Outro assunto que estava para comentar há algum tempo é a instalação de painéis à guisa de muros em toda a extensão da Linha Vermelha, no Rio de Janeiro.
Não sei a altura exata dos painéis, mas o cálculo que faço é que deve ter algo em torno de oito a dez metros de altura. A explicação oficial do governo carioca é de que irá diminuir o barulho às comunidades em volta da via expressa, permitindo assim um “sono mais tranquilo” aos moradores destas favelas.
Entretanto, a atuação tanto do governo do Estado quanto especialmente da Prefeitura vem sendo no sentido de confinar os moradores de favelas em seus espaços, a fim de “não atrapalhar” os “moradores decentes” da Zona Sul, elite das classes médias da cidade.
A instalação destas painéis significa na realidade duas posturas: primeiro “esconder” estas comunidades da visão de quem chega ao Rio de Janeiro via aeroporto do Galeão. A Linha Vermelha é caminho obrigatório para todos aqueles que chegam à cidade de outros países de avião, e tal medida permite aos turistas e locais da Zona Sul que chegam à cidade não ver a realidade em volta.
A segunda postura é a de confinar estes moradores, tal como feito nas UPPs – escrevi sobre isso antes. O prefeito Eduardo Paes está acometido de uma grave crise de “favelofobia” e vem pautando sua atuação pela defesa dos interesses dos moradores da Zona Sul. Quanto menos contato houver entre a elite civilizada e a plebe ignara melhor, de acordo com a postura adotada pela municipalidade – o que não deixa de ser fascismo.
Acirrar as desigualdades e transformar as favelas em verdadeiros “Guetos de Varsóvia” é o objetivo principal da política urbana do atual prefeito. O Rio de Janeiro se resume à Zona Sul e como tal deve ser privilegiado na alocação de verbas e de serviços. Cabe ao morador de comunidade “se esconder” e ser guardado em locais espacialmente determinados e cercados a fim de não atrapalhar os interesses e a visão dos cidadãos de primeira classe.
Com isto acirramos as diferenças e cria-se um conflito potencial entre aqueles que desfrutam da atenção da municipalidade e os que devem ser “escondidos”, pois “envergonham” a Cidade Maravilhosa. A política é de exclusão, e não a inversa como deveria ser.
Lembro apenas aos leitores que todos são eleitores e que um prefeito ou governador é escolhido para governar a todos, não a poucos. Infelizmente, não é o que ocorre no Rio de Janeiro hoje em dia.

11 Replies to “Linha Vermelha e Gueto de Varsóvia”

  1. Migão mais uma vez tentando achar pêlo em ovo. A implantação de muros é decisão acertada do governo/prefeitura. Atualmente a Linha Vermelha (e também Amarela) é local onde podemos ver de tudo: desde crianças e ambulantes vendendo coisas, até mesmo vacas, porcos, cavalos e ate cabras passeando. Tem que colocar muro sim, inclusive maior do que estão colocando. Se possível, muro de aço, com 20m de altura.

    Assim, o muro inibe que crianças soltando pipa invadam uma via de 90km/h – evitando atropelamentos e graves acidentes. Ajuda a evitar balas perdidas e pedradas nos carros – lembro que em dezembro, eu estava dirigindo um carro no entroncamento das duas linhas (vermelha e amarela) e jogaram uma pedra na porta lateral onde eu estava – pedra vinda da favela da Maré, que fica ali.

    Linha Vermelha é lugar de carro – e não de pessoas.

    E mais: favela não é pra existir. Favela é condição sub-humana de sobrevivência. Tem que acabar com favela e construir casas populares.

    Cade o governo federal pra fazer isso? O PAC, pelo contrário, investe na favelização.

    Parabéns à prefeitura pela implantação de muros. Tomara que coloquem em toda extensão.

  2. Fabrício, o problema é que, como diz o texto, a iniciativa nao tem nada a ver com os motivos que você expõe – que, embora não concorde totalmente, acho bem razoáveis.

    A idéia é confinar nas favelas e impedir que quem chegue ao rio os veja. Pura maquiagem.

  3. Mas é o tipo de ação que acaba trazendo um benefício (os que citei acima).

    A proximidade de favelas com vias de alta velocidade expõe populações a perigos de acidentes, atropelamentos e assaltos (pedradas, por exemplo).

    Quanto o objetivo de “esconder a sujeira pra debaixo do tapete”, é estratégia do Governo (nas 3 esferas) visando Olimpíadas e Copa. Depois de 2016, tudo volta a normalidade, pode ter certeza. É só pra inglês ver.

  4. E qual a proposta de pedro migão para resolver o problema de uma via de alta velocidade ter tudo quanto é coisa atravessando a rua (crianças, bois, vacas, pipas etc) e os carros não correrem o risco de levar pedradas?

    Conta aí..

  5. A PM precisa reprimir bandido. A PM não vai ficar ali, 24h, vigiando toda a extensão da via… sem contar que a extensão é enorme. Um muro evita que pessoas invadam – em qualquer hora do dia. Ver o muro como exclusão apenas, no meu modo de ver, é analisar a questão apenas de um ângulo.

  6. São pichados pq não há punição exemplar a pichadores. No dia que uma lei decente fizer cada pichador limpar com alcool o que pichou, a coisa melhora.

    Migão, é obvio que o muro irá INIBIR o acesso às pistas, dificultar. Não irá impedir totalmente pq ainda há entradas – e para a prática da burla, o brasileiro é bastante inteligente (a começar pelo presidente, que caga e anda para as leis eleitorais, não é mesmo?).

    Se alguem atropelar um faveladozinho ali, vai ter passeata, quebra-quebra, pedradas em carros.

    Moral da historia: não é pra ter favela (lugares inóspitos, sujeitos a doenças, mosquitos, falta de saneamento e esconderijo de bandidos).

    PS – Talvez vc não saiba, mas frequentes assaltos a residencias vêm acontecendo no Jardim Guanabara, mais especificamente no… QUEBRA-COCO (onde moramos). A Polícia já disse que são bandidos da… FAVELA DA MARÉ (sim, aquela mesma onde estao colocando muros). E a bandidagem, sabedora da impunidade, ja disse que irá assaltar TODAS as residencias dessa região.

    Mais uma vez: não é pra ter favela.

  7. claro que eu sei, Fabrício – o meu prédio foi um deles, como contei aqui mesmo no blog.

    por que você acha que tem uma patrulhinha parada o tempo todo entre a Grão e a Joracy ? volta e meia tem blitz ali agora

    só ressalvo que a gente não pode comprar o discurso de que “todo favelado é bandido”. Não é.

  8. Lógico que nem todo favelado é bandido. A questão é que as bocas de fumo estão localizadas em favelas. Se o “movimento” vai mal, quem trabalha nisso vai pro asfalto pra lucrar em cima do que não faturou com a venda da droga. Essa é a dinâmica.

    A patrulhinha fica ÀS VEZES ali. Só quando a porta é arrombada, eles tomam alguma atitude.

    Reside aí a questão da “favelização” que comentei antes. O problema é que a raiz da palavra remete somente a favelas, morros etc. Mas favelizar corresponde tambem a deterioração de serviços (segurança por exemplo), proximidade entre praticas (mambebes) existente em favelas com o asfalto. As Kombis surgiram nas favelas com os nomes de “Cabritinhos”. Levavam pessoas do alto do morro pro asfalto e vice-versa. Hoje possuem linhas (ilegais, alternativas etc) que ganham as ruas. Já vi algumas kombis aqui no Quebra-Coco. Isso tambem é favelização.

Comments are closed.