Granja Comary, início de junho. Um repórter pergunta: “Marcelo, por que o Brasil não tem mais os maiores craques do mundo? Gargalhada geral. “Tu tá de sacanagem, né?”, respondeu o lateral-esquerdo.

Confesso que depois de uma primeira fase claudicante, na qual a Seleção Brasileira já demonstrou claros problemas de criação, pensava que a coisa iria melhorar caso o time fosse avançando. Vieram então a sofrida classificação diante do Chile e uma vitória nem tão dramática sobre a Colômbia (até que com um bom primeiro tempo, diga-se de passagem).

Imaginei realmente que a coisa iria melhorar. Afinal, a Copa estava afunilando e só faltavam dois passos. Os jogadores iriam crescer. Mas eu me iludi. Nós nos iludimos. Caímos todos do cavalo. Quando enfrentou um time minimamente mais organizado, com jogadores de mais qualidade, fomos sumariamente atropelados. Afinal, não melhoramos em nada. Levamos de 7 a 1.

brasilalemanha1É claro que a Alemanha não é tão poderosa assim para fazer 5 a 0 em meia hora de jogo. O placar claramente se deveu a uma pane mental e técnica dos amarelinhos (ou seriam amarelões?) dirigidos (sic) por Luiz Felipe Scolari, o grande responsável pela tragédia vista no Mineirão.

Por mais que todo mundo soubesse que o nosso meio de campo é frágil, Scolari escalou um jogador com vocação ofensiva, Bernard, deixando o setor despovoado. Setor em que a Alemanha sabidamente tem jogadores capazes de manobrar com categoria e velocidade. Que tolice! Que ilusão!

Não tínhamos Neymar, e por isso mesmo, Scolari deveria saber que o jogo seria mais difícil, e que um meio mais sólido seria fundamental. Ele não disse, mas certamente o pensamento dele era o de que “a Alemanha é quem deveria se preocupar com o Brasil”. Pois é, o “vamos lá, rapaziada” acabou da forma mais cruel possível.

No intervalo, Scolari resolveu desfazer a besteira que fez colocando Paulinho e Ramires. “Obrigado por nada”, “Em porta arrombada, tranca nova”, “Agora vai, só que não” foram frases vistas nas redes sociais. Pois é, em vez de tentar alguma coisa quando estava 0 a 1 ou 0 a 2, mexeu quando estava 0 a 5.

A derrota acachapante escancarou nossos problemas conceituais, técnicos e (principalmente) psicológicos não só da Seleção Brasileira como de todo o futebol brasileiro – o Migão escreveu sobre isso na semana passada. Aquilo que se viu na Copa das Confederações foi um acaso amplificado pela qualidade individual de Neymar, que levou o time nas costas até a Copa do Mundo.
brasilalemanha2

E quando as costas de Neymar foram atingidas por Zúñiga, não só a vértebra do craque como o castelo de cartas se rompeu. O oba-oba da preparação, o monte de selfies dos jogadores, a má fase de outros e, principalmente, a incapacidade do treinador de arrumar alternativas para um time capenga se refletiram no desastre. Não se ganha com apenas um jogador.

E a epopeia que se montou em relação à ausência de Neymar? Justo que se mandassem mensagens de apoio ao jogador Mas esquecemos que enfrentaríamos uma das melhores, senão a melhor, seleção da Copa.

No fundo no fundo, se analisarmos friamente, chegamos até longe demais diante de tantos problemas. Não temos hoje um grupo com 11 ou mais jogadores com a capacidade técnica de Neymar. Temos bons jogadores, é verdade. Alguns até fizeram uma boa Copa como David Luiz, Luiz Gustavo, Thiago Silva (apesar do episódio contra o Chile e o cartão bobo contra a Colômbia). E quem mais? Quem está surgindo? Como vamos nos reerguer depois de tamanho sacode?

É, Marcelo, não estamos de sacanagem…

*post inspirado numa pertinente lembrança do ex-colega de LANCE! Pedro Torre, hoje na ESPN, sobre a declaração de Marcelo.

One Reply to “Copa do Ouro: “Não estamos de sacanagem*””

Comments are closed.