Neste último dia do ano, o estudante Leonardo Dahi faz sua retrospectiva de 2013.

O que eu vi de 2013

Na coluna passada eu disse que na próxima (no caso, esta), eu viria com os pitacos sobre os sambas do Grupo Especial de São Paulo. Como é fim de ano e é um texto publicado em dois dias, achei que não era o momento e adiei para a próxima.

Fim de ano é a época em que refletimos sobre tudo o que fizemos, deixamos de fazer, o que deu certo, o que deu errado e, embalados pelo Especial do Roberto Carlos dizemos que “se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”, quando na verdade isso é uma grande mentira já que, se chorar fosse bom, o Botafogo tinha a maior torcida do Brasil.

Enfim, esta sendo a última coluna do ano, faço um balanço deste ano de 2013, lembrando que esta não é uma retrospectiva com fins jornalísticos, mas sim a minha retrospectiva. Não pesquisei sobre fato algum, então é lógico que esquecerei de alguma coisa e, talvez, até errarei uma ou outra data.

A primeira lembrança que guardo desse ano depois de seus primeiros minutos (queira ou não, o início de um novo ano é sempre um momento marcante) é bem triste. No dia 27 de janeiro, logo pela manhã, o país inteiro ficou mais triste por conta da tragédia na Boate Kiss, em Santa Maria, Rio Grande do Sul. Mais de 200 jovens perderam a vida por uma sequência de irresponsabilidades. A investigação é estranha, suspeita-se que os vereadores locais não queiram que os culpados respondam criminalmente, enfim: como quase tudo aqui no Brasil, ficou apenas a lembrança desta grande tragédia.218650073Veio fevereiro e, com ele, o Carnaval.

Em São Paulo, a Mocidade Alegre foi bicampeã com mais um desfile impecável. Porém, o grande desfile de 2013 veio da Acadêmicos do Tucuruvi. O desfile sobre Mazzaropi foi o segundo melhor que eu já vi no Anhembi (perde justamente para a Mocidade, mas a de 2012) e, ao meu ver, merecia o título por sua apresentação alegre e irreverente.

No Rio, a Vila Isabel escreveu seu nome na história da Sapucaí (de novo) conquistando de maneira incontestável seu terceiro título. Com uma exibição arrebatadora, a Vila encerrou o Carnaval com chave de ouro, com uma exibição poucas vezes vista nos últimos tempos. A Folia ainda ficou marcada pela tragédia que vitimou três pessoas nos desfiles de Santos. Outro fato marcante foi a vitória do Império da Tijuca na Série A – talvez a primeira em muito tempo sem grandes contestações.

Outra tragédia de 2013 ocorreu na Bolívia, mas envolvendo um time brasileiro. No caso, o meu. Então detentor do título, o Corinthians foi até Oruro enfrentar o San Jose na partida de estreia pela Copa Libertadores. O jogo terminou 1 a 1, mas isso pouco importou. O grande fato do jogo – e um dos mais marcantes do torneio – foi a morte do garoto Kevin Espada. Kevin foi ver o jogo do time do coração contra o campeão do Mundo – pelo qual nutria grande simpatia – mas não viu nem 10 minutos da partida. Oito minutos após o apito inicial, um sinalizador vindo da torcida corinthiana acertou acidentalmente seu olho e acabou com sua vida. Um outro caso que não teve uma solução clara. Doze inocentes (nesse caso, já que alguns se envolveram em confusão em outros estádios) foram presos, soltos e o suposto verdadeiro culpado não foi julgado ainda.

Logo nos primeiros dias de março, uma morte causou um banho de chorume nas redes sociais. Então Presidente da Venezuela, Hugo Chávez morreu em Cuba após anos de luta contra um câncer. A morte gerou uma série de comemorações por parte da direita, o que conseguiu ser mais ridículo que a tentativa “das esquerda” de canoniza-lo e pinta-lo como o maior líder político da história (perdendo apenas para o Lula, claro). Meses depois, Nícolas Maduro, seu vice, venceu as eleições. Engana-se quem pensa que o país ficou na mesma: a coisa piorou e piorou muito. Para se ter uma ideia, nem papel higiênico se encontra por lá. Os líderes dizem – e a esquerda, sempre ela, com Cynaras e atores globais, repete – que tudo não passa de manobra das empresas para tentar forçar o domínio do imperialismo americano (que, segundo eles, foi o responsável pela morte de Chavez) sobre os venezuelanos.RenataSantos-g-20110109Março também foi o mês da eleição do Papa Francisco. O argentino Bergoglio, com sua simplicidade e humildade conquistaria o Mundo e revolucionaria a Igreja.

Em abril, os americanos viram novamente um de seus maiores fantasmas: o terrorismo. Na Maratona de Boston, uma das mais importantes do país, um atentado provocado por irmãos de origem chechena na linha de chegada provocou algumas mortes. Se não foi um número de mortos muito impactante foi, principalmente, um recado de que os Estados Unidos não estão livres do terror.

Em maio, houve um momento marcante para mim e mais uns nove torcedores em todo o país: o fim dos Estaduais. Sim, eu gosto deles (e pretendo dizer os motivos por aqui em breve)  e, neste ano, gostei mais ainda, já que o Corinthians foi o campeão paulista. No Rio, deu Botafogo. Em Minas, Atlético. No Rio Grande do Sul, Internacional e por aí vai.

Chegou então junho, o mês mais conturbado do ano em terras brasileiras. Não me lembro ao certo o dia, mas a população paulistana se revoltou contra o aumento de vinte centavos nas passagens de ônibus e foi para as ruas. E aí se virou o país de cabeça para baixo. “O Gigante acordou”, “Estamos mudando o país”.  Em um dos maiores ataques coletivos de prepotência de história da humanidade, os brasileiros resolveram que era hora de protestar “contra tudo”. Aí, meu amigo, aí sujou.

Começou a chover oportunista de tudo quanto é lado. Baderneiro, black bloc e aquele que serve para os dois grupos anteriores, o imbecil, armaram a maior zona. Como diria o locutor da Sessão da Tarde, uma turminha da pesada aprontando altas confusões e fazendo o maior barulho por todo o país.

Engraçado é que a oposição que antes dizia ser um absurdo parar a cidade “só por vinte centavos”, viu na confusão uma grande oportunidade para desandar a bater sem dó no Governo Lula/Dilma e ficar ao lado dos “revolucionários”. Comigo, foi o contrário. Saudades da revolta por causa dos 20 centavos, amigo…rosa-magalhaes-2011-size-598E sabe o que foi um dos fatores que impulsionaram toda essa revolta? A Copa das Confederações.

Veja bem: o Brasil foi escolhido como sede da Copa do Mundo de 2014 (e, consequentemente, da Copa das Confederações de 2013) em 2007. De lá pra cá, saíram os estádios a preços astronômicos em praças inexpressivas futebolisticamente, tudo bancado com o dinheiro público. E vejam só, os brasileiros revolucionários só se deram conta disso em 15 de junho de 2013, dia da abertura do torneio. Os manifestantes perturbaram a vida de quem queria chegar aos jogos e receberam como troca um tratamento especial da PM com balas de borracha e muita porrada. A PM, aliás, foi a única que não mereceu uma mudança de opinião da minha parte: foi mal do início ao fim, abusando da autoridade e da violência.

Em campo, o Brasil passeou e entrou para a lista dos maiores favoritos ao título da Copa de 2014 após vencer a outrora imbatível Espanha por 3-0 no Maracanã. Momento especialíssimo pra mim, porque eu estava no estádio.  Outra vencedora no torneio foi a seleção do Taiti. Apesar de ter perdido os três jogos, feito apenas um gol e tomado 24, os jogadores semiprofissionais do Taiti conquistaram e foram conquistados pela torcida brasileira.

No futebol, julho guardou fortes emoções para o Atlético Mineiro, campeão da Libertadores pela primeira vez após duelos memoráveis nas quartas, na semi e na final. O Atlético perderia o Mundial na semifinal para o Raja Casablanca, que perderia para o Bayern a decisão. O Corinthians faturou o título da Recopa em cima do São Paulo, último grande momento do time no ano, que foi muito mal no Brasileiro e na Copa do Brasil.

Julho também foi mês da resposta de Dilma Rousseff aos protestos. Ela anunciou a importação de médicos cubanos e aí o Brasil mostrou seu lado xenófobo. Médicos, mesmo com seu alto nível de instrução, ofenderam colegas de trabalho que vieram para tapar um buraco que, responsáveis ou não, eles deixaram.0,,35479416-EXH,00Foi um ano conturbado na política, com o julgamento, condenação e prisão de alguns envolvidos no escândalo do Mensalão. Marina Silva também ganhou destaque com a tentativa de fundação da Rede, seu fracasso e filiação ao PSB.

Depois, tivemos a Jornada Mundial da Juventude e o Brasil novamente foi o centro do mundo. O Papa Francisco se juntou aos milhares de fiéis que invadiram o Rio de Janeiro e deu declarações surpreendentes como as de que não poderia julgar alguém por ser gay.

Na sequência, que eu me lembre, foram tempos mais tranquilos. O Cruzeiro na Série A e o Palmeiras na Série B ganharam o Brasileirão com facilidade parecida com a de Vettel, que levou o tetra na Fórmula 1. Arthur Zanetti foi campeão na ginástica, conquista superada em heroísmo pelo título mundial das meninas do handebol.apprattiNa Copa do Brasil, o Flamengo foi um surpreendente campeão. Vencendo adversários ditos mais fortes como Botafogo, Cruzeiro, Atlético Paranaense e Goiás, o Mengão fez o Maraca de aliado e levou o tri.

As tragédias voltaram com tudo no fim do ano: na Arena Corinthians e na Arena Amazônia, dois operários mortos em acidentes. Em Joinville, torcidas de Vasco e Atlético Paranaense protagonizaram momentos de selvageria em partida válida pela última rodada do Brasileirão. Cenas que todo mundo viu e que não merecem grandes comentários.

Todo mundo viu também a surra que o Vasco tomou em campo e que lhe rebaixou para a Série B. O Fluminense também caiu, mas devido à uma burrada da Portuguesa – que perdeu quatro pontos – se salvou. Na verdade, quem se salvou foi o Flamengo, que fez burrada parecida e ficou atrás do Flu. Porém, parece óbvio que a Lusa vai querer melar o Brasileirão 2014 e uma nova Copa João Havelange pode vir por aí.

O ano terminou com mortes tristes como a de Reginaldo Rossi. Dario Pereyra, Dominguinhos, Nílton Santos, Gylmar dos Santos Neves e Dino Sani foram algumas das mortes de que me recordo agora. A grande perda de 2013, porém, foi a de Nelson Mandela. O líder sul-africano partiu deixando um legado de esperança, luta contra a desigualdade e esperança.

Enfim, apesar de tudo, foi um bom ano. Agora é esperar por 2014. Ano que promete ser intenso, com Copa e Eleições.

Deixo aqui um feliz 2013 ao Pedro Migão, dono do blog e líder da esquerda caviar, agradecendo pela oportunidade de escrever aqui. Espero que seja a primeira de muitas “última coluna do ano”. Desejo também um feliz 2014 a todos os companheiros colunistas e a você leitor. Até lá!Renata Santos - rainha de bateria da Mangueira - na quadra da escola (9)

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