Neste pré-carnaval a coluna do estudante Leonardo Dahi traz algumas propostas que visam melhoras os desfiles como um todo.

Algumas propostas para futuros Carnavais…

Os tamborins já estão esquentando e o Carnaval já está aí, batendo na porta. Para quem ficou de olho nesta grande festa durante todo o ano, é o capítulo final de uma história que se reescreve ano após ano.

A poucos dias dos desfiles, todos nós sabemos como a coisa funciona, qual o sistema de concessão de notas, qual o número de escolas e etc. Se esse sistema todo é bom ou ruim, é outra história, mas fato é que todos nós temos algum “porém” aqui e ali. No meu caso, são alguns, aqui e ali. Não perdendo a oportunidade de dar um pitaco, escrevo essa coluna para dizer o que eu mudaria no Carnaval, começando pelo Rio de Janeiro.

A primeira mudança que eu faria é no número de escolas por grupo e no número de grupos desfilando na Sapucaí. A meu ver, 12 escolas – seis por noite – é um número pequeno demais para o Grupo Especial e que tira um dos maiores charmes que essa festa tem – os desfiles terminando de manhã. O número ideal seria de 14 escolas, desfilando sete por noite, que é o que muita gente também gostaria. Só que, ao contrário da maioria, eu gosto do sistema de apenas uma escola rebaixada e uma ascendendo à elite.

Na Série A, acho o número atual excessivo e o número desejado – 14 escolas – pequeno. Penso que o novo grupo de acesso comporta tranquilamente 16 agremiações, oito por noite.

Acesso B 2012 007Mas veja bem onde está o principal problema do Carnaval atual nesse sentido. Dentro de dois anos, em 2016, teremos apenas 26 escolas desfilando na Marquês de Sapucaí, o palco maior do samba (12 no Especial + 14 no Acesso). Hoje, são 29 e, na minha proposta, 30. Pouco, bem pouco. Por isso, penso que o Grupo B, atualmente com 13 escolas (considero 12 um bom número), deveria desfilar na Marquês de Sapucaí na terça-feira.

O principal motivo dessa mudança, mais do que diminuir a exclusão da maioria das agremiações da Sapucaí, seria reduzir o desnível entre a Série A e a agora chamada Série B, pois desfilar na Intendente deixa a escola que sobe para o segundo grupo em condição muito pior que as demais. Um empecilho para essa mudança é o desfile das escolas mirins, que era na sexta e passou para terça com a Série A. Uma solução seria ajustar o calendário dos ensaios técnicos e colocar as mirins para desfilar no sábado ou no domingo anterior aos desfiles de fato.

Falando em ensaio técnico, se tem uma coisa em que o Carnaval do Rio tem que aprender com o de São Paulo, é isso. É absurdo que cada escola faça apenas um ensaio técnico – e que algumas da Série A sequer ensaiem. Começando os ensaios em dezembro, é possível que cada agremiação ensaie duas ou até três vezes, o que tira um pouco o “peso” dado para as atuais apresentações atualmente.

Enfim, nos desfiles da Intendente, não tenho muito o que falar, pois acompanho pouco. Mas uma proposta que tem sido discutida e que eu apoio – ainda mais se a Série B passasse para a Sapucaí -, é a criação de um novo grupo, que seria a Série E, com as escolas do Grupo 1 dos blocos. Tem muita escola enrolando a bandeira ou virando bloco e um grupo menor, com oito escolas, por exemplo, já diminuiria o problema. Hoje, temos 12 (Especial) + 17 (A) + 13 (B) + 12 (C) + 15 (D) = 70 escolas de samba, sendo 29 na Sapucaí. Com as mudanças citadas, teríamos 14 (Especial) + 16 (A) + 12 (B) + 14 (C) + 14 (D) + 8 (E) = 78 escolas de samba, sendo 42 na Sapucaí.

Voltando aos grupos maiores, faria uma mudança no sistema de definição da ordem dos desfiles. Acho o sistema de pares pouco eficiente, já que as agremiações pareadas muitas vezes não estão em mesmo nível. Uma ideia seria dar à campeã de um ano o direito de escolher sua posição de desfile. A vice-campeã escolheria sua posição no dia oposto, a terceira colocada qualquer outra das que sobrarem, a quarta as que sobraram no dia oposto e assim vai até o fim. O mesmo pode valer para a Série A.

20130212_011301Também tenho algumas ressalvas no tocante ao julgamento. Quanto aos dez quesitos e aos 40 jurados, creio que pouca gente tem grandes questionamentos. O principal problema, porém, está no intervalo de notas, que vai de 9,0 a 10,0. Com todo o respeito, isso dificulta muito a vida do jurado. Para pegar um exemplo atual, o samba do Salgueiro não pode ganhar uma nota apenas quatro décimos superior ao da Beija-Flor. O sistema atual reduz muito a diferença entre uma coisa muito boa e uma muito ruim.

Também é complicado colocar um intervalo muito abrangente porque os julgadores não tem os mesmos conceitos, então, se em quesito x temos dois julgadores mais rigorosos (que “canetam” mais), contra três do quesito y, a escola que cometer em x erro semelhante a de outra em y, sai em vantagem. Por isso, creio que um bom meio termo seria notas entre 7,0 e 10,0.

Sei que quase todo mundo vai discordar, mas vou me posicionar contra os descartes. Não só porque tiram a emoção da apuração (nada é mais chato que Carnaval decidido na penúltima nota), mas porque não fazem sentido. Se cada jurado julga em um módulo diferente – portanto, em um trecho diferente da Avenida – a escola tem o “direito” de errar em um quarto do desfile (acima, o mega buraco da Beija Flor ano passado)? Sim, porque é isso que acontece. Vamos supor que uma escola faça um desfile perfeito em evolução nos três primeiros módulos, mas abra um enorme buraco no módulo 4. É justo que ela tire nota máxima no quesito, já que ela ficaria com 10 dos três primeiros jurados e perderia ponto só no último? Eu não acho. Erro é erro e tem que ser punido. Isso sem falar que, se é para ter descarte, que seja da menor e da maior nota. Se for só da menor é muito fácil.Acesso A 2011_Fotos 012

Um argumento comum a favor dos descartes é o de que evita injustiças como a sofrida pela Porto da Pedra em 2005, que deixou o desfile das campeãs por causa de um 7,8 absurdo. Aí, meu amigo, é só colocar jurados capacitados e bem treinados para definir o resultado. Claro que, vez ou outra, teremos injustiças, mas é melhor do que partir de um conceito injusto por si só.

Só para não deixar em branco, vou falar rápido de São Paulo. No Grupo Especial, aumentaria o número de escolas de 14 para 16 (oito por noite), com duas caindo e duas subindo. No Acesso, subiria de oito para 10 e, nos grupos da UESP, não faria grandes ressalvas. Só faria os desfiles do Grupo 1 em dois dias – segunda e terça no Anhembi – porque quatro escolas de torcida organizadas desfilando no mesmo dia podem trazer problemas.

Quanto à ordem dos desfiles, poderíamos copiar o sistema proposto para o Rio, embora, aqui, a Liga poderia continuar definindo quais escolas desfilam em cada dia. Assim sendo, as melhores colocadas dentro de cada dia escolheriam suas posições.

Quanto ao sistema de julgamento, voltaria com as notas fracionadas em 0,25, com intervalo de 6,00 a 10,00. Não que seja melhor ou pior, mas era bem mais legal. Também gostava mais do sistema de três jurados por quesito, sem descartes, e não entendo porque aqui não há o quesito conjunto. Até 2007, eram 10 quesitos, mas samba-enredo era divido em “letra” e “melodia”. Com esta unificação, não há porque excluir conjunto e ficar com apenas nove quesitos.

Mas enfim, vamos aproveitar esse Carnaval que temos aí e que está chegando. Depois mudamos alguma coisa.

Imagens: site Ego (capa) e arquivo pessoal Pedro Migão

14 Replies to “Filho Pródigo: “Algumas propostas para futuros Carnavais…””

  1. Não deixa de ser interessante ter alguém pensando que o Especial tem menos escolas do que deveria ter e que o Grupo B deveria voltar à Marquês de Sapucaí nas terças, no que concordo plenamente. Hoje é cruel para qualquer agremiação sair da Intendente, onde por força de regulamento só se desfila com UMA ALEGORIA para pôr um máximo de quatro na Sapucaí. A Em Cima da Hora tem uma certa cancha de Sambódromo, mas não desfila nele há um bom tempo. Uma pena que “Os Sertões” poderia ser a redenção da agremiação de Cavalcante, mas é um desfile onde o risco de rebaixamento para o grupo da Intendente existe e ninguém hesita em apontá-la como uma das três que vai cair.

    E eu também sou contra essa questão de mais escolas rebaixadas do que promovidas. E também de despromover as últimas do Grupo D para bloco. Daqui a pouco, veremos mais agremiações enrolando a bandeira do que propriamente desfilando.

    Isso merece uma reflexão.

    1. Rodrigo, o Grupo B na Intendente Magalhães desfila com três carros. O Grupo C com 2 e o D, 1. No mais, concordo com suas pertinentes observações

      1. Uma coisa que eu acabei esquecendo de colocar no texto: também não é justo que escolas como a Rocinha, que até o ano passado brigava pelo Grupo Especial, parem na Intendente por causa de um ano mal planejado.

    1. Muito bacana!!! Da tua coluna, só discordo do dia das mirins (eu concordo com o Leonardo em pôr no sábado anterior aos desfiles oficiais).

      No mais, é preciso salvar as tradicionais!

  2. Quanto aos descartes, também estamos juntos, foi exatamente o que coloquei várias vezes, inclusive em comentário de um post recente deste site. Negócio totalmente injustificado!

  3. Brilhante texto, Leonardo!!

    Minha ideia seria, começando pelo Rio:

    No Especial, 16 escolas, com o único argumento de que hoje temos muitas escolas grandes e médias – e o que dá vida às grandes é ter sempre um grupo de 3, 4 escolas que briguem lá embaixo. Isso não é comodismo, pelo contrário, vai acirrar a disputa.

    Quando a Primeirona tinha 16, ou mesmo 14, eram poucas as escolas grandes que sofriam. E dói ver Viradouro, Estácio, Império Serrano e Caprichosos, por exemplo, definhando na Série A, além de outras tradicionais, como Ponte, Cabuçu, Em Cima da Hora, Jacarezinho, Leão, Lins, Vizinha…

    Diminuiria de 82 para 70 minutos e sete alegorias. Limitaria o número de componentes a 4500. Com a mesma grana, as escolas trariam um acabamento de carros e fantasias mais caprichado – e as médias não sofreriam tanto com o baixo orçamento, podendo proporcionar um melhor espetáculo visual – e poucos dormiriam nos desfiles.

    Fora que ajudaria a TV.

    Também colocaria 16 na Série A, com tempo de desfile em 65 minutos e limite de 4000 componentes e 5 carros – para aproximar mais da Especial em termos de capacidade. Na B, colocaria 12 escolas, tempo de 45 ou 50 minutos e entre três e quatro alegorias, já que desfilariam todas no mesmo dia.

    Nos grupos da Intendente, faria Séries C, D (três carros), E (dois) e F (um), onde as regras dos blocos valeriam para o F (mudando o nome para não parecer tão depreciativo). Dá pra manter 10 escolas em cada, subindo uma e caindo uma (no F, pode-se colocar mais escolas).

    Total: 16 + 16 + 12 + 10 + 10 + 10 = 74 escolas. Sem contar as do Grupo F. Com 44 na Sapucaí. Mais da metade! =D

    Uma outra proposta, mas essa é meio polêmica: a campeã de um ano sempre ser a primeira a desfilar no ano seguinte, com a condição de estar imune ao rebaixamento, independente do que acontecer. Acaba a história da primeira sempre se lascar, até porque eu duvido que algum jurado teria má vontade em julgar uma Mangueira ou uma Beija-Flor, por exemplo.

    Em São Paulo, não tem muito o que mudar: aumentaria de 65 para 70 minutos e 5 carros, no Especial. Mas poria 16 escolas – a concorrência e o equilíbrio da primeira divisão é assustadoramente grande. Na Segundona, aumentaria para 14, desfilando, como você propôs, em dois dias. E tentando diminuir a quantidade de grupos, aumentaria a quantidade de escolas dos Grupos 2, 3 e 4.

    Sobre as notas, acho que deveria valer a mesma para ambas as cidades: fração em 0,25 (acho uma babaquice monstruosa dar 9,9 para uma escola) e de 7 a 10, sem descarte nenhum. Para estouro de tempo, 1 ponto, mais 0,25 por minuto perdido. Para componentes a mais ou a menos (baianas, comissão), 0,5 ponto por integrante sobrando/faltando. E acho que deveria haver maior rigor quanto às penalizações de concentração e dispersão. Sei lá, uns 5 pontos! Já é uma diferença considerável. Para SP e Rio.

    Enfim, são ideias. O legal é que cada um colocará a sua aqui nos comentários. Quem sabe alguém da LIESA não lê aqui e eles acabam adotando algumas??

    1. A justificativa de dobrar o número de escolas da Segundona Paulista (atualmente são oito) é a mesma do Especial do Rio: apoio às tradicionais.

      Escolas como São Lucas, Flor de Vila Dalila, Combinados de Sapopemba, Primeira da Aclimação e Barroca Zona Sul, por exemplo, pela história que possuem, não poderiam jamais disputar qualquer desfile que não fosse nos primeiros dois grupos.

  4. Fiz um levantamento, considerando Séries C, D e E com 12 escolas, ao invés de 10. Levando-se em consideração, também, o resultado oficial de 2013, os grupos ficariam assim:

    Especial:

    -Vila Isabel
    -Beija-Flor
    -Unidos da Tijuca
    -Imperatriz
    -Salgueiro
    -Grande Rio
    -Portela
    -Mangueira
    -União da Ilha
    -São Clemente
    -Mocidade
    -Império da Tijuca
    -Viradouro
    -Império Serrano
    -Estácio de Sá
    -Rocinha

    Série A:

    -Inocentes de Belford Roxo
    -Caprichosos
    -Unidos de Padre Miguel
    -Renascer de Jacarepaguá
    -Porto da Pedra
    -Santa Cruz
    -Cubango
    -Parque Curicica
    -Paraíso do Tuiuti
    -Alegria da Zona Sul
    -União de Jacarepaguá
    -Tradição
    -Em Cima da Hora
    -Arranco
    -Império Rubro-Negro
    -Favo de Acari

    Série B:

    -Sereno de Campo Grande
    -Jacarezinho
    -Vila Santa Tereza
    -Sossego
    -Unidos de Lucas
    -Vila Kennedy
    -Unidos da Ponte
    -Cabuçu
    -Unidos de Bangu
    -Engenho da Rainha
    -Mocidade Unida da Cidade de Deus
    -Dendê

    Série C:

    -Villa Rica
    -Difícil é o Nome
    -Rosa de Ouro
    -Boi da Ilha
    -Mocidade de Vicente de Carvalho
    -Boca de Siri
    -Abolição
    -Santa Marta
    -Leão de Nova Iguaçu
    -Arame de Ricardo
    -Cosmos
    -Manguinhos

    Série D:

    -Vigário Geral
    -Arrastão de Cascadura
    -Lins Imperial
    -Gato de Bonsucesso
    -Amarelinho
    -Matriz de São João
    -Unidos do Anil
    -Inhaúma
    -Vizinha Faladeira
    -Flor da Mina
    -Chatuba de Mesquita
    -União da Ponte

    Série E:

    -Tradição Barreirense
    -Coroado de Jacarepaguá
    -Império do Gramacho
    -Flor da Primavera
    -Colibri de Mesquita
    -Raizes da Tijuca
    -Unidos da Laureano
    -Novo Horizonte
    -Mocidade Unida de Manguariba
    -Bloco do Barriga
    -Oba-Oba do Recreio
    -Bloco do China

    Série F:

    -União de Vaz Lobo
    -Canários das Laranjeiras
    -Magnatas de Engenheiro Pedreira
    -Unidos do Cabral
    -Unidos do Alto da Boa Vista
    -Boêmios de Inhaúma
    -Unidos do Uraiti
    -Infantes da Piedade
    -Grilo de Bangu
    -Chora na Rampa
    -Mocidade Unida da Mineira
    -Unidos de Tubiacanga
    -Amizade da Água Branca
    -Esperança de Nova Campina
    -Unidos de Parada Angélica
    -Arranco de Piabetá
    -Cometas do Bispo
    -Roda Quem Pode

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