A principal pergunta no futebol brasileiro nas últimas semanas foi:

Onde o Flamengo arrumou tanto dinheiro?

Pudera. O Rubro-Negro da Gávea foi o clube que melhor se saiu no período de abertura da janela internacional, contrariando uma tradição antiga dele. Nessa janela, vieram o zagueiro argentino Donatti, o atacante Leandro Damião e a grande contratação do ano no futebol brasileiro, o meio de campo Diego.

A imprensa, principalmente a paulista, se pergunta: como? Discursa acusando a direção do clube de cometer loucuras e comprometer a sua já famosa política de austeridade financeira. Os salários dos jogadores rubro-negros são os mais conhecidos do mundo, até uma criança de três anos sabe quanto ganham por mês Paolo Guerrero, Leandro Damião e Diego. Críticos de futebol, como por passe de mágica, se formaram em economia na USP e no meio da crise financeira que atravessa o Brasil já pleiteiam vaga na Gazeta Mercantil.

Vamos lá. No passo a passo.

De fato o Flamengo montou um bom elenco. Tem defeitos ainda, evidentemente, mas para o nível atual do futebol brasileiro e até mesmo sul-americano está ótimo. A torcida reclamou durante meses da inércia dos dirigentes ao contratar, com razão por sinal, e eles resolveram agir, acabando com carências em algumas posições e provocando briga de posições em outras.

Não vejo nenhum super craque como Alex, Edilson e Pet em 2000, Edilson e Pet em 2001, Adriano e Pet em 2009 e Ronaldinho Gaúcho em 2011, mas vejo, sim, esse elenco como o melhor do Rubro-Negro neste século, talvez o melhor desde o pentacampeonato de 1992. Tem jogadores ruins? Que o melhor seria que víssemos longe? Tem, mas todos os elencos tem, até Barcelona e Real Madrid tem seus “cabeçudos”. Não é o ideal, mas pela falta de dinheiro em nosso futebol e o excesso de competições e viagens que existem hoje em dia, é necessário que tenhamos elencos fartos em quantidade e é impossível em um grupo assim só ter bons jogadores.

Não dá para negar que Alex Muralha, Rodinei, Juan, Réver, Donatti, Jorge, Cuellar, William Arão, Canteros, Alan Patrick, Mancuello, Diego, Everton, Ederson, Marcelo Cirino, Emerson Sheik, Felipe Vizeu, Guerrero e Leandro Damião no papel são bons jogadores. Alguns estão em má fase, mas já tiveram bons momentos no futebol e podem voltar a ter. Acredito que o Flamengo hoje brigue com o Santos para ter o terceiro melhor elenco do Brasil, abaixo de Atlético Mineiro e Palmeiras. Tem mais bons jogadores que o Santos em quantidade, mas não tem jogadores do nível de Lucas Lima e Gabigol, então acho que brigam pelo terceiro. O desafio fica para o treinador Zé Ricardo colocar em boa fase e de forma confortável dentro de seu esquema tático a maioria desses jogadores possíveis. De preferência também escalar os melhores e não inventar nomes como Márcio Araújo e Fernandinho.

Voltando à pergunta recorrente da pergunta dos jornalistas esportivos / econômicos. De onde vem tanto dinheiro?

É simples. É só usar a fábula da cigarra e da formiga. Enquanto várias equipes foram cigarras e gastaram de forma irresponsável, como o próprio Flamengo fez muito, o Rubro-Negro “fechou o cofre”. Passou dois anos gastando pouco, montando equipes medianas, pagando dívidas, fazendo acordo em outras, recuperando seu nome, a credibilidade em bancos e renegociando contratos, arrumando patrocínios milionários e fechando grandes contratos de televisão. Agora chegou a hora de a formiga respirar um pouco enquanto algumas cigarras chegam à dívida de perto de 1 bilhão tendo que pagar estádio caríssimo e vendo seus principais jogadores indo embora.

Tenho muitas restrições esportivas em relação à diretoria do Flamengo. Fiz algumas colunas aqui falando sobre isso, mas financeiramente não tenho nada a dizer, confio nos dirigentes e se eles falam que vão pagar, tenho certeza de que vão. Na época da contratação do Guerrero, a mesma pergunta foi feita, houve piadinhas de que rolaria atraso de salários também e nesse um ano do peruano no clube não se ouviu nenhuma notícia de atraso de salários.

E mais. Enquanto o São Paulo, por exemplo, gastou 22 milhões em um zagueiro que foi expulso e deixou o clube na mão em uma semifinal de Libertadores, o Flamengo não gastou um real de transferência contratando Guerrero, Arão, Leandro Damião e Diego. Aproveitou oportunidades de mercado, fins de contrato, negociou, esperou pacientemente que jogadores negociassem e o que gastaria em transferência pagou em luvas aumentando os salários.

Saiu recentemente no Globo Esporte.com que a dívida de 750 milhões cairá no fim desse ano para 400 e com o aumento significativo de “entradas” pela primeira vez em décadas o Flamengo chegará ao “Um pro um”, isto é, terá um lucro anual do tamanho de sua dívida total. Resumindo, se usasse todo o dinheiro que entrará em 2017 para pagar sua dívida, pagaria. É um dos poucos clubes do Brasil, se não o único, a alcançar isso e é o que mais reduz dívidas e lucra atualmente.

O futuro do Flamengo é promissor. Com todas essas boas notícias econômicas e os jogadores de peso vido para o clube, recebendo em dia e sendo tratados de forma profissional, outros jogadores também se interessam em jogar no Flamengo. A tendência nos próximos anos é diminuir ainda mais a dívida, aumentar o lucro e a chegada de novos jogadores de qualidade para virar um dos clubes dominantes do futebol nacional.

Só não pode cometer erros graves como o cometido esse ano em não se prevenir com fechamento de Maracanã e Engenhão para a Olimpíada e assim ficar sem estádio no Rio. Por mais que o Flamengo lote estádios pelo Brasil e lucre, existe, sim, um prejuízo esportivo. É o único clube do mundo que não atua em sua cidade de origem. Viaja, não consegue treinar, cansa e assim compromete seu rendimento. Por isso não acredito que o Flamengo brigue por título brasileiro. Sua briga é pelo G4 e a conquista da Copa Sul-Americana.

Ir para a Libertadores de 2017 é fundamental para esse novo momento do Flamengo. Mantendo o elenco que tem, liberando uns seis jogadores e trazendo um segundo atacante de qualidade, a torcida do Flamengo pode voltar a sonhar com a conquista desse título de uma forma que desde os anos 80 não seria tão real.

De “Flalido” a “Flamengo ostentação”. A vida muda de minuto a minuto.

Chegou a hora de a formiga cantar.

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