Nesta sexta-feira, a coluna Sabinadas, do jornalista esportivo Fred Sabino, faz uma análise de enredos e sambas das 12 escolas do Grupo Especial do Rio de Janeiro, além de dar notas entre 7 e 10 a cada samba, adotando critério um pouco diferente do oficial.

Os enredos e sambas do Grupo Especial do Rio

Demorei, mas cumpri a promessa: depois de finalmente conseguir ouvir com calma os 12 sambas-enredo do Grupo Especial do Rio de Janeiro e ler as sinopses de cada agremiação, vai aí uma análise do que esperar de cada desfile.

Em tempo: como não pude ir aos ensaios técnicos e/ou aos barracões, atenho os comentários aos sambas e aos enredos, além das informações colhidas com fontes carnavalescas nas últimas semanas. Meus palpites para o título e o Desfile das Campeãs eu já coloquei no post publicado pelo Migão nesta semana. Vamos então às análises, pela ordem de desfile.

Império da Tijuca

O instigante enredo “Batuk” promete muito, pois, como diz o título, fará uma viagem pela história das batucadas, desde a antiga África, passando pela época dos escravos no Brasil e chegando ao nosso conhecido samba. Estou muito curioso para ver o trabalho do promissor carnavalesco Júnior Pernambucano. O samba escolhido foi felicíssimo e no CD teve ótima interpretação de Pixulé, finalmente dando voz a um samba no Grupo Especial. Só que infelizmente os jurados costumam canetar impiedosamente as escolas que chegam do Acesso. E abrir os desfiles é sempre complicado. Sinceramente torço muito por uma boa apresentação da simpática escola do Morro da Formiga.

Samba: nota 9,7
Projeção de resultado: entre 10º e 12º lugares

Acadêmicos do Grande Rio

A escola de Caxias não fez uma apresentação das melhores no ano passado (e inexplicavelmente voltou no Sábado das Campeãs) e para este ano tem um enredo patrocinado sobre Maricá. Para tentar dar liga ao tema, o carnavalesco Fábio Ricardo dedicará um espaço generoso no desfile à cantora Maysa, que adorava o lugar – no título “Verdes Olhos de Maysa sobre o mar, no caminho: Maricá” há uma interessante associação entre os olhos da cantora e das águas que banham o local. Tomara que a escola esteja ao menos melhor no conjunto visual este ano e a ideia seja bem transmitida, porque, num primeiro momento, parece tudo muito confuso. O samba não é um desastre, mas simplesmente não me apeteceu no CD. Como a escola é forte politicamente, sempre pode se esperar um bom resultado na apuração.

Samba: nota 9,0
Projeção de resultado: entre 8º e 5º lugares

São Clemente

Com o experiente e competente carnavalesco Max Lopes, a escola da Zona Sul espera ter uma apresentação consistente nos quesitos visuais e na passagem do enredo “Favela”, que abordará as dificuldades vividas pelas comunidades carentes, como elas surgiram e ainda passará uma mensagem de esperança ao povo trabalhador desses locais. Gostei da escolha desta temática e acredito num bom trabalho de Max. Confesso, entretanto, que esperava mais do samba-enredo, embora também não seja um boi com abóbora.

Samba: nota 9,0
Projeção de resultado: entre 10º e 8º lugares

Estação Primeira de Mangueira

Depois de problemas nos últimos carnavais, a Verde e Rosa passou por uma grande reestruturação. Mudou presidente, mudou carnavalesca, mudou porta-bandeira… Gostei da escolha do enredo e me pareceu bem coerente a forma como ele deve ser desenvolvido pela Rosa Magalhães. Esta, por sinal, é sempre muito cuidadosa na concepção e acabamento de alegorias e fantasias, um calcanhar de Aquiles nos últimos desfiles. O enredo “A festança brasileira cai no samba da Mangueira” passeará por grandes festas da cultura brasileira e o samba-enredo é do tipo que cai bem para a escola, mesmo não sendo o melhor do ano. Não vejo a Mangueira campeã ainda, mas sinto algo como o que aconteceu no movimento “Muda, Mangueira” dos anos 90, em que a agremiação foi encorpando aos poucos até culminar no título de 1998. Aguardemos.

Samba: nota 9,7
Projeção de resultado: entre 6º e 3º lugares

Acadêmicos do Salgueiro

Eis a minha favorita ao título deste ano. O enredo “Gaia – a vida em nossas mãos” é interessantíssimo e vai abordar como diversos povos enxergam a criação do mundo e a nossa relação com o planeta, com uma mensagem de alerta para o futuro da humanidade. Em se tratando de Renato Lage, com este enredo podemos esperar uma exibição brilhante em abordagem do enredo, criação e acabamento de alegorias e figurinos. O samba-enredo, apesar do exagero na citação de orixás no refrão central, é agradável e sem dúvida será bem cantado pela comunidade salgueirense. Tomara que a escola consiga ter uma apresentação sem problemas de evolução, grande pecado da escola nos últimos anos.

Samba: nota 9,5
Projeção de resultado: entre 3º e 1º lugares

Beija-Flor de Nilópolis

A homenagem da Deusa da Passarela a Boni, um dos pilares históricos da TV Globo, rendeu críticas à agremiação. Para amenizar isso, a comissão de carnaval liderada por Laíla alegou que pretende contar a história da comunicação brasileira nas últimas décadas tendo o personagem do enredo como fio condutor. O samba também rendeu críticas, principalmente depois das mudanças exigidas por Laíla. A escola chegou a emitir um comunicado à imprensa para explicar o samba-enredo, algo que, confesso, nunca vi no Carnaval. Mas, apesar disso, sempre se espera uma Beija-Flor fortíssima em todos os quesitos e uma comunidade nilopolitana com a raça costumeira. Em 2013, a escola fez excelente desfile e teve grandes chances de título, mas problemas de evolução atrapalharam. Este ano, a Beija-Flor vem com tudo. Aguardemos a forma como o enredo vai ser passado na avenida.

Samba: nota 8,6
Projeção de resultado: entre 3º e 1º lugares

Mocidade Independente de Padre Miguel

Um enredo inteligentíssimo e um samba-enredo muito bem feito tendem a ser desperdiçados na avenida por causa de problemas internos. A conturbada saída do presidente Paulo Vianna a semanas do desfile, e atraso no barracão (integrantes da Portela foram ajudar os da Mocidade num mutirão para completar os trabalhos) preocupam seus torcedores, com razão. Pena, pois a homenagem a Fernando Pinto com o enredo de sugestivo título “Pernambucópolis” tinha tudo para reconduzir a Verde e Branco às primeiras colocações. Espera-se que os desfilantes compensem essas dificuldades com muita garra e cantem o feliz samba-enredo. Resta saber apenas como fantasias e alegorias chegarão à Sapucaí.

Samba: nota 9,7
Projeção de resultado: entre 10º e 12º lugares

União da Ilha do Governador

Um enredo com a cara da Tricolor insulana tende a render um agradável desfile. Vamos ver como o carnavalesco Alex de Souza vai abordar o universo dos brinquedos e brincadeiras, mas espero um desfile com muito colorido e leveza, como sempre foi característica da simpática escola. O fato de a Ilha ser a segunda a entrar no segundo dia costuma ser bom, pois escolas como Mangueira, Viradouro e Imperatriz já foram campeãs nesta condição, na qual o público está mais aquecido e com pique para cantar. O samba-enredo é competente e tende a render um bom canto por parte dos desfilantes. Resta saber como a Ilha irá nos quesitos plásticos.

Samba: nota 9,6
Projeção de resultado: entre 8º e 5º lugares

Unidos de Vila Isabel

Infelizmente a campeoníssima de 2013 teve uma fase pré-carnavalesca tumultuada, já que a prometida verba de patrocínio não pingou como se imaginava e isso causou atraso no barracão. O presidente disse que se houvesse dez dias a mais de preparação de alegorias e fantasias, seria mais confortável, mas rechaçou qualquer problema mais sério. Aguardemos… O samba-enredo como de costume é bastante competente, mesmo sem ser do mesmo nível da antológica obra do ano passado, mas provavelmente vai render bem. Vamos ver se o chão da escola vai dar o show que deu no ano passado para compensar eventuais problemas estéticos.

Samba: nota 9,5
Projeção de resultado: entre 10º e 7º lugares

Imperatriz Leopoldinense

A decisão de homenagear Zico vai dividir o público na avenida: os rubro-negros, claro, vão achar o máximo e cantar com a escola enquanto os antiflamenguistas vão torcer o nariz, como alguns já vêm torcendo. Fato é que samba-enredo tem boa pegada e para o quesito harmonia deve render bem. Gostei da forma como o carnavalesco Cahê Rodrigues dividiu o enredo, apostando numa fábula para exaltar o Galinho de Quintino. Mas a escola fez uma aposta arriscada em escolher como tema um personagem bastante popular mas de uma temática (clubística) que nunca deu certo num desfile, vide Estácio, Tijuca e Rocinha – Beija-Flor em 1986 falou do futebol em geral e homenageou todos os principais clubes do Rio.

Samba: nota 9,3
Projeção de resultado: entre 7º e 4º lugares

Portela

O interessante enredo sobre os mares do Rio rendeu mais um samba-enredo de grande qualidade, o melhor do Carnaval que se avizinha. Com nova diretoria, o barracão portelense foi organizado como deve ser e está ficando tudo pronto com antecedência, o que é muito bom. Tomara que tudo seja bem mostrado na avenida pelo experiente carnavalesco Alexandre Louzada, o que eu acredito. Se a Portela mantiver a qualidade dos últimos anos nos quesitos de pista, vai brigar pelas primeiras colocações. Tal como a Mangueira, está num processo de revitalização que tem tudo para finalmente coroar a águia campeã nos próximos anos.

Samba: 10
Projeção de resultado: entre o 4º e 2º lugares

Unidos da Tijuca

O que seria um enredo em homenagem a Ayrton Senna virou uma grande viagem do carnavalesco Paulo Barros pela velocidade em geral, com direito até a personagens como Ligeirinho e Papa-Léguas. Normalmente o carnavalesco consegue mesclar isso em ótimas apresentações, com visual surpreendente e impactante. Vamos ver desta vez o que ele vai aprontar. Já o samba-enredo não me agradou e lamentavelmente é o pior da safra, sem entretanto ser trash. Mas como a Tijuca nos últimos anos tem sido fortíssima em todos os quesitos e tem uma sólida estrutura de carnaval há alguns anos, é impossível tirar a escola do Borel das candidatas ao título.

Samba: nota 8,5
Projeção de resultado: entre o 3º e 1º lugares

13 Replies to “Sabinadas: “Os enredos e sambas do Grupo Especial do Rio””

  1. “A decisão de homenagear Zico vai dividir o público na avenida: os rubro-negros, claro, vão achar o máximo e cantar com a escola enquanto os antiflamenguistas vão torcer o nariz, como alguns já vêm torcendo.”

    Tamos aí, dizendo presente. E fala aqui um torcedor da escola, que reprovou de saída a escolha do enredo. E o samba não é bom. Havia obras melhores, para o meu gosto, na disputa.

    E como eu disse no texto que escrevi no redivivo Saco de Gatos, falando dos sambas de 2014, é um risco grande essa mistura carnaval + futebol, que nunca deu certo, como o Fred disse com propriedade.

    1. Infelizmente não poderei ver a Imperatriz ao vivo – será a única dos quatro dias que não verei – mas acho que dará mais certo que errado, Rodrigo. Como o próprio Elymar Santos disse no ensaio técnico, a escola não tem característica popular e acho que pode ser uma interessante guinada.

      Aliás, o que é Elymar Santos tirando onda de compositor de samba enredo (rs)?

      1. Eu explico: é uma maneira de tornar o samba popular pelo apelo dele como intérprete. E eu sigo defendendo a tese de que não dará certo. Cada um com seus “pobrema”, como diz o poeta.

    2. Rachador, não acompanhei a fundo as eliminatórias, apenas os finalistas. Mas o do Zé Katimba, como você apontou, era superior mesmo.

      1. Zé Katimba (rs). Abafa (muito) o caso.

        Eu teria juntado este citado com o refrão principal do que vai para a avenida

          1. Exato, você captou. O que me espanta é o assinante em questão se sujeitar a este tipo de situação – ele já tem um nome estabelecido

  2. Gosto bastante do samba da Portela, mas não o vejo tão a frente de outros como Mocidade, Salgueiro, Imperinho e Ilha, por exemplo. Acho o samba da Imperatriz superestimado, com um tom dolente que pra mim não combina com o tema. E se Tijuca ou Beija-Flor ganharem teremos, na minha visão, o pior samba campeão da história, por isso, torço pra que isso não ocorra, até mesmo se elas merecerem, ouso dizer.

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