Era um domingo. Eu me recordo bem desse dia, pois era festa de aniversário da minha prima. Ela estava comemorando seus dois aninhos. Todos estavam alegres, atentos aos preparativos da festa. Ela morava numa vila e a festa seria no meio desta. Todos ajudavam na arrumação, todos felizes.

O ano era 1994. Eu completaria dez anos nesse ano. Seria um ano normal, era para ser um dia normal, inclusive para mim, que estava em meio a uma festividade. Mas não funcionou assim. Foi algo que eu jamais tinha vivido, presenciado, sentido. Claro, era uma criança! Mas, mesmo uma criança, sentiu aquela dor, foi solidária com a dor.

A televisão estava ligada. Lembro que, quase ninguém estava prestando atenção nela. Todos muito ocupados. Mas não quando se ouviu, uma voz embargada, falar: “Morre Ayrton Senna da Silva!”. Todos pararam. Todos se olharam. Todos choraram. Era um choro de uma perda irreparável. Uma dor que parecia, por ora, ser eterna. E foi eterna.

Todos saíram de suas casas, alguns gritando: “O Senna está morto! Não é possível! Não. O Senna não!” Confesso que fiquei assustada, pois era uma figura que não era do nosso convívio, alguém que nenhum dos que estavam ali sofrendo, conhecia de perto. Esse foi meu engano. O Senna fazia parte, sim, da nossa família. Todos conheciam o Senna. Todos amavam aquele homem, que além de ídolo de uma Nação, era um homem de bem que teve sua vida encurtada de forma brusca.

Chegou a ser cogitado cancelar a festa. Não havia clima. Era um silêncio ensurdecedor. Uma agonia estampada no rosto de cada um ali presente. E não só ali. No Brasil inteiro. Se via um choro seguido de berros de um lado, lágrimas escorrendo, silenciosamente, de outro e um luto sem data certa para acabar, tanto é que, ainda não acabou.

sennaimola1994eComo eu era criança, eu via, vez ou outra com meus pais – sim, a F-1 era amada por homens e mulheres, graças às façanhas de Ayrton -, sabia que ele era o melhor, que pilotava e ganhava todas quando chovia. Mas era nova para ter tamanho conhecimento de tudo o que ele representava. Mesmo assim, foi impossível não chorar. É impossível, até hoje, não se emocionar quando vejo um documentário, um feito dele, ouvir alguém falar sobre ele com ternura. É difícil acreditar que já se passaram vinte anos!

Senna tinha uma fala docemente firme, um sorriso tímido, uma certeza dos seus atos e ideais que davam inveja a muitos. Não era de se deixar abater, era do tipo que batia no peito e falava: “Eu sou mais eu!”. E era. Uma figura rara, até mesmo nos dias de hoje. Um homem que amava seu país. Com certeza, se fosse vivo, estaria engajado para que o seu lugar, fosse um Brasil melhor. Ele tinha orgulho de ser brasileiro. Naquela época, ainda dava para ter.

Quantos Ayrtons temos por ai? Nenhum! Quantos ele inspirou? Todos. A F-1 perdeu seu grande astro, perdeu o dono das pistas. Os de agora são coadjuvantes de uma história que jamais será esquecida. O seu charme e grandiosidade se perderam no dia 01 de maio de 1994.

Dizem que Deus gosta de ter pessoas boas ao Seu lado, mas se esqueceu que nós também gostamos. O levou cedo demais, rápido demais. Quantas coisas ele poderia ter feito ainda, quantos projetos ficaram pelo meio do caminho, perdidos. Quanta vida para viver. Quantas glórias, quantas taças deixou de erguer… Mas a cada vitória do povo brasileiro, cada luta vencida dessa nação que sofre para ter uma vida digna, Senna ergue uma taça de lá, onde está, e celebra junto com seu povo que ainda chora a sua partida, mas se sente agraciado por ter conhecido o Ayrton Senna do Brasil.

One Reply to “Saúde e Batom: “Semana Senna – A dor de um silêncio””

  1. Artigo maravilhoso…sz
    Eu tinha 6 anos quando ele morreu, me lembro de ficar tão triste que fui para uma das arvores que tinha perto de casa pra chorar, tudo por que perguntei para minha mãe o que tinha acontecido, por que ele não levantava como quando batia antes, e ela me respondeu que eu nunca mais veria ele. Meu irmão com 9 anos chorava e falava que ele tinha morrido…
    Ele era alguém que você não precisava conhecer pessoalmente pra amar, era um prazer poder diz eu sou do país do Ayrton Senna….
    Hoje eu gosto muito de dizer para os que nasceram em 94 ou depois: Ei o que tinha de melhor nessa país você não conheceu, você nunca vai ouvir e ver o Galvão gritar: Ayrton, Ayrton, Ayyyyyyyyrton Senna do Brasil…szsz
    Nossa realmente não houve antes dele e nem haverá… MITO é sempre será o melhor do mundo.

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