No fim de semana passado foi feita uma minitemporada em Juazeiro na Bahia de uma peça minha chamada “Cabra cega”.
É a minha peça mais política e trata de um homem chamado Majestade, que é demitido de uma fábrica de automóveis depois de 32 anos de trabalho e, no mesmo dia, descobre que um câncer, mantido em silêncio, se espalhou por seu corpo. Em um ato de desespero para proteger sua família, ele decide assaltar um banco no exato momento que um ex-líder estudantil, que virou secretário de um político corrupto se vendendo ao sistema, está no banco transferindo dinheiro de corrupção para um paraíso fiscal.
Do embate desses homens surge uma aproximação e a percepção que os dois foram tragados pelo sistema. É uma peça apartidária, mas completamente política.
Foi feita em 2014 no começo de tudo isso que acompanhamos em 2018. Falaram na Bahia que é um texto visionário, mas não era. O sistema é previsível e tem tanta confiança que anuncia antes o que fará, mostra como age, mas poucos enxergam ou querem enxergar. Por isso o nome “Cabra cega” porque remete a brincadeira de estarmos vendados dando porretadas a esmo. O povo é assim a exceção de pessoas como o dono desse blog Pedro Migão que em 2013 disse tudo que ocorreria.
Por que estou falando tudo isso? Evidente que para fazer propaganda da minha peça que em julho estará em Petrolina Pernambuco e para falar que mesmo tendo sido feita em 2014 esse foi o momento mais importante para ser feita porque nunca precisamos tanto falar de política.
Tudo bem que nesses 518 anos quase em sua totalidade o brasileiro foi plateia e não participante de seu destino, do futuro do país e seu próprio, mas não existem mais desculpas. Nunca foi tão fácil ter acesso a informação, não precisamos mais da mídia oficial, da Voz do Brasil e das sete emissoras de TV aberta para saber o que acontece. Temos a Internet e com ela sites, blogs, canais do YouTube, jornais independentes e de todos os gostos e ideologias para nos informar.
Mas o brasileiro não quer debater política. Ele diz que é um assunto chato e perda de tempo porque todos os políticos são iguais. Novamente é o povo tirando o corpo fora porque se safados e corruptos são eleitos é porque votaram neles e não só votaram como reelegem. As pesquisas para presidente do Brasil e governador e senado no Rio são assustadoras. Os mesmos nomes de sempre e cheios de acusações liderando. Não duvido que Sérgio Cabral se elegesse deputado Federal se pudesse.
Não podemos tirar o corpo fora e fingir que não é com a gente. A alienação só ajuda o sistema e a manutenção do status quo. Quem se omite repassa seu direito a quem ama ou tem interesses.Quem é cabra cega não pode reclamar até porque o pior analfabeto é o analfabeto político.
Chega de morrer na contramão atrapalhando o tráfego.
Twitter – @aloisiovillar
Facebook – Aloisio Villar
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3 Replies to “Cabra cega”

  1. Olá tudo bem Aloisio.
    Acompanho sempre que posso as matérias aqui no predromigao, sou de SP e gostaria se saber se já pensou em escrever um livro com esta abordagem? E qual foi a sua inspiração para essa peça? E tem previsão para a vinda a SP?

    att. dnetinho

  2. Bom dia Dnetinho. A inspiração veio do dia a dia, das notícias que nos abastecem diariamente. Não pensei em transformar em livro, mas é uma ideia interessante.

    Quanto a peça, ela fará Pernambuco agora, mas infelizmente sem previsão de São Paulo ainda.

    Grande abraço

  3. Foi um enorme prazer conhecer uma das melhores obras do renomado escritor Aloisio Villar e poder realizar esse projeto desafiador. Aqui em Juazeiro -Bahia, terra de Ivete Sangalo, Joao Gilberto, Luiz Galvão, Targino Goondim e Daniel Alves a peça CABRA CEGA superou todas as expectativas. Quanto a possibilidade de levar essa montagem aos palcos do Rio ou São Paulo só depende de conseguirmos patrocínio.

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