Como havia afirmado na última quarta feira, hoje estreia a segunda coluna do compositor e advogado Alexandre Valle. A “Sambando com Elas” consistirá em uma série de entrevistas com mulheres que fazem o carnaval carioca, especialmente nos grupos de Acesso, menos badalados.

Sambando com Elas – Kátia Lepletier

O que fazer no feriadão? Para ela era simples: pela manhã, curtir uma boa praia – até porque ninguém é de ferro – à tarde, uma visitinha à livraria e, à noite, um bom filme em DVD.  Rotina normal? Claro que sim. Quantas pessoas não gostariam de ter uma programação dessas? A questão é que não se tratava de um feriado qualquer.

Estamos falando de uma carioca – aliás, uma das mais belas representantes da festejada espécie – que repetia esse ritual, por alguns anos, em pleno… Car-na-val! Mas e as Escolas de Samba, as Bandas, os Blocos de Rua? Nem pela TV. A moça passava longe dessas coisas. Não curtia mesmo.

Surpresos? E se eu disser que hoje, essa mesma pessoa, é figurinha facilmente encontrável em várias Escolas do Samba do Grupo Especial ao Grupo de Acesso “D” (sim, amigos, existem cinco “divisões”, cinco grupos que comportam as mais diversas agremiações cariocas), sem se importar com o glamour das mais famosas, mas nunca indiferente ao swing de uma bateria (independente do Grupo da Escola de Samba) e que hoje é essa energia que a move, durante o ano inteiro e não apenas no Carnaval?

Sim, meus amigos… Essa mulher existe,atende pelo nome de Kátia Lepletier e é dela que vamos falar hoje, nessa coluna que pretende entrevistar e  levar os leitores a conhecer melhor as mulheres do nosso carnaval. Sejam elas Rainhas, Musas, Madrinhas de Bateria, Baianas, da Velha Guarda, Diretoras de Harmonia, Ritmistas, enfim, vamos enfocar as Divas dos mais diversos segmentos das nossas Escolas de Samba. Então vamos à nossa entrevistada de hoje:

DSC_0693semOuro de Tolo: Kátia, como aconteceu essa virada em sua vida? O que te despertou para o samba e o Carnaval?

Kátia Lepletier: Bem, tudo começou em 2004, quando comecei a frequentar os ensaios na União da Ilha, por insistência de meu irmão – Thiago Lepletier – (NR: um dos mais inspirados Poetas da nova geração do carnaval carioca) – que tinha um grupo de amigos que iria desfilar na “Ala Alegria” com a fantasia  “Sansão e Dalila”. Lembro bem que à época estava cursando faculdade, e achei um absurdo o valor da fantasia, pois daria para comprar dois ou três livros de Direito, mas, na empolgação, acabei desfilando.

Ouro de Tolo:   E a sua relação com o Boi da Ilha?

Kátia Lepletier: Na verdade, foi o “Boi” (como carinhosamente chamamos) quem me abriu as portas pro Carnaval. Em 2006 me mudei para a rua que fica exatamente atrás da Quadra da Escola – coisas do destino mesmo – e, nesse ano o Boi iria homenagear a União da Ilha com o samba “O Amanhã”. Como a  Quadra era – praticamente – o quintal da minha casa, e queria prestigiar a União, fui conhecer a Escola e fui muito bem recebida pelo Presidente Eloy e sua esposa, D. Zélia que dizia ver em mim uma pessoa com liderança e, assim, me tornou responsável por uma ala já constituída, na Escola.

Quando abri os olhos, já estava desfilando em duas escolas… Isso pra uma pessoa que dizia “não suportar o carnaval”…(risos). O ano de 2008 qualificaria como o meu divisor de águas. Nesse ano, eu estava no carro do Boi como destaque central e o carro quebrou, o que me obrigou a desfilar no chão. Quer saber? A-do-rei! Acabei vindo como destaque de chão (que eu nem sabia o que significava) e estava me sentindo uma verdadeira artista… [1]

Ouro de Tolo:   De lá pra cá, após seu início no Boi da Ilha, em que escolas você teve oportunidade de desfilar?

Kátia Lepletier: No ano seguinte vim como Musa da Unidos de Padre Miguel, e nesse ano a escola subiu do Grupo B para Grupo A. Depois surgiram alguns outros convites: vim como Musa de Independente de São Joao de Meriti, Destaque de Carro da Leão de Nova Iguaçu, Musa da Vizinha Faladeira, Destaque do Acadêmicos do Dendê, Destaque da Difícil é Nome, Destaque de chão da Mocidade Vicente de Carvalho, Destaque da Rocinha, Destaque da São Clemente, e Madrinha da Unidos de Lucas, onde orgulhosamente estou até hoje.

Hoje costumo desfilar de três a seis Escolas por ano. Não faço distinção de Escolas, trato todas com muito carinho, do Grupo Especial ao Grupo Z… (risos). Invisto em fantasias, em roupas de quadra, até porque primeiro a Escola tem que brilhar para depois eu aparecer.

A partir daí, sim, ajudo com minha humilde contribuição, dentro do que posso pra Escola ficar mais bonita e iluminada.1 l (3)

Ouro de Tolo: Para terminar: De todas essas, qual seria a sua maior paixão?

Kátia Lepletier: Hoje, posso falar que meu coração é dividido por duas Escolas: São Clemente e Unidos de Lucas.

Comecei a freqüentar a São Clemente com amigos que estavam na disputa de samba-enredo da Escola. O samba, infelizmente, não durou muito tempo, mas, fui fazendo amizade e gostei do clima. Aos poucos, me tornei parte da Família Clementiana. Eles me abraçaram com um carinho enorme.

Comecei desfilando – no primeiro ano – numa ala particular, e, nos anos seguintes, no carro. Sempre tive um retorno muito grande por parte de todos, sempre me valorizaram e me trataram como membro da Escola. Hoje meu amor por ela é infinito, tanto é que tenho tatuado o nome da Escola em meu pé esquerdo.

Já na Unidos de Lucas fui convidada em 2011 pelo carnavalesco de então para vir como madrinha de bateria. Confesso que nunca tive esse sonho, mas sempre gostei de brilhar. Aceitei meio desengonçada, sem jeito, e sem saber se daria conta do recado. Assim desfilei, pela primeira vez, como Madrinha de Bateria na Intendente Magalhães em 2012. Posso falar que ali é o Carnaval do Povão mesmo… É bom demais!

É muito fácil brilhar na Sapucaí, mas na Intendente só brilha quem tem amor pelo que faz, que veste a camisa da Escola! Em 2012 o carnavalesco saiu e o Presidente me ligou e perguntou se eu sairia  da Escola com ele ou se continuaria reinando junto aos ritmistas, pois já havia conquistado a Escola, e a Comunidade me queria…

Claro que não pensei duas  vezes e aceitei! E lá estou até hoje. Acho isso muito legal. Muitas, hoje em dia, compram postos de Rainhas, Musas ou trocam favores. Nada contra, mas particularmente, acho que é muito mais interessante conquistar tudo pelos próprios méritos.

Ah! Ano que vem irei completar uma década de desfile. Hoje, posso dizer, não consigo me ver fora dessa festa profana. É meu combustível, preciso de ensaios para ficar feliz, recarregada. Amo muito tudo isso!

Ouro de Tolo: Parabéns, Kátia. A coluna “Sambando com elas” agradece sua participação e quer dizer que, todos nós, amamos muito tudo isso também. E por isso mesmo, pedimos que você continue brilhando e nos brindando com esse sorriso constante e com sua elegância e beleza!

[N.do.E.: por uma destas grandes coincidências da vida, eu era diretor do Boi da Ilha do Governador no ano citado.]

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(Fotos: Arquivo Pessoal da Entrevistada)

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