Sem querer me meter no trabalho das direções de carnaval mas dando alguns pitacos em relação ao julgamento, levantei alguns dados sobre as notas que determinaram os resultados do desfile do Grupo Especial este ano. Em que quesitos cada escola viu suas chances aumentarem ou diminuírem. Onde podem ou devem investir.

Os comentários seguem a ordem dos desfiles.

Estácio de Sá – Recebeu apenas duas notas 10 em toda a apuração. Ambas em bateria (a terceira foi repetida porque o jurado Fabiano Rocha não compareceu, em episódio fartamente divulgado pela mídia). Encarando o desafio de ser a escola a abrir os desfiles – e o peso ainda maior de ter vindo da Série A – a Estácio deu pinta de que se salvaria até a leitura do quesito Harmonia. Veio Evolução e a derrubou de vez. A Ilha abriu de forma irrecuperável. Não vi esse desastre todo na parte harmônica, no canto e na dança do Leão. E mesmo se tivesse sido descontado em outros quesitos – como enredo – não foi, definitivamente, uma apresentação para rebaixamento.

União da Ilha – Assim como a Estácio, a bateria (ironicamente comandada pelo cria do Estácio, Mestre Ciça) foi responsável pelas únicas notas máximas da tricolor insulana. Como a virada veio em Harmonia e Evolução vale creditar a permanência no Especial ao chão da escola. Aliás, o presidente fez isso numa rede social. Para fazer apresentação que justifique a permanência, no ano que vem a União terá que investir em vários quesitos. Casal, samba enredo (está devendo nos últimos anos), enredo. Na comissão de frente já não conta mais com o coreógrafo Patrick Carvalho.

20160208_003038Beija-Flor – Claramente o Enredo deu início à queda de produção da Deusa. Quatro notas 9,9 (perda de três décimos com o descarte). Particularmente, concordo. Não gostei desde o início da proposta. Mais três décimos perdidos em fantasias devem fazer Laíla e sua turma refletirem. Seria a hora de investir em leveza? A bateria, premiada com o Estandarte de Ouro, levou dois 9,9. Não sei dizer o que houve.

Grande Rio – O samba tão criticado perdeu só um décimo. Justo ou injusto eu acho que a obra não esteve entre os grandes erros da escola. O enredo, esse sim um equívoco, perdeu quatro décimos. O pior quesito da tricolor de Caxias, no entanto, foi Fantasias. Meio ponto ficou pelo caminho e pesou na ausência no Desfile das Campeãs.

20160208_022036Mocidade Independente – Duro verificar mas a Estrela Guia foi a escola que MENOS levou notas máximas este ano. Apenas um 10. Da jurada Beatriz Badejo, de Mestre-Sala e Porta-Bandeira. A “Não Existe Mais Quente” perdeu quatro décimos. O confuso enredo, três. O pior quesito da verde e branco de Padre Miguel foi Evolução. Meio ponto perdido. Um ano para esquecer.

Unidos da Tijuca – O agronegócio não foi engolido pelos jurados. Cidade de Sorriso, louvação aos pesticidas, aviões de agrotóxicos, super milhos transgênicos. Dessa salada pouco saudável ficaram dois décimos pelo caminho. O título foi perdido por apenas um décimo no total. Já sabemos onde a Tijuca deve lamentar a perda do caneco. Ah! sim. O casal (excelente) Rute e Julinho perdeu um décimo (duas notas 9,9, uma descartada).

20160208_033035Vila Isabel – A Vila vem tendo perdas seguidas em sua outrora gloriosa Bateria. Mais uma vez os comandados de Mestre Wallan não garantiram notas máximas para a branco e azul. Apenas uma nota 10 e perda de dois décimos no total. O pior quesito, no entanto, foi Evolução. Quatro décimos perdidos. Discordo frontalmente dessa avaliação dos jurados. Se a Vila pouco ou não pecou foi em evolução.

Salgueiro – Em quesitos de responsabilidade direta de Renato Lage e direção de carnaval está creditada a derrota salgueirense este ano. Em Fantasias apenas uma nota 10 (duas notas 9,9 e um 9,8, descartado). Em Alegorias e Adereços, com o abre-alas apagado, o sonho do título foi pro vinagre de vez. Nenhuma nota 10 e três décimos perdidos. Ainda assim, vale ressaltar, o desenvolvimento maravilhoso do enredo e a categoria de sempre do artista. Acho que se trata muito mais de um percalço ocasional que de uma crise na relação escola-carnavalesco.

20160214_010557São Clemente – A preta e amarela perdeu seis décimos só em samba-enredo. Que sirva de alerta para uma escola que precisa investir na sua ala de compositores, mandar voltar as obras se elas não agradaram, fazer algo. Há anos a São Clemente está na rabeira das pontuações no quesito. A mesma perda, seis décimos, foi notada em Evolução. Concordo. Para mim, a pior evolução do ano no Especial. Não ter um chão forte cobra a conta e este é outro quesito sobre o qual a agremiação de Botafogo precisa se concentrar. O Enredo de Rosa Magalhães rendeu dois 10 e duas notas mais pesadas. Um 9,8 e um 9,7, descartado. Alegorias e Adereços não renderam uma nota máxima sequer. Em compensação, a escola gabaritou Fantasias (o 9,9 foi cortado). Bateria voltou a colaborar com importante pontuação, embora não tenha repetido os 40 do ano passado.

Portela – Muito se falou sobre a questão da comissão de frente ter jogado água na pista e, potencialmente, ter prejudicado o casal. Pois foi em Comissão de Frente a nota mais baixa de todo o desfile da Águia. Um 9,8 descartado pelo regulamento. Mesmo assim, a escola perdeu um décimo no quesito. E mais um em Mestre-Sala e Porta-Bandeira. E um outro em Enredo. Aí estão os décimos que impediram o fim do jejum.

20160209_034457Imperatriz – A dupla Zezé di Camargo e Luciano como fio condutor de um enredo em homenagem ao Brasil sertanejo foi uma proposta que não agradou aos jurados. A GRESIL perdeu dois décimos em enredo (apenas um 10, com um 9,9 cortado). Mestre Lolo ajeitou a bateria, que contribuiu com 30 pontos (foram 40, mas sabemos que só valem três notas). Perdeu dois décimos na Comissão de Frente, coreografada por Deborah Colker, em Fantasias e Mestre-Sala e Porta-Bandeira.

Mangueira – A campeã do carnaval 2016 levou duas notas 9,9 em sua Comissão de Frente, coreografada por Junior Scarpin. As notas vieram nos dois primeiros módulos. Eu estava em frente ao quarto módulo. Ali, o jurado deu o 9,8 descartado. Não consegui identificar nenhum grande erro aparente. A escola ainda levou alguns 9,9 descartados aqui e ali. Mas os dois décimos perdidos pós-descarte se concentraram neste quesito.

Imagens: Arquivo Ouro de Tolo

2 Replies to “Especial – Onde se ganhou e perdeu o Carnaval”

  1. Espero melhoras pra Mocidade. Mas se continuar assim, do ano que vem não passa.

    Estácio subiu injustamente e caiu injustamente. Karma? Justiça com as próprias mãos? Jurados tendenciosos? Vai saber… Não é questão de querer salvar quem subiu, como algumas pessoas dizem, foi apenas uma questão de que ser um sacanagem muito grande.

    A comissão da Portela pareceu desconexa entre si. Poseidon e Homero pareciam elementos separados. Talvez seja por isso que tenha perdido ponto. Já o do Salgueiro pareceu dar um defeito no led de uma das saias. A imagem que aparecia era diferente das outras. Preciso ver de novo pra ter certeza.

    Grande Rio precisa parar de bajular famosos. O enredo ia ser Neymar e o Santos FC, virou a cidade de Santos e, por consequência, uma salada envolvendo futebol e a história da cidade (brevemente).

    Beija-Flor precisa saber perder. Não foi Carnaval para ser campeã. Espero os boatos sobre enredo sejam só boatos, pois se forem verdade será quase certo que repetirão os mesmos erros.

  2. Boas análises Carlos.

    De modo geral, pelo menos para mim, os dois quesitos que mais “prejudicaram” as escolas foram enredo e evolução.

    Talvez seja um sinal para as escolas trabalharem melhor esses quesitos, pois ambos podem ser aperfeiçoados antes do desfile.

    Enredo consegue ser corrigido, refeito e melhor formulado. O carnavalesco e a direção da escola pode avaliar e disponibilizar para avaliações externas a proposta que vai ser apresentada.

    Evolução, a não ser que aconteça uma tragédia na pista (quebra de alegoria por exemplo), pode e deve ser treinado nos ensaios técnicos e nos inúmeros ensaios de quadras.

    O que deve ser levado em conta é o aproveitamento das justificativas, mesmo que não concordem com ela ou achem uma loucura total de um jurado.

    Em parte: Estácio foi injustiçada. Assisto toda hora o desfile dela e não vejo motivos técnicos para o rebaixamento. O que pesou, ao meu ver, foi a questão “politica” e a sina do “sobe-desce”. De cara já espero a Tuiuti no Grupo A em 2018 (infelizmente).

    Sobre a minha escola do coração, a Mocidade, prefiro opinar depois de rever o desfile com muita calma…

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