Obs: para uma explicação do procedimento das prévias americanas e de alguns termos técnicos usados nesta coluna, leia a coluna explicativa

Ontem, cinco estados do nordeste americano votaram juntos em ambos os partidos naquele que foi o último dia de grande distribuição de delegados antes do dia final, em 7 de junho. Com a quantidade de delegados distribuídos e os resultados indicados, tivemos muitas definições – e o pontapé inicial daquele que deve ser o embate presidencial em novembro.

Partido Democrata

Agora já dá para assegurar: Hillary Clinton será a candidata a presidente dos Estados Unidos pelo Partido Democrata.

Hillary teve duas vitórias expressivas nos dois estados mais ricos em delegados na noite: 55,5% x 43,5% na Pennsylvania e 63% x 33% em Maryland. Clinton ainda teve uma terceira vitória expressiva no pequeno Delaware: 60% x 40%.

Para Sanders sobrou apenas uma derrota mais apertada do que esperado em Connecticut: 51,5% x 46,5% e uma única vitória em Rhode Island, o menor estado do dia, por 55% x 43%. Não é coincidência que a única vitória de Sanders tenha vindo no único estado dos cinco em que é permitido aos independentes votarem nas prévias.

bernie-sanders_ap-photo5Com as vitórias no nordeste, a vantagem de Clinton só em delegados “comprometidos” já voltou aos níveis anteriores à varrida de Sanders no oeste: 293. Faltando apenas 10 estados para o fim, não há como Sanders chegar em Clinton, mesmo com a Califórnia ainda em jogo, com as regras obrigatoriamente proporcionais do partido democrata.

Juntando com os “superdelegados” que já demonstraram apoio oficialmente a Clinton, ela já passou da marca dos 2100 delegados, muito próximo dos 2383 necessários para garantir a nomeação.

Sanders ontem anunciou mais uma vez que não abandonará a campanha, mas deixou claro nas entrelinhas que já aceitou a derrota. Ontem ele declarou que continuará na campanha pois acredita que todos os eleitores de todos os estados americanos tem o direito de indicarem quem eles querem que seja o próximo presidente; e que lutará para ganhar o máximo de delegados possíveis que possam lutar por uma “plataforma progressiva” para o partido na Convenção Democrata. Também disse que agora fará uma campanha orientada para a solução de problemas.

Para os bons entendedores, fica a mensagem subliminar que Sanders concedeu a derrota, mas fará tudo o que tiver ao alcance dele para “forçar” a agenda do partido e da candidatura de Hillary mais para os seus ideais “progressistas” (ou “social-democratas” ou outro rótulo que se dê).

No discurso de Clinton, ficou claro que ele já pode se considerar um vitorioso nesse ponto. Os discursos de Hillary estão cada vez mais “puxados para a esquerda”, para além do ponto que Obama já havia puxado nesses 8 anos de presidência.

Clinton, no discurso de ontem, já tinha duas prioridades: a primeira era mostrar aos eleitores de Sanders que entre eles e Clinton há “muito mais coisas que nos une do que nos separa” e a segunda já foi mirar em Trump, que como vocês verão abaixo, deu dois passos para ser o adversário de Clinton.

TioSamMENDIGOAqui, não haverá mais disputa eleitoral, apenas política. As próximas prévias serão apenas “ações de marketing” para não deixar a candidata Clinton sumir na mídia.

Contagem parcial de delegados (estimativa):

  • Clinton –  2157 ( 1655“comprometidos” e 502 Superdelegados)
  • Sanders – 1404 (1362 “comprometidos” e 42 Superdelegados)

Número mágico: 2383

Fonte: blog The Green Papers para os “comprometidos” e CNN para os “não-comprometidos”

Partido Republicano

Na semana em que Cruz e Kasich tornaram público um acordo de “otimização de forças” para juntos tirarem o máximo possível de delegados de Trump, o “showman” tem seu melhor dia desde o início das prévias. Cinco vitórias retumbantes em cinco estados possíveis. A surra foi tão grande que a CNN anunciou as 5 vitórias menos de 1 hora após o fechamento das urnas.

O estado em que Trump teve a menor percentagem foi em Maryland, com 54,5% dos votos. Em Delaware e Rhode Island ele passou da barreira dos 60%. Foi uma vitória mais forte do que qualquer projeção indicava, sendo que todas elas já davam boas vitórias de Trump.

Mesmo com os parâmetros difíceis implantados para tal, Trump conseguiu ficar com todos os delegados de Maryland e Connecticut; além de Delaware, que já era “winner-take-all” por natureza. Em Rhode Island, mesmo tendo uma distribuição proporcional, parece que Trump ficou com 11 dos 19 possíveis (pode ser ainda mais, pois as regras não são claras).

TedCruzWideNa Pennsylvania, mesmo com o detalhe sórdido explicado semana passada, Trump ganhou de norte a sul, de leste a oeste, varrendo todo o território do estado, o que lhe dará ainda mais força para “dobrar” quem pensar em ser rebelde aproveitando a ridícula regra do estado.

Para quem não se lembra da coluna passada, os 54 delegados dos distritos da Pennsylvania são eleitos por eleição direta porém pelas regras do estado eles são eleitos de forma “não-comprometida” ou seja, são livres para votar em quem eles quiserem na Convenção, não importando o resultado da eleição popular. Por isso, eles não são incluídos na conta de Trump, mas na conta dos “não-comprometidos”. Ainda sim, vários dos delegados eleitos diretamente foram indicados pela campanha de Trump e, em uma conta bastante conservadora, ele deverá receber ao menos metade desses 54 delegados.

Como Cruz e Kasich não conseguem mais matematicamente chegar aos 1237 delegados necessários, os únicos números que importam no Partido Republicano no momento são a quantidade de delegados de Trump e quanto falta para ele chegar aos 1237. Cruz e Kasich nem miram mais em ganhar delegados, mas apenas em impedir Trump de conquistá-los.

Tal fato ficou patente no acordo tornado público, onde Kasich não fará campanha em Indiana, para deixar Cruz sozinho lá contra Trump; e, em compensação, Kasich investirá maciçamente no New México, onde Cruz não fará campanha e não deve ter maiores chances.

Voltando aos números que importam, após a noite de ontem, sem contar os 54 distritais da Pennsylvania Trump tem 957 delegados. Logo, faltam para ele 280 delegados, sendo que ainda há 528 delegados por distribuir nos 10 estados que faltam, ou seja 53% dos delegados.

Tendo apenas 10 estados as possibilidades ficam mais visíveis. Desses 10 estados, um deles é New Jersey, no qual a regra é winner-take-all e Trump é amplo favorito. Seriam 51 delegados a mais para Trump. Em West Virginia, Trump tem uma vantagem gigante e deve levar todos os distritos, ganhando todos os 34 delegados do estado.

trump2Ou seja, já somando esses delegados, faltariam apenas 195 delegados para Trump. Ainda há no dia 7 de junho a Califórnia com enormes 172 delegados; a última pesquisa da Fox News indica 50% dos votos para Trump. Aqui o cálculo fica mais complicado porque a Califórnia é “winner-take-all” por distrito e são 57 distritos totalmente diferentes entre si. Como não temos nenhuma pesquisa regionalizada, fica difícil sabermos como está a situação em cada um dos 57 distritos, logo difícil de saber quantos delegados Trump ganhará lá.

Mas não é absurdo dizer que Trump conseguiria 70% dos delegados, já que ele tem 50% dos votos em uma disputa com 3 candidatos. 70% de 172 são 120. Ou seja, faltariam apenas 75 delegados para Trump atingir o número mágico de 1237.

Lembrando que nessa conta eu sequer não coloquei nenhum delegado “não-comprometido”, que com os 54 da PennSylvania, hoje já somam 82 delegados e devem ir em sua maioria para Trump.

Resumindo: a situação de Cruz e Kasich é muito difícil para bloquear Trump. Não há a menor margem de erro e eles precisam ganhar todos os estados que não sejam os 3 acima supracitados. É uma missão muito difícil e por isso Trump já começa a ser considerado o candidato do partido republicano.

Trump não perdeu tempo e no discurso da vitória de terça já “soltou os cachorros” em cima de Hillary, dizendo que ela é horrível e se fosse homem não teria sequer 5% dos votos, já que a “cartada de ser mulher” é a única que ela tem. O ataque mais uma vez foi mal recebido pela mídia e, se está dando certo para o público interno do partido, poderá afugentar muitos independentes.

Clinton alias que também já ganhou seu apelido de Trump. Se Ted Cruz era o “Lying Ted” (Ted Mentiroso), Clinton é “Crooked Hillary”(Hillary desonesta, torta).

eua_extrema-pobrezaMas Trump quebrou todas as regras da política e não sofreu por isso, pelo contrário. Por isso é imprevisível saber como o público reagirá a esse “”showman” presidenciável.

Próximas prévias

Partido Democrata

Dia 3/5 – Indiana (83 delegados, proporcional)

Dia 7/5 – Guam (7 delegados, proporcional)

Como já disse acima, no Partido Democrata, agora as prévias são apenas para cumprir tabela. O mais importante para se ver nos próximos dias é se Sanders finalmente parará de fazer ataques diretos a Clinton e passe a apoiar o partido nas eleições gerais. Trump ontem já começou a usar os ataques de Sanders contra Hillary para ajudar em sua narrativa depreciativa de sua provável rival e isso deve estimular Sanders a pisar no freio e fazer apenas discursos “propositivos”.

Partido Republicano

Dia 3/5 – Indiana (57 delegados, “winner-take-all” por distrito)

Indiana será o primeiro “matar ou morrer” de uma série deles que virá no caminho de Cruz e Kasich, caso eles queiram realmente impedir Trump de chegar aos 1237 delegados. O estado tem uma fórmula bastante desbalanceada para distribuição dos delegados. O vencedor em cada um dos 9 distritos do estado, ganha 3 delegados por distrito. Porém os 30 delegados que sobram são entregues inteiros para o candidato que obteve mais votos no estado inteiro.

Em todos os modelos matemáticos desde o início da disputa Indiana não seria uma vitória de Trump, sendo mais provável ser uma vitória de Cruz, até porque o perfil do estado é muito favorável a ele. Caso Trump ganhe serão, pelo menos, 30 delegados que ninguém colocava na conta de Trump e aí a contra rumo aos 1237 ficará bastante facilitada.

Mesmo que Cruz consiga ganhar Indiana, ele precisa negar a vitória de Trump em todos os distritos possíveis. Como já demonstrei acima, a margem de erro para a dupla Cruz/Kasich é muito estreita e todo delegado se torna fundamental para a matemática dos dois.

O grande problema disso tudo é que tanto a pesquisa da CBS como a da FOX nessa semana indicaram um liderança de 40% x 35% para Trump…

Mesmo que Cruz ganhe em Indiana, os dois enfrentarão outro estado “matar ou morrer” logo na semana seguinte no Nebraska, dia 10. Depois de ontem, todos os analistas políticos já estão reservando boa parte de seu tempo para analisar a disputa de novembro entre Trump e Clinton.

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