Hoje, dia 31 de agosto de 2011, é o aniversário de noventa e dois anos de Jackson do Pandeiro. Como aprendi com os mais velhos que os ancestrais devem ser louvados, e Jackson é um ancestral brasileiro, egungun da nossa gente, reproduzo abaixo um texto que escrevi sobre o mestre em 2010.
Jackson do Pandeiro está para a música brasileira como Mané Garrincha para o nosso futebol. Senhor absoluto na arte do ritmo, o do Pandeiro fazia uns balacobacos com a voz ao cantar seus cocos, xotes, quadrilhos, baiões, sambas, marchas e frevos que só encontram similar na cultura do drible, da ginga, do faz- que-vai-não-vai do anjo torto dos gramados.
Jackson pintava o sete feito o camisa sete, cantava indo e voltando da linha de fundo até, subitamente, bater em gol ou mandar a redonda pro fuzuê da pequena área. Era versado no gogó e em seus atalhos, como o velho Pastinha fazia ao menear o corpo retinto no jogo de angola. Era Seu Zé chegando das Alagoas e baixando na guma, de terno branco, lenço de seda e o escambau.
Luiz Gonzaga, senhor da trindade santíssima da música do nordeste, tinha a majestade de Oxalufã, o pai maior. A sanfona era seu opaxorô; cajado de segredos. O velho Lua vestia o gibão de couro com a fidalguia grande de Babá ao trajar o pano branco.
João do Vale, o segundo da trina , tinha o olhar desconfiado de Odé e o poder caçador de sua flecha certeira. Fez do carcará – o que pega, mata e come – o passáro das feiticeiras do país nagô. Passou a vida pisando na fulô e aprendeu o segredo de subir nos ares e brincar na asa do vento – aquele que muita gente desconhece.
E como Jackson jogava nessa linha de frente divina e infernal? O do Pandeiro cantava como Exu, no riscado, na fresta, malandreando no sincopado, desconversando, rindo feito o capeta no coco. Desconfio mesmo que era o dono do corpo, Laroiê, que chegava junto, fungando no cangote do malandro.
Hoje, dia 31 de agosto, é o aniversário de Jackson, que deve estar fazendo furdunço no terreiro grande do Orum, Aruanda dos pretos, macaia macaiana dos caboclos. É dia bom pra tomar cachaça, pedir licença na encruza e oferecer a do santo. Dia de responder o coco na palma da mão, ralar o bucho no forró em Limoeiro, xaxar na Paraíba, arrumar encrenca com a mulher do Aníbal e louvar o mirradinho ajuremado, brasileiro grande.

ps: Vai dividir as notas assim na putaqueospariu!!!!

Abraços

One Reply to “O DONO DO CORPO (EXU CANTAVA COCO)”

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