Na última quarta-feira, fui assistir ao jogo de ida entre Botafogo e Flamengo no estádio Nilton Santos, pelas semifinais da Copa do Brasil. Apesar de ser jornalista, fui na partida na condição de torcedora, enfrentando os problemas típicos que um apaixonado por futebol encontra hoje em dia quando deseja acompanhar sua equipe.

O jogo marcava a volta do clássico ao Engenhão, local onde em fevereiro um torcedor do Botafogo morreu vítima de uma briga de torcida antes do jogo. Diego da Silva dos Santos foi assassinado nos arredores do estádio com perfurações causadas por um espeto de churrasco.

Por conta desse episódio recente, o Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (GEPE) reforçou a segurança para o jogo. O efetivo contou com 190 policiais dentro do estádio, além de 180 homens no entorno e mais 600 agentes de segurança contratados pelo Botafogo.  E foi por conta desse reforço na segurança e a importância da partida, que tive coragem pela primeira vez de ir um Botafogo x Flamengo.

Como os jogos das semifinais serão disputados em locais diferentes (a segunda partida será disputada no Maracanã na próxima quarta), ficou acertado que para o primeiro confronto com o mando do Botafogo, a torcida alvinegra teria direito a 90% dos ingressos contra 10% para a torcida do Flamengo.

Para os torcedores do Botafogo, os tickets custavam entre 10 reais (meia-entrada no setor Norte) e 50 reais (inteira nos setor Oeste, tanto superior quanto inferior). Para o Flamengo,  o bilhete custava 40 reais (inteira no setor sul).

Como sou sócia-torcedora do Botafogo, não encontrei dificuldades para garantir o meu ingresso para a partida. Pelo sistema, tenho direito a comprar pela internet maneira antecipada. Todavia, o torcedor que não é sócio não tem as mesmas facilidades. A venda para os não associados abre primeiro na web e só depois nos postos físicos.

No entanto, os alvinegros que optam por comprar online, além de pagarem uma taxa de conveniência precisam retirar o ingresso na bilheteria em horário comercial, o que não é muito prático. No início do ano, essa retirada em um posto físico não era necessária: bastava apresentar na catraca o e-ticket. Contudo, algumas pessoas começaram a fraudar esse sistema,  imprimindo várias vezes o papel e tentando ingressar no estádio com o mesmo código de barras. Assim, para evitar problemas, o Botafogo e a Guichê Web (empresa que vende os ingressos) tiveram que mudar o sistema de venda.

Para a torcida do Flamengo foram destinados 3800 ingressos mais 200 gratuidades. Os bilhetes só começaram a ser vendidos na última terça-feira, véspera do jogo. A diretoria do rubro-negro chegou inclusive a acionar o Superior Tribunal de Justiça Desportiva por conta da demora na venda de ingressos para a torcida visitante, mas retirou o pedido no dia seguinte.

Na quarta,  saí com um grupo de amigos do meu trabalho, na Barra da Tijuca, em direção ao Engenho de Dentro às 19h45. Com a chuva que caiu à noite, o percurso que costumo fazer em cerca de 45 minutos de Uber demorou um pouco mais: uma hora.

Na rua Henrique Scheid, que dá acesso ao setor Norte do estádio onde costumo ficar, já pude notar a maior presença de policiais nas ruas, inclusive com membros da cavalaria.

Cheguei no estádio faltando cerca de cinquenta minutos para a partida e a entrada foi tranquila, sem maiores filas e tumultos. A revista, no entanto, achei mais rigorosa do que as últimas vezes: tive que mostrar e explicar todos os itens que estavam na pequena mochila que levei e precisei abrir também as necessaires que levei com remédios e objetos de higiene pessoal. No entanto, a revista não foi abusiva comigo, apenas cumpriu o seu papel.

No lado contrário, os torcedores do Flamengo encontraram dificuldades para entrar no setor Sul. Houve tumulto, os portões chegaram a ser fechados e muita gente só entrou no fim do primeiro tempo. Segundo o major Silvio Luiz, o problema ocorreu porque os flamenguistas demoraram muito a entrar no estádio.

No setor Norte,  as filas para ir ao banheiro feminino e para se alimentar  não estavam grandes meia hora antes de a partida começar e no intervalo. Nos jogos da Libertadores, por exemplo, o tempo gasto era bem maior. Durante o intervalo, também pude observar a presença de funcionários da limpeza no banheiro, o que ainda não tinha visto em outros jogos.

Dentro do estádio, algumas medidas de segurança também podem ser observadas. O tradicional churrasquinho, por exemplo, não é servido no palito e sim em uma embalagem de papelão com uma colher. Custa 7 reais. Confesso que não é fácil comer assim, mas foi uma medida necessária para evitar que os espetos de madeira fossem usados como “arma” entre os torcedores. Aqui, cabe ressaltar que isso já funciona assim há algum tempo, não foi uma medida exclusiva de segurança para esse clássico.

Um problema recorrente nos jogos no estádio Nilton Santos é a internet. Mesmo com o patrocínio recente da TIM ao Botafogo, o estádio não dispõe de uma rede wifi . Sempre encontro dificuldades para receber simples mensagens de Whats App durante a partida, especialmente no intervalo. Vídeos e fotos então, nem pensar.

Naturalmente, um clássico é uma partida que desperta mais tensão nos torcedores. Senti um clima diferente na arquibancada conforme o jogo ia se desenrolando e o resultado favorável não vinha (no caso, para o Botafogo). As pessoas vão perdendo a cabeça e não é raro ver discussões nas arquibancadas.

Para evitar o encontro dos torcedores rivais e um possível confronto entre eles, algumas medidas de segurança também são adotadas . O único telão do estádio informa, por exemplo,  que a saída da torcida do time visitante deve ser feita até os 40 minutos do segundo tempo ou então apenas após a liberação da PM.

E foi a saída justamente o meu maior problema no jogo. Descer as rampas do Engenhão e chegar até a área externa do estádio não foi difícil, mas o caminho até o transporte, sim. Fiz o mesmo caminho de quando cheguei, só que no sentido contrário, é claro. Geralmente, saio do estádio, caminho pela rua Henrique Scheid até a Dom Hélder Câmara para pegar um táxi.

Percorrendo a rua, no entanto, percebi que o clima não era dos melhores. A passagem dos torcedores já fica complicada porque passam carros na via, que é muito estreita e não sofre interdições durante os jogos. Na Henrique Scheid, achei o efetivo policial bem menor do que na ida. Presenciei um tumulto que gerou correria (não consegui identificar a origem da confusão). Vi também um torcedor arremessando uma garrafa de cerveja contra uma viatura da Guarda Municipal. Consegui “escapar” pela rua paralela, que estava bem mais calma, mas também não vi policiamento por ali.

Entrei no táxi nessa rua paralela mesmo (Comendador João Carneiro de Almeida). Já dentro do carro comecei a receber mensagens de conhecidos informando que a confusão no setor Norte estava bem maior. Felizmente, eu já estava segura.

Mas mesmo dentro do próprio táxi tive problemas para chegar em casa. Depois de deixar um amigo em São Cristóvão, fui para o Jardim Botânico, onde moro. A escolha natural seria pegar o Túnel Rebouças. A via, contudo, estava fechada para manutenção e foi necessário dar uma volta bem maior passando pelo Santa Bárbara para chegar ao meu destino por volta de meia noite e meia.

Infelizmente, a lição que tirei desse episódio é que, mesmo com a segurança reforçada, ainda é bem perigoso assistir a um clássico no Rio de Janeiro.

Imagens: Ouro de Tolo

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