Para encerrar os quesitos convencionados  como “de chão”, chegou a vez do quesito Bateria. Tal quesito já deu discussão ainda no próprio domingo de carnaval, quando saiu a notícia de que um dos julgadores do quesito “não havia comparecido” para julgar.

No caso o julgador em questão era o Fabiano Rocha, sorteado para o módulo 1. O que ocorreu depois já deve ser do conhecimento de todos: alguns dias depois foi revelado que a Beija-Flor teve acesso a uma gravação na qual o julgador se mostrou predisposto a penalizar algumas escolas e outras não, em um esquema de “rodizio” anual.

O caso está sendo investigado pela Polícia Civil.

Então só tivemos três julgadores de bateria para a análise abaixo.

Módulo 2

Julgador: Sergio Naidim

Notas

  • Estácio – 9.9
  • União da Ilha – 10
  • Beija-Flor – 10
  • Grande Rio – 10
  • Mocidade – 9.8
  • Unidos da Tijuca – 10
  • Vila Isabel – 9.9
  • Salgueiro – 10
  • São Clemente – 9.9
  • Portela – 10
  • Imperatriz – 10
  • Mangueira – 9.9

Naidim talvez seja o único julgador que comparece aos ensaios técnicos e nutre um gosto genuíno pelas baterias, porém normalmente reclamo da excessiva quantidade de notas 10 e 9.9 dadas por ele.

Esse ano não foi diferente: sete 10 e quatro 9.9, mas não houve desastres. Posso discordar de uma ou outra nota, mas tudo dentro de uma normalidade subjetiva.

Agora, o que eu não gosto nem em Naidim nem em qualquer julgador do quesito são as justificativas. Especialmente neste quesito incomoda muito o “faltou criatividade”. Simplesmente se escreve isso para duas ou três escolas e tira um décimo de cada sem maiores explicações. Naidim justificou isso na Mocidade e na Mangueira (no último caso foi falta de ousadia na bossa).

Isso sem contar as justificativas mais subjetivas como na São Clemente que “Numa visão comparativa faltou um pouco de ‘pegada’ (intenção) no toque de caixa em cima.”

Em suas considerações finais Naidim foi mais um que disse que o volume da caixa de som na Sapucaí dificulta a audição das baterias e, por consequência, o julgamento das mesmas.

Módulo 3

Julgador: Ary Jayme Cohen

Notas

  • Estácio – 10
  • União da Ilha – 9.9
  • Beija-Flor – 9.9
  • Grande Rio – 10
  • Mocidade – 9.9
  • Unidos da Tijuca – 10
  • Vila Isabel – 9.9
  • Salgueiro – 10
  • São Clemente – 10
  • Portela – 10
  • Imperatriz – 10
  • Mangueira – 10

Cohen é um estreante na posição e foi mais um julgador que distribuiu dez fartamente: 8 em 12 possíveis. As outras 4 notas foram 9,9. Nas 4 justificativas, em todas elas ele se derramou em elogios à bateria para depois alegar em poucas palavras algum motivo qualquer para descontar.

Na Ilha e na Mocidade, a justificativa usada foi a “imprecisão rítmica” nas caixas. Eu sempre fico com um pé atrás nessas justificativas rápidas, pois elas não explicam exatamente qual o problema. Isso aqui ocorreu mais uma vez.

20160208_033035Qual foi exatamente a “imprecisão rítmica”? Alguma caixa “sobrou”? As caixas não acompanharam o resto da bateria? Ficamos sem saber, inclusive as próprias escolas para que possam trabalhar melhor. Na Beija-Flor o décimo retirado pela também já famosa justificativa da “falta de ousadia”.

Apenas na Vila Isabel ele deu maiores detalhes sobre o problema. “O desenho do tamborim provocou desencontro rítmico na primeira do samba com relação as marcações e caixas comprometendo o resultado sonoro final”. Ou seja, Cohen descontou pouco e o pouco que descontou ainda teve justificativas incompletas.

Módulo 4

Julgador: Claudio Luiz Matheus

Notas

  • Estácio – 10
  • União da Ilha – 10
  • Beija-Flor – 9.9
  • Grande Rio – 10
  • Mocidade – 9.9
  • Unidos da Tijuca – 9.9
  • Vila Isabel – 9.9
  • Salgueiro – 10
  • São Clemente – 10
  • Portela – 9.9
  • Imperatriz – 10
  • Mangueira – 10

Para começar, temos mais um julgador que foi farto em distribuir dez – 7 em 12, e todas as outras notas foram 9.9. Junto já com os parcos descontos de Naidim e Cohen e a repetição da maior nota por conta do não julgamento de Rocha, temos um ano em que quase ninguém perdeu ponto em bateria. Foi um quesito praticamente neutro este ano.

Minhas reclamações com Claudio Luiz Matheus continuam as mesmas de vários anos, mesmo que em níveis menores esse ano, até pela falta de muitos décimos descontados: as justificativas são muito curtas e, normalmente, não explicam exatamente o que ocorreu.

Neste ano, dos 5 descontos, dois dos descontos foram pelo batido motivo da “falta de criatividade” porque não apresentou nenhuma bossa, no caso para Beija-Flor e Mocidade. Os outros três descontos ficaram com justificativas incompletas.

20160209_012517Primeiro, a Vila: “‘Embola’ na retomada ao início do samba”. Como assim embola? Quem embola? Não é possível que seja uma “embolada” tão forte a ponto de não se reparar quais naipes embolaram, ou em que parte da bateria isso ocorreu (nos instrumentos leves da frente? Na ‘cozinha’ dos surdos e caixas? Na interação entre os dois?). Fica uma justificativa incompleta, talvez até fique perto da não justificativa.

O mesmo ocorre com a Portela. “No trecho do samba ‘meus filhos vêm me adorar, que tem convenções com naipes em uníssono, alguns naipes atrasaram”. Mesma pergunta: quais naipes atrasaram? Aqui nem há a desculpa da não identificação. Um atraso é facilmente perceptível até para ouvidos de pessoas sem conhecimentos de teoria musical. Então, por que não identificar quais foram os atrasos? Fica até ruim para a escola consertar futuramente o problema.

E a da Unidos da Tijuca? O próprio Mestre Casagrande já reclamou dela publicamente. Matheus escreveu que uma imprecisão dos tamborins causou o efeito “flam” (relativamente famoso para entendidos do assunto). Em que parte do samba isso ocorreu? Foi em toda a passagem da bateria no módulo?

Eu nunca apostaria que a bateria do Mestre Casagrande teria tal falha, ainda mais por uma passada inteira, mas se o julgador disse que percebeu temos que acreditar no julgador, salvo se houver testemunhos de pessoas próximas ao módulo 4 em contrário. Mas em que parte do samba ocorreu o efeito? Por que não ser mais preciso?

Finalizando, repito minha opinião do ano passado de que o quesito bateria precisa de uma mexida geral: seja em critérios de julgamento, seja na forma de se justificar os décimos perdidos, seja própria distribuição de penalidades e, especialmente, na oxigenação do quesito com a introdução de julgadores mais novos.

Dos dois que mencionei no ano passado, Osíres saiu, mas Matheus continuou.

Enquanto isso, temos mais uma vez em bateria uma porcentagem altíssima de notas dez e apenas UMA nota abaixo de 9.9; um 9.8 para a Mocidade dado por Naidim. Esse ano as baterias alcançaram uma porcentagem absurda de 61% de notas máximas, muito maior do que os já altos 44% de 2015.

Mesmo tendo um bom nível geral das baterias, ainda acho uma porcentagem alta demais, especialmente se compararmos com as porcentagens de outros quesitos “de chão”. Mesmo em samba-enredo, com todos os problemas que o permeiam há dois anos e a safra de alto nível deste ano, tivemos 56% de notas máximas. Se compararmos esses números com os quesitos plásticos então, é massacre.

Mais ainda pior do que a quantidade de notas dez no geral é que, somados todos os descontos dos 3 julgadores, temos apenas 15 décimos retirados de todas as escolas somadas; desses 15 décimos dez foram descartados. Assim, temos que apenas 3 escolas perderam décimos no quesito: a Mocidade, a Vila Isabel e a Beija-Flor. As duas primeiras foram as únicas não receberem nenhum dez na apuração e perderam ambas três décimos, enquanto a bateria que ganhou todos os prêmios do carnaval com dois 9,9 perdeu 1 décimo para a escola de Nilópolis.

Algo realmente precisa mudar no quesito.

Obs: 15-10 = 5, mas como Vila e Mocidade não tiraram nenhum dez, a nota repetida pelo julgador que “não-compareceu” foi 9,9. Por isso que apesar de dez décimos descartados, ainda houve 7 décimos realmente perdidos no quesito.

8 Replies to “Justificando o Injustificável 2016: Bateria”

  1. só duas observações :a estácio perdeu ponto e a justificativa, se não me engano, fala de bossa, mas ela passou reto no módulo. é a São clemente deu uma embolada ABSURDA na saída do segundo box e não foi penalizada nem pelo jurado do módulo 3, nem pelo do 4.

    de resto, estou de acordo com tudo!

    1. Eduardo, a Estácio perdeu décimo por variação excesiva de andamento na longa bossa. Se ela passou reto no 2, realmente não faz sentido. Eu não sabia sobre a São Clemente, já que fiquei no setor 3. Fica o registro.

  2. Parecia que estavam lá para serem “bonzinhos”, na medida do possível, e garantirem sua “boquinha”, como disse o jurado afastado. Por via das dúvidas, seria melhor trocar todos.

    Comparando com os outros quesitos, o julgamento deste pode ser considerado, no mínimo, “diferente” e genérico demais.

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