Excepcionalmente nesta terça feira, a coluna “Bissexta”, do advogado Walter Monteiro, inicia uma série de duas colunas sobre sua recente visita a Bogotá, capital da Colômbia.

P.S. – Antes que peçam a minha opinião, não conheço a cerveja em questão (risos).

Uns Dias em Bogotá – Desconstruindo Mitos

Bom, o título é revelador: passei uns dias na capital colombiana. Não fui lá a passeio e até pretendo escrever sobre isso em breve, mas por enquanto vamos ficar nas impressões ligeiras sobre a cidade.

Na década de 90 Bogotá era, ao menos para quem não a conhecia, uma referência de violência, sequestros, desordem e pânico generalizado – diziam até que executivos estrangeiros em visita ao país eram recebidos no aeroporto por motoristas munidos de uma senha secreta e só embarcavam nos carros depois de ouvirem umas frases de confirmação, para que se tivesse certeza de que aquela pessoa por detrás das indefectíveis plaquinhas não era um sequestrador disfarçado.

O tempo foi passando e Bogotá acabou virando um paradigma da recuperação – se antes as notícias que vinham de lá eram aterrorizantes, hoje só se escuta falar que o Rio de Janeiro deveria copiar tudo o que se faz em Bogotá para entrar nos eixos de vez.

Nunca confiei muito nesses exageros midiáticos, portanto nem me parecia que Bogotá fosse a sucursal do inferno no fim do século passado ou seja o oásis de tranquilidade da atualidade.  Mas quando eu comentava com alguém que estava indo para lá, as pessoas sempre me recomendavam cuidado redobrado e atenção.

Pois afora uma chegada um tanto quanto conturbada em um aeroporto acanhado e apinhado de ofertantes de taxis (mas, ainda assim, menos que no Rio, onde quem desembarca é assediado acintosamente), Bogotá de fato surpreende pela tranquilidade e clima de segurança.

Nenhum outro lugar que eu tenha visitado possui um policiamento tão ostensivo e numeroso. Causa até um certo incômodo ver soldados do exército armados de fuzis em pontos estratégicos, mas quanto mais a zona nobre da cidade se aproxima, mais os soldados vão dando lugar a policiais comuns, além de inúmeros seguranças particulares. No que seria ao equivalente de Ipanema/Leblon (ou Jardins/Higienópolis paulistanos), é praticamente impossível caminhar mais de duzentos metros sem topar com alguma espécie de guarda. Que, em geral, nunca está sozinho, mas sim em equipes de quatro ou cinco.

E a cidade tem, sim, uma semelhança notável com o Rio de Janeiro, pois se passa das zonas mais ricas às favelas em um simples dobrar de esquina – na maioria das cidades, as zonas mais pobres costumam ficar afastadas. Mas assim como no Rio se vai de um condomínio luxuoso à Rocinha ao atravessar de uma rua, em Bogotá basta um piscar de olhos para uma favela aparecer na janela do taxi.

Sobre a outra das maravilhas da cidade, que dez entre dez especialistas afirmam ser a solução definitiva para a mobilidade urbana – o sistema de transporte conhecido como Transmilênio, que integra diferentes serviços e cria vias expressas para grandes ônibus articulados – eu, infelizmente, não tenho tantos elogios assim.

Primeiro porque o trânsito é uma droga. Às 7 da manhã eu já era despertado pelo buzinar dos carros. Tem engarrafamento praticamente o dia inteiro. Talvez tenha sido pior antes do tal Transmilênio, mas isso não significa que seja bom hoje em dia. Além disso, os motoristas são incrivelmente mal educados, é a reprodução perfeita do que há de pior no Rio, ninguém respeita faixa, concede a preferência ou evita bloquear os cruzamentos. Só que tudo isso em uma escala ainda maior do que no Rio (em São Paulo os motoristas são bem mais disciplinados).

Segundo porque minha visita coincidiu com uma semana de manifestações, greves e protestos no Transmilênio. Os usuários do sistema, irritados com a má qualidade do serviço, quebraram estações, pararam os ônibus, enfrentaram a polícia. Impotentes diante de tamanha desordem, as autoridades locais, na falta do que dizer, insinuaram que as manifestações teriam sido comandadas pelas FARCs. Olha, não quero desanimar a direita colombiana, mas se todos aqueles estudantes com uniforme escolar que subiram em cimas dos ônibus para protestar obedecem ordens das FARCs é o caso de começar a botar as barbas de molho, pois a revolução comunista na Colômbia deve acontecer, no máximo, até o fim do mês.

O fato é que a imprensa colombiana, mesmo aquela mais conservadora, não economiza nas críticas ao sistema. Comprei o equivalente colombiano da Veja brasileira e são páginas e mais páginas descendo a lenha na prefeitura, sob o sugestivo título “Caos Capital, que solução há para esse drama”? Portanto, sugiro menos empolgação nas sugestões de copiar o Transmilênio como a solução definitiva para os engarrafamentos brasileiros.

Por falar em Veja, eu me lembrava a todo o tempo daquela matéria que foi objeto de um texto aqui no Ouro de Tolo, comparando os preços brasileiros e norte-americanos.

Bogotá possui uma impressionante zona comercial, com grifes estrangeiras e locais, agrupadas em uma região com vários shoppings luxuosos. E os preços lá, vejam só, são praticamente iguais aos brasileiros, às vezes até mais caros – tirando os taxis, que são inexplicavelmente baratíssimos. E a Colômbia tem uma carga tributária de apenas 23%, mais baixa até do que a norte-americana. Por que então uma calça jeans famosa custa mais de R$ 350,00? Ou um terno italiano, mais de R$ 5 mil?  Ou um tênis esportivo quase R$ 500,00?

Fico à espera de respostas.

Mas a Veja tem lá suas razões….a fixação dos brasileiros com compras nos “states” é algo a desafiar a razoabilidade. Comecei a participar de eventos com colegas estrangeiros na década de 90.  Naquela conversa fiada que caracteriza o diálogo entre duas pessoas que acabam se conhecer, sempre vinham falar comigo de futebol ou da Floresta Amazônica.  Agora o assunto é um só: brasileiros comprando tudo o que podem (e às vezes nem podem), um comportamento que chama tanta atenção quanto a fixação dos japoneses por tirar fotografias.

Comprovei da pior forma possível essa má fama. Meu vôo de volta da conexão em Guarulhos foi preenchido quase que integralmente com porto-alegrenses voltando do exterior, a maioria vindo da Florida. O padrão mudou. Se antes um casal desembarcava com 2 malas médias/grandes e 1 ou 2 pequenas, agora não há quem não chegue com pelo menos 3 malas, sendo 2 gigantes e uma “de bordo” não tão pequena, todas complementadas por várias sacolas do Duty Free. Vi casos de gente viajando sozinha com 5 ou até 6 malas, o que, por certo, é motivo de muito aborrecimento para transportar tanta tralha. Houve também quem começou a manifestar arrependimento e preocupação com a fatura do cartão já na esteira de bagagens.

Por isso, fica aqui uma sugestão para umas férias mais econômicas e nem por isso menos divertidas. Que tal visitar a Colômbia da próxima vez? Além de Bogotá, com várias opções culturais (não percam o Museo del Oro), tem Cartagena, que eu não tive como ir. Garanto que ninguém voltará com excesso de bagagem e a fatura do cartão se resumirá às contas de alguns jantares imperdíveis, não necessariamente baratos, mas ainda assim mais em conta do aquelas ditas pechinchas dos infalíveis outlets.