Retomando os posts sobre minha recente viagem de férias, falarei de algo a que provavelmente os leitores desconhecem. O leitor deve associar o Rio Grande do Sul ao vinho, não é mesmo? 
Pois bem. As terras gaúchas são reduto daquele que talvez é o mais forte movimento de cerveja artesanal e especial brasileiro. Há diversas variedades de cervejas especiais e artesanais fabricadas lá e o movimento de cultura cervejeira é muito forte.
Para o leitor ter uma idéia, visitei duas fábricas, quatro bares especializados e bebi nada menos que sete marcas diferentes de chope/cerveja gaúchos: Farol, Rasen, Santa Brígida, White Head, Season, Abadessa e Coruja.
Irei dividir o post em quatro partes: as visitas às fábricas da Farol e da Rasen e as idas ao pub Santa Brígida e ao BierMarkt, este já em Porto Alegre.
1 – Farol
Esta cervejaria fica em Canela e foi construída por um grupo de empresários alemães. Está arrendada ao Mestre Cervejeiro Matheus, egresso da fábrica carioca “Mistura Clássica”. Sua capacidade de produção é de cerca de 12 mil litros por mês, por enquanto somente em chope – o envasamento de garrafas está previsto para ser iniciado a partir do próximo mês de março.
Neste momento são três tipos de chope: um pilsen, um weiss e um que varia de acordo com a temporada – no caso era um “pale ale”. Experimentei os dois últimos – na foto, temos o pilsen à esquerda, dois exemplares do weiss e o meu pale ale, mais escuro.
Foi a primeira vez, acreditem, que visitei uma fábrica de cerveja. Do bar pode-se ver a sala de brassagem (na foto que abre o post) e os tanques de fermentação (foto 2). Cada chope leva mais de um tipo de malte em sua composição de forma a atender o sabor e a cor determinadas pela receita.
O Mateus (abaixo comigo) foi extremamente atencioso na visita, e ainda levei duas embalagens de cerâmica de um litro para o hotel. As embalagens – muito úteis para se servir cerveja – chegaram cheias ao quarto, mas voltaram vazias para o Rio.
2 – Pub Santa Brígida
O pub Santa Brígida é o melhor lugar para se beber uma cerveja especial em Gramado. Capitaneado pelo Vinícius – na foto acima comigo – o bar tem uma carta bastante interessante de cervejas, com um pouco mais de 100 rótulos.
Além disso, possui uma produção própria, perto do bar e que basicamente abastece o pub com chope. A Santas Brígida está começando a engarrafar suas cervejas de forma incipiente, mas ainda depende do registro nos órgãos oficiais – tanto que trouxe algumas garrafas para o Rio de Janeiro.
A IPA (India Pale Ale) de produção própria é muito boa, uma das melhores que já experimentei. Ainda tive chance de provar o chope da marca escocesa Brew Dog – que é uma marca de que gosto muito – e mais algumas bastante interessantes.
O Vinícius estava me explicando das dificuldades de se ter um bar deste estilo em um lugar como Gramado, em especial as relacionadas à logística e aos preços. Para certas cervejas ele compra no mesmo preço que eu, consumidor final aqui no Rio – o que explica o fato dos preços dele serem ligeiramente mais altos que a média em alguns produtos – não todos.
Ainda aprendi muito sobre o mercado da cerveja e sobre a bebida em si. Abaixo, o chope IPA.
3 – Cervejaria Rasen
O marketing da cervejaria ressalta o fato de ser “a cerveja de Gramado”. De fato é: era relativamente fácil encontrá-la na maioria dos restaurantes da cidade.
Ela oferece uma espécie de “visitação” onde se paga R$ 5 – com direito a um chope – e pode-se visitar a fábrica. Mas na prática ouve-se uma explicação da guia em frente ao tanque de brassagem e pode-se ver os tanques de fermentação à frente. Tanto que as fotos da máquina de envase foram tiradas pela guia.
A fábrica é maior e mais automatizada que a Farol, o que pode ser visto pelos tanques de brassagem (acima), visivelmente mais “industriais”, por assim dizer. A produção é bem maior: 40 mil litros entre os quatro estilos e mais o chope pilsen – que, diga-se de passagem, é muito bom.
São quatro estilos: pilsen (na verdade mais uma standard lager que uma pilsen típica), weiss, dunkel e a ambar ale, que reproduz um estilo americano e somente é feita nos meses de verão, porque o aquecimento para a atuação da levedura ale é pela temperatura ambiente. Abaixo os tanques de fermentação:
Uma dica aos leitores cariocas: as cervejas da Rasen – à exceção da Ambar Ale – podem ser encontradas em uma loja chamada “Casa de Gramado”, que fica no Shopping Nova América.
São boas cervejas, nada espetaculares mas bastante honestas. Seguem a Lei de Pureza Alemã de 1516 e são distribuídas também em Porto Alegre.
Achei apenas que a vedação das garrafas (abaixo) deixa a desejar. Ao final da visitação bebe-se um chope na loja e comprei um copo e algumas garrafas. Duas chegaram ao Rio de Janeiro vazando – as da Santa Brígida, com um processo bem mais artesanal, chegaram intactas.
Aliás, é bem curioso se ver a diferença do chope bebido na fábrica e em um restaurante. A diferença é visível – a bebida da fábrica é bem mais saborosa. Outra curiosidade é que, em média, as cervejas da Rasen maturam menos tempo nos tanques que os exemplares tanto da Santa Brígida como da Farol.
4 – Bier Markt
No bairro Moinhos de Vento, um dos nobres de Porto Alegre, o Bier Markt foi me indicado como referência em cultura cervejeira na capital gaúcha.

Cheguei lá por volta das 18:30 de uma segunda feira, mas dei azar: estava faltando luz. Com isso não pude conhecer o sistema de extração de chope que a casa tem, chamado de “sala de extração”. A luz foi e voltou algumas vezes até que por volta de 20:30 a casa teve de ser fechada. O curioso é que enquanto escrevia este post também faltou luz…

Ainda assim o meu xará Pedro e o Adolfo, os donos, foram bastante atenciosos e me deram todas as explicações solicitadas. A casa possui cerca de 100 rótulos e 10 torneiras de chope, que infelizmente não pude degustar.

Ainda assim consegui beber três cervejas em garrafa: a gaúcha White Head estilo irish ale (ótima surpresa), uma Eisenbahn Oktoberfest e uma Brew Dog. Ainda levei uma Season Cofee para consumir no hotel.

O que me surpreendeu é que para uma segunda feira a casa estava bem cheia, e com frequentadores habituais. Pena mesmo que não pude apreciar a casa em toda a sua plenitude.

Não esgoto aqui a cultura cervejeira gaúcha, longe, longe disso. Não falei aqui da Abadessa em suas garrafas de 1 litro – bela cerveja – nem das Corujas, por exemplo. Mas saiba o leitor que mais que a terra do vinho, o Rio Grande do Sul é a terra da cerveja.

2 Replies to “A Cultura Cervejeira Gaúcha”

  1. Achei este teu blog porque meu marido é gaúcho e ficamos sabendo recentemente sobre a Rasen de Gramado.
    Gostei de saber que na região tb tem a Farol em Canela, para a próxima vez que viajarmos para o RS vamos incluir no roteiro.
    E falando em roteiro, tenho duas sugestões de cervejarias para vc visitar:
    A Baden Baden em Campos do Jordão e a Wolkenburg em Cunha (perto de Paraty mas em São Paulo).

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