Conforme prometido semana passada, vamos falar desse caso.

Bruno, o goleiro, foi solto. Era previsível que uma hora ou outra fosse solto. Não que ele seja filiado ao PSDB, mas nossa justiça é cheia de atenuantes para quem comete crimes, temos leis que evitam ao máximo que alguém vá para a cadeia e, quando vai, que tenta ao máximo que fique o mínimo possível.

Mas, mesmo sendo algo já esperado, assusta, desanima e nos faz desacreditar mais ainda nesse país que anda com menos moral que o Celso Roth. Só que esse é um caso que mostra bem o que é o Brasil de hoje. Costumamos culpar os outros pelo Brasil quando o Brasil somos nós.

Ficamos furiosos com a justiça, com suas falhas e morosidade. Morosidade tamanha que soltou um assassino sem nenhum pingo de arrependimento, um sujeito frio, que manda matar, esquartejar e não tem a dignidade de ao menos dizer onde estão os restos mortais da vítima, porque seu recurso não foi julgado e, assim, um ministro do STF, meio que como querendo dar uma reprimenda no juiz molenga, resolve soltar o facínora. Ficamos chocados, revoltados com toda razão, mas amigos, o Brasil somos nós, ao mesmo tempo em que ficamos chocados, ficamos constrangidos quando alguns de nós tratam o bandido como ídolo.

Alguns doentes que torcem pelo Flamengo pedem a volta do goleiro e sentem saudades dele, desculpem, mas eu não consigo separar o excelente goleiro que foi do que ele fez. Meu time campeão de 2009 começa do lateral-direito e hoje posso dizer que preferia que o Flamengo não fosse campeão brasileiro de 2009 para não ter o Bruno como capitão erguendo a taça.

Esses doentes são tão burros que não veem o mal que esse bandido faz à imagem do clube, até hoje associam o Bruno ao Flamengo, até hoje falam “O goleiro Bruno, ex-Flamengo”. Imagem maculada, manchada que a  muito custo vem tentando ser limpa.

Mas não basta isso que já é uma bizarrice, mas uma bizarrice menor vindo de imbecis que torcem e torcedor ainda consegue ter seus atenuantes na paixão pelo clube. Piores são os que não tratam como ídolo, mas tratam como celebridade, superstar. Bruno sai em todos os jornais, revistas, posa no novo time, posa com a nova esposa, é filmado nos treinos, até eu talvez esteja cometendo um erro já que também abro espaço aqui para falar de um homem que devia ser esquecido, mas pelo menos a imprensa tem a desculpa de fazer seu papel. E os doentes mentais que tiram fotos com ele? E as mulheres sem nenhum pingo de amor próprio ou solidariedade com uma delas que poderia ser uma delas que tiram fotos sorridentes ao seu lado? E os pais que levam filhos para pegar autógrafo e também fotos? E o cara que tirou foto com máscara de cachorro?

Não são juízes, não são governantes, não são torcedores irracionais, são pessoas comuns como nós, comuns, normais em seu dia a dia, são parte de uma sociedade doente e que gosta de posar de vítima como a nossa. Uma sociedade que finge se indignar, que acusa um problema sem se assumir parte dele. É o que faz pequena corrupção no dia a dia e reclama da grande corrupção, é aquela que adormece no Jornal Nacional  como um Homer Simpson e como gado vai para a janela bater panelas, faz o serviço sujo a que é teleguiada e depois silencia quando direitos são tirados enquanto avançamos para o retrocesso. Somos as crianças robotizadas em “The Wall”.

A sociedade que bate panelas é a que silencia, que reclama do lava-jato e dá cerveja pro guarda, que reclama do Bruno solto e tira foto com ele e o pede no gol do Flamengo. Os juízes, governantes, todos fazem parte da sociedade, não são eles e nós, somos todos nós, fazem parte de um meio que apodrece.

O Bruno é símbolo disso. Bruno ser contratado por um clube de futebol e voltar a jogar também. Nada irá simbolizar mais o Brasil de hoje que quando o Bruno pegar um pênalti e a TV mostrar isso na parte de esportes. Amigos, a vida real é diferente. Aqui, o mal vence.

Bruno nada mais faz que expor as falhas de nossa defesa.

O goleiro de uma sociedade doente.

Twitter – @aloisiovillar

Facebook – Aloisio Villar