Queridos leitores do Ouro de Tolo, hoje, quinta-feira, que me sinto à vontade para falar de algum tema que não seja a grande tragédia que nos acometeu.

Acredito que o Brasil, como um todo, tenha sentido – uns mais, outros menos, mas o lamento e a tristeza tomaram conta de quem acompanhou os noticiários, redes sociais, etc. Para quem gosta de futebol, como eu e o Editor Chefe, foi um impacto muito grande.

Além de termos perdido vidas, parece que perdemos alguém próximo do nosso cotidiano. O que mais dói nisso tudo é que, com o perdão da má palavra, foi de uma forma idiota, por inconsequência de alguns.

Pessoas que estavam trabalhando, felizes, perto de realizar um sonho não só seu, mas de uma cidade inteira, pessoas que fizeram o Brasil afora se encantar e lutaram pela América do Sul hoje são reconhecidas no mundo todo. Fizeram história, infelizmente, não em circunstâncias tão boas.

nacionalMas tivemos o lado bom nisso tudo, tivemos esperança. Foram tantas demonstrações de amor, carinho e solidariedade que recebemos pelo mundo todo – especialmente dos Colombianos e do Nacional, que tudo isso fez a tão famosa frase “não é só futebol” ganhar todo sentido para quem antes não compreendia. A maioria do Brasil e do mundo nos apoiou.

Digo a maioria porque nossas autoridades se aproveitaram do luto e da dor nacional, para, na calada da noite, golpear o povo mais uma vez. Demonstrando total falta de respeito e caráter, para não usar palavras piores, nossos parlamentares aprovavam medidas que podem destroçar o país.

Não conformados com isso, fazem questão de demonstrar que não vivemos em uma democracia plena, espancando estudantes e pessoas que foram protestar. Tudo isso enquanto vivíamos a dor da maior tragédia do futebol e do jornalismo brasileiros.

Outras decisões um tanto quanto polêmicas foram tomadas, como a liberação do aborto até três meses. E é sobre isso que venho me posicionar hoje. Não falei disse em redes sociais, mas tenho uma opinião sobre.

Primeiro, é bom esclarecer que sou cristã, mas não vou discutir o aborto sob o ponto de vista religioso e sim como problema de saúde pública e social. E acredito que é dessa forma que as discussões devem fluir e as decisões serem tomadas, sem a interferência de quaisquer religiões.

Sou contra o aborto; as exceções ficam por conta de caso de estupro ou risco de saúde para a mãe ou o bebê. É inegável que muitas mulheres morrem em clínicas clandestinas; mãe e filho sofrem na mão de açougueiros. No entanto, legalizar o aborto, na minha visão, é compactuar com a irresponsabilidade de muitas pessoas. Digo de muitas pessoas porque algumas mulheres o fazem como quem toma a decisão de trocar de sapato. Mas é claro que há casos e casos.

camisinhasNos postos de saúde, são distribuídos preservativos, mas, infelizmente, o brasileiro não tem a cultura de usar e isso também é um problema de saúde pública. O caso é que se você ignora o uso do preservativo, engravida e quer tirar, você é sim irresponsável, por que temos que medir a consequência dos nossos atos. No entanto, métodos contraceptivos falham.

E aí, é prudente liberar o aborto nesses casos? Eu acho mais prudente darmos outro tipo de suporte às mulheres. Não quer ter o filho? Dê para adoção. Mas para isso, é necessário que as casas de adoção recebam suporte do governo. É necessário que haja um apoio financeiro e psicológica para que mulheres sem condições possam levar a gravidez adiante, para depois entregar à adoção. É necessário que os postos de saúde ofereçam pré natal de qualidade.

Por que não investir na qualidade de vida em vez de tirar a vida? Nós cobramos das mulheres que elas não abortem, mas o país não dá o mínimo de suporte a elas e nem às crianças que nascerão. Muitas mulheres que não querem os filhos é porque não podem criar e nós não podemos fechar os olhos a essas crianças, que podem ficar à mercê da Violência, da fome e de outros males.

Somos tão insensíveis com essas mulheres que a tratamos com irresponsáveis por terem engravidado, a julgamos por querer abortar, mas não ajudamos a lutar por justiça, por direitos, por um governo que olhe para essa questão da qualidade de vida, oferecendo alternativas que sejam melhores que o aborto. Irresponsáveis são os que tem a informação, mas não usam camisinha porque não querem. Quem engravida por falha nos métodos não tem culpa.

Devemos repensar essa questão do aborto e acho que os debates não devem girar em torno de “meu corpo, minhas regras”, “Fez, assume”, “Meu útero não é cemitério” “É contra aborto, mas já tomou dia seguinte”, etc. Acho que os debates devem girar em torno de buscar soluções mais viáveis que o aborto, que mesmo que feito de forma legal, é doloroso e arriscado. Estamos tentando de vidas, não de objetos.

#ForçaChape

Imagens: Arquivo Ouro de Tolo

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