Excepcionalmente nesta terça-feira, a série Sambódromo em Trinta Atos, do jornalista esportivo Fred Sabino, relembra o justíssimo e celebrado título da Unidos da Tijuca de Paulo Barros em 2010, um ano também marcado pelo começo do ressurgimento do gênero samba-enredo, com grandes obras de Unidos de Vila Isabel e Imperatriz Leopoldinense.

Antes do texto sobre o Carnaval de 2010, um aviso: na próxima semana a série será interrompida devido ao feriado de Páscoa, retornando na segunda-feira, dia 28 de abril.

2010: Tijuca revela segredos e finalmente vai além

Pela enésima vez desde que os desfiles das escolas de samba existem, o critério de contagem das notas mudou. O número de julgadores aumentou de quatro para cinco e seriam descartadas a maior e menor notas de cada quesito.

Sem outras mudanças no regulamento, a principal novidade visando ao desfile de 2010 foi na gravação do CD de sambas-enredo. Tentando alavancar a venda, a Gravasamba resolveu mudar totalmente a produção para dar um “clima de avenida” nas faixas: as baterias e os corais de cada comunidade seriam “gravados ao vivo” e só depois as vozes dos intérpretes seriam mixadas.

O resultado seria um tremendo sucesso não fosse por um fator fundamental: praticamente todas as baterias adotaram um andamento aceleradíssimo nos sambas, o que acabou obscurecendo as mudanças. Com o passar dos anos, o novo formato de gravação foi aperfeiçoado.

Falando em sambas, depois de uma safra muito ruim em 2009, houve uma melhora para 2010 sobretudo pelos excepcionais sambas de Vila Isabel e Imperatriz. A primeira, com obra de Martinho da Vila (veja mais nas Curiosidades) para homenagear Noel Rosa, e a segunda, numa exaltação ao sincretismo religioso do Brasil na volta do carnavalesco Max Lopes e do intérprete Dominguinhos, ambos depois de 20 anos.

Campeão de 2009, o Salgueiro teria como enredo os livros. Já a Beija-Flor de Nilópolis exaltaria os 50 anos da capital federal Brasília. A Portela entraria na avenida com uma temática bem diferente da que os torcedores estavam acostumados: a informática e a inclusão digital, com patrocínio da Positivo e “merchan” no samba-enredo.

Falando em “merchan” no samba, a Acadêmicos do Grande Rio, digamos, camuflaria uma homenagem aos desfiles e personagens mais marcantes do sambódromo num enredo patrocinado pela Brahma. A Estação Primeira de Mangueira, ainda em crise financeira, teria como tema a música brasileira, enquanto a Unidos do Viradouro homenagearia o México.

Envolta em grande expectativa pela volta do badalado carnavalesco Paulo Barros, a Unidos da Tijuca levaria para a Sapucaí um enredo sobre os segredos do dia a dia. A Unidos do Porto da Pedra teria como enredo as roupas. Já a Mocidade Independente de Padre Miguel apresentaria os paraísos idealizados pelo homem e a União da Ilha, de volta ao Grupo Especial, contaria a história de Dom Quixote de la Mancha e falaria sobre os sonhos impossíveis, inclusive o da própria escola de ficar na elite.

OS DESFILES

A Tricolor insulana, de fato, fez uma agradabilíssima apresentação e a sonhada permanência não era mais impossível – o Migão já escreveu sobre esse desfile no blog. Com um enredo bem desenvolvido por Rosa Magalhães (“Dom Quixote de La Mancha, o cavaleiro dos sonhos impossíveis”), a Ilha mostrou a leveza característica de seus desfiles e o requinte habitual nas alegorias e figurinos desenvolvidos pela carnavalesca.

Gostei da comissão de frente formada por toureiros, que jogavam rosas para o público. O bonito abre-alas tinha um Dom Quixote gigante, cheio de livros em volta. No elemento seguinte, o fiel escudeiro Sancho Pança pulava numa cama elástica, em belo efeito. Mas o destaque foi o quarto carro, no qual as lutas de Dom Quixote contra os moinhos de vento foram mostradas.

Houve ainda alguns momentos de tensão, com um acidente no veículo que transportava baianas. Apesar de 12 senhoras terem se ferido, a ala acabou desfilando sem problemas. Outro susto foi quando uma alegoria teve dificuldades para superar o famoso viaduto que fica no entorno do sambódromo. Mas a evolução não chegou a ficar comprometida.

Já o samba-enredo, que tinha os versos “Voltou a Ilha / Delira o povo de alegria”, funcionou bem e os componentes tiveram boa harmonia. O cantor Ito Melodia teve ótima atuação e seria contemplado com o Estandarte de Ouro de melhor intérprete. A Ilha terminou seu desfile com a certeza de ter cumprido um bom papel, e, apesar de sempre os jurados canetarem as escolas que abrem os desfiles, havia boa perspectiva para a apuração.

Já a Imperatriz Leopoldinense teve uma apresentação bem irregular com o enredo “Brasil de Todos os Deuses”, do carnavalesco Max Lopes – o Migão também escreveu sobre o desfile no blog. Apesar da beleza de alegorias e fantasias, o desfile teve notórios problemas em Harmonia e Evolução, esta sobretudo prejudicada pelo gigantismo do abre-alas, muito difícil de ser manobrado pelos diferentes elementos acoplados, que teimavam em não ficar em linha reta devido a um erro de projeto.

De qualquer forma, essa alegoria, chamada “Coroa das Divindades” era lindíssima, toda em branco, com cavalos alados ladeando a coroa, símbolo da escola. Outra alegoria que demorou a ser manobrada, mas era linda, chamava-se “Terra de Tupã”, com muitos índios e uma enorme escultura do deus Tupã. Os demais carros e fantasias agradaram, com uma divisão cromática valorizando o branco, o dourado e o verde.

Mas o excelente samba-enredo (que derrotaria o da Vila Isabel na duríssima briga pelo Estandarte de Ouro) não rendeu o que dele se esperava tanto para os desfilantes como para os espectadores, mesmo com a fabulosa bateria de Mestre Marcone dando mais um show. Mesmo bonita, a Imperatriz deixou a avenida com a expectativa de brigar, com boa vontade, no sábado das campeãs, até porque correu demais no fim para não estourar os 82 minutos.

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Terceira escola a desfilar, a Unidos da Tijuca fez uma apresentação extraordinária para se colocar como favorita ao campeonato, mesmo sendo apenas a terceira escola a passar no domingo. O carnavalesco Paulo Barros acertou a mão no enredo “É segredo”, aliando criatividade e surpresas constantes ao público, que aplaudiu a agremiação do Borel.

Para começar, a comissão de frente trocava de roupa no meio da pista por seis vezes em cada apresentação, em meio a truques de ilusionismo. Mais surpresas estavam reservadas para o abre-alas, que representava o incêndio na biblioteca de Alexandria. Foram usados 50 turbinas de ventilador e 16 máquinas de fumaça para reproduzir o efeito de incêndio de forma impressionante. Na parte traseira da alegoria, os livros que se tornaram segredos perdidos.

tijuca2010cA segunda alegoria também era brilhante e remetia aos jardins suspensos da Babilônia, com direito a 5 mil mudas de plantas naturais no elemento. Já o terceiro carro lembrava os segredos da arqueologia, com partes giratórias que mostravam faces simbolizando pedaços da história. Outro carro que chamou a atenção foi a que representava o segredo do cavalo de tróia.

Como de costume, Paulo Barros lembrou de personagens da cultura pop. No caso, os super-heróis e seus segredos: o carnavalesco colocou uma alegoria com uma pista inclinada na qual destaques fantasiados de Batman esquiavam e outros vestidos de Homem-Aranha escalavam.

tijuca2010bOutro personagem famoso relembrado foi o cantor Michael Jackson, morto no ano anterior. No caso, um sósia do cantor aparecia dançando “moonwalk” numa alegoria que remetia à famosa, mas secreta, área 51 nos Estados Unidos (complexo militar no qual estariam guardados segredos do país).

As fantasias, assim como as alegorias, mostravam muita criatividade, como na ala sobre mistério do túmulo de Cleópatra e a que mostrava o Triângulo das Bermudas, com estruturas triangulares com várias bermudas penduradas como figurinos.tijuca2010

Outro momento de impacto foi com a bateria, cujos ritmistas estavam vestidos com ternos pretos para simbolizar a máfia americana (e seus segredos) e abriam caminho para um carro antigo (em tripé, claro) passar por eles com a rainha de bateria Adriane Galisteu fantasiada de “dama da máfia”.

Em meio a uma exibição fantástica, apenas dois pequenos senões: o samba, embora descrevesse bem o enredo, não tinha uma melodia das mais requintadas. E a bateria de Mestre Casagrande, apesar de perfeita nas bossas e paradinhas, estava num ritmo acelerado demais pro meu gosto. Mas, como escrito, pouco para comprometer um desfile de campeã como esse.

Já a Unidos do Viradouro fez uma apresentação muito decepcionante com o enredo “México, o Paraíso das Cores, Sob o Signo do Sol”. Com alegorias sem impacto e criatividade, com direito até a Chapolin, o enredo realmente poderia ter tido um desenvolvimento bem melhor.

Além disso, a divisão cromática pendeu para cores muito escuras em figurinos que, diga-se de passagem, também não eram dos mais inspirados. Aliás, a escola de Niterói passou a impressão de que tinha muito menos recursos do que suas antecessoras, algo surpreendente se analisado o histórico da escola no Grupo Especial.

Para piorar, o samba-enredo era quilométrico e não contagiou nem componentes e nem público – sem contar que o cantor Wander Pires exagerou a dose nos cacos e reverberações. Sem Mestre Ciça, que foi para a Grande Rio, a bateria também não esteve numa noite das mais inspiradas, apesar de uma boa cadência.

salgueiro2010bCampeão de 2009, o Salgueiro fez mais uma exibição de muita qualidade nos quesitos plásticos. Mas desta vez, apesar do sempre elogiável trabalho do carnavalesco Renato Lage no desenvolvimento do enredo “Histórias sem fim”, sobre os livros, a Vermelho e Branco não teve uma passagem tão quente como a do ano anterior e ainda sofreu com alguns problemas que seriam fatais na apuração.

Para começar, o samba-enredo não explodiu, apesar de bastante executado na fase pré-carnavalesca e com um refrão considerado forte – veja mais nas Curiosidades. Além disso, houve problemas visíveis no quesito Evolução, devido à dificuldade para os carros serem manobrados tanto na entrada na avenida como para a saída da pista.

salgueiro2010De qualquer forma foi um desfile muito bonito. O belíssimo abre-alas representava a oficina de Gutemberg e o surgimento da impressão, com a já tradicional exibição de componentes da Intrépida Trupe e ainda de artistas do Cirque du Soleil. A tradicional biblioteca foi representada na segunda alegoria, com concepção e acabamento perfeitos – os componentes ainda jogavam livros para o público.

Agradou bastante o elemento que mostrava o Sítio do Picapau Amarelo, com uma enorme escultura da boneca Emília. O badalado Harry Potter foi simbolizado em outra alegoria com um grande castelo do personagem. As demais alegorias e fantasias multicoloridas também agradaram bastante e representaram obras como “O Pequeno Príncipe”, “Os Lusíadas”, “Os três mosqueteiros”, “Don Quixote” e “Alice no País das Maravilhas”.

Mas, como já descrito, a evolução salgueirense foi complicada e os componentes tiveram de apertar o passo no fim para que o tempo não fosse estourado. Conseguiram. Porém, o Salgueiro terminou o desfile com a típica sensação de que poderia ter feito melhor na avenida.

beijaflor2010Já a Beija-Flor de Nilópolis chegou ao desfile sob críticas pelo enredo sobre Brasília. Afinal, a agremiação recebeu um patrocínio de R$ 3 milhões do governo do Distrito Federal, cujo então mandatário José Roberto Arruda, do DEM, havia sido preso por corrupção. A escola se defendeu e informou que o político havia cumprido o acordado e apenas os aspectos da construção da cidade e do povo candango seriam abordados.

De fato, foi isso que aconteceu, e a Deusa da Passarela fez mais uma exibição muito correta nos quesitos, embora sem o brilhantismo de outros carnavais e sem conquistar o público. Afinal, o clima que precedeu o desfile não era mesmo dos melhores e o samba-enredo, apesar de bem descritivo e com boa melodia, era muito longo (uma característica da escola) e não tinha explosão – a Azul e Branco ainda foi prejudicada por problemas no sistema de som.

De qualquer forma, a bela exibição nilopolitana começou com uma literalmente brilhante comissão de frente, com uma fantasia prateada e luzes coloridas segurando clarins para anunciar um beija-flor, representado por um componente em lilás que saía de um tripé simbolizando a catedral de Brasília. O enorme abre-alas era acoplado e tinha 60 metros de comprimento, com duas enormes esculturas retratando o deus Tupã, a deusa Jaci e o índio Paranoá (nome de um dos lagos de Brasília), com muito neon azul em volta.beijaflor2010b

Já o segundo elemento era todo em dourado e simbolizava a cidade egípcia de Akhetaton, que, segundo a sinopse, guardaria semelhanças com Brasília por ser faraônica e ter sido projetada e concluída em poucos anos. Outro elemento simbolizava a construção de Brasília, com destaques misturados a bonecos para retratar os 65 mil operários que se deslocaram para erguer a nova capital.

Em seguida, foi mostrada a diversidade cultural e do povo candango e a escola encerrou o desfile lembrando a posse de Juscelino Kubitschek, sem contar a história de Brasília consolidada como a capital federal. De qualquer forma, apesar de frio, foi um bonito desfile, que provavelmente credenciaria a Beija-Flor a ficar entre as primeiras colocadas, mas aparentemente sem ameaçar o favoritismo da Unidos da Tijuca.

Depois do péssimo resultado de 2009, a Mocidade Independente de Padre Miguel conseguiu se recuperar e fez um desfile bastante agradável, que a deixou sem o menor risco de rebaixamento. Dada a condição financeira difícil da escola naquele momento, o carnavalesco Cid Carvalho desenvolveu o enredo “Do Paraíso de Deus ao Paraíso da Loucura, Cada um Sabe o Que Procura” de forma bastante correta.

A comissão de frente chamava-se “Anjos – Os guardiões do paraíso” e tinha, além dos anjos, dois bailarinos levados num tripé representando a entrada do paraíso – houve problemas com o elemento, cuja porta não abriu em alguns momentos. O destaque das alegorias foi o lindo abre-alas em dourado e lilás, simbolizando a ligação do paraíso com a imagem da gênesis bíblica.

Na segunda alegoria, foi reproduzido o reino africano de Preste João, onde seria o paraíso na Idade Média. Gostei também do terceiro carro, que mostrava o paraíso tropical, no caso o Brasil. Dali em diante, o carnavalesco abordou o paraíso desvirtuado, como os paraísos fiscais e os shoppings, no caso o paraíso do consumo.

O samba-enredo era marcheado, mas o refrão principal era contagiante e agradou ao público. Os componentes também cantaram com entusiasmo e a escola passou muito bem nos quesitos Harmonia e Evolução. A bateria de Padre Miguel passou um pouco mais acelerada do que o normal, mas ainda assim mantinha cadência aceitável.

A Mocidade saiu da pista de alma lavada por ter deixado para trás o desastre do ano anterior e, arrisco afirmar, por ter feito o desfile mais descontraído, para não dizer descompromissado do ano (ao lado da Mangueira, como veremos mais adiante). Enfim, a escola brincou Carnaval.

Já a Unidos do Porto da Pedra tentou fazer o mesmo, mas não obteve grande sucesso com o enredo “Com que Roupa…Eu Vou? Pro Samba que Você me Convidou”, sobre a evolução da moda. Até que as alegorias e fantasias do carnavalesco Paulo Menezes eram corretas em concepção e acabamento, mas a divisão cromática me pareceu pesada, com muito dourado.

Para piorar, o samba-enredo era fraco e não conseguiu conquistar nem o público nem os próprios componentes que não passaram com grande entusiasmo. O destaque absoluto do desfile foi a bateria do Mestre Thiago Diogo, com excelentes bossas e paradinhas. Mas, como passou melhor do que a fraquíssima Viradouro, o rebaixamento não parecia um fantasma assustador.

Outra que teve uma apresentação para esquecer foi a Portela. O enredo “Derrubando Fronteiras, Conquistando Liberdade…Um Rio de Paz em Estado de Graça!”, dos carnavalescos Lane Santana e Alex de Oliveira, foi decidido muito tarde e o desenvolvimento não foi o mais correto – veja mais no Cantinho do Editor. E, convenhamos, um enredo sobre informática, e com “merchan”, não tem nada a ver com as características da agremiação.

Fato é que o desfile foi todo um equívoco. A começar pelo samba-enredo, um dos mais fracos da história portelense. As alegorias e fantasias tiveram poucos momentos de inspiração, sobretudo os figurinos, que tiveram uma concepção e acabamento muito abaixo do padrão da escola.

De todos os quesitos, a escola só se salvou em Bateria, sempre firme sob o comando do Mestre Nilo Sérgio, e Harmonia, já que os componentes se desdobraram mesmo com as limitações do samba. Com uma explanação confusa do enredo, a Portela só não esteve pior do que a Viradouro, já que os quesitos de pista salvaram.

granderio2010A Acadêmicos do Grande Rio se credenciou à briga pelas primeiras colocações com uma bonita apresentação. O criticado enredo “Das Arquibancadas ao Camarote nº1…Um ‘Grande Rio’ de Emoção na Apoteose do seu Coração”, do carnavalesco Cahê Rodrigues, teve um bom resultado na pista.

O “merchan” da Brahma, em que pese a citação clara no refrão principal, foi desenvolvido de uma maneira que valorizou a história do sambódromo, apesar de licenças poéticas, digamos, como a citação ao enredo “Bum bum paticumbum prugurundum”, do Império Serrano, antes de a pista de desfiles ter sido aberta.

Mas, enfim, vamos ao desfile: gostei muito da comissão de frente que representava a mulata e o malandro típicos do Carnaval, estes vestidos com figurinos espelhados. Detalhe é que entre todas as mulatas da comissão, apenas uma era verdadeira (Cris Vianna) e descia de um tripé para interagir com os demais componentes. Já o abre-alas, com muitas personalidades do samba, tinha o símbolo da escola envolto em muito neon, o que deu bom efeito.

Três alegorias se destacaram na apresentação caxiense: uma reproduzia a linda alegoria dos huskies siberianos que pegou fogo no desfile da Viradouro em 1992. Outra homenageava o enredo “Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia”, da Beija-Flor em 1989, com lixo e enormes ratos. E a terceira prestava tributo a Jamelão, com uma enorme escultura do cantor, falecido em 2008.granderio2010b

Outra alegoria que agradou foi a que mostrou os símbolos de todas as escolas do Grupo Especial daquele ano (coroas, tigre, beija-flor, águia, surdo, estrela-guia, etc), além da reprodução da árvore do desfile da Mangueira que homenageou Caymmi em 1986, do garoto do joystick da Mocidade em 1992 e do pensamento dos carnavalescos na fase de criação.

Uma das alas mais legais do desfile foi a “Explosão Barroca de Arlindo e Rosa”, com belíssimas fantasias para lembrar o estilo dos dois grandes carnavalescos. Comovente também foi a passagem de Joãozinho Trinta, mesmo já debilitado pelos problemas de saúde.

Não gostei do samba-enredo, não pelo “merchan” em si ou pela boa descrição do enredo, mas por ser muito longo e sem nenhum trecho mais melódico e emocionante – seria uma boa oportunidade para que os desfiles antigos fossem lembrados num “samba de verdade”, como diria Fernando Pamplona.

granderio2010cNa sua chegada à escola, Mestre Ciça impôs logo seu estilo marcante: muitas paradinhas ousadas, bossas surpreendentes e um ritmo bem veloz às marcações. Claro que o público adorou, até porque os ritmistas de Caxias mostraram a precisão de costume. Aliás, os componentes estavam vestidos de garis, numa outra citação ao desfile da Beija-Flor de 1989.

Sem pecados em Evolução e Harmonia como em anos anteriores, a Grande Rio deixou a pista certa de uma boa colocação, sem no entanto ameaçar o favoritismo arrebatador da Unidos da Tijuca. Pena só que o homem voador que desfilou em 2001 pela própria escola não tenha podido repetir o voo por problemas técnicos na mochila com propulsão.

vila2010Já a Unidos de Vila Isabel, mesmo com bons momentos, não correspondeu às enormes expectativas pela homenagem a Noel Rosa e ficou abaixo do que se esperava – o Migão já comentou o desfile no Ouro de Tolo. Para começar, um lamentável, para não dizer inaceitável, problema no sistema de som atrapalhou a escola durante intermináveis 23 minutos. Isso não só prejudicou a harmonia como tirou o impacto inicial da apresentação.

Autor do excelente samba-enredo, Martinho da Vila apresentou a escola vestido de João Cândido. A comissão de frente agradou, com os componentes carregando violões que, quando repousados na pista eram movimentados por controle remoto.

Já o desenvolvimento do enredo não agradou aos mais puristas, que esperavam um passeio pelos sucessos do compositor, precocemente falecido. Na verdade, o carnavalesco Alex de Souza optou por lembrar de fatos marcantes do mundo quando da época do nascimento de Noel e lembrar a vida boêmia do artista.

As alegorias, diga-se de passagem, também não causaram aquele impacto, exceto por um elemento que mostrava o universo dos bares com uma enorme mesa de sinuca. Houve também alguns problemas de acabamento nos demais elementos e figurinos.

Mas o grande problema da escola em 2010 foi a bateria. A chegada do excelente Mestre Átila não caiu bem para os ritmistas, que preferiam algum diretor de bateria da comunidade. Além disso, o problema já citado no sistema de som causou um colapso em determinado momento e foi possível ver Átila tenso. O andamento da bateria, com uma levada mais “pra cima” também gerou críticas.

Fato é que a Vila Isabel, mesmo com o problema de som tendo sido resolvido, não fez uma apresentação que a credenciasse para o título, apenas para uma colocação no sábado das campeãs com boa vontade. Ficou a sensação de que o samba e o enredo foram desperdiçados.

mangueira2010bA Estação Primeira de Mangueira encerrou os desfiles de 2010 com uma exibição de muito samba no pé e garra dos componentes na defesa do enredo “Mangueira é a música do Brasil”, dos carnavalescos Jaime Cezário e Jorge Caribé. Apesar de problemas estéticos visíveis devido à falta de recursos, já que a escola não teve patrocínio, o enredo foi dividido com muita coerência.

A comissão de frente chamava-se “Um Brasil que Canta e que é Feliz”, com um piano de tripé e com diversas danças. O abre-alas representava a favela da Mangueira se transformando num castelo, com esculturas de seus baluartes e de Jamelão. As demais alegorias tinham fácil leitura, como a que homenageou a Bossa Nova e a Jovem Guarda, esta com um grande calhambeque e uma escultura do Rei Roberto Carlos.

O período da censura foi lembrado numa alegoria bastante sombria, assim como nas fantasias de diversas alas. Diga-se de passagem, mesmo sem luxo, os figurinos também contavam o enredo com muita correção, e agradou o figurino do mestre-sala Raphael, que desfilou vestido de Cartola.

mangueira2010

O samba-enredo funcionou bem na avenida e os intérpretes Luizito, Rixxa e Zé Paulo (chamados pelo presidente Ivo Meirelles de Três Tenores) o conduziram com firmeza. Mas o grande destaque foi a bateria, que, além de ter se mostrado muito firme nas marcações, tinha figurinos de presidiários (para lembrar a repressão da ditadura) e havia componentes com grades em volta dos ritmistas, numa coreografia liderada por Carlinhos de Jesus.

Foi uma apresentação sem problemas aparentes nos quesitos de pista e, depois de lembrar o funk numa das alegorias repleta de “popozudas” em esculturas e mulheres de verdade, a Mangueira deixou a Sapucaí na expectativa de tentar uma vaguinha no Desfile das Campeãs. Um desfile muito alegre e divertido, em resumo.

REPERCUSSÃO E APURAÇÃO

Consagrada pela crítica, a Unidos da Tijuca foi considerada de forma praticamente unânime a favoritíssima ao campeonato. A escola do Borel arrebatou os prêmios do Estandarte de Ouro de melhor escola e melhor comissão de frente. Só mesmo algo surpreendente tiraria o campeonato da Tijuca, já que Beija-Flor, Grande Rio e Salgueiro fizeram bons desfiles, mas deixaram aquela sensação de “quero mais”.

A apuração começou com a liderança da Mangueira após as leituras dos quesitos Bateria, Samba-Enredo e Harmonia, nos quais realmente a escola esteve bem e somou pontuação máxima (30 por quesito).

Mas, como se esperava, a carruagem mangueirense logo virou abóbora e a disputa ficou entre Unidos da Tijuca e Beija-Flor. Mas a escola do Borel arrancou para o título após a leitura do sétimo quesito e, no total, obteve apenas apenas cinco notas diferentes de dez (sendo todas 9,9 e quatro delas descartadas) para conquistar um merecidíssimo campeonato depois de 74 anos sem títulos.

A Grande Rio ainda ficou com o vice ao ultrapassar a Beija-Flor no penúltimo quesito lido (Comissão de Frente), enquanto a Vila Isabel , com notas ruins em Bateria e Alegorias e Adereços, terminou numa decepcionante quarta posição, seguida do Salgueiro e da Mangueira.

Como previsto, a Viradouro ficou na última colocação e caiu para o Acesso depois de 20 desfiles consecutivos na elite, enquanto a União da Ilha se manteve no Grupo Especial até com tranquilidade, 3,3 pontos à frente da escola de Niterói.

RESULTADO FINAL

POS. ESCOLA PONTOS
Unidos da Tijuca 299,9
Acadêmicos do Grande Rio 299,4
Beija-Flor de Nilópolis 299,2
Unidos de Vila Isabel 298,1
Acadêmicos do Salgueiro 298
Estação Primeira de Mangueira 297,4
Mocidade Independente de Padre Miguel 296,1
Imperatriz Leopoldinense 295,8
Portela 295,2
10º Unidos do Porto da Pedra 294
11º União da Ilha do Governador 293,8
12º Unidos do Viradouro 290,5 (rebaixada)

No Acesso, a São Clemente obteve uma tranquilíssima – mas também contestada – vitória com o irreverente enredo “Choque de Ordem na folia”, do carnavalesco Mauro Quintaes, sobre os rumos do Carnaval, tanto pela baderna nas ruas por causa dos blocos quanto pela mercantilização nas escolas de samba, tema aliás levado à Sapucaí pela própria agremiação em 1990 – misturado com uma louvação ao “choque de ordem” então levado a cabo pela Prefeitura do Rio. Caíram a Unidos de Padre Miguel e o Paraíso do Tuiuti, e subiu do Acesso B a Alegria da Zona Sul.

CURIOSIDADES

– O narrador esportivo Luís Roberto substituiu Cleber Machado e assumiu a condução das transmissões dos desfiles do Grupo Especial pela TV Globo ao lado de Glenda Kozlowsky. Luís segue até hoje na função e sempre visita todos os barracões na Cidade do Samba nos meses que antecedem o desfile para colher informações.

– No domingo seguinte ao Carnaval, uma interessante reportagem de Renata Ceribelli para o Fantástico mostrou os truques da comissão de frente da Unidos da Tijuca.

– As propagandas explícitas da Brahma no samba e no título do enredo da Grande Rio foram cortados pela TV Globo durante o desfile oficial. Na apresentação do enredo, o título foi mostrado pela metade, apenas com a frase “Um ‘Grande Rio’ de Emoção na Apoteose do seu Coração”. E sempre que se chegava ao refrão principal, os telespectadores não ouviam o áudio do trecho “No camarote número 1”. No Desfile das Campeãs, a Bandeirantes deixou o trecho no ar.

– Falando em Brahma, a grande atração no camarote homenageado pela Grande Rio foi a cantora Madonna e seu affair, o modelo Jesus Luz… Quem deu o que falar no camarote da rival Devassa foi a modelo-socialite Paris Hilton, que estrelara comercial da cerveja. Depois de posar para fotos, a americana mostrou todo seu vasto repertório de mau-humor na saída do camarote.

– A Mangueira foi a primeira escola de que se tem notícia a produzir por conta própria um clipe de divulgação de seu samba-enredo. Na produção, várias imagens do morro foram mostradas, com destaque para as casas de Delegado e Dona Zica.

– Emílio Santiago participou da gravação do samba da Mangueira no CD ao entoar como alusivo da obra os versos “Eu pensei em te dizer uma coisa / Mas, para quê, se eu tenho a música?”, da canção Bem Simples, do Roupa Nova. Ele ainda esteve no carro de som durante o desfile.

– O refrão principal do samba-enredo do Salgueiro tinha os versos “Uma história de amor / Sem ponto final / Academia do samba, Salgueiro / No livro do meu Carnaval” e a torcida do Flamengo resolveu fazer uma versão para os jogos do time: “Uma história de amor / Sem ponto final /Eu quero o tetra do Rio, Flamengo / Libertadores, Mundial”. Como se sabe, tanto o Salgueiro como o Flamengo naufragaram fragorosamente em seus sonhos para 2010.

– Martinho da Vila voltou a vencer uma eliminatória de samba na Vila Isabel depois de 17 anos. Com isso, ele chegou a dez vitórias na agremiação (1967, 1968, 1969, 1970, 1972, 1980, 1984, 1987, 1993 e 2010). Ele também venceria em 2013 e 2016, o que o deixaria como único compositor na história com vitórias em seis décadas diferentes.

– Falando em Martinho, depois da vitória houve muitas críticas a Mestre Átila pelo andamento acelerado imposto à obra tanto no CD como na avenida. No DVD “Lambendo a Cria”, Martinho regravou o samba numa cadência extraordinária, o que valorizou ainda mais a grande obra.

– Uma novidade no desfile de 2010 foi a transformação do recuo da Rua Salvador de Sá num palco em formato de rampa para os ritmistas ficarem. Além de causar desconforto aos componentes, a visão do público do setor 11 foi severamente prejudicada.

CANTINHO DO EDITOR – por Pedro Migão

Migão Portela2O Ouro de Tolo cobriu aquele carnaval. Os textos podem ser vistos aqui.

Para a Portela, o carnaval que poderia ser o do tão sonhado título após os bons carnavais de 2008 e 2009 acabou sendo um pesadelo desde o início. A começar pela demora na definição do enredo, o que somente aconteceu em agosto – e antes deste enredo sobre tecnologia, inclusão social e governo, chegaram-se a cogitar enredos sobre o então Presidente Lula e sobre os 200 anos da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

A sinopse dos carnavalescos Lane Santana e Alex de Oliveira (este último inexperiente em grandes escolas) tentava ser criativa, mas era bastante confusa. Isso levou a uma safra de sambas fraca em que, a meu juízo, o melhorzinho era o assinado por Noca da Portela – que caiu bem antes da final. O vencedor deveria ser o finalista do hoje presidente Serginho Procópio, mas uma vez mais venceu Júnior Scafura – para nenhuma surpresa.

O samba recebeu o “Positivo pra nação”, em marketing de emboscada do patrocinador, entre a vitória nas eliminatórias e a gravação do CD.

Mais uma vez a preparação do desfile sofreu com a falta de recursos destinados pelo então presidente ao barracão, só que desta vez somada à concepção totalmente equivocada de fantasias e alegorias por parte dos carnavalescos e ao próprio enredo fora das características portelenses. O nono lugar saiu até barato – pessoalmente, deveria ter ficado apenas à frente da Viradouro.

Alex de Oliveira ainda jogaria o Jacarezinho na Intendente aquele ano, com um enredo semelhante ao da Portela – e “Jacarezinho ponto com ponto br” no samba…

Meu desfile também foi complicado: me envolvi em uma tremenda confusão na concentração – com direito a dedo na cara e quase pancadaria – e a minha fantasia, além de quase me desidratar, foi se desmanchando na avenida.

Acesso A 2010 001Também desfilei no Império Serrano, muito prejudicado pelo som, e no Boi da Ilha do Governador, com roupa de diretoria mas fazendo Harmonia de ala. Boi da Ilha que obteve o sétimo lugar na pista mas que acabou rebaixado à Intendente Magalhães por não ter retirado seus carros da dispersão – em episódio até hoje não esclarecido. Assisti aos dois Grupos de Acesso nas frisas do Setor 3 e ao Especial nas arquibancadas do mesmo setor, os dois dias.

O Tuiuti também foi rebaixado porque a bateria veio toda com roupas diferentes, dentro da proposta de um baile de carnaval – mas o regulamento não permite.

O resultado do Acesso A foi envolto em polêmicas desde muito antes do desfile, com os boatos de que estaria “acertado” para a Cubango ser promovida ao Especial – a ponto do então carnavalesco Milton Cunha usar sua coluna no jornal O Dia para desmentir os boatos. Por outro lado, a vitória da São Clemente foi uma “surpresa” até para a própria escola, cuja quadra estava fechada no dia da apuração – e que desfilou com bastante coisa reciclada de anos anteriores. A Renascer, considerada a favorita, também levou uma punição, parando apenas no oitavo lugar.

A Estácio também fez um belo desfile e a reedição de “E Por Falar em Saudade” levada a cabo pela Caprichosos proporcionou um “bailão de carnaval” na avenida.

Em um ano muito fraco de desfiles, mesmo sem ter sido brilhante, a Alegria da Zona Sul levou com justiça o título do Acesso B.

Especial (Segunda _ Acesso B 2010 288Embora a Vila Isabel tenha seu samba assinado apenas por Martinho da Vila, a letra reaproveita partes de um outro samba dele, em parceria com Gracia do Salgueiro. Ao que consta, após o desfile houve acerto financeiro entre Martinho e a família do compositor. Reza a lenda que o samba também tem a “Presença de Diniz” na melodia, nunca confirmada. O desfile foi muito prejudicado pelo boicote da bateria ao Mestre Átila, vindo de fora da agremiação.

A Imperatriz foi prejudicada em seu desfile pelos problemas de Harmonia e pelo erro de projeto dos tripés do abre alas, mas o “Mar de Fiéis”, como ficou conhecido o samba, foi levado no colo pelos segmentos até a vitória na disputa.

A Grande Rio fez talvez aquele que é seu melhor carnaval no Grupo Especial, apesar do boicote da televisão ao “Camarote Nº1” tanto no samba como no primeiro setor, não mostrado pela escola. Mas o incrível é que a escola fez um enredo sobre os carnavais do Sambódromo (mesmo que citando desfiles anteriores, como o “Bumbum” do Império Serrano de 1982) sem citar a Portela em momento nenhum.

O abre alas do Salgueiro era praticamente idêntico a carro levado por Renato Lage em 2002 na Mocidade. O samba era tão parecido com o do ano anterior que no esquenta, eu achei que já era a composição de 2010…

O desfile da Beija Flor sobre Brasília – enredo que, originalmente, estava destinado à Portela – foi chato demais. O final do domingo com a sequência Viradouro, Salgueiro e Beija Flor foi um dos mais maçantes dos últimos anos neste grupo.

Apesar de não ter feito um bom desfile, a Viradouro desde antes do carnaval era meio que “bola da vez” para ser rebaixada, devido aos problemas políticos do então presidente Marco Lira com a Liesa e dentro da própria agremiação. O samba ganhou uma paródia:

“Arriba, Viradouro, no Acesso / eu vou chegar / com lenço vermelho, sombreiro na mão / no sábado enfim vou desfilar!”

Especial (Segunda _ Acesso B 2010 027O samba da Mocidade ganhou de um torcedor da escola, amigo meu, a alcunha de “samba prostituta”: todo mundo gosta, mas ninguém quer na sua escola… Mas a composição passou muito bem. Elza Soares veio à frente da bateria em uma espécie de “andador”, pois estava com a bacia fraturada (foto).

Os diretores de bateria da Mangueira simulavam policiais, na repressão à música brasileira dos tempos do Regime Militar – a bateria estava vestida de presidiário. No Setor 1, na primeira “batida” simulando prisões, foi um “barata voa” danado – tanto ritmistas como o público achando que era uma ação policial verdadeira. Foi uma correria…

No Acesso B, destaque para o belo trabalho do carnavalesco Severo Luzardo no vice campeão Arranco.

Links

O sensacional desfile que deu o título à Unidos da Tijuca

Mais um vice-campeonato da Grande Rio

A apresentação da Beija-Flor em 2010

A homenagem da Vila Isabel a Noel Rosa

Fotos: Liesa, O Dia, Arquivo Pessoal Pedro Migão e G1

26 Replies to “Sambódromo em 30 Atos: “2010: Tijuca revela segredos e finalmente vai além””

  1. Acho que descobrimos o motivo da implicância do Migão com a Grande Rio, rs. Esse samba da Mocidade é um dos grandes exemplos do que é uma “marchinha safada”. No esquenta salgueirense (surpreendentemente mostrado pela Globo) também tive a impressão de ser o samba daquele ano. A comissão de frente da Tijuca foi tão absurda, no bom sentido, que me fez perder a graça de ver qualquer outra depois, isso que na época os tripés não destruíam as CFs. Gosto dessa safra, além dos indiscutíveis sambas da Imperatriz e Vila, me agradam os da Mangueira, Ilha, a “marchinha safada” da Mocidade e até mesmo o da Beija-Flor, só que este apenas no CD, porque pra desfile é um porre.

  2. Fred, antes de mais nada, como você me disse no comentário da coluna anterior, a produção do cd de 2010 errou (e feio) a mão no andamento dos sambas que estavam inexplicavelmente acelerados, Portela, Mocidade (ambas absurdamente) Salgueiro e Ilha estavam mais acelerados que o normal. Dúvida: E “O camarote númereo um” da Grande Rio foi censurado pela globo a mando da Nova Schin (patrocinadora da transmissão na época)?

    Isto posto, vamos ao desfile:

    A Tijuca fez uma apresentação SENSACIONAL (com todas as letras maiúsculas) o melhor desfile de carnaval que vi na minha vida. E aquela comissão de frente, hein? SENSACIONAL! Um título merecidíssimo! Mas em 2010 tive que presenciar e chorar o rebaixamento da minha gloriosa Viradouro, que fez um desfile muito abaixo do normal. mas a verdade é que Marco Lira destruiu a Viradouro (a ponto de colocar a própria filha, na época com 7 anos como rainha de bateria) Felizmente, o Clarão arrumou a casa e colocou a escola no seu devido lugar.

    No Grupo A, lembro que a apuração foi pra lá de tumultuada (a começar por ter sido feita na terça-feira de carnaval, 1 dia antes do especial) os torcedores da Unidos de Padre Miguel que foram ao Terreirão, revoltados, jogaram bandeiras, copos, latas, etc. em direção ao Reginaldo Gomes.

    Aliás, sobre esse título (contestável) da São Clemente, Migão, na coluna de 2003 você me disse que não poderia contar esta história, é por causa daquela coisa de “todo mundo sabe, mas não pode ser dito”? hehehe…

    1. Carlos, sim, a Nova Schin teria ordenado que não se mostrasse nada da Grande Rio (nem o primeiro setor da escola nem o verso do refrão do samba).

      Ouvi isso na Tupi FM, porque o som na rádio saía perfeito, daí eles comentaram a maracutaia!!!

      E mesmo sem versão oficial, alguém discorda disso? =/

      1. Não foi a cervejeira, foi a Globo. Em 2012 o samba sobre o iogurte teve de ser todo alterado após a final por causa da emissora

        1. Bem lembrado dessa de 2012.

          Na gravação das vinhetas da Globo, ninguém pôde exibir o logo da Danone dos uniformes. A saída foi um paletó vermelho pra todo mundo!!

  3. Pra início de conversa, não vejo td isso no desfile da GR (que tb não teve o Abre-Alas mostrado pela Globo)… Vi uma evolução confusa em certos momentos, até tumultuada, dado o pouco espaço que o casal de MS & PB teve pra se apresentar… Achei uma tremenda falta de respeito colocar as baianas pra representarem o lixo… E citações a Império Serrano 82 e Ilha 78 eram falhas… Fora isso eu até gostei, como da Alegoria dos ratos SENSACIONAL! E, embora eu nunca tenha me prendido a isso, a atuação de Paolla Oliveira como rainha foi ESPETACULAR! Deu um show!
    A Globo tb cortou o áudio durante uma passada inteira do samba (o que eu gostei pq deu pra ouvir mto melhor a Bateria)… Me lembro que no dia seguinte, um amigo postou numa comunidade do finado Orkut que a Grande Rio poderia ser penalizada por não cantar um trecho do samba… SABIA DE NADA, O INOCENTE haahahaha

    1. Qual foi a parte do samba que se refere ao Império de 1982??

      Não sei se “o amanhã como será” se refere à Ilha 1978 ou à Tijuca de 2004, porque depois vem “DNA, princípio da vida”.

  4. Sobre os outros desfiles: De fato a Tijuca sobrou, e mereceu o título! Mas em alguns quesitos a Escola foi julgada pela CF espetacular, como samba-enredo, onde era pra perder alguns pts… A Alegoria dos jardins suspensos é uma das coisas mais SENSACIONAIS que vi na vida! Outra Alegoria sensacional é o Abre-Alas da Beija-Flor, que fez um desfile correto, mas longe dos outros anos, e se perdeu no final com akela história de caldeirão cultural… A expectativa para o desfile da Vila era enorme, do msm tamanho de sua decepção, mto por causa da falha de som… A interessante CF teve problemas na condução do violão (em um determinado momento, ele não ia ao componente)… Achei o desenvolvimento do enredo do Salgueiro bem falho, pois o Renato ia colocando tudo solto, sem ligação coerente, além de um desfile bastante frio… E lá embaixo, a Viradouro pediu e caiu… Mas achei um ABSURDO a Portela ter ficado à frente de Porto da Pedra e principalmente União da Ilha, que fez um desfile excelente pra quem abria e msm assim foi canetado pelos jurados, que só não a derrubaram pro Acesso pq a Viradouro foi insuperável…
    No Acesso, nunca foi tão equilibrado, onde nenhuma escola se destacou, mas era pra ser a São Clemente msm, apesar dos enormes erros no samba (“Eu bem que te avisei que o samba um dia ia sambar” – na verdade a SC não avisou que o samba ia sambar em 1990, e sim afirmava que o samba havia sambado; além de ser mal construído por falar bem do RJ na primeira parte e a partir do refrão do meio só fala mal…)

  5. Sobre os sambas: Finalmente deu uma melhorada considerável, com uma obra-prima (Imperatriz), um belíssimo samba (Vila Isabel) e dois sambas excelentes (Beija-Flor e Mangueira). O Samba da Vila Isabel tb era uma obra-prima, mas as mudanças da Escola (e do André Diniz tb) tirou quase 50% do brilho ao fazer um refrão curto no meio virar um quilométrico refrão, que tirou deixou um pouco arrastado… Achei engraçado o redator dizer que Martinho ganhou a disputa, pq na vdd nem houve disputa rsrsrs (tanto que foi a única vez que o Diniz não concorreu, pq sabia que não ia ganhar). As eliminatórias da Imperatriz foram , DISPARADAS,as melhores que acompanhei na vida! Tinham, sem exagero, 10 sambas com grandes condições de representar a Escola, sendo dois deles obras divinais (a que ganhou merecidamente, e a do Armênio Poesia em parceira com, entre outros, Zé Katimba). A Viradouro poderia entrar pra lista dos sambas excelentes se tivesse escolhido o samba que o Wander Pires cantava (“Virgem amada, eu canto a minha fé/ Me cobre com seu manto, me dê a sua mão/ Mexe com meu coração”), mas preferiu o arrastadíssimo samba do Floriano… Na pobre safra portelense o samba do Noca sobrava, mas nakela época não havia disputa na Portela… E por causa da falta de energia na semifinal, 6 sambas estavam na final da Ilha, algo inédito pra mim…

  6. – Vila Isabel e Imperatriz provaram que o gênero samba-enredo ainda tinha salvação. Mesmo com as obras não rendendo o esperado na avenida.

    – Do samba salgueirense apenas o refrão principal me agrada. Havia pelo menos dois melhores na disputa, ambos eliminados bem antes da final: os das parcerias de Moisés Santiago (cujo corte precoce foi estranhíssimo, o concorrente era muito melhor que o “Tambor”) e do Zé Di (de melodia das antigas, com direito ao caco “oh oh oh” no refrão).

    – O samba da Portela é inacreditável. Além do “Positivo pra nação”, a letra trazia outras pérolas como “num clique deleta barreiras”, “a luz da ciência é ela” (ELA quem, meu São Crispim?), além de enfiarem até a sagrada jaqueira no meio. E a o que era aquela águia high-tech do abre-alas? A jaqueira positiva pra nação?

    – O verso “Há muito tempo o homem deu no couro” é um dos mais estranhos que já ouvi num samba-enredo. Porto da Pedra nos brindou com muitos bois que nem podemos considerar trash nos últimos anos em que esteve no Especial (à exceção de 2011).

    – Os problemas da Viradouro começaram na gravação oficial do samba. Wander Pires teria subido trechos como “sopra um vento mestiço, uma avenida em festa” na hora, desagradando Gusttavo Clarão, que não assinava o samba mas era um dos co-autores. Diz a lenda que ambos bateram boca em pleno estúdio. Sobre o desfile, as alegorias eram quase do nível de Intendente.

    – Antes da Mangueira adentrar a pista, Milton Gonçalves fez um discurso emocionante, mas interminável. Pensei que nunca pararia de falar. O desfile foi muito divertido de acompanhar, as grades na bateria foi uma belíssima sacada.

    – O verso cortado pela Globo, “explode o camarote número um”, também dá a impressão de algum atentado contra o camarote da Brahma. A impressão que tenho é que, se o samba fosse mais envolvente, poderia ter brigado décimo a décimo com a Tijuca.

    – Final de samba do Império Serrano foi de excelente nível, mas no fim ganhou o considerado mais fraco, ainda que um bom samba. O do Arlindo Cruz era bem melhor, uma versão caseira do concorrente foi divulgada por engano no site Carnavalesco (compositores devem ter errado no envio do arquivo), mas até hoje ouço mais esta versão caseira do samba que a do estúdio… O samba do Ivan Milanez também era excelente.

    – O expediente do Tuiuti até hoje é inédito: uma reedição de enredo (1990) com outro samba, distinto de 20 anos antes.

    1. Marco, acho que o discurso interminável do Milton Gonçalves não foi em 2011, no ano de Nelson Cavaquinho? Ou foram nos dois?

    2. Marco, o Império Serrano em 2008 também reeditou enredo sem reeditar samba. E bem lembrado sobre este verso do Porto da Pedra…

  7. Depois que eu vi a sinopse da Portela, dizendo que a águia era um backbone, desejei ardentemente que ela caísse! É uma falta de respeito gigante!!

    Mocidade, enfim, fez carnaval!! Que show de harmonia!! Os corações dispararam!!

    No mais, obrigado, Vila Isabel e Imperatriz. Dois sambas maravilhosos, que estão no meu top-20 de todos os tempos!!

  8. Foi meu primeiro ano desde 2002 que não vi ao vivo, infelizmente. Mas consegui ir nas campeãs e a Grande Rio ATROPELOU a Tijuca. Foi o grande desfile do sábado que não vale nada. Infelizmente o samba do Noel foi dos mais chatos que ouvi na avenida nos últimos anos, passou muito mal (apesar de bonito); O que foi o abre-alas do Salgueiro? Nem parecia do Renato Lage. Alias eu tiraria Vila ou Salgueiro da campeãs e colocava a Mocidade.

  9. Foi o último desfile do saudoso Grupo B(à época,Grupo Rio de Janeiro)que eu vi, e o Alegria sobrou.O samba do Jacarezinho tinha um “Vou entrar no seu Orkut” no refrão do meio.Desfile horroroso,infelizmente.

    Martinho da Vila ganhou samba-enredo em sete décadas -não esqueçam do Aprendizes da Boca do Mato,onde ele foi compositor de 1957 a 1965.

    Pra mim, o “Quem é Império Serrano não chora” e o samba do Zé Di eram os melhores do ano,pena que a burrice das escolas não os deixou ir à avenida.Também sou fã do samba,ou melhor, da marchinha da Mangueira.

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