Façam a soma:

Juntem uma presidente incompetente, uma das piores da nossa história, a um governo corrupto, talvez também um dos mais corruptos que já tivemos. A tudo isso, somem uma crise econômica seríssima, pessoas perdendo empregos, custo de vida aumentando. A tudo isso, soma-se uma mídia que nunca foi imparcial, juízes deslumbrados, governistas traidores e uma gigantesca quantia de dinheiro vinda do petróleo e do pré-sal. Está aí uma bela história de ficção política a se comparar com “House of Cards”.

Ou não.

Nunca fui adepto da teoria da conspiração, essa parte tem mais a ver com outra pessoa desse blog. Mas tudo soa muito estranho.

Como falo nos últimos tempos, não tiro a culpa do PT e do governo em nada do que ocorre. O governo é, sim, corrupto, trapalhão e se escora em Lula, o carismático e ainda popular ex-presidente da República, para tentar se salvar. Uma pessoa que parece estar mais enrolada do que o David Luiz enfrentando atacantes adversários.

Mas esse discurso de “união política contra a corrupção” não me convence. Como falei no ano passado em uma coluna aqui, incompetência ainda não é motivo para impeachment e, se fosse, quase nenhum governante brasileiro completaria seu mandato. Está sim acontecendo uma tentativa de golpe de estado no país, isso é muito claro para mim. Querem derrubar uma presidenta legitimamente eleita devido a umas tais “pedaladas fiscais”, que nem foram provadas ainda. A presidenta não é ré de nada, não existe nenhuma investigação sobre ela. Além do mais, saiu uma reportagem essa semana que dezesseis governadores brasileiros também teriam cometido as tais pedaladas.

O povo quer o impeachment não porque ela cometeu pedaladas fiscais, ele nem sabe o que é isso e nem sabe que esse é o motivo da possível abertura de processo. Quer porque roubaram a Petrobras, o governo é corrupto e, principalmente, o país está em crise. O povo sente no bolso o mau momento e ele permite tudo, todos os tipos de roubalheiras, menos que isso afete sua qualidade de vida.

Quem quer sua derrubada sabe disso e se aproveita. Por isso falo que é golpe, porque vai ser uma derrubada de governo política. Vão alegar que com o Collor foi assim também e digo. Foi. Hoje, eu que fui cara pintada, tenho a noção de que assim como todos os outros fui usado para um golpe de estado. Derrubaram Collor por ter um governo impopular desde seu segundo dia de existência quando confiscou a poupança. Aproveitaram sua arrogância, falta de gente para lhe defender e tiraram quando acharam que ele não servia mais. Collor foi absolvido depois no STF e hoje tem muito mais motivos para cassarem o mandato de senador dele do que em 1992.

O que tem então por trás de tudo isso?

Acho estranho que o Aécio esteja recebendo tantas porradas, tantas notícias ruins, tantas delações. Acho não, achava, porque na “teoria da conspiração” que montei isso tem sentido.

O único fio solto nisso tudo ainda, que serve como argumento aos defensores do governo e o restante para pra ouvir é a perseguição a um partido só. Fato que realmente existe. Meu pensamento é que o Aécio vai dançar. Querem derrubar a Dilma, prender o Lula e vão entregar a cabeça do Aécio em uma bandeja de ouro para que ninguém fale que foi apenas contra um partido. Um dos grandes líderes do PSDB iria junto.

Quem ganha com isso? O PSDB não perderia com a queda do seu principal líder hoje?

Nem tanto. O PSDB é um partido rachado. Tem o lado do Aécio e o lado paulista comandado por José Serra e Geraldo Alckmin. A queda de Aécio é a vitória desse grupo. Grupo que já comprometeu apoio ao governo Michel Temer e por isso o PMDB vai desembarcar do governo.

Teia2Temer irá governar com o apoio do PSDB paulista. Serra seria uma espécie de primeiro ministro e assim levariam até 2018. Na minha viagem conspiratória teria o acordo de Temer não tentar a reeleição e assim o PSDB fazer o candidato a presidente com apoio do PMDB. O que Temer e o PMDB ganhariam em troca? O apoio ao governo Temer e força nos bastidores para apenas Dilma ser cassada, não a chapa que provocaria uma nova eleição e dependendo de quando direta ou indireta.

Uma nova eleição deixaria Eduardo Cunha presidente do Brasil até a mesma ocorrer e isso ninguém quer, nem o PMDB. Seria o motivo para o povo não sair das ruas e continuar protestando. Para todos, até para o próprio Cunha, quanto mais escondido ele ficar melhor.

Prendem Lula, derrubam Dilma, se livram do Aécio e assim o povo, feliz, sai das ruas achando que acabou a corrupção. A Lava-Jato vai sumindo aos poucos e em 2019 Serra ou Alckmin é eleito presidente. De repente tendo um Sergio Moro como vice.

Numa segunda hipótese, Sergio Moro presidente tendo apoio do PSDB paulista. Numa terceira, Serra presidente pelo PMDB.

Enfim, tudo nas mãos de José Serra. Um dos poucos políticos não citados em nada. Totalmente absolvido nos escândalos.

Mas o teórico da conspiração acha que Serra faria isso apenas por gostar do poder ou amor ao país? Não se esqueçam que é dele o projeto que permite empresas estrangeiras explorarem o pré-sal. Riqueza brasileira que gera bilhões de reais.

Resumindo, toda essa teia desencadeia em uma coisa. A que move o mundo desde que foi inventado. Dinheiro.

Algumas pessoas ficariam muito ricas. Como ficaram com a Copa e as Olimpíadas. O dinheiro é que move essas pessoas, independentemente de serem de direita ou esquerda.

Loucura? Pode ser. Tô viajando? Pode ser também. Mas a trama da vida real sempre é mais surpreendente do que a da ficção.

Podemos viver em um “House of Serra” e nem sabemos.

O homem por trás da teia.

* A partir de semana que vem “Jogando nas Onze” e “Orun Ayé” entram em recesso. Durante cinco semanas os cinco contos que publiquei no blog de maiores repercussão serão republicados aos sábados e aos domingos as cinco principais colunas. Isso para celebrar meus cinco anos no blog.

* Esqueci semana passada quando contei da minha saída do SRZD de agradecer a Rachel Valença que lamentou minha saída, a única na verdade que fez isso quando teve gente que parecia aliviada. Muito obrigado, Rachel, uma das grandes damas do samba. Conviver com você foi um aprendizado e uma grande alegria.

Twitter – @aloisiovillar

Facebook – Aloisio Villar

2 Replies to “A teia”

  1. Esse é o meu medo: sobrar somente para Lula e Aécio, quando a gente sabe que tem muito mais gente a se livrar – e mais perigosa ainda.

    E ainda assim é capaz do PSDB não ganhar em 2018!!

  2. Não vejo nenhuma “viagem” no seu raciocínio Aloísio, acho ele plenamente válido. Só acrescentaria que, durante o governo Temer, já que Lula, Aécio e Dilma estarão liquidados, os canhões da mídia tucana certamente se voltarão contra Marina Silva, que seria uma ameaça real ao PSDB em 2018, não tanto quanto Lula, mas acho que maior do que Ciro Gomes.

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