Um dos grandes males da vida cotidiana é a maldita mania que o ser humano tem de sair estabelecendo julgamentos e penas em tudo o que vê.
Aferrado a códigos de conduta duvidosos e a visões estreitas de vida, o indivíduo tende a rotular e classificar tudo como “bem ou mal”, “certo ou errado”, “correto ou incorreto”, “ético ou anti-ético”. Determina vereditos e informa “penas”.
Não se pratica a análise das razões. Pensa-se apenas em encaixar pessoas e condutas em uma das “formas” ou “caixinhas” usadas pelo determinado como “senso comum”. Não se analisam as razões objetivas de comportamentos ou atitudes, mas sim condena-se ou absolve-se em um código politicamente correto bastante falho.
Muitas vezes, o que parece incompreensível ou absurdo torna-se bastante razoável quando observamos as condições existentes. A postura “incorreta” ou “inexplicável” pode ter todo sentido quando analisamos as causas que levaram àquela situação. Outras questões podem até ser incorretas segundo os códigos morais ou  regimentais, mas tornam-se justificáveis – embora ainda incorretas – quando analisamos o quadro geral.

Um bom exemplo disto é a repercussão de casos judiciais rumorosos. A imprensa e a sociedade imediatamente condena ou absolve, sem esperar os trâmites necessários a um processo justo, tanto para quem acusa como para quem se defende.

Um bom exemplo disso é o processo envolvendo o ex-goleiro Bruno. Não vou entrar aqui no mérito de sua culpa ou inocência – já escrevi sobre o assunto antes – mas já ouvi de pelo menos quatro ou cinco advogados exatamente a mesma coisa: que ele só continua preso devido ao pré-julgamento da sociedade, porque caso não fosse isso “qualquer advogado de porta de cadeia” já teria conseguido o habeas corpus.

O ex-goleiro é culpado? Muito possivelmente sim. Mas como acusá-lo se não existe corpo? É este o procedimento alegado com quem conversei.

Que fique claro que não estou defendendo a liberdade para Bruno ou a sua prisão eterna. Apenas mostrando como muitas vezes pré-julgamentos impedem o que poderia ser um desfecho correto de acordo com nossas leis.

No caso em questão ele realmente parece estar envolvido no trágico fato, mas não podemos esquecer que em outras situações pode-se estar destruindo a vida de inocentes – quem não se lembra do famoso caso da “Escola Base”?

Algo também irritante é o maniqueísmo. As pessoas e situações tendem a ser classificadas em extremos, sem perceber que entre os dois pontos limite existem diversos posicionamentos que necessariamente podem ser analisados e aceitos. É como se houvesse um permanente clima de “Fla-Flu” em todos os aspectos da vida humana.
Também existem “zonas cinzentas”, com situações indefinidas, perfeitamente normais. A sociedade vive em transição, o homem vive em transição, e comportamentos e atitudes aparentemente conflitantes podem conviver por períodos de tempo.
Mais um ponto que perpassa negativamente isto tudo é a praga chamada hipocrisia. Faça o que eu digo, não faça o que eu faço, mesmo quando se pratica o que se condena. Em especial os evangélicos são mestres nesta “arte”.

Muito desta hipocrisia decorre de uma praga chamada “politicamente correto”. Algum iluminado estipulou regras de “conduta em sociedade”, como se uma boa educação não proviesse os valores da honestidade, do bom senso e do respeito.

Mas não: substituiu-se por este “politicamente correto”, que torna o mundo extremamente chato, e, pior: sob esta capa admitem-se toda série de barbaridades perpetradas.

Sem contar que algo chamado “bom senso” parece simplesmente estar em falta nos mercados de nossa sociedade.

Esquece-se que se destroem vidas ou deixam-se de tomar atitudes necessárias por causa destes julgamentos e pressões da sociedade, sem ter acesso aos motivos e ao quadro. Quantas pessoas infelizes temos por terem medo deste tipo de situação e acabarem se acomodando com medo do que ocorre e ecoa em suas tangências ? Quantas vidas destruídas por vereditos inadequados e apressados ?
Cada dia mais temos compulsão pela vida alheia e isso pode ser visto pelo cada vez maior sucesso destas revistas e colunas de jornais e internet dedicadas à vida das “celebridades”. Julgamos seus comportamentos como se parentes fôssemos. E reproduzimos este comportamento com as pessoas em volta, dando rótulos a tudo e engessando a espontaneidade.
Mandamos para a câmara de gás sem direito à defesa e sem compreender as razões humanas. Dane-se, não sou eu quem está lá. Infelizmente o pensamento é este. O mundo seria bem melhor com um ser humano menos hipócrita, menos politicamente correto, menos “juiz” e menos maniqueísta. Deixem o julgamento para o Juízo Final individual.

Na internet isto é ainda mais exacerbado. Nossa opinião é a correta, ainda que não o seja sob razões práticas. O importante é calar o “oponente”, sem entender que muitas vezes convivendo com pensamentos divergentes do nosso pode-se crescer como ser humano e adquirir conhecimentos que nos enriquecem como seres humanos.

Onde há julgamento, troque pela compaixão. Onde há hipocrisia, troque pela verdade. Onde há maniqueísmo, troque pela compreensão. Onde há condenação, troque pela solidariedade.

E, caro leitor, lembre-se que todos nós temos qualidades e defeitos. Não tente diminuir seus defeitos ou apontar os alheios: esmere-se em aumentar suas qualidades. Como uma vez ouvi de um grande amigo: “não tente controlar seu egoísmo; esforce-se para ser mais altruísta”.

Pense nisto. Não estou aqui para dar lição de moral em ninguém, mas apenas convidar à reflexão nesta selva muitas vezes irracional em que nos encontramos.