Eu tenho uma tese e já falei algumas vezes sobre.

Pessoas talentosas existem e existiram muitas no mundo; geniais nem tanto, mas sim tivemos uma boa quantidade. Mas quem muda o mundo ou a sociedade em que vive não é o gênio: é o inconformado. O inconformado genial então não muda a história: ele faz a história.

Admiro as pessoas talentosas, admiro os gênios, mas admiro ainda mais o inconformado. Aquele que a cada dia tenta não só superar os outros, mas a si mesmo. Aquele que quer deixar sua marca na história, que quer que sua importância seja tão grande ao ponto que o mundo ou mesmo seu bairro não pudessem ser os mesmos se ele não tivesse existido.

Falo isso tudo para escrever sobre um cara. Cristiano Ronaldo.

Apesar de ser um homem bonito Cristiano Ronaldo é o “patinho feio” do duelo entre super craques do futebol mundial. A mídia ama Messi, idolatra Messi, chega ao ponto de dizer que ele pode ser melhor que Pelé. Cristiano Ronaldo é o vaidoso, egocêntrico, marqueteiro, o metrossexual que só pensa em si, que passa a partida inteira olhando um telão, ajeitando o penteado e nasceu para ser o eterno vice de Messi.

during the UEFA Champions League Final match between Real Madrid and Club Atletico de Madrid at Stadio Giuseppe Meazza on May 28, 2016 in Milan, Italy.

Para muitos CR7 (tão marqueteiro que transformou o nome em sigla) é o Coyote do Messi, o Tom, o Frajola: é aquele vilão burro de desenho animado que tenta pegar o Beep Beep, Jerry, Piu Piu, mas sempre se dá mal. Alguns ainda conseguem ter pena dele. Dizem que deu azar ao ser contemporâneo de Messi.

E sempre gostei de ser do contra e nesse assunto também sou e serei agora. Numa disputa de par ou ímpar para montar um time de futebol se eu ganho escolho sem pensar duas vezes CR7. Para mim Cristiano Ronaldo é mais importante na história do futebol que o Messi.

Messi é mais habilidoso, é um cara dotado de mais talento e mais capaz de grandes lances, daqueles mágicos em uma partida. Messi é o gênio, CR7 é o inconformado. Treinou, pegou pesado, ralou muito para chegar onde chegou. Assim como Messi, nasceu na pobreza, mas cresceu em um país que não tem 10% da tradição no futebol que o adversário.

Messi sempre jogou no Barcelona, um dos maiores clubes do mundo. CR7 começou no combalido futebol português até chegar ao Manchester United e depois ao Real Madrid. Messi joga numa seleção que quando estreou nela a mesma já era bicampeã do mundo, tinha com sua camisa jogado um dos maiores gênios do esporte chamado Diego Maradona – fora vários outros gênios. Cristiano Ronaldo vestiu a camisa de uma seleção que era tratada como piada.

Argentina striker Lionel Messi (R) shakes hands with Portugal's striker Cristiano Ronaldo (L) ahead of kick off of the international friendly football match between the Argentina and Portugal at Old Trafford in Manchester on November 18, 2014. AFP PHOTO / PAUL ELLIS

Messi pode ser um dos gigantes? Um dos maiores da história? Sim. Mas eu contesto que esteja hoje num top 5 por exemplo. Por mais que faça pela seleção argentina, por mais que seja o maior artilheiro de sua história não ganhou nada pela seleção. Se ele não tivesse existido a seleção argentina teria o mesmo tamanho. Ok, com um vice campeonato mundial a menos, ou não, já que não fez a diferença na copa.

Messi na seleção é um grande jogador, mas um grande jogador como muitos já existiram na Argentina. O que ele joga e fez pela seleção de seu país não justifica que ele seja um dos maores da história. O que fez no Barcelona sim. A história do gigante Barcelona seria menor sem Messi. Mas Messi sempre jogou em grandes times e seleções. Como seria em uma equipe apenas razoável?

Como seria Messi na seleção portuguesa?

Cristiano Ronaldo é um dos grandes da história do Real Madrid. No clube é um de seus maiores artilheiros e ganhou duas UCL. Também ganhou a Champions pelo Manchester United e assim está na história dos dois clubes poderosos. CR7 é grande em clubes. A diferença para o rival que é gigante em sua seleção.

Até surgir CR7 Portugal tinha um terceiro lugar em Copa do Mundo em 1966 e semifinal de Euro em 1984. Depois de seu surgimento final de Euro em 2004, semi em 2012 e quarto lugar no mundial de 2006.

Mas ele fez mais, muito mais e o ápice veio domingo passado.

Nem fez uma Euro inesquecível, pode jogar mais que jogou, mas foi decisivo contra Hungria e País de Gales, dois jogos chaves – se tornando ao lado de Platini o maior artilheiro da história da Euro. Domingo, na grande final, se machucou logo no começo do jogo e aí foi gigante, aí mostrou de vez que é um cara que muda a história.

Não se viu ali o cara vaidoso, arrogante, egocêntrico; muito pelo contrário. Cristiano Ronaldo foi líder, foi companheiro, incentivador, treinador, torcedor, esqueceu a dor e do lado de fora jogou junto com os companheiros sendo fundamental para a conquista histórica. Cristiano Ronaldo mudou o patamar do futebol de Portugal, coisa que Messi não faz.

Cristiano Ronaldo levantou a taça que Messi não levantou.

Deve ganhar a Bola de Ouro pela quarta vez, ficando uma atrás do rival, mas pela primeira vez desde que surgiu essa rivalidade parece que o argentino que agora terá que correr atrás do português. A temporada europeia promete.

Messi continua um gênio em busca de novas conquistas e de ser  maior de todos os tempos.

Só não contava com o fator Cristiano.

Twitter – @aloisiovillar

Facebook – Aloisio Vilar

Imagens: Getty e AFP

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8 Replies to “O Fator Cristiano”

  1. Que maravilha de post. Como é bom ver o contra-corrente poder, também com fatos, explicar/justificar/esclarecer ponto de vista e/ou torcida. Essa rivalidade Messi x CR7 e a vilanização do patrício faz parte do futebol midiático assim como foi o ‘bonzinho’ Niki Lauda contra o ‘quengueiro’ James Hunt na Fórmula 1. E como é irritante a canonização do argentino, bem mais do que a satanização do portuga visto que ñ há santo sem demônio. E neste é muito bom poder comemorar a vitória do ‘mal’. A analogia com os desenhos animados foi perfeita.

  2. Concordo com tudo o que foi dito no texto. O mais legal em CR7 é que ele tem a exata noção do que ele representa para o futebol, da sua importância e status, o que acho que falta ao Messi, que, por outro lado, apesar de jogar numa seleção muito mais forte e tradicional, tem uma sombra enorme e complicada para qualquer jogador em termos de comparação, que é Maradona, um deus na Argentina…

    Enfim, temos muita sorte de poder ver esses dois gênios jogando toda a semana!

  3. Preciso. Penso nessa linha. Messi é mais habilidoso, não tenho dúvida. Cristiano é jogador. No sentido de conhecer o verbo jogar. Jogar vai além de driblar. Como diretor de futebol do meu clube, com poder de compra sobre qualquer jogador do planeta – ou especificamente num duelo entre os dois – escolheria o CR7. No meu clube acho que se encaixaria melhor. Muito embora eu continue achando o Messi um gênio, um fenômeno, um cracaço. Tô falando de carisma para ser idolatrado pela massa. Aí, o Ronaldo luso leva a melhor.

  4. Se o grande Carlos Gil, que esteve na Euro, concorda com uma opinião minha sobre futebol preciso de mais nada rs grande abraço

  5. Aloisio, perfeita análise. Particularmente, por laços familiares, sou totalmente parcial ao Cristiano Ronaldo numa disputa contra o Messi. Entretanto, quando a discussão foge da esfera da galhofa tenho que assumir que o Messi é um baita de um craque. Um dos melhores de todos os tempos.

    O que nunca entendi é a implicância desproporcional que as pessoas tem com o CR7. A maioria das críticas são rasas e imprecisas, do tipo “ele só joga para ele” ou “prefere ficar se olhando no telão”, ações estas que não o traduzem há pelo menos 10 anos. O CR7 de 2016 é um jogador completo, totalmente diferente do menino de 2006 que ainda se deslumbrava com a fama.

    Infelizmente essa implicância não fica somente no campo dos torcedores. Basta reparar que nas eleições da Bola de Ouro da FIFA que os anos que o CR7 ganhou, ele foi MUITO superior ao Messi. E mesmo assim ganhou por coisa de 30 ou 40 votos (de um universo de 606).

    Já nos anos que ambos jogaram em nível semelhante o argentino ganhou por mais de 100 votos. O próprio mundo do futebol não consegue avaliar com imparcialidade.

  6. Pq a recusa em admitir que o CR não joga grande coisa na seleção portuguesa? Sua entusiasmada (e entusiasmante!) atuação no banco na final não mascara isso. Seus gols decisivos podem ser equiparados a gols decisivos do Messi na última Copa.

    Mas ambos não rendem na seleção de seus países o que se espera deles.

    E o título não apaga isso.

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