Só pode ser  sacanagem. Quem me acompanha neste espaço sabe que clamo, em todos os Carnavais,  pela volta dos balofos ao posto mais nobre da folia – o de Sua Majestade, o Rei Momo, de quem sou súdito confesso. Eis que recebo hoje um email com a notícia mais triste da folia de 2011. Reproduzo o texto da mensagem eletrônica:
Numa época em que prezamos a saúde da população, a Prefeitura da Cidade do Recife (PCR) acredita ser contraditório estimular o desenvolvimento da obesidade nos homens que desejam assumir o posto de soberano do Carnaval. E nesse sentido, muita gente aplaude a decisão da PCR, que no seu 47º Baile Municipal do Recife, no Chevrolet Hall, escolherá um Rei Momo com silhueta esbelta e músculos bem definidos.
Pasmem. A foto – absolutamente ridícula – que ilustra o início dessa postagem é a de um candidato ao cargo de Rei Momo do Carnaval de Recife e foi tirada durante o concurso! Observem abaixo a inacreditável foto do vencedor, ao lado da rainha do Carnaval de 2011:

Dou trato às bolas e fico a imaginar o que diria o primeiro Rei Momo do carnaval brasileiro, o jornalista Moraes Cardoso, sobre essa papagaiada. Foi graças a ele, Moraes, que a figura do Rei Momo pudim de banha, rolha de poço, chupeta do Vesúvio, se estabeleceu entre nós. Explico.
Em 1933, com o carnaval oficializado pela prefeitura do Rio de Janeiro, os jornalistas de A Noite tiveram a ideia de nomear um monarca para a festa. O escolhido foi o repórter de turfe Moraes Cardoso, um sujeito assombrosamente gordo e gaiato. Estava sendo criada aí a tradição. Fosse Moraes Cardoso uma Olívia Palito, o Rei Momo magro teria se estabelecido entre nós.
O Rio de Janeiro, portanto, é uma cidade tão inusitada que inventou o primeiro rei carnavalesco desde as saturnálias romanas. O Rei das Saturnálias, porém, era em geral um soldado fortão, bonito e bicha. Se empanturrava de carne, enchia a cara de bebida e, no fim da festa, era sacrificado aos deuses. Nós, que nascemos sob o signo da subversão, transformamos o deus Momo em rei, colocamos um cachalote no trono, cercamos o soberano de princesas e rainhas gostosas e fomos pro ziriguidum.
Fui garoto em um tempo em que o Rei Momo do Carnaval do Rio de Janeiro era eleito por aclamação popular em um concurso realizado no Largo da Carioca. Fazia parte do concurso o desempenho do candidato ao devorar duzentos frangos de padaria e duas travessas de macarrão, além de beber cinco engradados de cerveja, no ritmo do balacobaco. Eram esses os atributos necessários aos que postulavam o cargo de Sua Majestade.
É com grande decepção, portanto, que recebo a notícia de que a cidade do Recife, terra da minha mãe, embarcou na palhaçada politicamente correta (e profundamente contrária ao espírito do Carnaval) ao fazer um concurso para escolher um Rei Momo com silhueta esbelta e músculos definidos. Que o bravo e folião povo do Recife honre a tradição revolucionária de Frei Caneca e Pedro Ivo, louve a memória de Capiba e Nelson Ferreira e derrube esse Rei Momo imediatamente.
A saída do trono de Momo dessas majestades esbeltas e musculosas é nesse momento, para este escriba que não compreende a civilização sem o Carnaval, mais decisiva para o futuro da humanidade do que  a derrubada dos bambambans alucinados no mundo Árabe.
Às armas, bravo povo do Leão do Norte!!
Evoé.

10 Replies to “BABAQUICE NO REINO DE MOMO”

  1. Salve, mestre Simas…

    Daqui de Campinas,SP, também vai o meu repúdio a essa patifaria de Rei Momo “bombadinho”. Porra, o Momo daqui também é mais magrelo do que o Carlinhos de Jesus!
    Ademais, é tão animado quanto um metaleiro numa roda de samba. Como diz minha mãe, mineira de Poços de Caldas: “aí eu não dou conta”…

    Abraço,

    Fabio

  2. Caro Simas, é de uma extrema babaquice mesmo essa onda que chega ao Rio, sob pretexto de cuidados com a saúde. Nada mais que nadando na onda da mercantilização de corpos sarados.

    Aqui em Juiz de Fora-MG mantém-se a tradição do Momo Gordo. Tínhamos aqui uma coisa muito ímpar. durante uma época, dois reis MOmos atuavam juntos… eram gêmeos balofos, os irmãos Guedes. Os dois pararam, devido a idade.

  3. Vamos sair do Momo que morria de diabetes para o que morre de overdose de anabolizante! Gordo ou magro, alto ou baixo, espada ou boiola, ora, o Rei da folia tem que ser alguém que tenha cara de carnaval!

  4. Velho, o que nos consola é que, enquanto os manda-chuvas patrocinam a babaquice chapa-branca, o povo folião das ruas do Recife sabe das coisas. Assisti ao vivo, a cores, e bem de pertinho o casal real da prefeitura, empavanado e malhadinho, ser sonora, solene e ululantemente vaiado pela multidão que se acotovelava no desfile do Galo da Madrugada. A bichinha, nervosa, respondia aos apupos da multidão com o dedo médio em riste, prova de que, além de viado e e mal-educado, não tem noção nenhuma do que é e a quem pertence o Carnaval.

  5. Esse povo não entende de lógica e psicologia. Nem os budistas fervorosos são gordos!!!

    Ninguém fica gordo para virar Rei Momo e nenhum folião vai ficar sarado porque o Rei Momo é gostosão.

    Palhaçada.

    Adorei o texto.

  6. Mestre,

    Ainda sobre o carnaval, vamos fazer uma campanha para que os IDIOTAS deixem de contar quantos brincam em cada bloco no Brasil, e deixem os foliões brincarem em paz.

    Abraços

    Jairo

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