Hoje o quesito é evolução. Um quesito bem menos desastroso em 2016 do que fora em 2015 na pista. Logo, há uma chance menor dos julgadores cometerem injustiças e, com isso, os cadernos ficam mais lógicos. Mas nem todas as escolas foram perfeitas no quesito e por isso ainda podemos ver um problema aqui ou ali.

Módulo 1

Julgadora: Marisa Maline

Notas

  • Estácio – 9.7
  • União da Ilha – 9.9
  • Beija-Flor – 10
  • Grande Rio – 10
  • Mocidade – 9.8
  • Unidos da Tijuca – 10
  • Vila Isabel – 9.9
  • Salgueiro – 10
  • São Clemente – 9.8
  • Portela – 10
  • Imperatriz – 10
  • Mangueira – 9.9

Maline foi uma das julgadoras de conjunto que este ano foram reaproveitadas em evolução, porém teve uma atuação complicada neste ano.

20160207_035633Para começar, apresento a justificativa dada para a União da Ilha: “Desfile alegre com componentes animados e entregues à cadência do samba. O setor dois apresentou-se muito compacto com exceção da bela evolução da ala das baianas. Também as alas 27 e 28 apresentaram-se sem o espaço necessário para a evolução, comprometendo a leveza da expressão corporal.”

Primeiro, duas alas excessivamente compactas são o suficiente para se tirar um décimo inteiro em evolução? Fica a pergunta, especialmente se levarmos em conta a punição do mesmo décimo para a Mangueira por ter aberto, segundo a julgadora, um buraco entre a ala 2 e o carro 1.

Segunda coisa que me chamou a atenção foi o conectivo “também”. Como assim “também”? Até a utilização desta palavra, a julgadora só rasgou elogios a União da Ilha. Qual é o problema que antecede ao também? Só se for a ala das baianas, mas a própria julgadora já tinha dito “bela evolução”, mesmo não compacta.

Ou seja, as alas normais precisam vir soltas, mas a ala das baianas precisa vir compacta? É isso que ela deu a entender nessa justificativa totalmente ilógica. Mais uma vez fica a impressão do “tirei décimo porque quis”.

Continuando, vejamos a justificativa da Mocidade: “A escola apresentou-se com desenvoltura e fluência exceto nas alas 9 e 10 que apresentaram-se desorganizadas. Após a passagem da bateria, ala 16, intercalaram-se momentos de aceleração como nas alas 20 e 21 (o que levou a um pequeno claro entre a ala 21 e o tripé “O Tempo e o Vento”) e nas alas 30, 31 e Grupo Teatral (este muito próximo a ala 31), momentos de lentidão, nas alas 32 e alas consecutivas até a ala 38, perdendo assim a uniformidade na evolução.”

Apesar de um tanto embolado, eu entendi o que a julgadora quis dizer ao final. A evolução da Mocidade realmente foi bastante errática e extremamente lenta. Por 2 ou 3 vezes a escola ficou parada por tempo excessivo, mesmo considerando a longuíssima coreografia da comissão de frente. Nesses casos não tem jeito: se você evolui lento demais no início, correrá no fim e foi exatamente o que ocorreu com a Mocidade, sendo a aceleração brusca perceptível no final da escola já no módulo 1. Desconto corretíssimo.

O problema está na falta de coerência no 10 da Beija-Flor. A Beija-Flor cometeu exatamente o mesmo pecado da Mocidade. Com uma comissão bastante demorada, a escola ficou presa muito tempo na avenida e quando a comissão chegou a apoteose, a escola passou a 6ª marcha e acelerou demais pelo segundo ano consecutivo. Mais uma vez os 4 últimos carros da Beija-Flor passaram em apenas 15 minutos em frente ao módulo 1. Por que o desconto para a Mocidade e o não desconto para a Beija-flor?

20160208_022036Já a justificativa para a Vila Isabel foi incomum. A julgadora descontou em algumas alas os componentes desfilaram “compactados, formando blocos únicos”, exemplificando a ala 6 e a 17, na qual “as primeiras fileiras apresentaram-se muito próximas a alegoria, sem espaço para evoluir”. Não dá para afirmar categoricamente que a justificativa não se encaixa nos pontos de julgamento, mas é muito raro ocorrer esse monólito em uma ala. Eu mesmo não lembro de ter visto nada desse tipo na Vila.

O outro décimo foi por excessiva lentidão na parte final da escola. Talvez a julgadora tenha sido excessivamente rigorosa nesse ponto, mas também não está de todo errada. Também fiquei com a mesma impressão no setor 3. Porém, volto ao ponto da Beija-Flor: desconta isso da Vila e não desconta a Beija-Flor?

Módulo 2

Julgadora: Edileuza Batista de Aleluia

Notas

  • Estácio – 9.7
  • União da Ilha – 9.9
  • Beija-Flor – 10
  • Grande Rio – 10
  • Mocidade – 9.8
  • Unidos da Tijuca – 9.9
  • Vila Isabel – 9.9
  • Salgueiro – 10
  • São Clemente – 9.7
  • Portela – 10
  • Imperatriz – 9.9
  • Mangueira – 10

Outra julgadora que ficou muito tempo em conjunto que fez sua estreia em evolução nesse ano, porém ela claramente trouxe ranços do quesito anterior que prejudicaram seu desempenho e ela fez confusão entre harmonia e evolução em dois momentos – um deles de forma claríssima, injustificável. Ela descontou falta de canto da Unidos da Tijuca e da São Clemente. Como todos já leram na última quinta, canto é avaliado em harmonia, não em evolução. Harmonia é canto e evolução, movimento.

Na Unidos da Tijuca ela ainda explicou o desconto escrevendo que a falta de canto demonstrou falta de empolgação. É uma justificativa, no mínimo, bastante temerária. Do mesmo jeito que se uma escola passar marchando no quartel mas cantando o samba tem que levar dez em harmonia, uma escola muda mas que pula, dança e e se diverte não pode ser punida em evolução. É um erro gravíssimo.

20160209_023351Na São Clemente ela sequer se deu ao trabalho de explicar. Canetou a falta de canto nas alas 02, 04 e 19 e ponto final.

Outra coisa que me incomodou foi o excesso de punição por alas iniciais paradas. Ela escreveu isso para Mocidade e São Clemente e Imperatriz, quando muito provavelmente essas paradas foram ocasionadas por apresentação de comissão de frente e casal e não podem ser descontadas, conforme indicativo claro contido no Manual do Julgador.

Na Mocidade ela justificou que “a partir da ala 7 houve uma aceleração que culminou em vários erros no decorrer de desfile como “passar correndo” e não evoluindo”. Eu digo que é simplesmente impossível a Mocidade ter passado correndo no início do desfile.

Por quê? O desfile da Mocidade foi extremamente lento até mais ou menos a marca de 1 hora de desfile para, aí sim, nos minutos finais correr muito. Mas posso garantir que isso ocorreu muito tempo depois da ala 7 passar no módulo 2 (que é quase colado ao 1). Sem dúvidas Mocidade errou muito em evolução, mas não foram pelos motivos apontados pela julgadora. E dessa vez nem citarei aqui o dez para a Beija-Flor, porque ela simplesmente não escreveu nada sobre a Mocidade após a ala 7.

Finalizando, uma justificativa no mínimo original para a Vila Isabel: “Sabemos que o amor pela escola é grande, mas quem estiver no decorrer do desfile como “apoio” deve se ater a função e não pular e dançar esquecendo os limites que as alas precisavam para evoluírem”.

Apoio não pode pular e dançar? Claro, que pode. Frase infeliz da julgadora, mesmo que dê para entender que a reclamação principal foi o “apoio” ter brincado e esquecido de cumprir sua função. Mas sempre que possível o “apoio” deve cumprir sua função brincando e pulando, afinal é carnaval!

Caderno complicadíssimo dessa julgadora.

Módulo 3

Julgadora: Salete Lisboa

Notas

  • Estácio – 9.7
  • União da Ilha – 9.9
  • Beija-Flor – 10
  • Grande Rio – 10
  • Mocidade – 9.9
  • Unidos da Tijuca – 10
  • Vila Isabel – 9.8
  • Salgueiro – 10
  • São Clemente – 9.8
  • Portela – 10
  • Imperatriz – 10
  • Mangueira – 10

Chegou o momento de comentar aquela julgadora que ninguém esquece. Provavelmente a julgadora mais conhecida de todos. Como sempre digo, o grande problema de Salete nem costumam ser os descontos, mas a falta deles. Ela deixa passar erros homéricos, sem despontuar. Em um ano no qual não teve erros gigantescos (ao menos não tive nenhum informe sobre isso no módulo 3), os problemas também não foram gritantes. Logo, sete notas dez não chega a ser um exagero, mesmo discordando de uma ou outra.

20160208_015702Ainda sim, continuo incomodado com alguns motivos que ela arranja para descontar algumas escolas. Muitas vezes são erros tão pequenos que na minha opinião não chegam ao ponto de ter que tirar um décimo. Esse ano foram dois casos: Ilha e Mocidade.

Ilha: “Há 1 hora e 5 minutos de desfile, ao passar pelo módulo 3, a ala Raízes faltava empolgação e alegria comprometendo sua evolução. Este fato se tornou claro porque contrastou com a Ala Maravilha que desfilou com movimentos sincronizados interagindo com a alegoria de nº5”. Floreios a parte, é sério que um décimo inteiro se foi por causa de uma falta de empolgação (algo por demais subjetivo) de uma mísera ala?

Mocidade: “Aos 54 minutos de desfile a ala das passistas passou correndo, sem evoluir, pelo módulo 3”. A ala das passistas realmente é algo muito importante e ela passar sem sambar não é legal. Mas retirar ponto só por isso? Outra: correria de uma ala só? Ela tropeçou na ala da frente? Ou então foi tapar um buraco aberto a frente? Até a correria ficou mal explicada. Será que não foi simplesmente o efeito sanfona natural do recuo da bateria (quase em frente a esse módulo)?

Ou seja, ainda há muito o que aprimorar aqui.

Módulo 4

Julgadora: Paola Novaes

Notas

  • Estácio – 9.8
  • União da Ilha – 9.9
  • Beija-Flor – 9.9
  • Grande Rio – 9.9
  • Mocidade – 9.8
  • Unidos da Tijuca – 10
  • Vila Isabel – 9.9
  • Salgueiro – 10
  • São Clemente – 9.8
  • Portela – 10
  • Imperatriz – 10
  • Mangueira – 10

Paola fez jus ao seu histórico rigoroso. Foram apenas 5 notas dez em um ano de boas evoluções. Talvez ela pudesse descontar mais décimos de Mocidade e São Clemente. Foram tantos problemas encontrados nas duas escolas que um 9.7 ou 9.6 seria bem aceito.

Também senti falta de qualquer comentário sobre uma aceleração da Beija-Flor, se a aceleração já foi sentida no módulo 1, é difícil não ter ocorrido nada no módulo 4. Mas ela descreveu a correria da Mocidade e não a da Beija-Flor. O décimo descontado da Beija-Flor foi por sucessivos embolamentos de ala (talvez consequências exatamente dessa aceleração).

De resto um excelente caderno, com notas bem justificadas e ponderadas.

Imagens: Arquivo Ouro de Tolo

9 Replies to “Justificando o Injustificável 2016: Evolução”

  1. Ainda acho que o grande problema do julgamento é a falta de treinamento e dedicação dos jurados.A liesa não faz isso adequadamente, e alguns jurados apenas julgam por julgar, o que faz aparecer justificativas estranhas e julgamentos de bandeira.
    Outro ponto é o que é o quesito. Como descrito no anterior, o grande problema da harmonia é como a liesa diz o que é. Oras, o que é harmonia do samba? Na comissão de frente diz que tem que empolgar. Qual a necessidade de a comissão empolgar?
    Com essas coisas fica difícil ter um julgamento no mínimo coerente.

    1. Lucas, concordo plenamente. Essa tem sido a argumentação da Justificando o Injustificável desde o ano passado.

      Só uma pequena correção, a palavra usada no Manual do Julgador em Comissão de Frente não é empolgar, mas impactar.

    1. Rubem,

      Não foram comentados porque as justificativas foram pertinentes ao quesito. Entre vários erros constatados estavam alas emboladas, efeito sanfona de forma excessiva, buracos e falta de vibração em várias alas (isso é altamente subjetivo, mas sendo apontado em várias alas tem que ser descontado mesmo).

      Isso ocorreu mesmo em frente aos módulos? não posso dizer, eu só estava em frente ao módulo 1. Lá eu posso garantir que a julgadora relatou o que realmente ocorreu.

      Mas as justificativas da Estácio estavam pertinentes ao quesito e com a dosimetria correta em relação as outras justificativas.

  2. Vamos todos envelhecer e morrer e Salete Lisboa ainda estará lá julgando o Carnaval.

    Em algumas justificativas pareceu que ela queria um desfile militar todo certinho e disciplinado.

  3. Bom dia Rafael!

    “O setor dois apresentou-se muito compacto com exceção da bela evolução da ala das baianas. Também as alas 27 e 28 apresentaram-se sem o espaço necessário para a evolução”

    Realmente ficou confuso, mas o que ela tentou dizer é que o setor dois inteiro, com exceção da ala das baianas, estava compacto. E TAMBÉM ocorreu esse problema nas alas 27 e 28. O “também” conecta o problema do setor 2 com o problema das alas 27 e 28. As Baianas foram a única ala do setor 2 com bela evolução.

    Pelo menos foi o que eu entendi hahahaah.

    Abração e parabéns pela série, é mto interessante!

  4. Sobre o comentário quanto a nota da BF da Paola Novaes, eu estava próximo ao quarto módulo e posso garantir que a acelerada da escola foi muito nítida após a saída da CF e casal lá naquela área

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