A notícia palpitante dos últimos dias nas hostes rubro-negras foi a notícia de que um estádio seria construído em parceria entre o clube e grupos de investidores – fala-se na Traffic, empresa voltada ao mundo do futebol e do esporte.
O estádio seria construído em Caxias (foto acima, do Google Maps), em terreno doado pelo Prefeito de Caxias, José Camilo Zito, rubro negro e do mesmo partido da presidente rubro-negra Patrícia Amorim – que é vereadora no Rio de Janeiro pelo PSDB (abaixo, os dois no gabinete do prefeito). O espaço é até bem localizado, entre a Linha Vermelha e a Avenida Presidente Kennedy, uma das principais artérias viárias da cidade da Baixada Fluminense.
Não li maiores detalhes sobre o modelo de construção, mas a princípio ele seria bancado pelos investidores, que teriam direito a uma percentagem da receita gerada pelo estádio durante um determinado número de anos. Entretanto, há algumas questões que devemos observar bem.
A primeira delas é a filosofia do projeto. Hoje a modernidade é o conceito de arena, onde o torcedor não vai somente para assistir a uma partida. Nos modernos estádios, hoje um dia de jogo é um momento de entretenimento, com restaurantes, lojas oficiais e conveniências e outras diversões que permeiam a partida e elevam o gasto médio do torcedor em um dia no estádio.
Os leitores que viram o post que escrevi sobre a Arena da Baixada sabem que este é um estádio modelo em termos de arenas no Brasil. A arena do clube paranaense possui academia, restaurantes e loja oficial, que ainda não constituem o ideal em termos de uma arena rentável mas já representam uma receita adicional ao clube.
Para se construir um estádio hoje, há que se ver este conceito de arena. Deve-se agregar serviçoes e fontes de renda que permitam aumentar o potencial de receita e significar o pagamento dos custos de construção do estádio – algo que somente as rendas das partidas do time profissional nem de longe cobrem.
Imaginem um investidor que entre neste projeto. Constrói um estádio para 50 mil pessoas, no terreno em Caxias, gastando aproximadamente R$ 500 milhões. Se este parceiro receber como retorno a renda do estádio nos próximos 30 anos, por exemplo, a receita líquida – descontados os custos de administração – de ingressos necessitaria ser de R$ 17 milhões, grosso modo. E sem considerarmos os juros ou o custo de oportunidade advindo de se construir ao invés de aplicar a grana – o que, na prática, dá no mesmo.
Fazendo-se este cálculo rasteiro, sem considerarmos os juros e levando-se em conta que no máximo o clube faz 35 jogos por ano no estádio, a receita líquida por jogo necessitaria ser de aproximadamente R$ 485 mil apenas para retornar os custos de investimento e sem considerar os juros envolvidos. Tomando-se grosseiramente que com os juros o custo suba a R$ 1 bilhão e uma ocupação média do estádio de 50% (que é um número alto), teríamos uma parcela de preço de ingresso de aproximadamente R$ 40 somente para se ressarcir os gastos da construção do estádio – a receita necessária por jogo mais que dobraria, chegando a aproximadamente R$ 1 milhão.
Ou seja, somando-se os custos de manutenção do estádio, do clube e outras despesas teríamos de ter um ingresso médio na faixa de R$ 80 a R$ 90 apenas para se tornar minimamente viável o estádio. E a pergunta que devemos fazer é se há demanda no local para 25 mil torcedores de média a R$ 90 em trinta e cinco jogos ao ano. Os leitores notem também que o público rubro negro está em todas as classes de renda, o que traria uma elitização indesejável sob o aspecto esportivo e institucional.
O local anunciado é até de fácil acesso e não fica distante do Centro do Rio de Janeiro, pela Linha Vermelha. Se faria necessária a construção de uma alça ligando a via expressa ao estádio, mas aí cairia na conta do Poder Público. Entretanto, para ir e voltar ao estádio, sem outros atrativos, não acredito que haja tal demanda – e o público local, majoritariamente da Classe C, embora com o poder aquisitivo em alta não tem condição de pagar R$ 90 de ingresso quatro vezes ao mês.
Portanto, torna-se necessária a construção de todo um complexo de facilidades que atraiam, retenham o torcedor e façam não somente elevar o dispêndio por partida quanto atrair um público de maior poder aquisitivo. É imperioso que hajam restaurantes, lojas, conveniências e até mesmo um hotel – que atenderia, também, ao público do aeroporto do Galeão, que não fica longe. O conceito de arena esportiva é imperioso.
Outra opção seria a construção de prédios de apartamentos junto à arena. Podem-se encontrar cem, duzentos fanáticos que paguem mais para morar ao lado da arena rubro negra, o que geraria uma amortização no retorno do investimento. Entretanto, o local do terreno não é o mais indicado para este tipo de iniciativa por causa do valor médio dos imóveis na região, que é baixo.
Mais um óbice: a arena é ocupada por partidas durante trinta e cinco dias no ano. Restam trezentos e trinta e cinco dias sem atividades no estádio. A área indicada não exerce uma demanda capaz de se programarem shows com ticket médio mais alto, pois o público local é das Classes C e D.
Na prática, um empreendimento deste porte não tem muita possibilidade de oferecer um retorno viável a seus construtores, nem ao clube, pelas dificuldades elencadas acima. Ainda que em outro local, teria de ser bem pensado, e sempre sob o conceito de arena.
Mas…
Como se vê pela imagem acima, o prefeito da cidade da Baixada Fluminense “está fazendo cortesia com o chapéu alheio”: o terreno oferecido para doação pela prefeitura da cidade pertence, na verdade, à União – mais precisamente à Marinha. Seus representantes já afirmaram que não foram consultados sobre a transação, o que significa que há um entrave bastante sério ao projeto. 
Pessoalmente, penso que é mais um factóide da presidente rubro negra e do prefeito em questão, ou seja, acredito que o projeto não deva evoluir. Aliás, a atual mandatária rubro-negra, que empreende uma gestão pífia – para ser educado – demonstrou neste primeiro ano de mandato que aprendeu direitinho com seu mentor político Cesar Maia (ex-prefeito da capital carioca) a arte de desviar a atenção de problemas maiores criando factóides.
Podem me cobrar.
Finalizando, penso que a solução para o Flamengo ter a sua casa é um arrendamento – ou um contrato em bases mais favoráveis – do Maracanã, revitalizado a partir de 2013.
A reforma em andamento não irá corrigir todos os problemas que o estádio tem – como escrevi anteriormente – mas já criará condições para uma utilização mais racional, em um local privilegiado. E sem os problemas de retorno de investimento na reforma, haja visto que é dispêndio a fundo perdido por ser obra executada com recursos públicos.
O Maracanã depende da demanda exercida pela torcida do Flamengo como um ser humano depende de água e alimentação para se viver. Basta um pouco de vontade e de conhecimento técnico para se fechar um bom acordo para o clube. Voltarei ao tema proximamente.

One Reply to “O Estádio Rubro Negro – Algumas Notas”

  1. Belíssima análise. Mas, peço desculpas, para deixar este post de lado para fazer um desabafo pouco educado:

    BEM FEITO ALONSO! SE F…! WEBBER TREMEU! DEU VEEEEEEEEETTEEEEEEEEEEEL! VAI TOMAR NO C… ALONSO!

    Voltamos a nossa crítica do governo normal… Precisava fazer este desabafo porque o tipo de atitude arrogante e desonesta do Alonso (para pegar leve) é a mesma que vejo nos governantes do país. Atuais e passados.

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