Depois de uma análise do Partido Democrata antes das eleições americanas, chegou o momento de conferir como estão as coisas no Partido Republicano.

Partido Republicano

Mais uma vez tivemos um “Show de Trump”: foram sete vitórias em 11 estados, o que o catapultou ainda mais na contagem de delegados. Tais vitórias foram em estados bastante diferentes entre si como Alabama, Virgínia e Massachusetts, mostrando que sua candidatura tem apelo com republicanos de diferentes regiões e perfis.

O único motivo de esperança para seus adversários é que apesar das sete vitórias, ainda não foi dessa vez que Trump conseguiu romper a barreira psicológica dos 50%. O estado no qual ele chegou mais próximo, vejam só, foi Massachusetts, com 49,3%. Depois aparece Alabama, com 43%.

Um fato interessante é que os resultados de Massachusetts e Vermont mostram que os estados republicanos mais moderados estão bastante relutantes em apoiar Marco Rubio, vendido como a opção moderada mais viável do partido. Alias, Rubio foi o grande perdedor do dia, como veremos mais abaixo.

Além de Trump ter saído vitorioso em ambos estados, respectivamente, com 48% e 33%, o segundo lugar ficou com John Kasich, que corre por fora e ainda não obteve resultados realmente expressivos. Em Vermont Kasich teve seu melhor desempenho até aqui com 30%, disputando a vitória acirradamente contra Trump.

Os outros estados nos quais Trump ganhou foram Arkansas, Georgia e Tennessee. Esses três estados, além de Alabama, foram derrotas ruins para o ultraconservador Ted Cruz, pois são estados pertencentes ao “cinto da bíblia”, com alta concentração de eleitores republicanos evangélicos, o que deveria favorece-lo por causa de sua grande ligação pessoal e política com tal ramo religioso.

Em quatro dos outros cinco estados no qual Trump não ganhou, ele foi o segundo colocado. Como alguns estados exigem uma porcentagem mínima de votação, seja no geral ou em cada distrito congressional, para que o candidato possa receber delegados, Trump foi o único candidato a receber delegados em todos os 12 estados do dia.

De qualquer forma, se alguém dentro do Partido Republicano que não se chame Donald John Trump pode se considerar vitorioso na Super-Terça, essa pessoa é justamente Cruz.

Cruz garantiu uma boa vitória no Texas, estado pelo qual ele é senador, com 44% contra apenas 27% de Trump. Como o Texas é o 2º estado com mais delegados no partido Republicano, são 155, Cruz abocanhou 102 desses delegados, fazendo com que Trump não se distanciasse muito em números de delegados mesmo com suas sete vitórias.

Além do Texas, Cruz ganhou no estado vizinho de Oklahoma e no longínquo estado do Alaska, com 34% e 36%, respectivamente.

Com o resultado do Texas, Cruz hoje tem “apenas” 102 delegados de desvantagem para Trump. Como ainda existem muitos estados com a regra “vencedor leva tudo” (“winner-take-all”) na agenda futura, essa é uma distância capturável para o senador texano.

O grande problema é que a maior parte dos estados do “cinto da bíblia”, sua região mais forte, já tiveram suas prévias e os estados “winner-take-all” remanescentes não são estados inicialmente favoráveis a Cruz. No máximo, a pequena South Dakota.

Com os resultados da Super Terça, Cruz se firmou como o único candidato com chances reais de ter mais delegados que Trump. Porém os líderes do partido republicano seguem bastante receosos de se juntarem ao membro do “aloprado” TEA Party apenas com o intuito de derrotar Trump. 1º porque duvidam de sua força em estados chaves futuros, 2º porque duvidam de suas reais chances em uma eleição presidencial e 3º porque eles tem medo da facção do TEA Party acabar controlando o partido ao ter a presidência em suas mãos.

Justamente pela matemática de delegados, a Super-Terça foi ainda mais desastrosa para Marco Rubio do que os péssimos números eleitorais dele já fazem supor. Apesar de finalmente conseguir sua primeira vitória em toda campanha, com um magro 36,5% em Minnesota, Rubio teve resultados ruins em Massachusetts e Vermont, já que potenciais votos seus foram para Kasich, e ele sequer foi capaz de ultrapassar em alguns estados a porcentagem mínima para o recebimento de delegados. Entre esses estados está justamente o “mamute” Texas.

Resultado: Rubio acabou ficando com pífios três delegados dos 155, sobra de raros distritos nos quais Trump e Cruz dividiram votos e na imbricada regra do estado acabou sobrando 1 delegado para Rubio em cada distrito. Além do Texas, Rubio não ultrapassou o patamar mínimo em Alabama e Vermont.

Para piorar a situação de Rubio, fora Minnesota, ele terminou atrás de Trump em todos os estados e o único estado no qual ele realmente disputou uma possível vitória foi na Virgínia, onde ele perdeu para Trump por apertados 35% a 32%. Aqui é possível que sua vitória tenha sido detida pelos 9% de votos obtidos por Kasich, que provavelmente iriam para Rubio caso Kasich houvesse desistido da disputa.

No fim das contas, para Rubio ficou uma diferença negativa gigante de 226 delegados para Trump e 124 para Cruz. Ele ainda confia, com razão até, em boas vitórias na Flórida, seu estado-natal pelo qual ele é senador, e em Ohio no dia 15 para voltar a ter uma quantidade de delegados competitiva, já que ambos os estados adotam a regra “winner-take-all”.

Só que a Flórida tem 99 delegados e Ohio, 63. Mesmo ganhando esses dois estados, partindo do quase impossível pressuposto que Trump fique zerado até lá, ainda faltarão 64 delegados para igualar Trump.

A noite foi tão ruim para Rubio que até a vitória em Ohio ficou difícil para ele após a Super-Terça. Persistente com sua candidatura e esperançoso após a boa votação em Vermont e o 2º lugar em Massachusetts, Kasich não abandonou a disputa como era esperado ontem e seguirá, no mínimo, até o dia 15 onde ele é o favorito para ganhar Ohio, estado que ele governa atualmente.

Traduzindo em miúdos, após a Super-terça só restou 3 cenários prováveis para o “estabilishment” que comanda o partido republicano: engolir a candidatura de Trump, se arriscar a apoiar Cruz a contragosto apenas para derrotar Trump ou jogar todas as fichas na loucura de ir para a 1ª convenção quebrada da história americana das primárias gerais. Inimaginável há 2 ou 3 meses, essa opção cada vez mais tem tomado corpo.

Não esqueci da promessa de escrever um post sobre a convenção quebrada caso ela seja provável. Se após os resultados do dia 15 sua possibilidade resistir, farei uma coluna especial explicando a loucura que isso significa e as possíveis (in)consequências de tal acontecimento.

Quanto a Ben Carson, ele colecionou um sem fim de péssimos resultados e se tornou de vez um candidato nanico. Ele já admitiu que não há caminhos para ele chegar a presidência nessas eleições, mas ainda não anunciou a desistência da campanha. Há a expectativa de que ele faça isso em um discurso que proferirá hoje a tarde.

Contagem Parcial de Delegados (estimativa do blog The Green Papers):

  • Trump – 338
  • Cruz – 236
  • Rubio – 112
  • Kasich – 27
  • Carson – 8

Número mágico: 1237

Próximas Prévias

Partido Democrata

Dia 5/03 – Kansas (37 delegados, proporcional)

Louisiana (59 delegados, proporcional)

Nebraska (30 delegados, proporcional)

Dia 6/3 – Maine (30 delegados, proporcional)

Dia 8/3 – Democratas pelo Mundo (17 delegados, proporcional)

Michigan (147 delegados, proporcional)

Mississippi (41 delegados, proporcional)

Nesta semana ainda haverá mais alguns estados nos quais Clinton deve vencer como Kansas, Louisiana e Mississippi, os dois últimos provavelmente por lavada. Por outro lado, o grande prêmio da semana, Michigan, é um daqueles estados onde Sanders precisa ganhar com alguma margem. É um grande estado da zona central, fortemente democrata e em forte crise econômica prolongada, perfeito para o discurso dele. Ainda haverá o Maine, onde ele também tem boas chances de ganhar com boa margem.

Clinton precisa garantir os três estados favoráveis, mas o estado-chave é Michigan. Sanders precisa desesperadamente de uma vitória aqui. Se Clinton ganhar, ficará muito próxima de consolidar sua nomeação. Porém, uma vitória de Sanders, especialmente se tiver alguma margem, pode embaralhar a situação mais uma vez, pois na semana seguinte, dia 15, estarão em jogo três estados pesadíssimos, nos quais Sanders tem chances na teoria: Flórida, Ohio e Illinois.

Partido Republicano

Dia 5/03 – Kansas (40 delegados, proporcional)

Kentucky (46 delegados, proporcional)

Louisiana (46 delegados, proporcional)

Maine (23 delegados, proporcional, mas se alguém conseguir mais que 50% se torna “Winner-take-all”)

Dia 6/3 – Porto Rico (23 delegados, proporcional, mas se alguém conseguir mais que 50% se torna “Winner-take-all”)

Dia 8/3 – Hawaii (19 delegados, proporcional)

Idaho (32 delegados, proporcional, mas se alguém conseguir mais que 50% se torna “Winner-take-all”)

Michigan (59 delegados, proporcional)

Mississippi (40 delegados, proporcional no geral e “winner-take-all” nos distritos)

A rodada da próxima semana não é tão decisiva para os republicanos. Além de não terem muitos delegados em jogo, em todos os estados a distribuição deverá ser proporcional, já que com 5 candidatos é improvável que alguém consiga 50% em algum estado, o que deverá atenuar ainda mais qualquer alteração no quadro de delegados.

O que haverá de mais interessante será ver o desempenho de Cruz nos dois últimos estados do “cinto da bíblia”, Mississippi e Louisiana, especialmente o 1º, que provavelmente é o estado mais radical nas posições religiosas-conservadoras e até raciais. Finalmente ele desbancará Trump nessa região?

A votação em Michigan também poderá dar uma indicação de como está a distribuição dos votos republicanos na região do meio-oeste. Uma vitória em Michigan poderá ser um alento de esperança a Rubio por se juntar a vitória de Minnesota, também nessa região. Também será interessante ver a reação da população latina de Porto Rico a Trump e se Rubio confirmará o favoritismo por lá. É uma vitória importante para não impactar a moral da campanha do senador.

De qualquer forma será apenas uma semana de certo descanso e ajuste de posições rumo ao grande dia 15 no calendário republicano. Nesse dia irão a disputa 5 estados pesados, 4 deles com a regra do “vencedor-leva-tudo”. São eles: Ohio, Flórida, Illinois e Missouri. Esses 4 resultados serão cruciais para saber que caminho as prévias republicanas tomarão.

Esse especial voltará após os resultados do dia 8.