Neste domingo, a coluna “Orun Ayé”, do compositor Aloisio Villar, fala um pouco do que para nós rubro negros é quase um “Dia de Natal”: o aniversário de Zico, ocorrido ontem.
Eu, na minha infância, tive os mesmos ídolos do colunista: Zico e Nelson Piquet.
Eu e meus Ídolos
Essa semana marca o aniversário do maior ídolo da minha vida. Seu nome é Arthur Antunes Coimbra, mas quase ninguém lhe conhece pelo nome. Ele é mundialmente conhecido como Zico. 
Zico nasceu em Quintino, bairro do subúrbio do Rio de Janeiro em 3 de março de 1953. Franzino chegou ao Flamengo e passou por trabalho de reforço muscular para conseguir expor todo seu talento nos gramados. 
E por que ele é um ídolo? Meu e de tanta gente? 
Poderia falar de tudo que ele fez ao Flamengo e ao futebol brasileiro. O Flamengo sempre foi um clube de forte apelo popular, o mais querido do Brasil e vencedor de títulos, mas com Zico e seus companheiros ganhou status mundial. 
Com Zico o clube conquistou seis campeonatos cariocas, quatro brasileiros, uma Libertadores da América e um Mundial. O time de Zico que contava também com Raul, Leandro, Mozer, Marinho, Figueiredo, Junior, Andrade, Adilio, Rondineli, Carpegiani, Tita, Nunes, Lico, Baltazar, Claudio Adão, Julio Cesar Uri Gueller, Cantarelle e outros tantos craques que vestiram a camisa rubro-negra em seu auge conquistou tudo que um torcedor sonha. 
Era o futebol fantasia, o futebol mágico. Todos babam no Barcelona hoje, mas o Flamengo trinta anos atrás jogava exatamente assim e era o melhor time do mundo. 
Não foi tão dominante como é o Barcelona hoje porque naquele tempo o objetivo do futebol era fazer gols, não evitar e existiam grandes times como o Atlético de Toninho Cerezo, Corinthians de Sócrates, Inter de Falcão, esse no começo de Zico, Vasco de Roberto, Guarani de Careca, Santos de Pitta e Serginho, São Paulo de Waldir Peres e tantos outros grandes times. 
E todo esse talento, essa classe era refletida no futebol da seleção brasileira. Uma das melhores de todos os tempos, comandada por Telê Santana e com Zico sendo seu principal craque o Brasil encantou na Copa da Espanha em 1982 
Infelizmente aquele time perdeu para a Itália de Paolo Rossi, que ao contrário do que ficou na história tinha um grande time e aqueles jogadores brasileiros foram taxados de fracassados. 
Zico era o comandante daquela geração maravilhosa, fez com que muitos garotos se tornassem rubro-negros aumentando ainda mais sua torcida. Acredito que todo rubro-negro que tenha entre trinta e cinquenta anos deve isso ao Zico. 
Zico que foi para a Itália e ainda voltou ao Flamengo a tempo de mesmo com os joelhos estourados dar mais um título brasileiro ao clube em uma geração que tinha Zé Carlos, Jorginho, Aldair, Leonardo, Zinho, Renato, Bebeto..a maioria campeões do mundo pela seleção sete anos depois. 
Mas isso tudo bastaria para o Zico ser um ídolo? Meu ídolo? 
Não 
O que transforma um grande atleta ou artista em ídolo é seu carater, retidão e isso Zico tem de sobras. O “Galinho de Quintino” é casado há quase quarenta anos com a mesma mulher, nunca foi envolvido em grandes escândalos e sempre foi um atleta exemplar não faltando treinos, sendo o primeiro a chegar, o último a sair e sendo um cara de grupo. 
Zico é adorado pelos seus ex companheiros de equipe, pelos ex companheiros de profissão, por torcedores de todos os times e mesmo a perda do pênalti contra a França na Copa do México não afetou a idolatria que recebe. Foi um competente ministro dos esportes, levou o futebol ao Japão e hoje é técnico de futebol no Iraque. 
Tentou ajudar o Flamengo sendo diretor do clube, mas ele é honesto demais, sério demais, não combina com o Flamengo de hoje. 
Aliás, Zico não combina com o futebol de hoje. O futebol de atletas na webcam, dando tiro nas mãos dos outros, prendendo ex namoradas em árvores, se envolvendo em acidentes de carro ou passando a noite tomando caipisaquê. 
Zico indiretamente foi peça importante na minha criação por sua retidão e o modo que tratava seus fãs. Uma tarde eu fui ao Flamengo ver o treino e tremi quando dei de cara com ele. 
Todo humilde, tímido cheguei nele e pedi um autógrafo. Zico pegou minha caneta e tentou escrever na minha camisa, mas a tinta falhou. Ele pediu que o esperasse e entrou numa sala voltando com outra caneta e assinando. 
Pra vocês verem. Ele já era o Zico, o astro mundial e teve toda paciência do mundo em ir a uma sala e pegar uma caneta pra não me deixar seu autógrafo. Nunca imaginei que uma pessoa como ele fizesse algo assim e nunca me esqueci. Vinte e quatro anos se passaram desse gesto e acredito que ele tenha me mostrado a importância do tratamento com quem gosta de você.

Evidente que nem se compara, mas quando alguém chega e fala que gosta dos meus sambas eu procuro tratar da melhor maneira possível. Na final da União da Ilha um rapaz chegou tímido e disse que me acompanhava desde o Boi da Ilha, fiquei feliz e conversei um tempo com ele, quem sabe assim não surge mais um compositor?

Zico é meu maior ídolo, mas não foi o único. 
Nelson Piquet no automobilismo me fazia acordar cedo nas manhãs de domingo e torcer por ele. Comecei a acompanhar corridas antes do surgimento do Senna então minha torcida era para o Nelson, inclusive contra o Senna. 
Na música Michael Jackson até hoje é meu ídolo. Comecei a me entender por gente no auge de Thriller e todos os garotos da minha geração queriam ser como MJ e dançar como ele. Infelizmente com o tempo ele se perdeu, mas na minha cabeça pra sempre estará Michael Jackson transformado, dançando com zumbis. 
Chaplin, o gênio que fazia rir e chorar sem dizer uma palavra está no meu roll de ídolos assim como Jerry Lewis que eu amava ver na Sessão da Tarde da Globo. As noites de sexta eram hora de dar espaço a mais dois ídolos. Juba e Lula com a Armação Ilimitada. Programa que todo garoto dos anos oitenta lembra com saudades. 
Assim como eu idolatrava a Simony e sonhava namorar com ela no tempo do Balão Mágico, confesso. 
Acho que os ídolos que levamos pro resto da vida surgem em nossa infância. Podemos gostar e ter empatia por outras pessoas ao longo da vida, mas nada se compara aos nossos heróis do tempo de criança. Nada se compara a um gol do Flamengo marcado por Zico. 
Feliz aniversário Galinho. Orun Ayé!

One Reply to “Orun Ayé – "Eu e meus Ídolos"”

  1. Grande Galo! Responsável por inúmeras alegrias (desnecessário listar) e duas tristezas: qdo foi vendido e qdo saiu recentemente do Flamengo.

    Nunca me esquecerei de Patricia Amorim, Michel Levy, Renato Mauricio Prado, Capitão Leo, e tantos outros que destruíram o trabalho do Zico à frente do Flamengo.

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