E chegou o carnaval…

Para ser sincero, esse ano deu a impressão que não chegaria. Tantos problemas, confusões, falta de grana, escolas deixando de fazer ensaio… que achei que a qualquer momento cancelariam, mas não, ainda não foi dessa vez.

Teremos carnaval.

Carnaval diferente para mim, que pela primeira vez irei viajar no mesmo – passando em Teresópolis curtindo piscina e pizza, mas claro que no intervalo do ócio darei uma olhada nos desfiles. Disputa completamente indefinida para mim, cheia de perguntas:

O samba do Império irá funcionar ou será o que penso desde o começo? Teste para fôlegos? Tuiuti continuará em alta? Grande Rio em baixa? Como será a Viradouro com Paulo Barros e sem a obrigação de abrir o carnaval? São Clemente dará a volta por cima com seu grande enredo reeditado? Beija-Flor ou Laíla?

Ao contrário de outros carnavais é difícil apontar uma favorita nesse. Como citado acima tem a briga Laíla x Beija-Flor. Vejo a escola Nilopolitana enfraquecida sem seu grande nome e um grande samba em 2019, arrisca-se apenas a ter a parte ruim do contestado (para mim bom) desfile de 2018, mas é a Beija-Flor né? Convém respeitar e até temer.

A Tijuca aparentemente vem com o que de melhor tinha na Beija-Flor nos últimos anos e nisso inclui o samba que é muito elogiado por todos, mas eu particularmente tenho minhas restrições. Não necessariamente pela obra que é irreparável, mas estou um, pouco cansado de tanto lamento e sambas em forma de oração, queria menos “dividir o pão” e mais “porres de felicidade” na folia.

As duas estão entre as favoritas, assim como o Salgueiro que vem de um período pré carnaval conturbado como poucas vezes teve, mas tem em seu enredo e samba uma força gigantesca. Esses quesitos aliados à vontade que a escola deve estar para mostrar que se inicia uma nova era pode impulsionar a agremiação para a vitória.

Também não descarto a Mangueira, que eu já disse várias vezes ter a música brasileira do ano, e a Portela por sua organização. Parece ser a escola que menos sofreu nesses tempos de crise financeira, se mantendo na ativa sem parar em nenhum momento. Fora o enredo sobre Clara Nunes que deve fazer trovejar na avenida.

Para mim o título sai dessas cinco, enfim, muitas dúvidas, não é? Pois bem, uma certeza tenho: é um carnaval ideológico e não vejo isso como coisa ruim apesar da crítica de Paulo Barros que prefere ver Michael Jackson com Thriller enfiado em tudo quanto é lugar.

Não acho ruim porque o carnaval nasceu disso. Carnaval é a época do povo se liberar, extravasar, criticar e se divertir. O desfile das escolas de samba que, muitas vezes é chapa branca. Também é em muitas contestador. O Império Serrano enfrentava a ditadura com enredo como “Heróis da Liberdade” e desfilava tomando rasantes ameaçadores da FAB (aliás, o Império devia voltar a ser assim, me parece perdido).

Os anos 80 foram o auge desse tipo de carnaval. São Clemente, mais séria, e Caprichosos, mais irreverente, fizeram suas famas em cima da crítica. Quase todas as agremiações em algum momento foram críticas nos anos 80, hábito que foi abandonado com o tempo e volta com Mangueira e Tuiuti.

Não, as duas escolas em si não são críticas: são chapas brancas como todas, uma tem seu presidente político preso e a outra tem em seu presidente uma pessoa que sempre teve cargos nas entidades que representam o carnaval. Fora que é uma agremiação que deve à sociedade, não podemos esquecer de tudo que ocorreu em 2017.

Mas seus principais artistas, Leandro Vieira e Jack Vasconcelos são caras de posicionamento, atitude, e aí vem o mérito das escolas, que podem nessas agremiações “viajar” nesse sentido tendo carta branca para falarem o que quiser.

Não estou dizendo que o carnaval tem que ser de esquerda, nada disso, mas acho sim que o carnaval tem que se posicionar. Seja de direita, de esquerda, centro, de ladinho, ele tem que se posicionar, mostrar que tem opinião, não pode ser o que era, uma coisa que parecia à margem da sociedade, do mundo e por isso foi perdendo o valor. O desfile das escolas de samba sempre foi um retrato de sua época e parece que voltará a ser.

E, confesso, que por tudo isso torço para que as duas escolas se saiam bem em seus desfiles, principalmente a Mangueira que tem um samba que me encanta, me emociona e acho tão necessário para esse momento. Acho também que existe uma certa covardia do mundo do samba em não admitir o peso que esse samba tem. Acho uma atitude medrosa colocarem na frente desse samba outros que tem imensa qualidade, mas todos nós sabemos que a partir de domingo que vem só serão lembrados por aqueles que são fanáticos por carnaval como ocorre todos os anos. O samba da Mangueira era o único que poderia romper essa barreira, mas não irá ocorrer porque o próprio meio teve medo disso.

Brasil chegou a vez de sorrirmos. Vai começar o maior espetáculo da Terra e de coração desejo muita sorte a todas as agremiações, da mais poderosa da Sapucaí e mais humilde do interior do país.

Chegou a luta em que a gente se encontra.

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Imagem: Arquivo Ouro de Tolo