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(Foto: Águia de 1970, Extra)

No dia em que a Portela completa 90 anos de existência, a coluna “Made in USA”, do advogado (e portelense) Rafael Rafic, elenca os dez sambas que ele considera como os melhores da história da Águia.

Grosso modo diria que minha lista concorda em sete dos dez sambas: tiraria 1971, 72 e 79 e incluiria 1970, 1984 e 1995. Vamos ao post parabenizando a nossa Águia querida pelas nove décadas de existência.

Portela: 90 anos em 10 sambas

Já que estamos no dia do aniversário portelense e este blog, no último carnaval, entrou na onda de fazer lista de “os dez preferidos”, acho absurdo um blog que tem dois portelenses fanáticos (eu e o editor) não ter uma lista sequer sobre a escola que, se não tem a maior safra de sambas-enredo de todos os tempos, tem a segunda maior (só disputa com o Império Serrano).

Não entrarei na armadilha que entraram o Aloísio Villar e o Fred Sabino, assim não irei criar um ranking dentro das dez: apenas os citarei em ordem cronológica. Também o leitor não repare a provável saraivada de notas do editor nesta coluna, até porque ele também é altamente interessado na matéria e já sei previamente que ele discorda de mim em alguns samba.

Então sem mais delongas, vamos à lista dos meus dez sambas preferidos da GRES Portela. Todos os áudios estão disponíveis neste post.

1) Teste ao Samba, 1939 (Paulo da Portela)

03 Teste ao Samba

Primeiro grande samba da Portela. Para muitos, o primeiro samba-enredo da história. Não me alongarei na discussão sobre qual foi o samba-enredo pioneiro da história, seja no seu âmbito intrínseco ou extrínseco. Mas, sem dúvidas ninguém pode negar que o fim do processo que transformou o samba em samba-enredo ocorreu quando enredo, samba-enredo, fantasias e alegorias estavam amarradas entre si e foi exatamente a Portela de 39 a primeira escola a fazer isso.

Esse samba abriu caminho para a “década portelense” com uma vitória incontestável e, logo após uma derrota em 1940, a Portela engataria um heptacampeonato único na história carnavalesca carioca, entre 41 e 47.

Obs: caso queiram se aprofundar sobre a discussão do pioneiro samba-enredo da história, recomendo bastante a leitura do livro do também colunista do Ouro de Tolo, Luis Antonio Simas, em conjunto com Alberto Mussa “Samba de Enredo – História e Arte” (2010, Civilização Brasileira)

2) Seis Datas Magnas, 1953 (Candeia e Althair Prego)

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Após vários carnavais nos quais a guerra fria se instalou no samba, rachando as escolas em desfiles diferentes, um no qual reinavam Portela e Mangueira e outro no qual reinava absoluto o Império Serrano, 1952 marcaria o ano da reunificação e do tira-teima entre as escolas para ver realmente quem era a melhor. Assim, a rivalidade entre Portela e Império havia chegado ao seu ápice.

Como desgraça pouca é bobagem, um temporal se abateu sobre a avenida exatamente no momento em que o Império Serrano se apresentava. Os jurados que não tinham teto se debandaram e o carnaval acabou sendo anulado. O tira-teima ficou para 1953.

Então Candeia, com apenas 17 anos faz seu primeiro samba-enredo para a Portela (e que samba!). Por muitos considerado o maior da grande história da Águia.

No fim, Portela campeã do tira-teima com o primeiro “carnaval de 400 pontos” (todas as notas máximas) da história do carnaval e seu Natal levou um caixão verde e branco para o alto da Serrinha com a finalidade de fazer o enterro do Império.

Obs: quanto à “guerra fria” do samba recomendo a leitura da “bíblia sobre carnaval” de Sergio Cabral, reeditada há pouco tempo: “Escolas de Samba do Rio de Janeiro” (2011, Companhia Editora Nacional).

3) Rio, Capital Eterna do Samba; 1960 (Walter Rosa)

09 Rio, capital eterna do samba

Belíssimo samba, bem melódico, de Walter Rosa. Alias, não apenas a melodia é de se exaltar, mas a ótima síntese feita do enredo na letra sem precisar recorrer a figuras de linguagem controvertidas como a gradação, nem a repetição absurda de verbos no infinitivo que vemos nos sambas atuais.

Em um carnaval marcado pela introdução da penalidade por estouro de tempo e estouros controvertidos de Salgueiro e Império Serrano, um acordo sagrou cinco escolas campeãs – e com isso a Portela comemorava mais um tetracampeonato.

4) Lapa em Três Tempos, 1971 (Ary do Cavaco e Rubens)

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A Portela veio defender o título com um senhor samba sobre um enredo muito bem feito tendo a Lapa como fulcro, pontuando muito bem os tempos históricos.

Aqui começam minhas divergências com o editor, que nunca colocaria este samba na lista. Mas como até Paulinho da Viola já disse que esse foi o melhor samba com o qual viu a Portela desfilar (alias, Paulinho depois gravou este samba), creio que eu esteja do lado certo.

Ao final, a Portela não resistiu a mais uma revolução salgueirense. “Festa para um rei Negro” (com um inovador samba de Zuzuca, o “pega no ganzê, pega no ganzá”) que deu o título ao Salgueiro. A Portela amargou o vice-campeonato.

5) Ilu Ayê, 1972 (Cabana e Norival Reis)

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Acabou que tamanho foi o sucesso do samba de 71 que todos tiveram que beber um pouco na água de Zuzuca e se adaptar. Assim a Portela quebrou sua tradição de sambas mais longos e fez um samba bem curto, mas ainda bem cadenciado, com muitas alusões aos ritmos negros (principalmente no refrão do meio).

O resultado foi mais um samba maravilhoso, de uma musicalidade ímpar que se canta por mais de uma hora seguida e não se tem a menor vontade de parar.

Inclusive acho que seria uma ótima pedida para alguma escola que está buscando um samba para reeditar, desde que ela aceite vir com uma bateria bem equilibrada e cadenciada. Pena que, no desfile, uma idéia da Portela tenha acabado com a harmonia da escola.

Já em 72 as escolas estavam crescendo e manter a harmonia em áreas distantes da bateria ficava cada vez mais difícil em um tempo que ainda não se tinha caixas de som por toda a avenida. Para minimizar esse problema a Portela dotou todos seus diretores de harmonia com rádios a pilha para que pudessem ouvir no rádio o que o puxador da escola estava cantando e assim propagassem para toda a escola.

Porém a escola não contava com o “delay” na transmissão do rádio o que deixava os desfilantes ainda mais perdidos, pois não sabiam se acompanhavam o ruído que ainda ouviam da bateria ou se acompanhavam os diretores de harmonia que estavam completamente fora do tempo. Apesar do desastre harmônico, a Portela ainda salvou um 3° lugar.

Uma pena que não tenha ouvido esse samba na quadra da Portela nos últimos tempos. Segundo o Migão, ele foi tocado em uma das poucas eliminatórias de samba enredo a que não compareci ano passado. Também fui informado que a velha guarda tocou esse samba na concentração da Portela antes do desfile desse ano. Que seja o começo de uma retomada dessa pérola no dia-a-dia portelense.

6) Incrível, Fantástico, Extraordinário, 1979 (David Correa, Tião Nascimento e J. Rodrigues

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Samba bem trabalhado, até um pouco marcheado, bem ao estilo de David Correa. Um dos meus xodós na galeria portelense. Merecidamente, samba Estandarte de Ouro.

Um desfile maravilhoso em todos os quesitos da Portela que com a estréia de Viriato Correa recuperava todo o seu esplendor perdido durante a década de 70. No fim uma das maiores garfadas tomadas pela Portela na sua história e um 3° lugar injustíssimo para a Águia, que também levou o Estandarte de Ouro de melhor escola.

Outro lindo samba que vem sendo completamente negligenciado pela escola há algum tempo. Não o ouço nem na quadra, nem pela velha guarda, nem por ninguém. Um dos meus sonhos é reabilitar este samba na Portela.

7) Das Maravilhas do Mar fez-se o Esplendor de uma Noite, 1981 (David Correa e Jorge Macedo)

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Samba histórico, até hoje cantado por jovens, adultos e idosos. Não há uma festividade portelense no qual este outro samba de David Correa não toque e todos cantem a plenos pulmões. Quem esteve na Sapucaí no sábado de carnaval viu o que a Tradição conseguiu fazer reeditando este samba, mesmo sendo horrível plasticamente (alias, o samba sozinho livrou a Tradição do que era o inevitável rebaixamento).

Alias este samba, que também foi laureado com o Estandarte de Ouro, constou como primeiro lugar na lista do Aloísio Villar.

Na avenida a Portela teve um desfile complicadíssimo, com direito a atravessada feia de bateria, e jogou fora um título que estava em casa. Ainda sim, ficou em 3° lugar.

8) Adelaide, a Pomba da Paz, 1987 (Neném, Mauro Silva, Arizão, Isaac e Carlinhos Madureira)

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Um dos poucos sambas que emocionam as pessoas e as levam as lágrimas. Pode até ser que realmente não seja um samba enredo com uma melodia e uma letra própria para o desfile em si, chega a ser um tanto melosa em alguns pontos, mas é uma poesia aos ouvidos de qualquer sambista. Não à toa, foi mais um samba que recebeu o Estandarte de Ouro.

Este samba também marcou a primeira vitória de um compositor vitorioso da Portela, Carlinhos Madureira, que chegaria ao seu apogeu mais tarde (é o próximo samba) e já venceu cinco disputas de samba na Portela. Pena que ele não soube a hora de parar: seus dois últimos sambas concorrentes foram sofríveis, sendo o último, para 2013, um baita “boi com abóbora”.

A Portela, ainda vivendo bons momentos, ficou em 3° lugar no desfile.

Ainda hoje ele é bastante cantado em quadra.

9) Tributo a Vaidade, 1991 (Carlinhos Madureira, Café da Portela e Iran Silva)

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Samba de arrepiar todos os pelos do orgulho portelense. Uma letra fantástica, daquelas que nós amantes da Portela, fazemos questão de bater no peito e bradar em alta voz para mostrar o que é a Portela. A melodia, puxada mais para o agudo, ainda ajuda nesse processo de catarse. Por essa e por outras, esse é mais um dos sambas azul-e-branco a levar o Estandarte de Ouro.

O desfile em si não foi grandes coisas, já que a Portela amargava uma crise política imensa com a saída de vários grandes personagens e no fim a 6ª colocação foi conseguida na raça, muito por causa deste samba. Vale lembrar que muitos portelenses acham este resultado injusto, até porque a imprensa carnavalesca a cotava como uma das candidatas ao título antes da apuração.

Depois de um longo período inacreditavelmente esquecido, o samba foi reabilitado em 2011 no meio de uma grande crise política e parece ter voltado para ficar na Portela. Já o ouvi em quadra pelo menos seis vezes só em 2012 e acredito que com as eleições se aproximando (alias, aproveitando: muda Portela!), esse samba seja cada vez mais cantado nos encontros portelenses.

10) …E o Povo na Rua Cantando, É Feito uma Reza, um Ritual, 2012 (Wanderley Monteiro, Luiz Carlos Máximo, Toninho Nascimento, Naldo e André do Posto 7)

Portela 2012 – Desfile das Escolas de Samba – Sem Narração

Samba que mal desfilou, já entrou para a antologia da Portela. Pode-se dizer que esse samba foi o primeiro produto concreto da internet no carnaval carioca.

Um samba que não tinha muita projeção, principalmente financeira, dentro da disputa da Portela, completamente tomada por interesses onde a última virtude era a qualidade do samba.

Em pouquíssimo tempo ele explodiu em número de audições na internet, virou a febre de todos os bate-papos sobre carnaval na rede e, ao cabo, não só mobilizou os portelenses para fazer deste samba vitorioso, como trouxe de volta vários outros que estavam afastados, desgostosos dos rumos da escola, com apenas um objetivo: fazer o samba sagrar-se campeão na disputa interna.

O objetivo foi cumprido: o samba não só ganhou dentro da Portela como virou uma febre em todo Rio de Janeiro, atraiu de volta as atenções para a Portela após vários anos e de quebra capturou todos os possíveis prêmios de melhor samba-enredo do ano (alias, até os impossíveis já que o Sambanet criou uma categoria especial só para premia-lo, já que samba-enredo do Especial não consta da sua lista de premiações), e claro, incluindo o Estandarte de Ouro.

Ouso dizer que esse samba foi a pedra de toque e o alicerce para todo o movimento de reconstrução que tomou corpo da Portela nos últimos 18-24 meses. Reconstrução essa que chega em um momento crucial nas eleições para presidente que ocorrerão em 30 de maio de 2013.

Na avenida, um desfile fraco plasticamente por causa da falta de condições dadas para um trabalho sério no barracão (como foi a tônica da era Nilo Figueiredo) ainda foi complicado por problemas na harmonia gerados por componentes “paraquedistas” que só desfilaram na Portela por causa do samba. Mesmo assim, exatamente o quesito samba-enredo deu à Portela o 6° lugar e a vaga para abrir o desfile das campeãs daquele ano.

Percebam como é difícil fazer qualquer lista dessas para a Portela sem criar polêmica. Dos oito sambas Estandarte de Ouro pela Portela, acabei deixando 3 deles de fora: Macunaíma (1975), Gosto que me Enrosco (1995) e Os Olhos da Noite (1998). Também ficaram de fora outros grandes sambas como Contos de Areia (1984), Lendas e Mistérios da Amazônia (1970), o único samba-enredo de Paulinho da Viola: Memórias de um Sargento de Milícias (1966).

Além de O Segundo Casamento de D. Pedro I (1964), O Homem do Pacoval (da brilhante safra de 1976 e primeiro samba de Noca da Portela), A Ressurreição das Coroas, Reino e Reinado (1983, último desfile de Clara Nunes), Madureira… Onde meu Coração se Deixou Levar (2013), entre outros. Ou seja, sambas para mais outra lista inteira e ainda em outros ótimos que não citei.

E para você, quais são os seus 10 sambas preferidos da Portela? Quero ver as listas nos comentários, pode dar muita discussão. Estou à disposição para discussões sadias.

P.S.: alias, onde está o colunista Luis Antonio Simas com a lista dele sobre seu Império Serrano? Seria outra discussão fantástica.

(e-mail para o colunista: rafaelrafic@pedromigao.com.br)

8 Replies to “Made in USA – “Portela: 90 anos em 10 sambas””

  1. OS 10 SAMBAS DA PORTELA,PEDRO;

    1)LENDAS E MISTERIOS DA AMAZONIA
    2)ILU AYE
    3)ADELAIDE
    4)TRIBUTO A VAIDADE
    5)CERIMONIAS DE CASAMENTO
    6)GOSTO QUE ME ENROSCO
    7)DAS MARAVILHAS DO MAR
    8)CONTOS DE AREIA
    9)MADUREIRA SOBE O PELÔ
    10)400 ANOS DE MADUREIRA

    ESSA É A MINHA LISTA AMIGO

  2. Bela lista, eu incluiria 2000 e 2005

    Parabéns Portela e que sua verdade seja restabelecida dia 30 de maio

    1. A sério: acho 2000 o pior samba da história da Portela. Até por ter erros históricos sérios. 2005 a letra era trash demais, mas a melodia para desfilar foi melhor que muito samba badalado.

  3. Das Maravilhas do Mar fez-se o Esplendor de uma Noite (1981)
    Lapa em Três Tempos (1971)
    Gosto que me Enrosco (1995)
    Tributo à Vaidade (1991)
    …E o Povo na Rua Cantando, É Feito uma Reza, um Ritual (2012)
    Ilu Ayê (1972)
    Macunaíma (1975)
    Adelaide, a Pomba da Paz (1987)
    Madureira… Onde meu Coração se Deixou Levar (2013)
    Contos de Areia (1984)

  4. Em ordem cronológica:
    1 – Ilu Aye (1972)
    2 – O Mundo Melhor de Pixinguinha (1974)
    3 – Macunaíma (1975)
    4 – Festa da Aclamação (1977)
    5 – Incrível, Fantástico Extraordinário (1979)
    6 – Das Maravilhas do Mar Fez-se o Esplendor de uma Noite (1981)
    7 – Contos de Areia (1984)
    8 – Lenda Carioca, os Sonhos do Vice-Rei (1988)
    8 – Tributo à Vaidade (1991)
    9 – Gosto que me Enrosco (1995)

  5. a ordem correta seria: das maravilhas do mar fez se o esplendor de uma noite( simplesmente o maior samba da historia do carnaval brasileiro) a seguir viria :o mundo melhor de pixinguinha; depois seria; as seis datas magnas; depois seria contos de areia; depois e gosto que me enrosco; depois macunaima; depois lapa em tres tempos … enfim sao os 7 sambas enredos que eu mais gosto da portela principalmente o primeiro

  6. rafael rafic eu acho que vc precisa conhecer um pouco mais da historia da maior vencedora do carnaval carioca( 21 TITULOS NO TOTAL) E CELEIRO DE BAMBA COMO POR EXEMPLO: JOÃO NOGUEIRA ; CANDEIA ; DAVI CORREIA ; MONARCO; CLARA NUNES; PAULINHO DA VIOLA e varios outros sambistas que ajudam a fazer com que o samba brasileiro seja reconhecido mundialmente

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