Entramos no último mês antes da Copa do Mundo FIFA 2014, a primeira realizada no Brasil em 64 anos, e que promete ser recheada de personagens interessantes. A competição tem como símbolo o tatu-bola Fuleco, cujo nome foi escolhido nas redes sociais dentre três péssimas opções.

A menos pior das alcunhas sugeridas venceu, mas pouco tempo depois, a revista alemã Der Spiegel revelou que o nome do coitado era ainda pior. Além disso, o pobre tatu com nome inglório seria alvo da ira dos chamados black blocs que viram no mascote um grande rival, tornando-o símbolo da vergonha. Pobre Fuleco.

Black blocs, um grupo que acredita no clima de guerra e na perda de vida para recuperar um país de seus problemas. Usam discursos de patriotismo iguais a uma nação em guerra, mas são um bando de Dom Quixotes lutando contra um moinho. Não se preocupem: depois de algum tempo, eles estão prontinhos para reaparecer provocando suas presepadas na Copa, até porque a competição é um dos grandes rivais desse grupo.

“A FIFA e o governo trouxeram este mal que impede gastos em saúde e educação”. No ano passado, durante a Copa das Confederações, uma revolta trouxe o “gigante que acordou”, pedindo o fim dos gastos públicos na Copa, mais saúde, educação e menos corrupção.

f_235881No começo, tudo bonito, mas no fim percebeu-se que na verdade o gigante era um mutante acéfalo facilmente manipulável, com propostas vazias e sem lideranças que contribuíssem para o cenário político nacional. Pelo menos, o “gigante” rendeu a alegoria mais legal do último carnaval carioca, na Portela – este sim um gigante que acordou.

A partir daí surgiram os black blocs, que bradam “não vai ter Copa”, como se isso fosse possível e benéfico ao país. Apedrejam o Fuleco e queimam álbuns de figurinhas, envergonhando ativistas de protestos antigos. Dois alvos de uma relevância ímpar…

Na hora que perceberem que vai ter Copa, vão querer implantar o caos, aí sim sujando a imagem do país internacionalmente, mais do que qualquer obra mal acabada. Enfim, mais um grupo de personagens para botar um molho (indesejado) no evento.

Tudo isso atrai o ímpeto dos revoltados de Facebook e redes sociais. Parece que há sete anos, quando a escolha do Brasil como sede foi anunciada, ninguém sabia que os políticos não eram anjos barrocos, que a lei de licitações é complicada e que gastos elevados e superfaturamentos poderiam acontecer. Sério que foram tão inocentes? Agora bradam que não há legado, como se acreditassem que a Copa era a salvação do país. Até nos protestos o brasileiro deixa para a última hora…

Podem esperar torrentes de posts nas redes sociais com boatos e TV Revolta se aproveitando do mutante manipulável para disseminação de ira e de demonização da Copa. Outros personagens que serão protagonistas em junho e julho.

Aliás, será que não há legado mesmo? Os colegas aqui do Ouro de Tolo já dissertaram sobre isso. Recomendo que deem uma olhada.

Nem tudo são flores na organização. Superfaturamentos, atrasos, correria. Quem adora essa situação é Jerome Valcke, o porta-voz-mor da FIFA. O suíço uma hora achincalha o Brasil, em outra vem com cafunés. Desconfio que o secretário-geral seja bipolar. De qualquer forma, pode se preparar para ouvir impropérios como: “O Brasil deve levar um chute no traseiro”, ou “Não é igual à Alemanha” (como se fosse novidade…). Ele diz que o governo brasileiro quis sedes e tabela espalhadas. Ora, se a FIFA consegue mandar e desmandar em mínimos detalhes de estádios e entornos, por que não mandou nisso também?

Falando em entornos, um verdadeiro inferno para os moradores. Cadastramentos, bloqueios e proibições em áreas enormes. Um exagero em minha opinião o tamanho destas áreas. Porém, dentro delas a paz com torcedores empolgados indo a um jogo de Copa. Fora delas, talvez, o caos dos nossos amigos black blocs, com a colaboração de ações desembestadas das forças de segurança. O bipolarismo em sua essência.

Não vai ver a Copa in loco, mas pela TV. Não se preocupe, a galhofa também estará presente. De um lado, a Globo/Sportv com suas coberturas superficiais e ufanistas, representada por Galvão Bueno propagando a ideia de um país do bem contra 31 do mal. Duzentos milhões em ação. Os jogadores querendo o título para o povo e levando o futebol brasileiro para seu lugar. Discursos que beiram a pieguice e a prepotência.

Na outra ponta, a turma ranzinza da ESPN, que criticou tudo que fosse possível da Copa, mas sequer cogitou em abrir mão da transmissão deste evento “putrefato” e ainda colocava comerciais que exaltassem a competição. A diferença era tanta que cheguei a desconfiar se o evento mencionado nos programas fosse o mesmo dos comerciais. [1]

polianaE você achava que a mídia esportiva era moderada…

Na política, proximidade das eleições. Se o leitor achar que não vai ter guerra de situação x oposição envolvendo a Copa estará assinando o atestado de Poliana. A situação glorificando a Copa e tentando contornar qualquer problema, enquanto a oposição demoniza o torneio aqui no Brasil. E pode esperar a atuação da imprensa nesta partida.

Falando em política, Romário está nela. Com uma gestão surpreendente e digna, questionando coerentemente o modus operandi da organização, o deputado federal e ex-jogador entra nesse texto por gostar de rodar a baiana de vez em quando. Nestas ocasiões as redes sociais viram palco para agressões e tiradas típicas do Baixinho, e impróprias para um parlamentar.

http://www.youtube.com/watch?v=e6rHysyotoc

Um dos alvos de Romário foi seu ex-companheiro de profissão, Ronaldo. Outro personagem notório dessa profissão. Achincalhado por uma frase em que disse que “Copa do Mundo não se faz com hospitais”, o ex-centroavante ganhou péssima imagem a se associar com cartolas e falar coisas que revoltaram o povo do Facebook, além de algumas posturas inocentes. Acredito que essas declarações voltarão a acontecer.

Há ainda os cartolas da CBF, meio quietos ultimamente, após a saída de José Maria Marin para a entrada de Marco Polo del Nero no comando da entidade. Mas também acredito que essa quietude não continuará por tanto tempo e teremos frases ufanistas e derivadas da ditadura militar para ouvirmos (Marin foi governador biônico de São Paulo durante o golpe).

Todos esses personagens me fazem ter expectativas altas, não só para a parte esportiva, mas para os bastidores da Copa do Mundo FIFA. Terei muita história para contar para as gerações futuras. Um evento mais à brasileira? Impossível. Basta observar o quão peculiar e atabalhoado ele promete ser, características típicas da história nacional. É a galhofa num nível elevado, digno de um enredo irreverente e anárquico a la São Clemente – pelo menos, a antiga. Fico com o questionamento de um samba da mesma escola: onde a zorra vai parar?

[N.do.E.: a Fox Sports, a Bandeirantes e a BandSports também irão transmitir os jogos da Copa do Mundo ao vivo. PM]

Imagens: BandFolia, Arquivo Pessoal Pedro Migão e Reprodução de Internet

One Reply to “Cartas do Freezer: “Do Fuleco aos Black Blocs: A Copa da galhofa em terras brasilianas””

Comments are closed.