O futebol é o esporte mais popular do Planeta; os Jogos Olímpicos, o maior evento esportivo do globo. A combinação entre esses dois fenômenos tinha tudo para ser próspera, mas, ao longo dos anos, um passou a ser uma espécie de ameaça para o outro.

O mundo da bola, por temer que o evento olímpico pudesse competir em importância com a Copa do Mundo, a galinha dos ovos de ouro da Fifa. O mundo dos esportes olímpicos, pelo receio de que as outras competições entrassem em caráter secundário para a mídia, ofuscadas pelas grandes estrelas dos gramados.

Apesar das diferentes saídas, convenientes aos dois lados, para que o torneio de futebol olímpico fosse coadjuvante nos dois universos, sua tradição permanece. Foi nos Jogos de 1900, em Paris, que, pela primeira vez, foi realizado um Campeonato entre Seleções.

Quatro anos antes da fundação da Fifa, times amadores representaram Grã-Bretanha, França e Bélgica em uma disputa de exibição (que, mais tarde, ganharia caráter oficial para o COI), com os britânicos levando a melhor. Em St. Louis, 1904, o Canadá levou a melhor ante dois times dos Estados Unidos.

A competição só entrou de vez para os Jogos Olímpicos em 1908. Em Londres, nova vitória da Grã-Bretanha, a exemplo do que aconteceria em 1912, em Estocolmo. Em 1920, já com grande importância dentro do cenário internacional, ocorreu a primeira grande polêmica.

Na disputa da medalha de ouro, a Tchecoslováquia se sentiu tão prejudicada pela arbitragem e pelo clima bélico em Antuérpia, que se retirou de campo e deu a vitória à anfitriã Bélgica.

441-426 Juan Piriz, A. Gestido en H. Scarone van Urugay na winnen replay Olymp. voetbalfinale. Amsterdam 1928

A força latino-americana, até hoje presente na disputa, começou a aparecer em Paris, nos Jogos de 1924. A máquina uruguaia venceu cinco jogos marcando 20 gols e sofrendo apenas dois. Faturou um ouro que, assim como o de 1928, em Amsterdã, estampa até hoje o seu símbolo oficial, garantindo ainda o apelido de “Celeste Olímpica” e o posto de maior potência do futebol mundial.

Nomes da equipe que conquistou o bicampeonato na Holanda, como Nasazzi, Fernandéz, Gestido, Pedro Cea e Scarone – autor do gol da vitória sobre a Argentina na partida de desempate – formaram a base da equipe campeã (em casa) do primeiro mundial, também sobre os argentinos, dois anos mais tarde.

Com o surgimento de um Mundial de futebol, a perda de importância da reunião sonhada pelo Barão de Coubertin foi imediata. Já a partir de 1936, em Berlim, a participação de atletas profissionais foi vetada. Neste ano, aliás, o Peru conseguiu uma vitória expressiva sobre a Áustria nas quartas de final, mas a Fifa aceitou a alegação austríaca de que a invasão de campo da torcida peruana (quando o selecionado sul-americano anotou 4 a 2 a um minuto do fim) impediu o término da partida.

Foi, assim, convocado um novo encontro, mas o time peruano não compareceu. Os europeus avançaram, mas perderam o ouro para a Itália, que dois anos antes havia vencido a Copa do Mundo dentro de casa e dois anos mais tarde repetiria o feito em terras francesas.

A II Segunda Guerra Mundial criou uma lacuna de 12 anos na história olímpica e provocou ainda uma reorganização na geopolítica mundial que afetou diretamente o futebol. No contexto da Guerra Fria, começaram a emergir potencias do lado comunista através do “amadorismo de fachada” – vários dos jogadores das Seleções da “cortina de ferro”, apesar de competirem como profissionais, não o eram de fato, podendo assim participar dos Jogos, tendo maior facilidade contra times amadores ou de categorias menores dos países ocidentais.

urssA Iugoslávia, por exemplo, conquistou quatro medalhas seguidas: perdeu o ouro para a Suécia (Londres, 1948), Hungria (Helsinque, 1952) e para a própria União Soviética (Melbourne, 1956) até vencer a Dinamarca e faturar seu primeiro ouro em 1960, em Roma.

O amadorismo, no entanto, não impediu o desfile de grandes craques pelos campos olímpicos. Um deles foi Ferenc Puskas, que, ao lado de outros grandes jogadores como Czibor e Kocsis, comandou os húngaros em Helsinque dois anos antes de brilhar na Copa da Suíça. Quatro anos mais tarde, os soviéticos venceram com Lev Yashin guardando a meta.

O ano de 1952 também marcou a estreia da Seleção Brasileira. Dois anos após a decepção do Maracanazzo, o time brasileiro chegou às quartas de final após eliminar Holanda e Luxemburgo. Perdeu para a Alemanha, mas, daquele time, saíram nomes como Zózimo e Vavá, que fariam parte do elenco do título mundial de 1958, na Suécia. Já em 1960, em um grupo com quatro times onde só o primeiro avançava às semifinais, o Brasil foi precocemente eliminado.

Dois anos antes de sua última boa participação em Mundiais, a Hungria conquistou a medalha de ouro nos Jogos de Tóquio, em 1964, e faturou o bi na Cidade do México, em 1968. O Brasil, mesmo com um formato mais acessível (com dois classificados por grupo em sistema, aliás, adotado até hoje), naufragou logo na primeira fase nas duas edições.

brasil-munique-1972O mesmo aconteceria em 1972, com um time que já contava com Paulo Roberto Falcão – mas sem Zico, cortado antes da convocação final. Em Munique, venceu a Polônia, que tinha no banco de reservas Gregorsz Lato, futuro artilheiro do Mundial realizado dois anos depois, também na Alemanha Ocidental.

A propósito, foi nessa edição que houve pela primeira vez a distinção entre os dois lados do país bávaro. Até 1968, os alemães competiam com o nome de “Alemanha Unificada”. Mesmo em casa, o lado ocidental acabou superado pelos orientais, que dividiram o bronze com a União Soviética.

Os orientais, até como reflexo do malabarismo geopolítico mencionado anteriormente, tiveram um sucesso bem maior que o lado capitalista dos germânicos. Tanto que é do lado de lá do muro que veio a única medalha de ouro dos alemães: foi em 1976, nos Jogos de Montreal, com a vitória em um pódio integralmente da Europa Oriental: a prata ficou com a Polônia e o bronze com a União Soviética. Foi nesses Jogos, inclusive, que o Brasil chegou pela primeira vez perto de uma medalha.

O Brasil se classificou em primeiro após empatar com a futura campeã e vencer a Espanha, passou por Israel e chegou à uma inédita semifinal. Ficou sem medalha ao perder para a Polônia e para a União Soviética. O escrete brasileiro era promissor, com nomes que mais tarde brilhariam no futebol brasileiro, como o goleiro Carlos e o meio-campo Junior, que começou no banco de reservas e virou titular no mata-mata.

Se o período da Guerra Fria já era naturalmente pródigo ao mundo comunista, mais ainda foi nos Jogos de Moscou, em 1980, quando ocorreu o boicote de potências ocidentais. O resultado foi um torneio de baixo nível técnico, que contou com Seleções então inexpressivas como Venezuela, Colômbia, Cuba, Iraque, Síria, Kuwait e Costa Rica.

A ausência de times fortes, especialmente entre os americanos (os três primeiros colocados do Sul-Americano Sub-20 de 1979, Uruguai, Argentina e Paraguai, não participaram) abriu caminho para que Tchecoslováquia, Alemanha Oriental e União Soviética subissem ao pódio, com a Iugoslávia em quarto.

Amanhã, a segunda parte.

Imagens: Placar e Esporte Interativo

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