Nesta segunda-feira, a 17ª coluna da série Sambódromo em Trinta Atos, do jornalista esportivo Fred Sabino, relembra o desfile do ano 2000, marcado pelas homenagens das escolas de samba ao Brasil, que completava 500 anos, e pelo bicampeonato, desta vez em título considerado justo, da Imperatriz Leopoldinense.

 2000: Na festa dos 500 anos, Imperatriz fatura o bicampeonato

Na virada para o ano 2000, a direção da Liesa e as escolas de samba decidiram que todos os 14 enredos do Grupo Especial teriam ligação com algum período da história brasileira, em homenagem aos 500 anos do Brasil. A Liesa forneceu 21 opções temáticas para as agremiações e a adoção por aspectos brasileiros rendeu bons enredos. Cada escola receberia também uma ajuda extra de R$ 500 mil da Prefeitura para a confecção dos desfiles – o que, corrigido pelo índice oficial de inflação (IPC-A), equivale hoje a R$ 1,2 milhão.

Além dessas questões, ficou acertada a volta do quesito Conjunto, fora do julgamento desde 1997. O número de jurados, entretanto, continuaria sendo de três por quesito (totalizando 30, portanto), sem descarte de notas.

A campeã Imperatriz Leopoldinense queria dar uma resposta aos críticos após o polêmico título de 1999 e optou por um enredo sobre o Descobrimento. O samba, pelo menos, já era melhor do que o do ano anterior. E, no carro de som, uma grande novidade: Paulinho Mocidade, que estava afastado do Grupo Especial do Rio desde 1996 – em 1998, ele defendeu o Império da Tijuca.

Já a Beija-Flor escolheu o enredo “Brasil, um coração que pulsa forte, Pátria de todos ou terra de ninguém”, que apontava o país como acolhedor de todos os povos devido a uma conjunção celestial – o samba-enredo também era dos bons. A Unidos do Viradouro abordaria os paraísos e infernos vividos pelos índios, negros e brancos na história brasileira. A Mocidade de Renato Lage teria um enredo sobre as cores da bandeira nacional.

O Salgueiro prometia relembrar a chegada de D.João VI ao Brasil, enquanto a Grande Rio traria o contraste entre o espírito festivo dos indígenas e a repulsa a essas manifestações por parte dos colonizadores portugueses. A Mangueira, por sua vez, contaria a luta dos negros pela liberdade e o fio condutor era Dom Obá, príncipe da nação Iorubá – o samba-enredo era considerado o melhor do ano pela crítica.

A Portela (com um dos piores sambas de sua história) relembraria a Era Vargas, enquanto a Vila Isabel (esta, ao contrário, com um dos melhores sambas do ano) homenagearia os índios. A Tradição seria outra escola a exaltar os negros e a Caprichosos de Pilares teria como tema a época da ditadura militar. A União da Ilha também falaria sobre esta triste fase, mas sob a ótica dos artistas que desafiavam o regime.

As duas escolas que subiram do Acesso completavam o Grupo Especial: a Unidos da Tijuca, com um enredo parecido com o da Imperatriz, relembraria a expedição que resultou no Descobrimento do Brasil, e a Unidos do Porto da Pedra mostraria a transição do Império para a República.

OS DESFILES

Com um samba que não caiu no gosto popular apesar da garra do cantor Ito Melodia, a Porto da Pedra fez uma exibição irregular. O enredo “Ordem e Progresso, amor e Folia no Milênio da Fantasia”, do carnavalesco Jaime Cesário, contou o desejo de o Brasil se tornar uma República livre, baseado no que vinha ocorrendo na França e na teoria dos positivistas.

Apesar da bonita comissão de frente, cujos componentes formavam uma bandeira do Brasil com painéis, a divisão cromática da escola ficou um tanto pesada e não havia recursos para alegorias de grande impacto. Foi um desfile alegre, e só.

Segunda a entrar na pista, a Grande Rio voltou a ter uma apresentação de qualidade nos quesitos plásticos com o enredo “Carnaval à vista – Não fomos catequizados, fizemos carnaval”, do carnavalesco Max Lopes. Mas no conjunto, foi um desfile pior do que os de 1998 e 1999 por causa de diversos problemas.

Para começar, o Juizado de Menores não queria autorizar a entrada do carro abre-alas porque crianças desfilariam em queijos acima de três metros de altura, e a escola teve de mexer na alegoria às pressas. Ainda na concentração, um iluminador foi atingido pela estrutura de uma alegoria e teve traumatismo craniano.

Para piorar, o assédio dos fotógrafos e cinegrafistas aos diversos artistas que desfilavam na escola atrapalhou a evolução – naquele ano, a maior estrela era o ator Thiago Lacerda, protagonista da novela Terra Nostra, da TV Globo.

Carros alegóricos tiveram problemas e, no fim do desfile, as alas tiveram de apertar muito o passo, o que é sempre terrível. Por fim, o samba não era dos mais contagiantes e, ao contrário dos anos anteriores, o público não reagiu com entusiasmo. Um ano para a Tricolor de Caxias esquecer.

Para esquecer também foi o desfile da tradicional Unidos de Vila Isabel. Em grave crise política e financeira, a escola pisou na Sapucaí deixando evidente sua falta de recursos e nem mesmo a criatividade do carnavalesco Oswaldo Jardim em algumas alegorias conseguiu salvar a escola de uma apresentação abaixo da crítica nos quesitos plásticos.

Aliás, uma bizarrice sempre lembrada desse desfile é a de uma sereia em cima de uma árvore… Além disso, a fantasia do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira só chegou quando eles já estavam no Setor 1. Para piorar, a última alegoria quebrou e teve de ser guinchada até a dispersão.

Por outro lado, o canto dos componentes foi comovente e o excelente samba foi interpretado com muita garra por Jorge Tropical, que substituiu Gera como voz principal da Vila. A bateria de Mestre Mug deu ótimo andamento ao samba e teve à frente Danielle Winits como rainha. Mas, num desfile equilibrado, o temor de rebaixamento era um fantasma já naquele momento devido aos problemas.

A Caprichosos de Pilares fez um desfile simpático, mas bastante irregular. O samba, como sempre bem defendido pelo saudoso Jackson Martins, não era tão vibrante, mas foi bem cantado pelos componentes e a cadência da bateria agradou.

Mas a escola não apresentou um conjunto alegórico dos mais criativos no enredo “Brasil, teu espírito é santo”, sobre o período pré, durante e pós-ditadura – na verdade haveria uma homenagem ao estado do Espírito Santo, mas a grana não pingou e o enredo foi adaptado para caber no título já divulgado…

Foi um desfile com tom bastante nacionalista, em que as cores da bandeira (e suas nuances) foram muito usadas. Gostei de algumas fantasias, como a dos ritmistas da bateria (Dragões da Independência), mas no geral os figurinos também ficaram devendo. Por outro lado, a divisão das alas foi bem coerente, com destaque para o quadro sobre as Diretas Já e as alas sobre as músicas que combateram o regime.

Um desfile que não deixou saudades foi o da Tradição, com o enredo “Liberdade! Sou Negro, Raça e Tradição”, sobre a influência da cultura negra no crescimento do Brasil. A escola desperdiçou um bom tema com diversos equívocos. A começar pelo abre-alas, cuja concepção deixou a desejar. As demais alegorias estavam um pouco superiores e até contavam o enredo, mas as fantasias também ficaram muito aquém do que se esperava.

Mas os maiores pecados da escola foram em três quesitos: samba-enredo, harmonia e evolução. O samba, mesmo bem cantado por Wantuir, tinha muitos versos nos quais as sílabas se atropelavam, o que dificultava muito o canto dos componentes.

E a evolução da escola foi um desastre devido à ideia da agremiação de encher a pista com alas coreografadas. Confesso que não vi o desfile todo ao vivo porque fiquei entediado. Nem deveria tê-lo visto depois.

Mocidade2000Já a Mocidade Independente de Padre Miguel voltou a se credenciar à briga pelas primeiras colocações com mais uma ótima apresentação. O carnavalesco Renato Lage outra vez caprichou na confecção do desfile e mandou ver nas cores da nossa bandeira, afinal o enredo era sobre isso.

Mas o carro abre-alas sobre o enredo “Verde, amarelo, branco, anil – colorem o Brasil no ano 2000”  era bem diferente, todo em prata e com muitas luzes, simbolizando uma nave-mãe que trazia os índios do futuro para reconhecer o território nacional.

O setor verde do desfile foi o que mais me agradou. Duas enormes e muito bem resolvidas alegorias compuseram este quadro: um representando a Amazônia como pulmão do planeta e outra chamada Terra Brasilis (foto), repleta de plantas, índios e animais selvagens.

O setor amarelo representava as riquezas do país e tinha uma alegoria com vários atletas famosos como Maurício, Tande, Shelda, Jairzinho e um componente representando Ayrton Senna, de capacete e tudo. O azul também foi maravilhosamente retratado por uma alegoria que mostrava o elemento água e seus seres marinhos. Já o branco simbolizava a paz que o país precisava.

A bateria mais uma vez esteve brilhante, mas o samba-enredo daquela vez não era dos melhores e, a despeito de visualmente a escola ter se apresentado de forma impecável, a Mocidade acabou tendo uma evolução menos vibrante do que poderia. Uma pena, pois era um desfile com potencial de título.

Já a Portela encerrou a primeira noite de desfile com uma das apresentações, digamos, menos memoráveis de sua história. Para começar, a forma como o enredo sobre Getúlio Vargas foi apresentada não me agradou, já que, apesar da inegável importância do personagem e dos avanços que o Brasil teve com o gaúcho na presidência, houve uma exaltação exagerada e um esquecimento dos períodos de repressão.

Isso ficou patente nos erros e/ou omissões históricas do samba – também fraco melodicamente, diga-se de passagem. Lembremos, por exemplo, o verso “Aclamado pelo povo, o Estado Novo”. O Estado Novo realmente foi aprovado pelo povo, mas sabemos bem que este acabou sendo o período ditatorial liderado por Vargas e foi no mínimo inusitado uma agremiação carnavalesca tratar desta forma o período.

Plasticamente a escola também deixou a desejar, pois alegorias e fantasias não causaram impacto. O carnavalesco José Félix, que na maioria das vezes fez bons trabalhos (na própria Portela inclusive), não dispôs desta vez de recursos para fazer algo mais grandioso como se espera da maior campeã do Carnaval.  Salvaram-se, como sempre, a bateria e a empolgação dos componentes. Um desfile típico da zona da marola.

2000_UnidosDaTijuca_UTIJ 76B F1_peqDepois do brilhante desfile de 1999, no qual foi campeã com sobras do Acesso, a Unidos da Tijuca voltou a fazer excelente apresentação na volta ao Grupo Especial. O enredo “Terra dos papagaios… Navegar foi preciso”, do carnavalesco Chico Spinoza, contou a história da expedição que resultou no Descobrimento e a primeira semana do Brasil. Tudo foi muito bem desenvolvido. Não sem uma grande polêmica.

Uma das alegorias teria uma imagem de Nossa Senhora da Boa Esperança e uma cruz (foto), e a Igreja Católica chiou. Chico Spinoza chegou a ser detido e o delegado que ordenou a retirada (ou cobertura das imagens) disse que a Tijuca já havia conquistado os 15 minutos de fama que queria, pois ficaria nas últimas colocações de novo. A alegoria entrou com imagens tapadas, mas, para o bem do Carnaval, a previsão do delegado não se concretizou.

2000_UnidosDaTijuca_UTIJ 65 F16A_peqVisualmente a Tijuca esteve muito bem, com as alegorias e fantasias muito bem acabadas e idealizadas. O carro “O Venturoso”, por exemplo, representava uma grande caravela e era precedido por componentes com pernas de pau representando cavaleiros da ordem de cristo. Já a alegoria “Terra dos Papagaios” estava multicolorida, simbolizando a natureza encontrada pelos navegadores na chegada.

O samba, muito bem escrito e de melodia agradabilíssima, foi interpretado com competência por David do Pandeiro e rendeu muito bem, ganhando a simpatia do público. Os componentes desfilaram com muita garra e a Tijuca deixou a Sapucaí não apenas com a sensação de que a permanência na elite estava assegurada, como uma boa colocação era plenamente possível.

mangueira2000Segunda a desfilar, a Estação Primeira de Mangueira se apresentou com diversos requisitos que a credenciariam a brigar pelo título: enredo forte, comissão de frente arrebatadora, samba-enredo poético e vibrante, uma grande bateria e um conjunto visual de qualidade que havia tempos a escola não apresentava. Mas uma série de problemas acabaram minando qualquer possibilidade.

O enredo “Dom Obá II – Rei dos Esfarrapados, Príncipe do povo”, do carnavalesco Alexandre Louzada, contou a história de Dom Obá, que veio da África para o Brasil como escravo e depois foi um dos heróis da Guerra do Paraguai. O nascimento do príncipe iorubá foi retratado de forma incrível pela comissão de frente (foto abaixo), que simulou um parto com um bebê boneco de última geração (que reproduzia os movimentos de um recém-nascido) e teve seus componentes trocando de roupa ao longo da pista: ora esfarrapadas, ora requintadas.

mangueira2000bCom um carro de som que tinha, além de Jamelão, os cantores Luizito, Eraldo Caê e Clóvis Pê, o samba rendeu de forma esplêndida e a bateria do Mestre Russo esteve firme como de costume. As alas, algumas apenas com negros, cantaram com entusiasmo e fizeram uma bela coreografia no refrão central “No Rio de lá, luxo e riqueza/No Rio de cá, lixo e pobreza”: no primeiro verso, todos se viravam para o lado dos camarotes, no segundo, para o lado dos setores de arquibancada. Sintomático, não?

Depois de dois anos em que houve uma visível irregularidade no conjunto estético da escola, a Mangueira se preocupou muito com alegorias e fantasias. E Alexandre Louzada acertou a mão na divisão cromática, o que é sempre difícil com a Verde e Rosa. Além das cores da escola, Louzada soube utilizar tonalidades escuras (em alguns setores, mais claras) como o enredo pedia. As fantasias também estavam adequadas e diversas alas tinham adereços de mão com belo efeito.

Por outro lado, os carros alegóricos, por estarem muito grandes, foram difíceis de serem manobrados na avenida e dois quebraram no meio da pista. A evolução, claro, foi para o beleléu. Primeiro, a escola ficou parada. Depois, houve uma aceleração e os componentes praticamente correram pela pista, sem contar os inúmeros buracos entre as alas. O fim do desfile foi apressado para que a escola não perdesse pontos em cronometragem. De qualquer forma, o público aplaudiu a Mangueira na Apoteose, mas título estava fora de questão.

2000_Salgueiro_SAL 99 F15A_peqDepois do belo, porém confuso, desfile da Mangueira, o Salgueiro se consolidou com um dos grandes favoritos ao título com uma apresentação arrebatadora. O enredo “Sou Rei, sou Salgueiro, meu reinado é brasileiro” foi muito bem desenvolvido pelo carnavalesco Mauro Quintaes, com grande coerência na divisão das alas, e um conjunto alegórico e de fantasias dos melhores do ano.

O enredo contou a chegada de D.João VI ao Brasil e a transição do Brasil de Colônia para Reino, no começo do século XIX. As fantasias, luxuosíssimas mas sem estarem pesadas, representavam muito bem cada etapa do enredo, e muitas tinham plumas de diversas cores.

Uma das alegorias que mais chamaram a atenção foi a chamada “Abertura dos Portos”, que tinha uma piscina em que nadadoras faziam coreografias, além de uma grande caravela. Em cima do carro, a estrela era Joana Prado, no auge da fama como a Feiticeira do Programa H, apresentado por Luciano Huck na TV Bandeirantes.

2000_Salgueiro_SAL 79B F13A_peqO carro “A Corte no Rio” era também de excelente concepção, com uma iluminação que destacava o acabamento. Outra bela alegoria era a da “Elevação a Reino Unido”, que simbolizava o fim do Brasil Colônia e tinha belíssimas e grandes esculturas douradas (foto), além de uma enorme representação de D.João sentado no trono.

O samba, que havia recebido críticas na fase pré-carnavalesca, rendeu muito bem no desfile. Wander Pires, na sua única atuação pelo Salgueiro, esteve seguro (apesar de misteriosamente estar com seu microfone em volume mais baixo que os outros) e a bateria de Mestre Louro deu um show de cadência e bossas, além de ter brindado o público com uma exibição extra na Apoteose.

Mesmo com o incrível número de 5.500 componentes, a Vermelho e Branco teve uma evolução, apesar de apressada em alguns momentos, sem buracos visíveis, e deixou a pista sob os gritos de “campeã”, com o público agitando os braços nos setores de arquibancada.

2000_Imperatriz_IMP 34 F34A_peqA Imperatriz Leopoldinense não deixou por menos e se recuperou da contestadíssima apresentação do ano anterior com uma exibição que mais uma vez a credenciava a brigar pelo título – desta vez, com justiça. Na teoria, o tema Descobrimento do Brasil era batido, mas Rosa Magalhães conseguiu sair da mesmice. Isso porque o enredo, em vez de se ater pura e simplesmente à chegada dos navegadores ao Brasil, contava toda a expedição que saíra de Portugal.

imperatriz00bO título “Quem descobriu o Brasil foi seu Cabral, no dia 22 de Abril, dois meses depois do carnaval” homenageava o trecho de uma marchinha de Lamartine Babo – aliás, este, que já havia sido homenageado em 1981, ano em que a Imperatriz foi campeã, outra vez seria pé quente para a agremiação de Ramos.

A comissão de frente representava “os perigos do mundo desconhecido” (fotos) e deu show novamente, com seus integrantes carregando belos adereços de mão que, em determinada posição dos componentes, formavam uma caravela, complementando visualmente o imponente e belíssimo abre-alas. Este significava as conquistas de D.Manuel, o Venturoso, que fizera expedição para a Arábia, a Pérsia e as Índias antes da navegação que resultou na descoberta da América e do Brasil.

Logo após o abre-alas, uma linda ala de baianas deu o tom do conjunto de fantasias que seria apresentado: figurinos de extremo bom gosto e acabamento impecável e, desta vez, sem o peso que atrapalhara a evolução em 1999. O segundo carro, chamado “As Riquezas do Samorim da Índia”, tinha iluminação excelente e simbolizava as especiarias que os portugueses procuravam. E o terceiro (“Sedas e Cores da Índia”) era sobre os tecidos daquela região, e também foi brilhantemente concebido.

imperatriz00cAs alegorias “As mercadorias da África” e “A Nau Capitânia” (esta com componentes encenando a procura por terra) mantiveram a excelência estética apresentada até aquele momento. O clímax do desfile começou com a chegada ao Brasil e a lindíssima alegoria “Primeiro Desembarque na Terra Indígena” representava esse momento, com belas índias e fantasias multicoloridas – este, aliás, foi outro carro com muitas coreografias dos componentes.

O sétimo e último carro era irreverente e todo esverdeado, e representava a alegria pela descoberta da nova terra, “dois meses depois do Carnaval”. Havia nele uma enorme figura de Rei Momo e outra, menor, de Lamartine Babo. Aliás, ao contrário de outros anos, em que a Imperatriz, apesar de bela, havia passado sem vibração, em 2000 os componentes cantaram o samba o tempo todo. Aliás, samba que foi bem conduzido por Paulinho Mocidade e com uma bateria desta vez sem vacilos.

Se o público não interagiu com a escola com tanta intensidade como na apresentação do Salgueiro, desta vez ao menos a resposta foi positiva, com aplausos na passagem pelos últimos setores de arquibancada. A Imperatriz estava devidamente credenciada a disputar o título, com um conjunto visual ligeiramente superior ao do Salgueiro.

Já a União da Ilha fez uma apresentação simpática, mas inferior às das escolas anteriores de segunda-feira. O enredo “Pra não dizer que não falei das flores”, cujo título homenageava a famosa canção de Geraldo Vandré que desafiava a ditadura militar, foi bem dividido e apresentado de forma coerente pelo carnavalesco Mario Borriello, mas o conjunto visual não foi tão impactante – exceto o enorme e criativo abre-alas, com esculturas dos “Três Macacos Sábios”, que tapavam os olhos, as orelhas e a boca.

O samba de Franco, Marquinhus do Banjo e Niva desta vez não me agradou porque, apesar de ter belos versos em algumas partes, em outras exagerava em termos como “vou que vou”, “ô ô ô” e “ai oi oi”, mas os componentes o cantaram bem. A bateria insulana, agora comandada por Mestre Bira, outra vez deu show e garantiu uma exibição sem sobressaltos de harmonia e evolução. Um desfile típico de meio de tabela.

2000_BeijaFlor_BF 122 F36A_peqCom muita expectativa, a Beija-Flor foi a penúltima a desfilar e também se consolidou como uma das melhores escolas do ano, mas sem repetir a arrebatadora e brilhante exibição de 1999. Na verdade, a grande polêmica em relação ao desfile da Azul e Branco se deu pela forma densa como o enredo foi desenvolvido pela comissão de carnaval.

Dizia a sinopse que “a velha Europa não havia compreendido as mensagens espirituais de paz e amor entre todos os homens sobre a Terra e era necessário ir em busca de continentes ignorados, onde espíritos jovens e simples aguardavam a semente de uma nova vida”. Daí, segundo a ideia proposta pela Beija-Flor, depois que encontrou-se o Brasil, a chegada de outros povos proporcionou a miscigenação que formou o povo brasileiro.

A escola começou o desfile toda branca, com uma comissão de frente representando anjos sucedida surpreendentemente pela belíssima ala das baianas, que simbolizava  a “sabedoria dos seres de luz”. O espetacular primeiro carro significava “o conselho celestial com a estrela-guia da navegação”, que teria apontado o Brasil como nova terra santa. Havia vários globos metálicos e iluminação em neón azul que davam imponência à alegoria.

Aliás, esta alegoria rendeu bastante polêmica, pois, a exemplo do que havia acontecido com a Grande Rio, prometia ter crianças em uma altura considerável. Mas a escola ignorou as exigências do juiz de menores Siro Darlan e acabou autuada, já que as jovens desfilaram.

bf2000Nos quesitos plásticos, inegavelmente a Beija-Flor teve mais uma apresentação de grande qualidade. Mas a escola poderia perder pontos preciosos porque um pedaço bastante considerável de uma escultura quebrou (foto) e a alegoria sobre a raça negra passou mutilada na avenida. As fantasias da Beija-Flor, ao contrário, passaram intactas pela pista e eram primorosas.

O samba-enredo funcionou para a harmonia da escola e foi maravilhosamente interpretado por Neguinho, além de bem sustentado pela bateria. A escola deixou a avenida com a sensação de missão cumprida, mas, apesar de ter passado bem, o público reagiu de forma mais fria do que em 1999, talvez pelo enredo não ter sido apresentado de forma tão cristalina.

2000_Viradouro_VIRAD 55 F13_peqA Unidos de Viradouro de Joãozinho Trinta encerrou os desfiles com mais uma bela apresentação. A ideia do criativo enredo “Brasil: Visões de Paraísos e Infernos” era mostrar que antes do Descobrimento os europeus acreditavam na existência de um Paraíso Terrestre e de um Inferno na Terra, ainda não localizados, e que o nosso país seria um paraíso transformado posteriormente num inferno pelos colonizadores, com a escravização de índios e depois negros. Mas, na visão de João 30, com a miscigenação de raças, o Brasil se transformaria no tão sonhado paraíso no Terceiro Milênio que começava.

O conjunto visual da escola foi dos melhores do ano, com Joãozinho Trinta adotando uma divisão cromática muito interessante, ora com alas e alegorias predominantemente claras (representando os paraísos) e outras de coloração bem forte ou escura (representando os infernos). Gostei muito do carro chamado “Paraíso Índio” já que, além de bem acabado, a alegoria era toda em tons claros, mostrando que carro com índios não necessariamente precisava ter cores fortíssimas.

viradouro2000O samba teve um Dominguinhos brilhante na condução (ele ganharia o Estandarte de Ouro de melhor intérprete) e bateria de Mestre Ciça inovou ao adotar uma batida afro no refrão central “Ire, ire, pra agba yê/O negro canta, o negro dança em liberdade/Ire, ire, pra agba yê/Pra agba yê, felicidade”, com resultado muito feliz.

O desfile sem dúvida foi muito bonito e a Viradouro foi uma das melhores escolas do ano, embora sem tanto brilhantismo como Imperatriz e Salgueiro, além de o público não ter ficado tão empolgado. Mas era certeza a escola voltar pelo menos no sábado das campeãs.

REPERCUSSÃO E APURAÇÃO

Depois de mais uma maratona de desfiles, Imperatriz e Salgueiro (ganhador do Estandarte de Ouro de melhor escola) foram apontados pela crítica e público como favoritas ao título, com Viradouro, Beija-Flor e Mocidade, com suas apresentações corretas, correndo por fora. Mangueira (depois dos problemas que teve) e Unidos da Tijuca tentavam almejar o Desfile das Campeãs.

Na apuração, surpreenderam algumas notas baixas do Salgueiro em quesitos como Alegorias e Adereços, Enredo e Fantasias, nos quais a escola havia deixado boa impressão. Imperatriz e Beija-Flor lideraram a contagem do começo ao fim, sem serem ameaçadas.

As duas escolas surpreendentemente perderam meio ponto num quesito que não se esperava (Mestre-Sala e Porta-Bandeira) com o mesmo jurado (Tito Canha), mas receberam dez em todas as demais notas de todos os quesitos. Ou melhor, para a Beija-Flor, uma pequena despontuação se deu em Conjunto: o jurado Ricardo Rizzo tirou meio ponto da escola de Nilópolis, enquanto a Rainha de Ramos levou dez.

Com isso, a Imperatriz terminou a apuração com 299,5 pontos em 300 possíveis (lembrando que não havia descartes), enquanto a Beija-Flor amargou mais um vice, com 299 pontos. A Viradouro terminou em terceiro (298), seguida pela Mocidade (297,5), numa curiosa repetição das quatro primeiras colocadas do ano anterior. As surpresas foram o quinto lugar da Unidos da Tijuca e o sexto do Salgueiro, que merecia brigar pelo título e nem mesmo conseguiu uma vaga no sábado.

A briga contra o rebaixamento lamentavelmente teve duas das mais tradicionais escolas do Rio: Portela e Unidos de Vila Isabel. A Majestade do Samba chegou a estar na zona da degola em dado momento da apuração, mas acabou se salvando. Já a Vila caiu como se temia e foi acompanhada pela Porto da Pedra. Inexplicavelmente a Tradição escapou do rebaixamento… Repito: inexplicavelmente.

RESULTADO FINAL

POS. ESCOLA PONTOS
Imperatriz Leopoldinense 300
Beija-Flor de Nilópolis 297,5
Unidos do Viradouro 297,5
Mocidade Independente de Padre Miguel 297,5
Unidos da Tijuca 293,5
Acadêmicos do Salgueiro 293,5
Estação Primeira de Mangueira 287,5
União da Ilha do Governador 285
Acadêmicos do Grande Rio 283,5
10º Portela 275,5
11º Caprichosos de Pilares 273,5
12º Tradição 270,5
13º Unidos de Vila Isabel 266,5
14º Unidos do Porto da Pedra 266

No Acesso, o Império Serrano conquistou o título com nenhuma nota diferente de dez e garantiu com incrível tranquilidade a volta ao Grupo Especial, com 200 pontos. A segunda vaga na elite ficou com o Paraíso do Tuiuti, que somou a mesma pontuação que a Em Cima da Hora (195,5), mas levou a melhor no desempate (quesito Harmonia), completando uma ascensão contestada – veja mais no Cantinho do Editor. O Acesso B teve o título da Leão de Iguaçu e o vice campeonato da Unidos da Ponte – que desfilou com apenas dois carros e sete alas…

Se desta vez não era possível fazer reparos ao título da Imperatriz, já que, de fato, a escola passou muito bem em todos os quesitos, os salgueirenses ficaram indignados com o resultado. O carnavalesco Mauro Quintaes pontuou: “Como posso perder um ponto em enredo se ele foi sugerido pela Liga, e eu segui as orientações?”. O Salgueiro realmente deveria estar mais acima na tabela. Mas o título seria realmente mais difícil, dada a excelência do desfile gresilense.

CURIOSIDADES

– Fernando Vannucci foi contratado pela TV Bandeirantes depois da demissão da Globo e esperava-se que a emissora paulista novamente transmitisse o desfile como em 1999, mas com o apresentador como âncora. Mas apenas a Globo exibiu os desfiles oficiais, cabendo à Band a transmissão do Desfile das Campeãs.

– Aliás, desde 2000 a Globo transmite com exclusividade os desfiles oficiais do Grupo Especial do Rio. Band, CNT, SBT e a própria Globo vêm se revezando na transmissão do Acesso e do Desfile das Campeãs desde então.

– A Globo reformulou sua equipe de transmissão, com a narração sendo dividida entre Pedro Bial e Glória Maria. Bial, curiosamente, jamais voltaria a exercer essa função. Os comentários foram de Ricardo Cravo Albin e Haroldo Costa.

– No desfile da Viradouro, o cantor Salgadinho (que fim deu?) apareceu ao lado de Dominguinhos cantando o samba e Bial informou que o pagodeiro era do grupo Molejo. Mas ele era do Katinguelê. E seguiu o desfile… Mas, escorregão à parte, o jornalista teve uma boa condução no geral e soltou uma precisa frase sobre Jamelão: “É o mais adorável mal-humorado do samba”.

– Foi o último desfile de Joãozinho Trinta como carnavalesco da Unidos do Viradouro. Em sete carnavais, ele faturou um título (1997), três terceiros lugares (1994, 1999 e 2000), um quinto (1998), um nono (1995) e um 13º lugar (1996). Nos quatro anos seguintes, ele assinou o carnaval da Grande Rio.

– A Vila Isabel foi rebaixada para o segundo grupo pela segunda vez em sua história – a outra foi em 1978. Mas, se o primeiro descenso teve reação rápida, já que a Vila foi campeã do Acesso em 1979, desta vez o retorno só seria coroado com o título da Segundona em 2004. Em 1981 a escola também foi rebaixada com o Império Serrano mas se beneficiou de uma “virada de mesa”.

CANTINHO DO EDITOR – por Pedro Migão

Considero este samba o pior da história da Portela, pior até que o de 2005 e sua letra pavorosa. Durante a disputa havia uma composição muito boa (abaixo) de autoria do compositor Gelson (já falecido, um dos autores do samba de 1995), cortada na semifinal. Na final a bateria tocou toda errada o vencedor, dizem que de propósito…

http://www.youtube.com/watch?v=d4bnfaGRWyw

Sem contar os erros históricos:

  1. “No carnaval de Orfeu” = o filme é de 1958 apenas, portanto já no governo de Juscelino Kubitschek;
  2. “MPB” = também é um conceito que só se aplica com a Bossa Nova, na segunda metade da década de 50;
  3. “Jorrou petróleo a valer” = não chega a ser um erro, porque o poço de Candeias, o primeiro comercial em território brasileiro, é do final da década de 30. Mas a produção brasileira de petróleo só seria significativa a partir da década de 70;
  4. “Vai à luta meu Brasil/Pela soberana paz” = ok, o Brasil lutou na Segunda Grande Guerra ao lado dos Aliados. Mas não se pode ignorar o namoro com o governo nazista durante o Estado Novo;
  5. “Nossa indústria cresceu” = abriu-se a CSN, mas o desenvolvimento industrial só tomaria pleno fôlego no governo de Juscelino. Não chega a ser um erro, mas é mais uma licença poética;

portela2000Isso sem contar a alegoria na qual Getúlio Vargas parecia estar “com Mal de Parkinson” (em brincadeira feita pelos próprios portelenses), de tanto que a escultura tremia em cima do carro… (foto) Aquele pré-Carnaval foi o primeiro no qual frequentei a quadra da Rua Clara Nunes com regularidade.

Este foi o primeiro Carnaval que acompanhei mais de perto, graças ao advento das listas de discussão por e-mail – naquele momento, a saudosa “Academia do Samba”. Também eram muito legais os programas realizados nas quadras pela Rádio Nacional nas tardes de sábado, nas quadras das escolas – comandado pelo radialista Arlênio Livio. Eu me lembro de ter ido aos programas na Imperatriz, no Salgueiro e na Tijuca.

Por outro lado, foi o último ano no qual não estive em nenhum dia na Sapucaí.

Gosto muito do samba da Tijuca, mas ele tem alguns trechos insólitos: primeiro o verso “Obrigado Cabral, tanta emoção” e depois a sequência:

“O índio, a fauna, a flora
Paraíso de encanto e sedução
Nesse encontro com os portugueses
Um momento tão divino
Cada qual se fez irmão
Rezando a missa
Todo mundo em comunhão”

A disputa da Ilha foi marcada pela derrota do lindo samba da parceria de Djalma Falcão, que é lembrado até hoje. Aquela disputa tem ótimas histórias, como as contadas pelo colunista Aloisio Villar:

“Franco quando se apresentava provocava uma mistura de aplausos e vaias e seus desafetos levavam para a quadra uma faixa escrita “Pra ser Franco não gostei”.

Na disputa do ano 2000 o samba dele era o favorito, ao lado do lindo samba de Djalma Falcão. Djalma foi até um centro espírita tentar “amarrar” o samba de Franco e o pai de Santo pediu uma letra do samba rival. Djalma entregou e o pai de Santo comeu dizendo que ‘o samba estava amarrado’. Alguns dias depois Franco venceu a disputa e Djalma, irritado, falou: “o filho da puta do pai de Santo comeu a letra errada”…

E na quadra Franco comemorava a vitória e uma faixa amarrada abandonada na quadra dizia: “Pra ser Franco continuo não gostando”.”

O rebaixamento da Vila Isabel já era meio que anunciado, dados os problemas políticos e financeiros enfrentados pela escola no pré-carnaval. Além disso, o noticiário da época dava conta que o auxílio da Prefeitura não foi utilizado na confecção de alegorias e fantasias. Também muita gente relata que o casal de mestre sala e porta bandeira estava “calibrado” no desfile. André Diniz também é um dos autores do samba, embora não assine.

Paulo Henrique, puxador da Mocidade, estava rouco no desfile. O curioso é que o mesmo se repetiria ano seguinte com David do Pandeiro. Aliás, que fim deu Paulo Henrique?

Todos os prognósticos do Grupo de Acesso A indicavam a ascensão de Império Serrano e São Clemente ou Estácio de Sá. Mas na avaliação dos jurados subiram Império Serrano e Paraíso do Tuiuti, esta de forma que nem a escola esperava e a campeã Império com uma diferença de pontos acachapante para as demais. No Acesso B, disputado sob forte chuva na terça-feira de Carnaval e com as frisas fechadas, o resultado foi tão insólito que no decorrer do ano Villa Rica e Boi da Ilha do Governador, respectivamente terceira e quarta colocadas, foram convidadas a integrar o Acesso A para 2001.

Naquele ano, com o carnavalesco Ernesto do Nascimento na Em Cima da Hora, participei como jurado do concurso que elegeu a rainha de bateria da escola. Bons tempos – e saudades do caldo verde da quadra de Cavalcanti…

Criado em 1999, o Prêmio Sambanet se firmou definitivamente em 2000, sendo hoje a principal premiação destinada aos Grupos de Acesso.

Na Quarta Feira de Cinzas daquele ano Luiz Pacheco Drummond, presidente da Liesa e da Imperatriz Leopoldinense, deu entrevista ao jornal O Globo dizendo “que seria tri em 2001”. O resultado, todos já sabem…

Links

O desfile campeão da Imperatriz em 2000

O belo desfile que deu o vice à Beija-Flor

https://www.youtube.com/watch?v=IfRgXaaaFrY

A bela apresentação da Viradouro

O injustiçado desfile do Salgueiro

Fotos: Liesa, O Globo,  O Carnavalesco e reprodução de TV

47 Replies to “Sambódromo em 30 Atos – “2000: Na festa dos 500 anos, Imperatriz fatura o bicampeonato””

  1. Bons tempos o Carnaval 2000. Lembro do aperto que a Portela passou na apuração. Era a 13ª colocada, só se recuperando no sexto quesito, enredo. A última era a Vila Isabel nesse momento.

    A Tradição escapou por méritos. Apesar da bagunça que foi o desfile, apresentou alegorias de bom acabamento. Lembram do navio negreiro com esteiras de palha?
    Aliás o refrão da Tradição seria: ”é pic, é pic, é hora, é hora, pra frente Brasil”. Lembro muito bem desse desfile, toda escola atrasada mas com passo marcado. Fora a pata do condor quebrada.

    Nesse ano, as escolas de São Paulo seguiam uma sequência histórica de 1500 à 2000.

    A Globo não exibiu Porto da Pedra, Grande Rio e Unidos da Tijuca pra fora do Rio. Grande Rio estava na metade, e adiantaram um pouco a novela Terra Nostra pra exibir na íntegra a Mangueira.

    1. Anderson, obrigado pelas informações adicionais sobre a transmissão para fora do Rio. Abraços e valeu pela leitura.

      1. Obrigado Fred. Espero ansioso toda segunda pela sua coluna. Principalmente a partir de 1998, quando comecei a acompanhar o carnaval. Se quiser contar comigo, estou à disposição!

    2. Concordo sobre a Tradição. Não tinha como a Vila Isabel se manter no Especial, nem com reza brava.

      Sobre o Carnaval temático, você citou sobre São Paulo, que foi em ordem, de 1500 a 2000, com os enredos definidos para cada escola servindo de “sorteio” para a ordem de desfiles.

      Em Santos, a prefeitura solicitou que cada escola fizesse uma homenagem aos imigrantes. A X-9 falou dos italianos (o Neguinho da Beija-Flor esteve no carro de som – merece registro histórico o “olha a X-9 aí, gente!!”.). A União Imperial, com Zinho do Tempero e Carlinhos de Pilares, falou dos africanos. E assim se seguiu: a Padre Paulo, com os portugueses. A Bandeirante do Saboó, dos espanhóis; a Real Mocidade, dos holandeses…

      Foi um dos pouquíssimos desfiles, aqui em Santos, que não atrasou!!

  2. Essa história do pai de Santo é contada até hoje de forma muito divertida, o Djalma acha graça da história que é verdadeira. Mais um grande texto sobre nosso carnaval, parabéns Fred.

  3. Bobagem essa história de “o resultado todos já sabem”. Ninguém em 2001 acreditava que a Imperatriz seria campeã de novo. Foi mais surpreendente que o título de 1999. O de 2000 é merecido.

    Sobre o samba da Tradição, consta que a letra do verso do “Desperta Gigante, é hora, é hora, pra frente Brasil, Brasil”, originalmente era “É big! É big! É hora, é hora, parabéns Brasil”. Seria mais pavoroso do que o que foi apresentado na avenida. Aliás, a primeira parte desse samba é até bem razoável. Mas depois do “baiana ginga baiana”, é um desastre completo.

    1. Rodrigo, me lembro que no bolão de 2001 do qual participei todo mundo colocou a Imperatriz campeã antes do desfile. Era algo que se falava abertamente nos bastidores…

      O samba da Tradição era esse mesmo, bem lembrado

  4. Daqui a pouco comento os desfiles em geral, mas primeiramente tenho que dizer: O Estado Novo NÃO foi aclamado pelo povo…

    1. Will, este foi motivo de grande debate entre eu e o Fred durante a redação do texto. Mas o povão aplaudiu sim o Estado Novo – tanto que Getúlio voltaria nos braços do povo em eleições democráticas anos depois.

  5. Confesso que o tema único não me agradou muito. Achei um visual repetitivo de índios, negros escravizados, portugueses… enfim.

    Não lembro como a Liesa fazia a divisão das escolas para definir a ordem de desfile, pois o domingo ficou com as escolas mais fracas na época. A Grande Rio, até então, não era vista como escola que vinha para ficar nas cabeças, e a Portela não vivia bom momento.

    Sobre a Vila Isabel, a comissão de frente, com os índios e suas ocas, apesar de alguns errinhos, também se sobressaiu no desfile problemático. O mestre-sala com certeza estava ‘calibrado’. Foi o último carnaval do Oswaldo Jardim, não foi?

    A Tradição, na minha opinião, pra variar, merecia cair também. Poderia ter salvo a Porto da Pedra (apesar que entre Porto da Pedra e Vila Isabel, eu fico com a segunda).

    Sobre o Salgueiro, eu particularmente não achei um grande desfile. Achei mediano e não achei injusta a colocação. Poderia sim voltar nas Campeãs, mas no lugar da Tijuca mesmo, pois as quatro primeiras foram melhores que o Salgueiro.

    A Mangueira acredito que seria a única escola capaz de tirar o bi da Imperatriz, lamentável a quebra de carros. Melhor trabalho estético do Louzada nos três anos que passou pela escola.

    Sobre a Ilha, eu tinha um certo receio esse ano, pois a escola estava no dia das fortes candidatas ao título e bem no meio delas… mas a escola fez um desfile muito bom, na minha opinião. O visual era fraco sim, mas achei o enredo muito inteligente… sem contar que a escola gabaritou os quesitos Evolução e Harmonia… coisa que precisa fazer atualmente, pois visual bom ela tem agora. Mas o samba, conforme foi falado, era bem xoxo.

    A Beija-Flor, se não me engano, trouxe um enredo baseado livremente no livro Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho, do Chico Xavier. Eu não curti muito a escola, mas óbvio que veio muito bonita e competente.

    É um carnaval que eu raramente volto pra assistir… sobre o Pedro Bial, achei ele péssimo!

  6. Foi meu primeiro ano no Sambódromo e me emocionei muito com a passagem do meu Salgueiro. Como estava nas cadeiras do setor 6 (atual 12), pude ver as arquibancadas populares berrando “é campeã”, um show de fogos na dispersão e a bateria dando mais um show após o término do desfile. Foi lindo! O 6º lugar foi muito estranho…
    A Beija Flor eu particularmente achei o enredo muito confuso, mas como sempre o pessoal de Nilópolis desfila muito bem. A Imperatriz, de fato, dos títulos desse tricampeonato, apenas o de 2000 foi justo. Portela foi tenebroso, tinha torcedor chorando na hora que ela passou. Acho que a Tijuca surpreendeu bastante, mereceu voltar para as campeãs mesmo. O Salgueiro deveria ter ficado em terceiro ou quarto lugar.

  7. O samba da Portela tinha erros absurdos! Como historiador, vez ou outra, uso o desfile da Caprichosos nas minhas pesquisas sobre a ditadura, que é o período que me especializei.

  8. Agora, sobre os desfiles: eu achei que, devido à obrigação temática, muitas escolas enrolaram e fizeram enredos confusos, como por exemplo a Beija-Flor. quem fez o arroz com feijão, venceu!
    E sobre a Tradição: Eu já ouvi uma história de que ela poderia ter todos os tipos de problemas, que não desceria de jeito nenhum… Ela estava amparada pelo Luizinho Drummond, greto ao Nésio por não ter dado a vitória a um Samba feito por um desafeto do gresilense… rs

        1. O de 2003 disputa ferozmente o título de pior samba-enredo do Especial, junto com Unidos da Ponte e Tradição 1996, Rocinha 1997, Grande Rio e Caprichosos 2004.

          O pior da história muitos concordam quase que de forma unanime que é o da Cordovil, de 1972!

  9. O Curioso é que no Acesso, a Tuiuti só soube que tinha subido pro especial quando foi a mesa da Em Cima da Hora dar os parabéns à escola, achando que ela tinha subido. A História do pai de santo é bem engraçada. Parabéns pela coluna Fred, eu sempre leio pois gosto de conhecer a história do nosso carnaval. Uma sugestão: bem que essas colunas poderiam virar um livro né?

  10. Meu muito obrigado a todos pela leitura e por acrescentarem ótimas informações que complementam o texto. Semana que vem tem mais!

  11. Também nunca mais tinha ouvido falar, até que uma empresa onde trabalhei contratou a bateria da Mocidade em 2008 para sua festa de final de ano, e quem puxou os sambas foi o Paulo Henrique. Depois disso, sem mais notícias.

      1. Curioso é que ele ganhou o Estandarte de Ouro de revelação do Carnaval de 2000. Lembro que no grito de guerra de 2001 o David do Pandeiro soltou um “Alô, Paulo Henrique!”. Depois disso, nunca mais ouvi falar no cantor.

  12. Respondendo ao “que fim deu?” do cantor Salgadinho, de 2000 até os dias de hoje, ele saiu do Katinguelê, virou cantor evangélico, retornou ao grupo e atualmente segue em carreira solo. (tudo isso em quase 14 anos)

  13. Mais uma coluna da serie , que a BF é tratada como coadjuvante. A BF esteve no mesmo nivel da Imperatriz, Mangueira e Salgueiro. Sei que os textos são opinativos, e naturalmente há pensamentos divergentes. Mas mais uma vez afirmo. Se uma pessoa que não conhece de carnaval tivesse a coluna como “regua” a BF seria uma escola coadjuvante e de pouco destaque no carnaval. Escolas como Tijuca, Vila, Viradouro, conseguem ter mais destaque que a escola de Nilopolis nos textos.
    Estou curioso para ver a coluna de 2001.

    Grande Abraç

    1. Talvez o dia que a Beija-Flor entender que desfile de escola de samba tem que ter SAMBA de verdade que, se não cativa o público, pelo menos seja fácil de entender. Um SAMBA que não necessite de explicações mirabolantes do Laíla. Isso, até a Imperatriz desta época tinha (1994, 1995, 1996, 1998, 2000 e 2004 são exemplos)!!

      E se você leu o texto de 1999, viu que ela foi muitíssimo aclamada – aliás, merecidíssima – como será em 2001 e 2004, provavelmente!!! Nos outros anos, realmente, não fez nada de mais. Isso até um coala treinado com carinho e dedicação sabe!

      Aliás, 2004 foi um desfile que todo mundo sabia que a Beija-Flor venceria ao assistir o desfile. Algo que aconteceu com a Mocidade em 1985 e 1991, com o Salgueiro em 1993 e a Unidos da Tijuca em 2010!!

      1. Rodrigo Vilela, geralmente não respondo textos raivosos eescrito de maneira atroz.
        Não sou um coala treinado, mas dizer que em 2007 e 2008 a BF não fez carnaval, soa injustiça…. Mas como eu disse o texto é opinativo e naturalmente ha divergencias. Isto é normal. O que não é normal é não aceitar o contraditório.

        1. Não estou sendo raivoso, se me entendeu assim, desculpe. Mas um desfile (2008) cujo samba – de melodia PLAGIADA do ano anterior – tira todas as notas 10 JAMAIS poderá ser levado a sério.

          Sobre 2007, é você quem está falando, mas eu acho que a Grande Rio merecia vencer naquele ano.

        2. Ah! Aceitar contraditório eu aceito. O que não aceito jamais é desmerecer o trabalho de um jornalista, insinuando que tal pessoa está sendo parcial nas entrelinhas.

          Até porque o Fred, quando expõe sua opinião, o faz de maneira clara e sem querer impor a verdade dele nos outros.

          Também sou jornalista e eu ADORO quando alguém discorda de mim, mas tenho vontade de descarregar uma bazuca na cara de quem duvida dos textos que escrevo, insinuando inverdades!

          No mais, lá vem 2014 e mais uma vez a BF é uma das favoritas ao título!

      2. 2004? Eu pessoalmente acho um absurdo o título da Beija Flor – quem não se lembra do carro do teatro Amazonas desmanchado na avenida?

        1. Só o samba já valeria pelo título, Pedro! (na minha opinião). E, mesmo debaixo de chuva, a escola trucidou!

          Foi um dos POUQÍSSIMOS anos que eu torci de verdade para a Beija-Flor ganhar, até porque a minha Mocidade, bom… deixa pra lá!

          1. Concordo, Pedro. Talvez minha opinião seja apenas um pouco empolgado.

            Uma das coisas que ajudou também foi que nenhuma outra mostrou potencial para título! Pelo menos pra mim! Hehehehehe…

    2. Caro Douglas, separo aqui alguns adjetivos elogiosos que usei para o desfile da Beija-Flor em 2000: “uma das melhores escolas do ano”, “belíssima ala das baianas”, “espetacular abre-alas”, “samba-enredo funcionou para a harmonia da escola e foi maravilhosamente interpretado por Neguinho, além de bem sustentado pela bateria”, “nos quesitos plásticos, inegavelmente a Beija-Flor teve mais uma apresentação de grande qualidade”, “as fantasias da Beija-Flor…passaram intactas pela pista e eram primorosas”. Desculpe, mas, com esses adjetivos todos, o texto não indica que a escola foi coadjuvante, ao contrário. Porém, para os autores, a Beija-Flor apenas não foi tão brlhante como em 1999 e 2001, por exemplo, quando merecia ganhar o campeonato. Só isso. Neste espaço, todas as agremiações já foram elogiadas e criticadas com respeito e na medida certa. E, me desculpe, dizer que as escolas citadas por você têm mais espaço do que a Beija-Flor é no mínimo uma acusação injusta. Sugiro a você pegar uma a uma as colunas, copiar e colar num editor de texto e ver o contador de palavras. Se o fizer, verá que a Beija-Flor é uma das agremiações com maior espaço. Mas, enfim, como o senhor mesmo escreveu, há pensamentos divergentes. E não algum desabono à escola nos textos como você insinua ou acusa. Abraços e bom dia.

  14. Mais um brilhante texto, Fred!!

    Realmente, seria difícil a Imperatriz perder. Das mais cotadas, a Beija-Flor teve um samba confuso; a Mocidade, um samba fraco; a Mangueira, muita correria por causa dos carros quebrados; o Salgueiro poderia ter melhor sorte, mas achei outro samba de gosto duvidoso.

    No mais, queria ter visto a cara de “cobre” do delegado que encrencou e falou asneira da Unidos da Tijuca!!

  15. Me lembro que em 2000 a Tradição veio com um condor, até correto, mas de escultura feia. Ele tinha em seu corpo uma grua que o fazia subir, subir, subir…Como portelense senti um pouco de inveja ‘branca’ e do setor 1 fiquei acompanhando -secando? – o voo do animal . Já no setor 3 ou 5, a ave se elevou, subiu, voou e na hora de descer a pata esquerda do condor ficou presa ao cronômetro e…

    Ainda não engulo o rebaixamento da Vila. nem o desfile da Portela, chato até o fio da apoteose.

    Pra mim o que mais marcou foi o visual incrível da Mocidade e a encenação do nascimento de Dom Obá.

  16. Boa noire,desfilei em 1999 na Imperatriz e digo, cantamos, brincamos, era uma expectativa grande, a Beija-flor havia acabado de passar, era uma árdua luta entre as duas, provocações nilopolitanas, insultos e aquilo mexeu com a escola,a Imperatriz vinha compacta.3.000 componentes e isso ajudou a escola se organizar, diga se de passagem é a escola mais organizada do grupo especial, mas a harmonia teve todos os méritos pois a escola de Ramos diminuiu o andamento, não ficou parada e cantamos muito, era um clima de um apoiar o outro, espírito de responsabilidade, coisa que hoje a Beija-flor aprendeu a ter, em 2000, foi um desfile belo, exemplar de alto nível do início ao fim, às alegorias apresentavam o melhor conjunto daquele ano, a Imperatriz vinha de um campeonato muito contestado, em 2001 manteve o nível, teve competência, um desfile esperto, peculiar, como falar da cachaça de forma luxuoso e eloquente? Como convencer os jurados com binóculos atentos a passagem da escola, mais uma vez tínhamos que superar a Beija-flor, como? A escola de Nilópolis vinha com um belíssimo samba, uma comunidade que cantava, guerreira, mas Imperatriz superou, lembro do comentário do Aroldo Costa, que naquele momento dissera que seria difícil tirar o tri das mãos da Imperatriz, elogios foram feitos ao longo da transmissão, será que os Comentaristas estavam errados? Digo que foram títulos conquistados na elegância, no detalhe, esmero, dedicação e muito amor dos componentes.

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