Eu admito que sou um “fã de esportes”.

Todo mundo tem suas emissoras de TV preferidas. Durante muito tempo, quando ainda não existia TV por assinatura, as pessoas deixavam a TV na Globo por costume, mesmo quando não tinham nada para ver. Eu faço isso com a ESPN.

Gosto do estilo do canal. Aprecio o SporTV, mesmo com o canal por vezes ser “festivo” demais, não gosto da Fox e seus comentaristas que gritam e adoram polêmicas e gosto do estilo combativo da ESPN. A ESPN faz o jornalismo como eu acho que tem que ser. Independente, investigativo, apesar de achar que de vez em quando exagera.

Mas confesso que já gostei mais. Gostava antes de o João Palomino assumir o comando e transformar o canal num gigantesco “Bate bola debate” com pequenos intervalos para passar Premier League e NFL.

Com o tempo, perdeu gente como Lúcio de Castro, Flavio Gomes, o grande PVC e perdeu um pouco seu estilo. Ainda mantém seu lado combativo, investigativo, mas está um pouco mais ameno, até mesmo engraçadinho. Não nego que gosto uma boa parte do tempo do jeito de pessoas como Ale Oliveira, mas tem hora que cansa e queremos ver jornalismo, não só piadinhas, extraordinários da vida ou cavalinhos correndo no Fantástico. Jornalismo e entretenimento às vezes até podem se completar, mas não são a mesma coisa. Não podem ser.

Esse lado combativo recebeu mais um duro golpe com a demissão de José Trajano da ESPN.

Trajano por muitas vezes foi chato, ranheta, irritou, mas é o jeito dele e ninguém consegue agradar por todo o tempo. José Trajano é um apaixonado por esportes, por jornalismo e as pessoas apaixonadas, intensas merecem ser ouvidas mesmo que não concordemos com elas.

Além de tudo, Tajano é corajoso. Hoje em dia tem que ter muita coragem para assumir em público um modo de pensar diferente da maioria. Vivemos uma era de ódio, intolerância, na qual o mais fácil é pensar dentro da caixinha, ir no embalo da maioria. José Trajano é resistência, não abre mão de seu modo de pensar, sua opinião mesmo que contrarie a maioria, poderosos ou os chefes. Tem coragem de criticar a emissora que trabalha por receber Danilo Gentili, tem coragem de posar ao lado de Lula mesmo com todas as acusações que recebe, discute no ar, esperneia, é duro, mas todos falam que é gentil, o melhor chefe que alguém poderia ter.

Foi chefe, inaugurou a ESPN no Brasil, implantou o jornalismo esportivo investigativo e premiado na emissora e, como um Steve Jobs, foi demitido do lugar que criou.

Ele tem traços em comum com Jobs como a loucura. Só um louco cria, inova em uma época de preguiça de criação, atitude e pensamento. Só um louco não acompanha a manada, não aceita ser um daqueles alunos robotizados de “The wall”, enfrenta o sistema, o “Sim, senhor” e dá uma banana para o status quo.

Daí vem minha admiração por Steve Jobs e por José Trajano. Não concordava com muitas análises que fazia, mas admiro sua coragem e valentia. Trajano é da velha guarda. Jornalista das antigas, daqueles de frequentar botecos, torcer pelo America, ranzinza, afável, um tipo de jornalista que não se faz mais, do tipo que não foge do bom combate e sabe que jornalismo não se faz com piadas.

Foi vítima do sistema, tragado pelo status quo. Trajano é vítima de uma época em que um jornalista critica um dos Bolsominions por querer atrelar a bolsa família a ligadora de trompas e vasectomias e o mesmo recebe uma enxurrada de ofensas. É vítima do marcartismo versão século XXI. Uma perseguição a quem pensa diferente e tem coragem de contestar, assim como o Sidney Rezende sofreu na Globonews. Tudo hoje gira em torno de comércio, negócios, business, parcerias e os grandes veículos de comunicação antes de tudo são grandes empresas que precisam dar lucro e, para isso, agradam a seus parceiros.

Vivemos uma época em que calam José Trajano, elegem como prefeito um Tiririca de pulôver e o dono desse blog quer escrever sobre política e não escreve por medo. Vivemos realmente uma era democrática? Na democracia todos podem pensar e agir como bem entendem e não é isso que vivemos hoje em dia.

A guerra não acabou, Trajano. Lamba as feridas e volte para a batalha porque precisamos de você.

Somos loucos e temos pena de quem não é.

Twitter – @aloisiovillar

Facebook – Aloisio Villar

[related_posts limit=”3″]

2 Replies to “Tributo a José Trajano”

Comments are closed.