Nesta quinta-feira, a coluna Sabinadas, do jornalista esportivo Fred Sabino, aborda como funciona a cobertura jornalística in loco de uma corrida de Fórmula 1.

A cobertura ‘in loco’ da Fórmula 1

Chegamos a mais uma semana de Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 em Interlagos. Como sempre são dias especiais para quem cobre automobilismo no país e tem apenas uma oportunidade de fazer parte do “circo” – no meu caso será a sexta vez no Brasil, fora duas no exterior. Mas, no fim das contas, na prática, é muito complicado se inserir.

Isso porque, para os jornalistas, ainda mais os locais que cobrem apenas a etapa de seus respectivos países, conseguir contatos com pilotos, chefes de equipe e outros personagens da categoria é muito complicado.

Na verdade, a dimensão que a Fórmula 1 tomou nas últimas décadas, especialmente a última, proporcionou uma política muito severa de controle ao acesso da mídia em geral a qualquer informação que não seja em coletivas. Isso por diversos motivos, principalmente logísticos. Comecemos pelo credenciamento.

Meses antes da corrida, a organização local da prova começa a receber os pedidos de credenciamento. Como critério para a escolha, estão a relevância do veículo (jornais, revistas, rádios e TVs) e a circulação/audiência. O credenciamento de sites ainda engatinha e se você é blogueiro, esqueça. Não é credenciado, mesmo.

Pode parecer meio absurdo e arbitrário, mas a verdade é que não há autódromo no mundo com sala de imprensa suficiente para receber os jornalistas com credencial permanente (que vão a todas as corridas) e os locais que pedem credenciamento (são milhares, acreditem). Não cabe, mesmo. Já estive em corridas na Europa e vi que não é problema de Interlagos. Então, a solução é cortar mesmo.

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Quem é credenciado têm à disposição uma entrevista coletiva por dia na sala oficial (foto), a partir da quinta-feira. Na primeira, personagens são pré-determinados pela Fórmula 1, normalmente os pilotos da casa e alguém que esteja em destaque. Na sexta, quatro ou cinco chefes de equipe falam. No sábado e domingo, dão declarações os três primeiros na classificação e na corrida.

Além disso, as equipes disponibilizam quinze minutos de coletiva com seus pilotos depois das atividades de pista, e mais dez para a mídia do país do piloto – por exemplo, todos os jornalistas brasileiros têm direito a uma coletiva diária com Felipe Massa na área da Ferrari.

Mas esqueça se você acha que vai conseguir uma exclusiva com Fernando Alonso ou Sebastian Vettel, por exemplo, unicamente por estar credenciado e com acesso ao paddock e/ou sala de imprensa. No caso, não é nem questão de máscara dos pilotos ou das equipes. Eles não têm tempo mesmo. Há incontáveis compromissos com patrocinadores e convidados, além de intermináveis reuniões para o acerto dos carros e das estratégias, etc.

No caso, a melhor estratégia é tentar garimpar uma exclusiva meses antes do GP do Brasil. Entrar em contato com a assessoria é até tranquilo, mas aí conta muito se o veículo cobre in loco a todas as corridas ou se ele tem muita relevância no país.

Vocês podem se perguntar, com razão: “então as assessorias das equipes concedem entrevistas a quem interessa?” Mais ou menos. Na verdade, o tempo, sempre tão precioso na Fórmula 1, joga muito contra. Centenas, ou milhares, de pedidos chegam sempre às assessorias e é impossível dar vazão a todo mundo.

entrevistasSe você for de um veículo com algum alcance nacional, até que tem chance de conseguir. Normalmente dá para conversar durante uns dez minutos, o que é suficiente para fechar uma matéria ou VT de televisão e aí a criatividade do jornalista para levar um bom conteúdo ao público com aquilo que se apurou é fundamental.

Se o objetivo é uma exclusiva daquelas demoradas, em que se quer observar com calma o entrevistado, ou arrancar algo da vida pessoal, aí é mais complicado. Até porque, além do tempo exíguo, hoje em dia os caras são treinados para serem solícitos, mas não passarem da página dois ao comentar aspectos extrapista.

De qualquer forma, ainda tenho certeza de que vale a pena estar numa corrida. Até porque o clima é divertido, ainda mais em Interlagos, e é possível, ou melhor, bem tranquilo, conseguir entrevistas com ex-campeões que passam pelo paddock. Eu, por exemplo, já tive a grande honra de entrevistar em Interlagos o tricampeão Jackie Stewart, que, diga-se de passagem, foi extremamente simpático.

São momentos como esse que fazem valer a pena cobrir a Fórmula 1, mesmo que apenas uma vez por ano.

One Reply to “Sabinadas: “A cobertura ‘in loco’ da Fórmula 1””

  1. Ola gostei muito da sua reportagem ..Vc tem algum contato da Pirelli / para convidar para aEventos antes da Corrida / e da Martini tem ? abs Lio

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