Uma vez ouvi de alguém – e não lembro quem disse – que o Império Serrano tinha compromisso com o fracasso. Certamente uma opinião agressiva e deselegante mas,em num momento de autocrítica, a ser considerada sob certo ponto de vista.

Sim, o Império é uma escola que, diversas vezes, teve a si mesma como maior adversária. Brigas internas, disse-me-disse, ações judiciais, renúncias, afastamentos voluntários ou compulsórios.

E, sim, o Império precisa rever discursos para mudar rótulos. Olhar para dentro pode ser bem mais difícil que apontar o dedo para fora.

Bem, esse não parece o discurso de uma agremiação que acaba de conquistar um título, de retomar seu espaço perdido havia oito carnavais… São contradições desses fieis que o olhar forasteiro classificou como “comprometidos com o fracasso”. Talvez se tivesse dito derrota…

Perdemos. Muitas vezes. Muitas vezes de forma injusta. Muitas outras com inteira justiça porque erramos. E não é que tenhamos nos acostumado. É que se criou uma casca, carapaça, armadura. A dor te deixa meio imune. A derrota te faz valorizar mais a caminhada e menos o destino final.

A ideia sobre esse texto (que, afinal, comemora nosso aniversário) veio no último sábado, durante a Feijoada… da Vitória (?!?!). No palco, Marquinho Art´Samba (que voz, que presença, que bom tê-lo conosco) emendava “Estrela de Madureira” com “Fala, Serrinha, a voz do morro sou eu mesmo, sim senhor”.

O primeiro samba enredo nunca passou na Avenida. Foi derrotado no concurso interno de 1975. O segundo passou. E não levou o Império ao acesso em 1992. Por que cantar sambas que não representam campeonatos, títulos, vitórias?

Instantaneamente, ao ouvir toda a quadra e a mim mesmo, vozes embargadas, acompanhar cada verso, veio a resposta. Ainda que tenhamos o maior orgulho de nossos nove campeonatos no grupo principal e dos, agora, quatro troféus do Acesso, celebramos muito mais o que somos do que aquilo que possuímos.

O Império é uma escola comprometida consigo mesma. Com a sua história. Com tudo aquilo de bom e ruim, de alegre e triste, de vitória e derrota que a vida nos traz. Ao se olhar no espelho, vê refletidas algumas rugas, cabelos brancos, o sinal da luta e da passagem do tempo, sem maquiagem ou retoque digital de imagem. Não é bonito, nem feio.

É real. É real minha coroa, sou rei.

Afinal, pesam mais resultados de uma quarta-feira de Cinzas ou o que resulta da dedicação de todos os outros dias do ano? Todo dia é dia de exaltar Castro Alves, Tiradentes e outros  tantos heróis da Liberdade. De pintar uma aquarela ou dançar lindas valsas ao amanhecer. De cobrar democracia ou cobrir de beijos (etc e tal) a quem se ama.

Todo dia é dia para exaltar a Bahia, São Paulo, Pernambuco ou todo o Nordeste, seu povo, seu canto, sua glória. Os imigrantes ou Jorge Amado. Ariano Suassuna ou Manoel de Barros. Dona Ivone ou Silas. E todas as mães baianas. Carmen Miranda ou Carmen Miranda outra vez, no balanço do coração.

Verde e branco com orgulho. E emoção.

Só não é todo dia que um menino faz 70 anos. Hoje tem festa no Planeta Carnaval. Avise ao navegantes…o Império vem aí. Comprometido com sua gente. Que tem fé e não cansa. Que abraçou a coroa imperial e a carregou nos braços até aqui.

Imagem: Ouro de Tolo

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One Reply to “Império Serrano, 70”

  1. Parabéns ao glorioso Império Serrano! Bem que a escola podia aproveitar e terminar a comemoração dos 70 anos fazendo desse o enredo de 2018! Comemoraria fazendo um grande desfile, embalado por um belíssimo samba do se Deus quiser recuperado e revigorado Arlindo cruz e garantindo sua presença no Grupo Especial para dele não mais sair. Quem sabe?

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