É, meus amigos, que ano difícil…

A partida de Carlos Alberto Torres após um infarto pegou todos de surpresa, ainda mais aqueles que, como eu, eram seus colegas no SporTV. Sim, orgulhosamente posso dizer que fui colega do Capita, afinal, integro nos fins de semana de plantão a equipe do Troca de Passes, que o tinha como participante fixo aos domingos.

Conosco, o Capita era sempre o mesmo: gentil, agradável e um bom contador de “causos” nas refeições que fazíamos antes do programa, que começa quase sempre às 20h30.

fredcapita2Ele nunca disse abertamente a mim se era tricolor ou botafoguense. Há quem jure de pés juntos que o coração dele era alvinegro como há quem garanta que o time do Capita era o Fluminense.

Bem, rubro-negro que sou, ignorei a “polêmica” e num desses lanches pré-Troca perguntei sobre o título brasileiro de 1983, que, para quem não lembra ou sabe, teve Carlos Alberto Torres como técnico do Flamengo.

Contextualizando: o time andava em crise, já que Carpegiani havia ido embora para o exterior e Carlinhos não dera certo. No meio do Brasileirão chegou o Capita, que nunca fora técnico. Ele mexeu bastante no time, mesclou os craques do título mundial de 1981 e a molecada que aparecia. Na estreia, 5 a 1 sobre o Corinthians e duas partidas depois, uma declaração do Capita deu o que falar:

“No meu time, é Bigu e mais 10!”

Bigu era um volante novato que vinha tendo boas atuações e, como sempre acontece no Flamengo, acabou inflado à condição de grande esperança. Depois acabou não vingando, e certa vez disse que essa declaração do Capita não o havia ajudado. Perguntei a ele sobre isso.

“Não queria atrapalhar o menino. O que aconteceu é que um repórter chato pra c… queria arrancar no grito a escalação, aí falei essa do ‘Bigu e mais 10’. Mas eu saí do Flamengo uns meses depois e o Bigu, que era promissor, não foi muito aproveitado.”, me explicou o Capita.

Sobre Zico, ele falou:

“Logo de cara eu dirigi o Zico, que foi um dos maiores do nosso futebol. Na semana da final contra o Santos ele tava machucado e praticamente só ele e eu sabíamos que dificilmente ele jogaria. A gente escondeu de todo mundo, e graças a Deus ele jogou e meteu um gol logo com 40 segundos. Com aquela torcida, 150 mil pessoas, eu tinha certeza de que seríamos campeões”.

Nos últimos meses, o Capita vinha reclamando apenas de dores no joelho, mas nunca deixou de pintar nos estúdios do SporTV para suas participações no Troca ou eventualmente em outros programas como Redação e Seleção.

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Estava animado por participar das reuniões recentes promovidas pela CBF para “melhorar o futebol brasileiro”, mas, acima de tudo, feliz com a recuperação da Seleção Brasileira comandada por Tite.

Apesar da tristeza pela morte do irmão gêmeo Carlos Roberto há um mês, não dava indício algum de que nos deixaria… Tanto que sempre falava das próximas participações em programas da casa.

Infelizmente não houve sequência nisso… Não gostaria que fosse assim, mas posso dizer que comemorei com ele seu último aniversário, que caiu num domingo (17 de julho). Fizemos uma surpresa para ele no fim do Troca de Passes com a reexibição do gol antológico na final de 1970 e uma deliciosa torta de chocolate providenciada pela querida colega Maria Clara.

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Pena que não foram “muitos anos de vida”…

Adeus e obrigado, Capita!

Imagens: Trivela e Arquivo Ouro de Tolo

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2 Replies to “Eterno Capita”

  1. Um gênio com a bola nos pés e que realmente conhecia de futebol, diferente de muitos. DEP, Capita!

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