O Brasil compreende e aceita Lula – e dá ao presidente inédita popularidade entre os homens do poder – porque Lula compreendeu e aceitou o Brasil. É simples assim.
Certos segmentos da elite e da grande imprensa, que tentam desqualificar Lula e o seu eleitorado, agem como as madames quatrocentonas paulistas que oferecem banquetes para duzentos talheres em suas mansões. Cheias de si, conhecedoras das regras de etiqueta dos grandes ágapes, as madames se horrorizam quando alguém esculhamba o ritual, inverte pratos e facas, altera a ordem dos copos e desarticula as pompas e circunstâncias da festa.
Toda liturgia pressupõe um jogo de poder. A imposição de regras de etiqueta serviu, ao longo da história, para delimitar terrenos, marcar territórios e colocar cada qual em seu devido lugar. Quem não respeita a liturgia, a regra, os chamados bons modos, não merece frequentar o clube dos bem nascidos e a mesa dos poderosos.
Desta forma o discurso da etiqueta serve, não raro, para segregar, erguer paredões, consolidar posições e inibir mudanças. Assim acontece – e de forma exacerbada – na esfera da política, reino repleto de todos os salamaleques cerimoniais que caracterizam as sociedades hierarquizadas.
O recado da liturgia é claro: os que não conhecem o cerimonial e não sabem se comportar não merecem frequentar a fidalguia dos salões. Somos, afinal de contas, o país que reproduziu trezentos anos de casa grande e senzala na arquitetura dos apartamentos com dependências de empregadas, os chamados quartinhos de fundos.
O que certa elite não perdoa em Lula é exatamente a dimensão simbólica de sua presidência – aquela que subverte a liturgia e, desta maneira, quebra a lógica de segregação que o exercício do cargo de mando geralmente impõe.
Lula é o batuque da senzala que abafa o bafafá da casa grande; é canto de torcida que invade os nobres balcões dos teatros de ópera; é a empregada doméstica que rasga o uniforme branco – em alvo contraste com o corpo preto – que escancara visualmente sua função de mucama da sinhá. Lula é, enfim, o homem comum que botou a faixa e subiu a rampa – território outrora destinado aos generais com seus galardões e aos bem nascidos principes das sociologias.
A imagem mais emblematica desse simbolismo foi a de Lula carregando um isopor cheio de cervejas em um dia de praia. Os jornalões estamparam nas primeiras páginas, com manchetes e charges que travestiam em humor o preconceito e o espanto, a figura do presidente da República agindo como homem comum. Não se espantariam, todavia, se um empregado carregasse a bebida do presidente, feito o negro de ganho que em antanhos carregava os pesos e pertences do senhor.
Os homens miúdos são necessários para preparar o jantar, arrumar talheres, manobrar os carros, limpar os banheiros, tirar a poeira e varrer os comodos das mansões. Chegam até mesmo a receber algumas gentilezas que mascaram a indiferença cordial dos poderosos. Que os miúdos fiquem longe, porém, do banquete de não sei quantos copos, garfos e facas de prata.
Os doutos poderosos não entendem Lula simplesmente porque nunca carregaram o isopor e ainda se esqueceram, trancafiados em decadentes palacetes, de olhar o céu e constatar que anoiteceu no Brasil (e como está bonita essa noite clara, de lua cheia e gente na rua).
Tá na hora da janta, a fome é tanta e a mesa é nossa.
Abraços
ÓOOOTIMO!
É fácil explicar a ojeriza que a elite financeira do país tem ao presidente molusco. Para eles é impossível aceitar que a maior inteligência política surgida no país nos últimos 20 anos não tenha sequer ensino superior completo. Preconceito social, simples e puro.
Mas, caro Simas, digo e repito: Saudade da época em que o Lula do Fluminense era o único tratado aqui nesse nobre espaço! Ainda mais nessa época de paixões eleitorais.
belissimo….a vitoria maior do povo miudo foi Lula e vai ser Lula de novo……( queria ter sido seu aluno)…Acarlos abrs
Graaande Simas!
Essa foto é, de fato, muito representativa. Vale virar camiseta.
Belo texto.
Abraço.
Excelente texto!!!!!
Muito bom o seu texto. Excelente. A mesa está posta nos campos, nas ruas, nos botequins e nos milhões de casas de brasileiros a quem Lula prometeu que haveriam de comer 3 vezes ao dia. Até a vitória meu amigo e parabéns pelo belo texto.
LULA
Lindo, maravilhoso, que texto. Dei para os netos lerem e guardarem pois um dia quem sabe será uma tese para o vestibular. Quero te ver no dia ou depois do niver.
Que texto lindo, Simas! Emocionante, verdadeiro, definitivo! Muito obrigada!
Simas abusando. Que textaço!
Simas!!!!!!!!
De antologia. Histórico. Fui no Edu, vim pra cá, e – puta que pariu! – tô chorando feito doido.
Tá na hora, tá na hora! Obrigado por tudo, presidente LULA. DILMA, nós estamos com você pro que der e vier. Viva o Brasil! Viva o Brasil do povo brasileiro!!!!
A mesa, afinal, deveria sempre estar à disposição de quem tem fome. Muito bom, amigo.
Texto para aplaudir!
Felizmente pude ter aula com você, caro Simas. Suas explanações foram-me essenciais para meu desenvolvimento como cidadão crítico e reflexivo sobre o Brasil.
Estarei sempre lendo este blog.
Abraço.
Que beleza, velho, que beleza! Falta pouco pra começar a janta preparada pelas mãos da chefe!!!
Maravilhoso, necessário e definitivo texto, mestre. Orgulho de tê-lo conhecido, de dividir a mesma mesa de bar, bebendo tantas geladas e ouvindo suas histórias: brasileiras, cariocas, genuínas. Parabéns, amigo.
Muita saúde e muito amor pra vocês três, e vamos comemorar no seu aniversário!!!!
Parabéns, captou o Brasil profundo como ele é. Encaminhei este maravilhoso texto para vários amigos e amigas. E, amanhã só pode dar Dilma 13 Presidente!
E, Viva o Povo Brasileiro!!!!!
Prezado Simas,
Belíssimo texto. Após dois anos de campanha eleitoral, no nível imposto pelos tucanos, nada como ler um balsamo desses, na véspera da eleição.
Simas, sou seu fã, repiquei seu texto no meu blog – você está linkado lá em meus favoritos.
Se tiver curiosidade: http://bogdopaulinho.blogspot.com
relevacia, pertinencia, sensibilidade. obrigado por brindar-nos com tão belas palavras!
Dyocil
Mestre,
Desta vez não deu pra rir. O que escrevestes é primoroso e triste entretanto, cheio de esperanças utópicas.
Abraços e viva a vida que certamente não está na casa grande e nem nos rituais seletivos.
Jairo
Professor, cheguei ao seu blog a partir de um texto (o anterior a este) linkado lá no Biscoito Fino.
Concordo com tudo que o sr. escreveu e gostaria de assinar embaixo!
Grande abraço, e vamos às urnas fazer história mais uma vez!
Olá, Simas.
Vim aqui no blog hoje a fim de ler sobre a vitória da Dilma, pois apesar de nunca ter escrito nada eu sou leitora assídua do seu espaço.com. Adoro os textos de alma política e me fascino com os Tambores e Encantarias. Estou ansiosa para ver a expressão de sua felicidade através dos seus textos, aliais – a expressão da nossa felicidade.
Aproveito para agradecer e engrandecer o seu papel que é mais do que simplesmente social e educacional e que às vezes muitos podem não reconhecer. Vejo no que leio um alimento da minha alma, do meu caráter e do meu espírito.
Axé, grande Simas
Gabriella
Muito oportuno, muito bem escrito! Parabéns!
Execelente!!! Parabéns!!!!
foi boa a janta?
Muito bem dito!
Os bem nascidos (e seus imitadores baratos) estão tão impactados por estas novas maneiras de ser brasileiro que têm passado dos limites: da exigência de etiqueta para o mais descarado preconceito…
Dos melhores textos que já li sobre Lula e nossa elite…
Parabéns.
Como já disseram: definitivo e emocionante!
Que texto incrível,amei,essa é uma das minhas indignações,assim como a fábrica de escravos que ainda tem sua sede em Santa Rita do sapucaí,que outrora foi fachada de fazenda de café,e hoje recentemente foi comprada por uma instituição alemã,estranho muito estranho…parabéns pelo texto.