Neste domingo de eleições na Portela, a coluna “Orun Ayé”, do compositor Aloisio Villar, aborda o momento da escola. Salvo algum imprevisto de última hora, as eleições irão até 20 horas e o resultado deve ser divulgado por volta de 22 horas. Lembro aos leitores que sou candidato ao Conselho Fiscal na chapa Portela Verdade.

A hora da verdade na Portela

Como eu disse na coluna anterior a Portela era outra história, outra coluna. Deixei a desse domingo reservada para ela.

Por quê fiz isso? Porque hoje, dia 19 de maio, é um dia histórico na maior campeã de nosso carnaval.  A Portela escolherá entre situação e oposição, entre Nilo e Serginho Procópio. Não. Definir apenas entre essas disputas é simplório demais. A Portela irá decidir entre o atraso e o recomeço, entre se apequenar e voltar a se agigantar, entre a quase morte e renascer.

Principalmente: A Portela decidirá entre a mentira e a verdade.

Nasci em 1976, quando a Portela já era 19 vezes campeã do carnaval. Depois que eu nasci a Portela só venceu duas vezes e nem sou tão novinho assim. Venceu empatada com Beija-Flor e Imperatriz em 1980 e ganhou um dia de desfiles em 1984, acabando vice campeã em um super campeonato decidido com a Mangueira que só foi realizado naquele ano.

Mereceu ser campeã em 1995, mas os Deuses do carnaval e os “diabos” com caneta e mapas de notas nas mãos não deixaram.

Além de 1995 merecia ser campeã em… em… em… Não, não teve mais nenhum ano. Poderia até ser campeã em mais algum anos, tivemos campeãs muito contestáveis ao longo dessas décadas, mas de 1985 para cá, tirando 1995 em nenhum ano podemos falar “esse era da Portela”. Desculpem o palavreado, mas porra!!! É a Portela, a maior das escolas de samba!! Não pode isso!!

A Portela é gigante, é monstruosa no bom sentido. Sofreu desmandos de Carlinhos Maracanã por muito tempo, conseguiu se livrar desse e assumiu o Nilo que é ainda pior. Mesmo assim a escola está lá no grupo especial lutando, cantando com raça e emoção. Surgem novos portelenses apaixonados e com sambistas mais velhos e de cabelos brancos produzem, fazem arte. Artistas da maior qualidade.

Portela que mesmo humilhada por aqueles que comandam, mesmo passando por tristezas, por fogo que corroeu sua alma, sua águia perdendo vôo e até asas é capaz de produzir sambas espetaculares como em 2012 e 2013. De fazer o Barcelona dos sambas no tempo que o Barcelona ainda era time.

Eu ainda peguei o tempo onde todo mundo parava para esperar a Portela. Era temida, assustava. A águia aparecia na frente, algumas vezes com voz e todo mundo se espantava, mas maltrataram tanto a escola que ela virou coadjuvante. Chegou-se a um ponto que hoje em dia esperam mais escolas fabricadas (que nunca foram campeãs) do que ela.

Chegou ao ponto dela vir com alegoria fazendo provocação a uma escola que tem sete vezes menos títulos que a águia.

Isso mudou um pouco nos últimos anos com seus sambas espetaculares, mas isso não é mérito da direção da escola: é de seus sambistas apaixonados que não deixam essa grande expressão cultural do Brasil morrer.

A gigante de 90 anos recém completados. De “O samba dominando o mundo” em 1935, “Memórias de um sargento de milícias” de 1966, “Lendas e mistérios das Amazonas” de 1970, “Lapa em três tempos” de 1971, “Ilu Ayê” 1972, “O mundo melhor de Pixinguinha” de 1974, “O homem do Pacoval” 1976, “Incrível, fantástico, extraordinário” 1979, “Hoje tem marmelada” 1980, “Das maravilhas do mar fez-se o esplendor de uma noite de 1981 (O meu samba-enredo preferido), “A ressurreição das coroas – Reisado, reino e reinado” de 1983, “Contos de Areia” de 1984, “Adelaide, a pomba da paz” de 1987 (o samba que já me fez chorar), “Na lenda carioca os sonhos do vice rei” de 1988, “Tributo a vaidade” de 1991, “Quando o samba era samba”de 1994, “Gosto que me enrosco” de 1995, “Os olhos da noite” de 1998.

Portela que subiu o Pelô e mandou abrir a roda. Portela que é tão grande que mesmo com esse sofrimento ninguém chegou perto de seu número de conquistas e hoje para o mundo do samba graças a sua eleição.

Hoje é o dia. Dia Nacional do Portelense. É dia de todos os portelenses irem à quadra e fazer valer sua força e sua indignação contra esta péssima gestão. Dia de todos mostrarem seu amor à Portela, sejam vivos ou mortos.

Hoje teremos Paulo da Portela, Natal, Clara Nunes, João Nogueira, Mestre Marçal, todos unidos nessa missão. Monarco, Falcon, Serginho Procópio, Luiz Carlos Máximo, tia Surica, dona Dodô, Paulo Renato, Fabio Pavão, meu amigo Pedro Migão. É dia de história, dia de restabelecer a verdade no carnaval.

Não sou portelense, mas amo o carnaval e por isso quero essa mudança, essa volta da Portela. Meu pai é portelense e mesmo não tendo muito contato com ele me mostrou desde pequeno o valor da escola e sua importância. Felizmente no samba não temos a rivalidade existente no futebol e quem torce por uma escola freqüenta a outra de boa, ninguém torce para a outra escola fracassar, quebrar carros; apenas queremos que a nossa passe melhor.

E pelo que percebo não sou apenas eu que penso assim, quase todo mundo torce pelo bem da Portela e que ela volte a pisar forte na avenida, que a águia volte a ter voz. O carnaval precisa da Portela e que cada associado hoje na hora de votar vote com amor, com devoção. Nas mãos de cada associado está o futuro da escola.

Meu coração tem mania de amor e esse amor me leva em pensamento e esperança para a rua Clara Nunes hoje. A Portela foi um rio que também passou em minha vida e meu coração se deixou levar.

Salve o samba, salve a santa, salve ela.

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3 Replies to “Orun Ayé – “A hora da verdade na Portela””

  1. Deu certo o seu pensamento positivo, Poeta Insulano!

    Que os Deuses do Samba iluminem essa nova direção!

  2. Já pensou termos Aloisio Villar – conhecido em todo mundo do samba, na nossa ala de compositores!!! Não vai ter pra ninguém…

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