Segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016. Feliz de quem esteve lá. Uma noite para resgatar a mística de um trio de ferro do carnaval. Uma oportunidade histórica de os jurados coroarem a emoção, o samba, a tradição, a alegria.

vilaisabel2016aPra começar, e começar muito bem, a Vila balançou a roseira. Mostrou que sempre teve um senhor samba-enredo. O casal fez apresentação linda, o conjunto da escola e desenvolvimento do enredo acima do esperado e anunciada crise financeira. Se algumas alegorias, como a da educação, apresentaram certo desnível, o todo da escola foi mais do que satisfatório. Exibição que, a meu ver, poderia (e mais, deveria) brigar por uma vaga nas Campeãs.salgueiro2016h

Em seguida veio o Salgueiro e a falha de iluminação no abre-alas parece ter abatido muito os componentes em seu início. A própria presidente Regina Celi estava visivelmente nervosa à frente da escola. Além disso, um dos elementos cenográficos da comissão de frente, com telas de led, apagou em frente ao quarto módulo (bem na minha frente). A comissão em si eu vi com algumas ressalvas. Agora, Renato Lage continua sendo um mestre em desenvolvimento de enredo. No trecho em que ele traduziu a “filosofia” da malandragem em fantasias foi genial. O morcego doando sangue, o camarão de pijama. Maravilhoso. Do meio pro fim, com muitos componentes que nem sabiam dos percalços do início, a escola se soltou, fez apresentação vibrante. A Furiosa esteve sensacional e o samba, enfim, explodiu num final apoteótico.

Era o prenúncio do que viria pela frente. Mas antes da Portela tinha uma São Clemente no meio do caminho. Uma São Clemente meio murcha, quase que deslocada ali em meio a tantos gigantes. A plástica da Rosa e sua capacidade de pesquisa são um bálsamo da folia. Você vê que tem história ali sendo contada. Pelo enredo, fantasias, alegorias. Pena que logo o carro que trazia a carnavalesca passou apagado. Porém, nos quesitos de chão, a Preta e Amarela me decepcionou muito. Alas praticamente inteiras sem canto ou vibração. O samba não ajudou. Só o bom refrão chamava o público. A se louvar a bateria, que vai se firmando entre as boas baterias do carnaval do Rio, e a divertida comissão de frente. Há desfiles em que você olha para o relógio e se surpreende porque o tempo está acabando. O da São Clemente foi o contrário. As pessoas ao meu redor queriam que o relógio acelerasse para que as três últimas escolas, super aguardadas, pudessem chegar logo. Num grupo tão equilibrado eu não me surpreenderia com um rebaixamento da São Clemente. Embora com todo o talento da carnavalesca e um desfile de bom nível plástico a São Clemente foi, a meu ver, a escola mais fria do ano. Além disso, a evolução beirou o desastroso.

portela2016aBem, tudo o que faltou a uma sobrou à outra. Sapucaí veio abaixo com a Portela. Do início ao fim uma Portela confiante. A cada ala que passava e levantava o povo via-se no rosto do portelense o sorriso mágico de quem sente o momento tão sonhado se aproximando. Carnaval tem dessas coisas. Essa mágica que acontece ali na avenida. E o título da Portela foi, a cada minuto, se tornando mais palpável. Paulo Barros soube dosar o respeito à tradição com seu gosto pela inovação e referências da cultura pop. A tradicionalíssima ala das damas, em azul, foi sucedida por baianas futuristas, de túnel do tempo, lindas. O carro dos dinossauros empolgou. O Gulliver, se não era de beleza ímpar, agradou o público. Enfim, acho que até há possíveis descontos de pontos aqui e ali – a apresentação do casal, infelizmente, foi um tanto limitada pela pista molhada pela comissão de frente. No entanto, a “contaminação” positiva de quesitos pode acontecer. Aquele medo que o jurado talvez tenha de ser rigoroso e acabar tirando um campeonato da escola que sacudiu a avenida. Que assim seja. Porque seria tão bonito ver a Portela premiada dessa vez…imperatriz2016a

Passada a águia, veio a Imperatriz. A abertura até infantil esteticamente me agradou. Foi simpático. A coroa de milho e tudo o mais. Algumas pessoas próximas a mim deram uma boa definição. Estava fofo. Mas ser fofa não basta pra ganhar. Não senti aquele sangue do ano passado. Passou bonita, colorida, dentro da proposta de contar o universo sertanejo. Mestre Lolo deu outro gás à bateria. Mas o que mais me chamou a atenção foi o samba. Não é a primeira vez que um samba maravilhoso da Imperatriz não explode na avenida. Vai ver é hora de a escola repensar suas estratégias de harmonia. Numa escala diferente, a Imperatriz repetiu a São Clemente. Bem no visual, mal no chão. Embora a escola tenha cantado bem mais que a SC. Vai ver a anestesia geral pós-Portela tenha dado efeito colateral na Rainha de Ramos.

mangueira2016cE quando a gente achava que já tinha visto a campeã passar eis que me aparece uma Mangueira espetacular. Olha, esse Leandro Vieira está de parabéns. Que estreia do carnavalesco no Grupo Especial! Comissão e casal em sintonia, energéticos. Samba que poderia ficar tocando ali por horas a fio. Ciganerey à vontade. A Manga sabe como ninguém fazer desfiles em homenagem a personalidades. Que química. Todo o dinheiro gasto estava ali. Não dá para fazer maior? Vamos fazer um pouco menor mas bem feito. E assim foi. Alegorias não eram gigantescas. Estavam na medida possível e justa. Mesmo a falta de verde e rosa em alguns setores foi bem resolvida. E no que depender de canto, evolução e harmonia a gente sabe que a poeira sobe mesmo e o couro come. Uma ESCOLA DE SAMBA maiúscula essa Mangueira. Eu detesto empates. Mas meu coração esse ano ainda não se decidiu e ficaria feliz com Manga e Portela campeãs. Cada uma a seu jeito elas me fizeram entender porque gosto tanto dessa coisa chamada desfile de escola de samba. Elas fizeram gente que nunca tinha pisado ali (alguns no grupo em que estava) ficar arrepiada e jurar que nunca mais deixará de estar presentes na Sapucaí. É isso que a gente leva da vida. É isso que tem que ficar registrado na história. Senhores jurados, é com vocês. Por favor, mostrem pra todo mundo que ainda podemos ter na quarta-feira a mesma sensação que tivemos nessa madrugada de terça. De que ganhou a melhor. Ou as melhores. E o melhor, no carnaval, é sempre aquilo que nos toca a alma. Beija-Flor e Tijuca foram ótimas. Merecem muito voltar no sábado. Mas, este ano, tirando o chapéu para Dona Águia e Dona Manga. E uma piscadinha de olho pro Seu Sal.

Ah!, nas minhas campeãs desfilariam, pela ordem, Vila, Beija, Tijuca, Salgueiro e aí eles se viram e tiram na moeda quem fecha a noite…Eu sei que vou errar um ou dois nomes dessa lista. Mas é a minha lista dos sonhos de um desfile dos sonhos desta segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016.

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