Na última semana saíram duas pesquisas eleitorais de conceituadas empresas, IBOPE e DataFolha falando das eleições presidenciais. Nas duas Lula está disparado na liderança, em uma com 37% e outra 39%, o ex-presidente se aproxima dos 50% dos votos válidos.

É uma situação sui generis porque como todo mundo sabe Lula está preso há quase cinco meses. Cinco meses sem contatos externos, que ouvimos pouco sobre o que vem fazendo, do dia a dia, mas mesmo assim está presente todos os dias em nossas vidas, no noticiário. É sui generis também porque todos nós sabemos, até o petista mais fanático, que ele não será candidato. De que vale então um candidato preso que não terá legalidade em sua candidatura?

Vale muito.

Confesso que achava a tática errada e egoísta. Por que o PT sempre tem que ser o centro das atenções? O cabeça de chapa? Por que insistir numa candidatura que todos sabemos não será homologada, perder esse tempo e não apoiar o Ciro que é o único candidato de esquerda com alguma chance eleitoral? Por que insistir nisso vendo a consolidação de Bolsonaro e um possível crescimento de Alckmin? Sim, não se iludam, ele crescerá. Achava a tática estúpida, idiota, egoísta e que entregava o país para a direita.

Agora confesso que tenho dúvidas se a tática é idiota ou genial.

Sim, porque como eu disse, mesmo quase cinco meses preso por incrível que pareça Lula não para de crescer nas pesquisas. Como eu também citei acima mesmo sem sua presença física não sai do noticiário ainda tendo pontos fortes a seu favor como o artigo no New York Times e a recomendação da ONU que ele participe das eleições. Isso tudo reforça a tese, certa ou não, que ele é um “preso político”, a vítima de um sistema e como a popularidade de Temer cai cada vez mais e as pessoas se lembram que ele que comandou o “golpe” contra o PT e Lula acaba que o e x-presidente vira um símbolo contra tudo que tem no país hoje. Curioso pensar que o PT que esteve treze anos no poder conseguiu virar esse símbolo.

Ninguém fora de São Paulo conhece o Haddad ainda que patina nos 4% de intenções de votos, mas começam a conhecer o “Andrade substituto de Lula”. Nessa tática arriscada o PT vai levar ao máximo a candidatura de Lula mesmo sabendo que não será homologada. Confesso que começo a acreditar que o PT torce por essa rejeição para colar ainda mais a pecha de vítima, de perseguidos do partido e de Lula e aí vão apresentar ao povo mais humilde, que decide eleições e ama Lula, a alternativa ao “mártir impedido de voltar para seu povo”.

Pode ser genial isso porque com certeza Lula transferirá muitos votos para Haddad e Haddad não tem a mesma rejeição de Lula. Esses 4% são ilusórios, Haddad, ou Andrade tanto faz, subirá muito nas pesquisas a partir do momento que deixar de ser o ex-prefeito de São Paulo e virar “o candidato de Lula”. Acredito que dará tempo de chegar ao segundo turno, o que já será muito grande, só não sei se dará tempo de vencer as eleições.

Se isso ocorrer a vitória de Haddad será a maior conquista da vida de Lula e lhe tornará oficialmente a maior figura política da história do país. O homem que se elegeu, elegeu um poste e elegeu outro poste mesmo preso.

Lula é um fenômeno que tem que ser estudado. É atacado pela imprensa há anos, não ganha uma na área jurídica, está preso por corrupção e é amado de forma messiânica por metade do país. Desprezar a força de Lula ou mesmo de Bolsonaro como disse em outra coluna é ser esnobe, é não tentar entender o país em que vive. A inteligência brasileira costuma ser muito burra.

E assim, entre um banho de Sol e outro, Lula pode estar criando a maior jogada política da história.

Quem viver verá.

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