dorivaljunior_gabriel02_alexandrevidalflaimagem_15(Foto: Globoesporte.com)

02 unidos da tijuca

“Brasil devagar com o andor … ôôô

Porque o santo é de barro”

Os versos do samba da Unidos da Tijuca de 1983 – acima, o áudio – são bem uma mostra do que é o quadro atual do Flamengo nesta temporada de 2013. O time que até um mês atrás era fraco, de repente se tornou um esquadrão. Contudo, nem tanto ao mar, nem tanto à terra, caro leitor.

É inegável que a nova diretoria, em que pesem alguns equívocos pontuais, vem fazendo um trabalho inicial bastante promissor. Há um trabalho bastante interessante de reescalonamento de dívidas, que apesar do sufoco inicial já permitirá em um futuro próximo obter a certidão negativa de débitos junto ao Governo Federal. Há também a busca por patrocínios sendo feita de forma mais profissional. Embora pessoalmente tenha achado o contrato com a Peugeot bastante aquém do ideal, porém entendida em um contexto de asfixia financeira.

No futebol, a já citada asfixia impediu a busca por reforços de peso. Se fez uma parceria informal com o empresário Carlos Leite, que trouxe jogadores como Carlos Eduardo e Elias – mas também o limitadíssimo Wallace, que mal chegou e surpreendentemente se tornou titular absoluto apesar de, em minha opinião, ser o pior zagueiro do elenco.

Esta parceria também incluía, me parece, a contratação do treinador Mano Menezes; contudo Dorival Junior, ainda que tendo sido forçado a se demitir, não abriu mão da multa rescisória se fosse demitido e isto acabou travando a contratação.

O treinador lançou alguns garotos para o Estadual, campeonato que, já sabemos, possui um nível técnico bastante fraco. A ideia era de que eles “guardassem o lugar” para os reforços contratados posteriormente e para medalhões como Renato Abreu, que estenderam a sua pré temporada. 

Entretanto, para surpresa de muitos – inclusive deste escriba – o time “deu liga” e, também auxiliado pela fragilidade dos adversários, termina a fase preliminar da Taça Guanabara com sete vitórias e um empate em oito jogos, tendo a vantagem do empate na fase decisiva.

Tudo vem dando certo. Felipe voltou a uma boa fase, a zaga até agora não compromete – apesar de Wallace – o meio campo sem Renato Abreu e Cleber Santana juntos ganhou mais mobilidade e Hernane, jogador limitado, desandou a fazer gol de tudo quanto foi jeito.

E dentro da tradição flamenga, o ufanismo corre a todo vapor nas redes sociais e reais. Temos um esquadrão, o time para o Brasileiro é esse, Dorival é gênio, Rafinha é o novo Neymar, Hernane é o filho de Nunes, já somos campeões cariocas e que tal.

Peraí, caro leitor: devagar com o andor que o santo é de barro.

Ganhamos sete em oito incluindo dois clássicos? Sim. Mas basta lembrar que os jogos contra Vasco (que está com um time tecnicamente muito fraco, aliás) e Botafogo foram bastante equilibrados e decididos na maior eficiência dos nossos jogadores nas finalizações. O elenco continua com sérias carências, embora alguns dos garotos lançados tenham correspondido plenamente – em especial Rafinha e Rodolfo. O time em si sem dúvida “encaixou”, mas já se fala na volta de Renato Abreu ao onze titular, o que deixaria o meio de campo sem a pegada demonstrada e com a mesma lentidão leniente de 2012.

Vale lembrar, também, que a característica dada neste 2013 foi a de um time que se sente mais à vontade contra atacando que partindo pra cima – e neste ponto a vantagem do empate conquistada pode ser interessante.

Preocupa-me, também, o fato de que Leo Moura tem demonstrado não ter mais condição física para atuar como lateral. Com isso a grande promessa Rafinha fica sacrificada, pois tem de fechar a avenida deixada pelo capitão em idade provecta. O pior de tudo: ele não tem reserva para a lateral direita.

A diretoria também não pode embarcar neste ufanismo e achar que para o Brasileiro o time é esse. Os Estaduais não medem nada, ainda mais o inchado Carioca com seus 16 times e pequenos muito fracos. O elenco e o time titular precisam ser reforçados se o Flamengo quiser fazer um papel digno na principal competição nacional – e maior objetivo este ano. Sabe-se das limitações financeiras, mas até maio o trabalho de marketing deverá gerar novas receitas, bem como o escalonamento de dívidas deverá dar alguma folga orçamentária.

Basta uma derrota nesta fase decisiva para que o mar de tranquilidade em que o clube navega volte a ser o caldeirão anterior. Além disso o técnico Dorival Júnior sabe que tem a sombra constante de Mano Menezes, empresariado pelo parceiro Carlos Leite e amigo do gerente de futebol Paulo Pelaipe. Ou seja, ao primeiro deslize o cargo dele estará ameaçado.

Apesar das ressalvas pontuais que faço neste artigo, é inegável que este início de gestão é bastante superior ao previsto, tanto dentro, como fora de campo. E deve-se saudar o garoto Rafinha, que além de ser bom de bola parece ter uma cabeça muito centrada. Se continuar assim, irá longe. Rodolfo também parece ter potencial, embora não desponte como um craque – mas possui muitas qualidades. E rezemos para que Wallace não falhe na hora mais crucial – porque mais ou cedo ou mais tarde ele vai entregar: perguntem à torcida do Corínthians.

E que venha o Botafogo!

P.S. – será o tema de minha próxima coluna (pois esta já estava pronta), mas é com tristeza que percebo como o Flamengo, 100 anos depois, caminha de volta em direção à elite abastada e branca da Zona Sul do Rio e vira as costas para o povo que sempre lhe deu sustentáculo.

P.S. (2) – esta é a coluna que escrevo para o blog Primeiro Penta, da colunista deste Ouro de Tolo Daniela Souto.