Não que os leitores tenham sentido muita falta, mas fiquei pouco mais de 100 dias sem escrever neste espaço. Uma rotina insana de trabalho me deixou praticamente sem tempo para outros afazeres.

Além disso, como escreveram o Villar e o Fred, perdi meu pai com um infarto fulminante há 50 dias. A dor é grande, o luto não foi vivido da forma como gostaria/deveria, mas a vida segue.

Retomo minha coluna neste espaço comparando os quadros nas duas finais entre Flamengo e Independiente. As duas equipes decidiram a SuperCopa dos Campeões da Libertadores em 1995, e voltam a decidir a Copa Sul Americana neste ano de 2017.

Politicamente, o Brasil vivia tempos semelhantes. Um governo de cunho conservador e pró mercado começava a empreender uma série de reformas a fim de facilitar “o ambiente de negócios” e dar oportunidades de ganhos aos agentes de mercado.

Além disso, a política econômica visava maximizar os ganhos dos mais ricos e diminuir o dos mais pobres, após a euforia momentânea trazida pelo Plano Real, que debelara a inflação. Também eram tempos de privatizações e de “abertura” do setor petrolífero, com a Petrobras diminuindo sua atuação.

Como vêem, nada muito diferente do momento atual. As diferenças são os ataques mais agudos aos direitos dos trabalhadores e à população mais pobre em geral e o fato do governo atual não ter sido eleito e sim resultado de um golpe de estado parlamentar.

Outra diferença é que o pensamento conservador nos costumes, hoje, está impondo suas crenças/determinações ao conjunto da sociedade. São tempos mais intolerantes e de menor respeito à diferença.

No futebol, o Flamengo especificamente vivia um momento bastante semelhante em muitos aspectos ao atual. No ano de seu centenário, um elenco caro e estelar (até mais que este de 2017) buscava salvar um ano de derrotas com um título em dezembro.

É o mesmo cenário deste final de ano. Um elenco caro – embora não tanto, como me lembrou semana passada o ex-colunista Walter Monteiro no Twitter – buscando salvar o ano com um título e uma vaga direta na Libertadores (escrevo antes do jogo contra o Vitória).

Pessoalmente acho que, com duas finais e o Carioqueta, neste momento podemos dizer que o ano do Flamengo não chega a ser a decepção que se pintava há um mês atrás, mas ainda com um custo-benefício bem aquém do que deveria ser o esperado. Para a atual diretoria a conquista da Copa Sul Americana iria retirar o epíteto de “perdedora” que começa a ser pespegado por torcedores e segmentos de oposição do clube.

Um ponto que melhorou muito de lá para cá foi a venda de ingressos. Para aquela final de 1995 os ingressos foram comprados na hora, em um tumulto absurdo potencializado pelo pequeno número de bilheteiros escalados para trabalhar.

Eu me recordo que meu saudoso pai deu o dinheiro dos ingressos dele, meu e do meu irmão do meio para uma pessoa mais à frente comprar nossos ingressos, olhando para ver se não tomaríamos uma volta. A porrada comendo nas bilheterias, gente assaltando e tomando ingresso, um inferno. Fora as estimadas 40 mil pessoas que invadiram o estádio naquela noite.

Hoje, pode-se criticar o plano de sócio torcedor do clube – eu mesmo sou feroz crítico do modelo adotado – mas o método de compra pela internet e carregando no cartão ingresso eletronicamente é bem mais adequado às necessidades.

Outra diferença importante é no Maracanã. Eu me recordo que a arquibancada balançava tanto embaixo da gente que foi a única vez em que senti medo. A gente pulava no estádio superlotado e a arquibancada impulsionava a gente para cima com sua vibração.

Hoje, o Maracanã pode ser caro, mas é mais confortável e o público fica bem mais perto do campo. Há mais facilidade para se comprar bebida e comida e a entrada e saída do estádio é bem mais tranquila, apesar da visível deterioração das instalações.

Outra semelhança é a Portela. Tanto em 1995 como em 2017 a escola ganhou o carnaval na pista e foi prejudicada por manobras pós desfile. Pelo menos neste ano de 2017 o título foi reconhecido, ainda que dividido.

As diferenças são duas. A primeira, espero que seja o Flamengo sendo campeão, ao contrário de 1995 – com uma arbitragem bem ruim no jogo de volta.

A segunda… não ter meu pai comigo no Maracanã, não fisicamente. Mas como na semifinal contra o Atlético Júnior (fotos deste artigo), ele estará comigo.

P.S. – estive no Fla Memória na sede da Gávea no sábado retrasado. É bacana, mas esperava bem mais.

Imagens: Arquivo Ouro de Tolo e O Globo (Portela)

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2 Replies to “Duas Finais, Dois Mundos (Não Tão) Diferentes”

  1. Pedrão, lamento sua perda. É a vida, é pra todos. E acho linda a forma como vc se refere a seu pai.

    Dito isso, acho que o Flamengo precisa de bem mais para vencer a final. Ou contar com fatores extras, como nos últimos dois jogos (uma brilhante jogada do Vizeu que mudou o jogo de 4a, a incompetência do Vitória no domingo).

    Entre 1997 e hoje tivemos tbm os gordos anos lulistas e a catástrofe dilmista.

    E sinto falta da Vanessa escrevendo sobre a Superliga feminina (e ela não precisa de claque, ela escreve muito bem — além de explorar um nicho que carece de mais notícias).

    1. Acho o Independiente favorito pelo menor desgaste físico na temporada. Mas me parece um confronto ainda aberto.

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