Domingo passado foi segundo turno no Brasil. Costumo votar de tarde quando está menos cheio e tem menos fila, apesar de que quando são só dois candidatos para votar sempre é mais rápido. Faço esse costume dede 1996 feliz, orgulhoso porque para mim voto não é obrigação, é conquista. Muitos apanharam e morreram para termos esse direito, muitos morreram pela democracia.

É… Democracia.

Confesso que não sei muito o que dizer, difícil falar de um momento como esse que foi o mais triste e preocupado que votei até hoje. Não dá pra dizer, é irresponsável dizer que a democracia acabará e começaremos uma ditadura, mas nunca ela esteve tão ameaçada. Em nenhuma eleição até hoje por pior que achássemos algum candidato ou eleito ela esteve em risco, hoje está.

Ditaduras podem começar de várias formas. Começam através de golpes como em Cuba com Fidel e Brasil com Vargas e os militares, mas podem começar também no voto como a da Venezuela tão citada nos últimos tempos. O terror de um governo tirano contra minorias também pode começar no voto como a Alemanha nazista. Todas essas ditaduras, impostas ou eleitas em seu início, tem um ponto em comum. Se aproveitaram da descrença, falta de esperança e medo de parte da população.

Reconheceu-se, leitor? Reconheceu-se, eleitor?

Somos nesse momento um organismo frágil, com anti corpos enfraquecidos e expostos a doenças oportunistas e isso pode nos cobrar um preço muito caro no futuro. Principalmente porque vivemos em um momento egoísta pensando apenas no que pode nos atingir. Eu sou homem branco, hétero, será que terei problemas? Talvez por ser considerado um “escritor rebelde”, mas tem gente que em um governo que desqualifica lutas de minorias o problema pode ser muito grande. Não pensamos nessas pessoas, apenas em nós. Fica difícil pensar que uma pessoa egoísta assim creia em Deus e diga que Ele está acima de todos.

Dessa forma caminhamos e dessa forma fomos para a urna. Como será o amanhã? Não sei. Talvez o presidente eleito me surpreenda, faça um excelente governo e eu tenha que dar a mão a palmatória. Torço muito por isso apesar de não acreditar. Talvez seja só um governo ruim como quase todos foram nas últimas décadas. Mas também pode ser um governo que não respeite as minorias, trate suas causas como mimimi, prometa cadeia para quem pense diferente, ameace o supremo com um soldado e um cabo e sem que a gente perceba toda liberdade conquistada por mutos que não estão mais aqui, muitos que nunca mais apareceram seja perdida por um erro nas urnas. Tomamos uma atitude irresponsável, abrimos a “Caixa de Pandora” quando tivemos diversas opções para não fazer.

Eu vejo Chico Buarque com mais de 70 anos ir para a rua de novo lutar por democracia e fico com vergonha. Eu vejo o Ziraldo que quase morreu, tem mais de 80 falar nitidamente adoentado ainda pedindo de novo, como no tempo do Paasquim, pela democracia e fico com vergonha. Penso em Herzog, Rubens Paiva, Stuart e Zuzu Angel, Ana Lidia e tanta gente que partiu em rabo de foguete e fico com vergonha. Em vez de mudar seu futuro o Brasil resolveu mudar seu passado, reescrever sua história. Não aprendemos nada com os alemãs, nem no 7×1 nem sobre não repetir mais erros históricos.

O Brasil em vez de aprender com os erros resolveu mudar o passado e transformar os erros em acertos.

Caso o o pior aconteça no futuro só posso pedir desculpas muto envergonhado. Desculpas por não ter tido forças para evitar que isso ocorresse. Desculpas aos meus filhos..Mas uma coisa me acalenta, eu não quis isso e lutei contra.

Enquanto for permitindo continuarei usando minha voz e quando não me permitirem mais continuarei usando porque sou teimoso. Até que eu tenha que partir em um rabo de foguete.

Que página infeliz da nossa história.

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