Agora sim dá pra dizer que acabou o Carnaval. Com a passagem das seis primeiras colocadas do Grupo Especial no Desfile das Campeãs, chegou o momento de fazer um balanço do que cada uma fez este ano e o que pinta no horizonte para 2017.

É claro que não se trata de um julgamento definitivo e muita coisa vai mudar até o próximo Carnaval. Mas alguns aspectos já podemos tomar como base:

Estação Primeira de Mangueira

Mal acabou a apuração, a surpreendente campeã do Carnaval já deixou claro que a prioridade é a renovação com Leandro Vieira. Pela vontade demonstrada pelo presidente Chiquinho e pelo próprio carnavalesco, isso deve acontecer. A não ser que haja uma improvável mudança na diretoria após a eleição de abril, a equipe que deu o título à Verde e Rosa seguirá para 2017. Leandro Vieira já disse que trabalha com duas possibilidades de enredo, uma que dialogue com o universo afro-brasileiro e outra que lembre o passado carnavalesco. Dois enredos que têm tudo para dar certo com a força que tem a Mangueira. A conferir.

Unidos da Tijuca

Como o próprio presidente Fernando Horta disse, a escola não depende de Paulo Barros para fazer bons desfiles, o que é a mais pura verdade. Talvez a Tijuca seja hoje a escola mais organizada do Grupo Especial e por isso não deve ter mudanças radicais. Talvez a única questão que poderia ser mexida são os enredos, já que a Azul e Amarelo vem de dois patrocinados. Um enredo mais autoral pode ser a chave para a escola do Borel não passar a ficar com a pecha de ser perfeita na organização mas sem a empatia, aí sim, da época em que Paulo Barros aprontava suas surpresas.

portela2016aPortela

Mesmo após uma sofrida derrota, a Portela imediatamente anunciou a renovação de Paulo Barros, num claro indício de que esse casamento deve continuar por bastante tempo. Foi a melhor medida possível, o que já deixa os torcedores tranquilos e evita um bafafá desnecessário. A Portela hoje está que nem era o Corinthians com a Libertadores: um título que teimava em não sair. Mas o Timão passou a marcar presença constante na competição, e uma hora as coisas encaixaram. É isso que a Portela está fazendo, e precisa continuar: marcar presença entre as primeiras colocadas. Já são dois anos (2014 e 2016) em que o título poderia perfeitamente ter ficado com a Águia. Para quem não comemora título desde 1984, esperar é complicado. Mas uma hora a espera acaba. A eleição de maio deverá manter no poder o atual grupo político.

Acadêmicos do Salgueiro

É uma situação muito parecida com a da Portela, embora com um jejum muito menor de títulos. O Salgueiro está fazendo praticamente tudo certo, e a presidente Regina Celi, ciente disso, também já renovou com toda a equipe. O que falta é entender de uma vez por todas os pequenos erros que a escola vem cometendo na pista para finalmente voltar a levantar um caneco. A escola tem peso, tem comunidade, tem carnavalesco e este ano também teve samba. Ou seja, é preciso manter a pegada, que uma hora a coisa funciona também.

Beija-Flor de Nilópolis

Para os padrões da Deusa da Passarela, o quinto lugar não foi uma grande colocação, apesar de inegavelmente a escola ter feito um bonito desfile. Evidentemente, a Beija-Flor tem uma força descomunal nos quesitos de pista, sabe desfilar para os jurados, e tem, diria eu, a comunidade mais atuante de todo o Carnaval. Talvez por isso, fosse o momento de a escola encontrar um meio-termo entre a tecnicidade do desfile e uma leveza maior nas suas apresentações. Um enredo e um samba que façam o componente nilopolitano brincar o Carnaval e ao mesmo tempo manter o padrão de competitividade. Pela potência que é a Beija-Flor, é algo plenamente possível.

imperatriz2016aImperatriz Leopoldinense

A gloriosa escola da Leopoldina voltou no sábado pela quarta vez consecutiva, o que é elogiável. As opções por Marquinho Art’Samba e Mestre Lolo se revelaram acertadíssimas e precisam ter continuidade. Como qualidade de samba nunca é preocupação lá pelos lados de Ramos, a Gresil tem como missão “pegar na veia” em relação à simbiose enredo/conjunto plástico, o que a escola vem tentando, diga-se, e acertar detalhes nos quesitos de pista. Mas aquela escola apagada da virada da última década para esta já não existe mais. A Imperatriz está de volta na metade de cima da tabela.

Acadêmicos do Grande Rio

Desta vez o confuso enredo sobre Neym…, digo, Santos, não foi suficiente para levar a Tricolor ao Desfile das Campeãs. Até hoje parece que a Grande Rio não se recuperou totalmente do baque do incêndio de 2011, ano em que a escola esperava finalmente ser campeã. Desde então, exceção feita ao agradável desfile sobre Maricá/Maysa, a escola fez apresentações abaixo do que se esperava, mesmo tendo uma comunidade aguerrida e uma bateria das melhores da atualidade. Para evoluir, a Grande Rio precisa acabar com a pecha de escola de artistas e acertar em dois aspectos fundamentais: enredo e samba. Potencial para brigar por títulos, a escola já mostrou que tem.

Segundo a revista Época, está se cogitando um enredo homenageando o roqueiro Mick Jagger.

Unidos de Vila Isabel

Depois do desastre de 2014, que só não foi pior porque os jurados não quiseram, a Vila Isabel vem reagindo gradativamente. Este ano, apostou na força de seu chão e obteve um resultado bem satisfatório, com belíssimo enredo e samba. Sem grandes recursos, Alex de Souza fez um bom trabalho e levou à avenida um desfile com a dignidade que a escola merece. A conferir apenas se a Vila fará mudanças na equipe e se terá como investir mais no barracão para reocupar um lugar que foi cativo dela entre 2006 e 2013, entre as primeiras colocadas.

São Clemente

Hoje dá pra dizer sem medo de errar: a São Clemente é escola de Grupo Especial, não aquela ioiô que fazia figuração e sempre que chegava ao Grupo Especial, caía logo em seguida. A aposta da diretoria na grande Rosa Magalhães se mostrou perfeita e já são dois carnavais de grande qualidade apresentados pela escola de Botafogo. Infelizmente a sonhada vaga no Desfile das Campeãs, que deveria ser dela em 2015, foi perdida por causa de problemas na pista, o que faz parte. A São Clemente não pode esmorecer.

mocidade2016cMocidade Independente de Padre Miguel

A escola parece viver ainda da ressaca pós-Paulo Barros. Em 2015, se esperava muito da Verde e Branco, mas o desfile foi decepcionante e a escola sequer voltou no sábado. Paulo Barros saiu, o enredo chegou a ser definido e depois mudado, e o que se viu na pista este ano foi uma salada. Enredo equivocado, um samba muito aquém das tradições da Mocidade, e um desfile que começou pujante e murchou no fim. É preciso entender o que está acontecendo definitivamente para que o pior não aconteça…

União da Ilha do Governador

Infelizmente a querida escola da Ilha decepcionou seus torcedores com um tema que não deu certo e problemas estéticos causados pela falta de mais recursos. Mas o que é sempre ruim numa escola, e ainda mais numa com perfil jovial como é a Ilha, é quando um samba não cai nas graças. E isso ocorreu desde a escolha do enredo, passando pelas eliminatórias de samba. O próprio presidente Ney Filardi admitiu os problemas e prometeu melhora para 2017. Verdade, presidente, é preciso melhorar…

Paraíso do Tuiuti

A campeã do Acesso, com uma surpreendente vantagem sobre as demais diga-se de passagem, vai precisar mostrar mais do que mostrou na Série A se quiser sonhar em ficar no Especial. O desfile deste ano foi bonito, mas para não ser impiedosamente mandada de volta para baixo, será preciso acertar na mosca em tudo. Vamos aguardar como será a formação da equipe.

8 Replies to “2016 já é história, que venha o próximo Carnaval!”

  1. Boa tarde!

    Prezado Fred Sabino:

    A primeira questão que deixo é sobre a Estácio de Sá, injustamente rebaixada em 2016 e não mencionada em seu (belo) texto.

    No mais, aproveito o espaço para falar da Escola para a qual torço, a Imperatriz Leopoldinense.
    Não há como negar que a difícil tarefa de levá-la de volta às campeãs foi cumprida.
    Os tempos de Escola fria e antipática aos poucos vão ficando para trás.

    O que falta para o título (Opinião)?
    Estética apurada.

    Uma Escola que teve como totens sagrados Arlindo Rodrigues e Rosa Magalhães (Além de passagens muito bem elaboradas de Max Lopes) não pode continuar a pisar na Avenida com incoerências visuais como as que são vistas desde que Cahê Rodrigues a assumiu como carnavalesco.
    Alegorias acopladas incompatíveis, cores destoantes, iluminações desnecessárias, fantasias de gosto duvidoso…

    O componente pode até não saber explicar muito bem este problema, mas o sente quando está fantasiado na Presidente Vargas esperando o desfile começar, e olha à sua volta vendo que “algo não fecha”.

    Acreditando num trabalho em equipe, não vou depositar toda a culpa no carnavalesco.
    É preciso mudar!

    Como adendo, o caso Vila Isabel.
    Acho que fiquei mais feliz e satisfeito com o desfile da Vila do que com a Imperatriz!
    Um enredo denso numa Escola com dificuldades financeiras poderia ser o fim…
    …mas foi lindo, leve, agradável!
    Parabéns à Escola, parabéns a Alex de Souza!

    Que venha 2017!

    Atenciosamente
    Fellipe Barroso

    1. A estética da Imperatriz deixou bastante a desejar, isto é fato. Está se falando da ida do Edson Pereira pra lá, vamos ver.

      1. Tinha ouvido de forma extra-oficial que: 1- Louzada e Pereira seguiriam na Mocidade e 2- a Imperatriz poderia surpreender em um novo anúncio de carnavalesco.

        Ouvi até buxixo falando em um dos da Ilha ou alguém do Acesso. Veremos.

        1. Rodrigo, se for do mesmo alguém do Grupo de Acesso, acredito que tenham grandes chances de ser o Severo Luzardo. Além de já ter passado da hora desse bom carnavalesco estar no Grupo Especial, aparentemente a Imperatriz colaborou um pouco com os dois últimos carnavais do Império Serrano, portanto, não creio que a direção do Império iria criar complicações para a saída de seu carnavalesco… E acho que seria uma boa para a Imperatriz, e péssimo para a escola da Serrinha.

    2. Fellipe, concordo contigo em relação ao rebaixamento da Estácio, e só não escrevi sobre ela porque foquei na escolas do Especial de 2017 mesmo. Abraço

  2. Perfeito, Fred!!

    Em minha opinião, a Mocidade passou mais vergonha este ano do que, por exemplo, em 2009, com o Cebola.

    Naquele ano, a escola não tinha dinheiro, mas o chão a segurou: alguns 10 que mantiveram-na no Especial – sem merecer. Em 2016, nem isso!!

    Foi só um 10 dentre 36 notas!! Vergonha total – e nem em 2013, apesar do resultado, foi tão vexatório assim!! Acho que o que tem que ser feito primeiro é pensar na escola e na comunidade – e alheio ao desfile, aí sim, continuar com o marketing de atrair celebridades durante o ano todo.

    Mas esta segunda parte não pode mais atrapalhar o desfile e era o que acontecia com a Claudia Leitte de rainha de bateria – e vai vir a Anitta; pior ainda. Pelo menos a funkeira abraçou a comunidade, se empenhou em estar nos ensaios e todo mundo gosta dela. Pode ser que dê certo.

    Depois, um enredo autoral; nada de palpite da diretoria nem nada patrocinado. Quem tem que definir o enredo são os carnavalescos da escola. Aí sim, acredito que podemos brigar pra, se não ganhar título ou voltar nas Campeãs, ao menos – e isso é obrigação – honrar os cinco canecos que a escola possui.

    E faz tempo que essa última não é feita, exceção a 2010 e 2014.

    Abraço, Fred!!!

  3. Concordo plenamente no que se refere à Beija-Flor. Está desde 1998 com a estética e a dinâmica de desfile parecidas. Exceção feita a Roberto Carlos, em que foi leve e até brega dentro do esperado. Nem sempre acertou a mão, muitas vezes acertou, mas sempre baseou seu desfile em alegorias grandes, visualmente elaboradas, sambas densos e confiança no chão. Eu tenho vontade de ver uma Beija-Flor diferente. Para mim, essa já está ficando cansativa. No caso da São Clemente acredito que ela está Especial. Mas ainda se agarra muito no fato de que a escola que sobe invariavelmente desce. Espero estar errado mas o rebaixamento mais do que provável do Tuiuti pode, novamente, acomodar algumas escolas. Entre elas, São Clemente e Mocidade. Torço para uma reação da Ilha. Na mosca a avaliação da Grande Rio. Já teve excelentes enredos e sambas. Não mais. E para uma escola que nunca foi campeã tá de brincadeira falar de Mick Jagger?!?! Nada a ver com a cultura brasileira. Além de ser um conhecido pé frio! Paulo Barros ficou com crédito pelo que fez esse ano e pode dar o sonhado título à Portela em breve. Vila fez um desfile pra voltar entre as seis. Pelo menos nos quesitos de pista. Que siga assim. Estácio, apesar de um desenvolvimento de enredo do qual não gostei muito, passou melhor que pelo menos (pelo menos!) quatro escolas: Ilha, Mocidade Grande Rio e São Clemente.

Comments are closed.