Neste domingo, o compositor Aloísio Villar retoma a coluna “Orun Ayé” falando da paixão pelo futebol.

Futebol: Magia, Economia e Ídolos

Domingo de manhã, sem nada para fazer depois de ver na Fórmula 1 mais um fracasso dos brasileiros, coloquei na ESPN para assistir Manchester City x Queens Park Rangers pela última rodada do campeonato inglês.

Tenho simpatia sempre pelos times mais fracos e o Manchester City é o “primo pobre” da cidade de Manchester. O United é poderoso, ganhou treze dos últimos vinte campeonatos, conquistou algumas Uefa Champions League enquanto o City não conquistava o Campeonato Inglês há longos quarenta e quatro anos. O Manchester City foi comprado por árabes, se tornando um clube milionário e gastando valores expressivos em contratações. Graças a isso um grande time foi montado e o Manchester City chegou em vantagem na última rodada. Bastava uma simples vitória contra o QPR em casa – o adversário estava tentando se salvar de rebaixamento – na última rodada e o título viria.

Explicada a situação, voltemos ao domingo. Assistia o jogo torcendo pelo City, tranqüilo devido a toda essa vantagem que eu disse acima quando a tranqüilidade virou preocupação e a preocupação virou drama. Era segundo tempo, o City – com um jogador a mais – perdia por 2×1, seu rival United vencia e se o City não virasse o jogo a casa caía: o time conseguiria perder o campeonato.

Eu que nada tinha a ver com a história comecei a ficar nervoso, a timeline do meu twitter começou a apenas falar do jogo. Ele chegou aos 40 do segundo tempo 2×1, aos 45 ainda com 2×1, a torcida chorava, se desesperava: a tragédia ganhava contornos.

Até que aos 47:30 do segundo tempo o Manchester City empatou e aos 49 fez o gol do título, em uma das viradas mais espetaculares da história do futebol [N.do.E.: apesar da derrota o QPR se salvou do rebaixamento graças a um gol nos acréscimos ocorrido em outro dos jogos da rodada].

Eu já fiz uma coluna falando de futebol, mas nunca é demais falar dele. Que magia é essa que une povos, pessoas tão diferentes, que emociona, faz chorar sendo que você não tem nada a ver com a história? Se o time ganhar ou perder não muda nada em sua vida, mas o futebol acaba se transformando na coisa mais importante entre as menos importantes do mundo. As pessoas trocam de roupa, de casa, de cônjuge, de país, algumas até de sexo: mas não trocam de time. O cara que troca de time é pejorativamente chamado de vira-casaca – perde todo o respeito e moral.

E por que isso ocorre? Por que essa magia?

Devido a jogos como o de domingo passado, em que o planeta futebol todo parou e ficou extasiado, mesmo quem não tinha nada a ver com a história. O futebol está recheado de vitórias e viradas assim, de zebras. O futebol é o esporte em que o mais fraco pode vencer o mais forte e ser campeão. No futebol a seleção brasileira pode perder pra Honduras, mas nunca verá a seleção americana de basquete formada por jogadores da NBA perder para a mesma Honduras.

Todo torcedor tem seu jogo histórico, aquele que relembra com carinho. A torcida do Vasco canta em seus jogos sobre o gol do Juninho no Monumental, se referindo à semi-final da Libertadores de 1998 quando em um gol de falta o jogador Juninho Pernambucano classificou a equipe enfrentando o River Plate na Argentina. Mas o mesmo torcedor vascaíno guarda com emoção a virada histórica na final da Mercosul de 2000 em cima do Palmeiras no Palestra Itália, quando terminou o primeiro tempo perdendo por 3×0 com um jogador a menos e de forma sensacional virou para 4×3.

O torcedor do Botafogo tem o jogo do fim do tabu de 21 anos sem títulos em 1989 no gol de Mauricio sobre o Flamengo. Os torcedores do rubro-negro até hoje pedem falta em cima do lateral esquerdo Leonardo, mas ela não foi marcada e o Botafogo ficou com a taça.

O Fluminense relembra o gol de barriga de Renato Gaúcho em 1995 contra o mesmo Flamengo e acredito que para os rubro-negros existam pelo menos quatro jogos especiais. A final do campeonato brasileiro em 1980 com a vitória no fim com gol de Nunes fazendo 3×2 no Atlético MG, a final da Libertadores de 1981 vencendo o Cobreloa por 2×0 em uma guerra campal, no mesmo ano a vitória por 3×0 diante do tricampeão europeu Liverpool no Mundial de Clubes e mais recente – em 2001 – o gol de falta de Petkovic aos 43 do segundo tempo dando o tricampeonato estadual ao clube. [N.do.E.: acrescentaria mais dois momentos: o gol de Rondinelli em 78 e o de Angelim em 2009.]

Jogos históricos de times fora do Rio assim lembro do fim da fila de vinte e três anos corinthiana em 1977 vencendo a Ponte Preta e entre clubes europeus a virada nos acréscimos do mesmo Manchester United (que perdeu o título domingo) passado em cima do Bayern de Munique em 1999 na final da Uefa Champions League.

Futebol é mágico por causa de resultados assim e por causa dos seus craques. E mais um surge para encantar. Um menino de vinte anos chamado Neymar.

É impressionante o que esse menino vem fazendo. Com essa pouca idade já é o maior artilheiro do Santos pós Pelé, o décimo sexto da história do clube, dono de um tricampeonato paulista que não era conquistado desde 1969, uma Copa do Brasil, uma Taça Libertadores da América e um vice campeonato Mundial de Clubes. Repito: com vinte anos!!

Teve um começo de carreira atribulado. Meteu-se em polêmica com o antigo treinador do Santos Dorival Junior e o mesmo acabou demitido, um pouco antes sem ter culpa foi alvo de polêmica com o treinador da seleção brasileira Dunga que não lhe convocou para a Copa. Mas Neymar é o típico craque moderno. Bem orientado pelos empresários, pelo pai que “só” lhe dá dez mil reais por mês e investe seu dinheiro Neymar se tornou um ídolo.

O garoto é carismático, usa cabelo diferente, sorriso largo e dá declarações de bom moço. Isso tudo ajuda na idolatria, além do fato de ter recusado jogar na Europa e ainda atuar pelo Santos, virou a atração principal de nosso futebol, a audiência dos jogos do Santos cresce vertiginosamente – para alegria das emissoras detentoras dos jogos.

Não atuar na Europa massificou essa idolatria e mostra a situação econômica do Brasil onde os maiores talentos da velha e da nova geração atuam pelo país. Os nossos melhores jogadores estão aqui revertendo uma situação que durava pelo menos trinta anos. Cabe uma comparação com o argentino considerado o melhor jogador de futebol do mundo: Leonel Messi do Barcelona.

Se Neymar mesmo com todo o seu talento não saiu do país ainda e ganha milhões por mês, salário equiparado com astros europeus, Messi nunca jogou profissionalmente por times argentinos indo ainda garoto pela Europa. O crescimento econômico brasileiro em detrimento a seus parceiros latino americanos já mostra sinais em competições como a Libertadores onde os times daqui são muito mais caros e começam a dominar o torneio.

E isso ajuda no business e faz ocorrer um fenômeno só visto nos anos sessenta. O interesse e as vezes até torcida de torcedores de outros clubes que não sejam do Santos apenas porque o Neymar está em campo. Isso acontecia muito com o Santos do Pelé que usou muitas vezes o Maracanã como sua casa.

Neymar está muito longe ainda do Pelé, mas pode ser responsável pelo crescimento do futebol brasileiro e de uma nova tendência, a que nossos craques não precisem jogar na Europa para ficarem ricos e se consagrarem.

Que o moleque consiga marcar esse gol. Mas sem dancinhas, por favor.

Bia
Não posso deixar passar a coluna dessa semana sem dizer que a minha filha, o amor de minha vida, Ana Beatriz, a Bia fez aniversário quarta-feira dia 16 completando três anos.

Escrevo essa coluna bem no dia se seu aniversário, então quero publicamente lhe desejar feliz aniversário, muitas felicidades e dizer que te amo muito meu anjinho. Conte com o papai sempre.

Orun Ayé!