem-se os militantes – festejou algo vindo da política.

eleições 5Discutam-se os méritos do Governo do PT. Eu acho que o Brasil melhorou nesses 12 anos, alguns leitores concordam, outros discordam, mas todos concordamos (ou pelo menos deveríamos) que Lula e, posteriormente, Dilma, decepcionaram. A corrupção não foi inventada pelo PT, mas também não foi por ele combatida. A vida das pessoas de classe mais baixa melhorou muito, sim, mas a área econômica beira o desastre de maneira geral. Governo do Povo não tem que cuidar dos pobres e dar de ombros para os ricos. Povo é rico, é pobre, é classe média, é todo mundo.

Até outubro, vou defender muito o PT aqui. A menos que aconteça algo de extraordinário nos próximos meses, devo votar pela reeleição da Dilma, devo votar no petista Alexandre Padilha para Governador do Estado, mas tenho a plena consciência de que o maior legado desses 12 anos de PT é triste.

Eu faço parte da nova geração de eleitores – tivesse nascido 15 dias depois, votaria só em 2016. E faço parte de uma geração que não acredita em nada. Salvo os comunistas, que nunca viram e nem verão seu ideal no poder, todo mundo que carrega uma bandeira minimamente conhecida, seja PT, PSDB, PMDB, PV, PSB ou mesmo o PSOL, já se decepcionou. Pode não confessar, mas já se decepcionou. Se não com um Presidente, com um Governador ou um Prefeito.

Brizola e Lula Campanha Presidencial de 1989Quem não vai votar na Dilma, pode escolher Aécio Neves. Aécio de um PSDB decadente, líder de uma Oposição que não consegue explorar o que a Situação tem de ruim. Que, como disse, não agradou o país quando governou. Pode também optar por Eduardo Campos, nova esperança dos desiludidos, mas esse já mostrou que não é exatamente um exemplo de político nos anos em que comandou o Estado de Pernambuco. Tem também o risível PSOL, ou candidatos conhecidos apenas por jingles ou por ideias malucas. Sobram comunistas, membros da causa operária, socialistas “de raiz” e um Pastor.

E a situação se repete com Governadores, Senadores, Deputados… É aquela história manjada do “não tem em quem votar”. Manjada, mas verdadeira. Não tem mesmo. Como também abordarei mais adiante, as Eleições viram uma guerra onde não se discutem ideias, mas sim quem é, foi ou será mais danoso ao país. Uma série lamentável de episódios – de todos os lados – em que se vê como nossos futuros comandantes são baixos, usam de táticas rasteiras e mentem descaradamente para conseguir votos. E não mentem sobre o que farão, não. Quer dizer, até mentem, mas até aí, nenhuma novidade. Mentem sobre o que fizeram ou sobre o que os concorrentes fizeram ou deixaram de fazer.

Tenho hoje a certeza de que, ganhe quem ganhar, vou me decepcionar tanto com a política quanto quem votou pela primeira vez em 1989. Mas não tenho como esconder certa inveja pelo fato de que a geração passada ao menos tinha no que acreditar.

One Reply to “Faz falta acreditar em alguma coisa”

  1. Perfeito,gostaria de ter escrito isso,resume bem o pensamento dos jovens atuais,eu mesmo,passei por isso em 2012 no meu primeiro voto (votei no Haddad para prefeito), e devo fazer o mesmo agora votar em Dilma/Padilha,porém penso que o PT poderia ter feito mais,perfeito texto Dahi.

Comments are closed.