Na série sobre os dez melhores sambas das nossas escolas de coração, falarei da Viradouro. A escola briga em 2016 para voltar ao Grupo Especial, de onde saiu em 2015. A escola foi 18 vezes campeã em Niterói. No Rio de Janeiro venceu o Grupo B em 1989 e o Grupo A em 1990 e 2014. Em 1997 foi campeã do Especial.

10 – Bravíssimo – Dercy Gonçalves, o retrato de um povo (1991)

1991 foi o ano da estreia da Viradouro no Grupo Especial do Rio de Janeiro. Depois de três acessos diretos nos grupos de base, a escola de Niterói, enfim, estreava na elite da Marquês de Sapucaí e com um enredo em homenagem à atriz Dercy Gonçalves. Mesmo com 83 anos, Dercy desfilou com os seios à mostra e foi notícia. No seu enterro, em 2008, a bateria da escola esteve presente cantando o samba a pedido de Dercy.

Com o enredo sobre Dercy Gonçalves a caçula do Especial ficou em sétimo e quase foi para o Desfile das Campeãs.

“Mercy, Dercy!”

9 – Anita Garibaldi – Heroína das Sete Magias (1999)

A Viradouro já tinha sido campeã dois anos antes e vinha de uma sequência que empolgava a Sapucaí. Esse samba não levantou o sambódromo como nos anos anteriores, mas trouxe mais uma vez a cara de Joãozinho Trinta. O desfile que tinha na heroína Anita Garibaldi o fio condutor de histórias e lendas da Santa Catarina e Laguna, terra natal da revolucionária, foi primoroso e ficou em terceiro lugar. Foi o primeiro ano de mestre Ciça à frente da bateria da Viradouro.

Assim como o samba de 1991, coloco o de 1999 pela representatividade da mulher que foi enredo. A história do Brasil esconde alguns detalhes sobre nossos heróis. Aprendemos muito pouco nas escolas sobre as revoluções que tiveram no país e sobre esses que tentaram mudar o país em seus diversos momentos e Anita é bem esquecida. Uma mulher que não aceitava mais ser humilhada pelo marido que saiu pelos “verdes campos de Santa Catarina” para lutar e lutou aqui no Brasil e na Itália.

“Guerreira, brava loba romana

Heroína que encanta os dois mundos

Hoje o samba te aclama”

8 – Nas veias do Brasil, é a Viradouro em um dia de graça (2015)

A Viradouro voltava ao Grupo Especial após quatro anos no Grupo A. Não houve disputa de samba e a escola resolveu revolucionar de outra forma. Dois sambas de meio de ano de Luiz Carlos da Vila. A letra do samba ficou linda e o meu medo era o longo “Ôôôôôôôôôô” no início do samba. Na avenida não ficou ruim, o que prejudicou foi a forte chuva que afetou o carro de som, o desfile, enfim, prejudicou tudo. O chão frio por abrir o carnaval teve o agravante da chuva, mas o samba chegou a empolgar, mas o desfile não foi bom e acabou prejudicado.

Uma chuva de 9,7 levou a Viradouro de novo para o Grupo A.

“É preciso atitude

De assumir a negritude

Pra ser muito mais Brasil”

7 – E a magia da sorte chegou (1992)

Nem só de alegrias vive o carnaval, infelizmente. Em 1992 a Viradouro tinha tudo para fazer um desfile que brigaria pelo título. O melhor samba, um Max Lopes inspirado, a bateria que empolgou, mas o destino não quis que a Viradouro levantasse o caneco aquele ano.

O enredo que falava sobre os ciganos trazia uma comissão de frente com os três Reis Magos e emocionava a Sapucaí quando uma tragédia aconteceu. Um gerador acabou ocasionando um incêndio no carro que falava sobre a Rússia.

O caos se instaurou, alguns passistas tiveram lesões leves. O corpo de bombeiros teve de entrar pela passarela para apagar o fogo no carro que já estava na praça da Apoteose.

Mesmo com a evolução em frangalhos. Mesmo sem a menor condição emocional de terminar o desfile. Mesmo estourando o tempo… a Viradouro permaneceu no especial e ficou em nono lugar.

“Canta, Viradouro que a sorte é sua”

6 – Pediu pra Pará, parou! Com a Viradouro eu vou pro Círio de Nazaré (2004)

O ano de 2004 merece um texto individual e farei em breve aqui no Ouro de Tolo. O desfile deste ano foi emocionante. O samba que foi uma reedição do samba de 1975 da Unidos de São Carlos chegou a ter uma disputa, mas o presidente Monassa desistiu e reeditou o samba que foi cantado de forma excepcional por Dominguinhos do Estácio, devoto de Nossa Senhora de Nazaré.

Sob fortíssima chuva, o desfile foi um dos mais emocionantes. O início já foi com os fiéis e o cordão do Círio de Nazaré, e logo depois os pagadores de promessas para a santa.

A escola de Niterói brigou pelo título, mas não empolgou no final. A emoção foi maior que a empolgação das arquibancadas.

A Viradouro ficou em quarto lugar e voltou no sábado das campeãs.

Olhai por nós oh! Virgem Santa

Pois precisamos de paz”

5 – A Viradouro vira o jogo (2007)

Que samba, senhoras e senhores! Esse é com certeza o que eu mais gosto de colocar no carro para dirigir ouvindo. Está na quinta colocação porque outros têm mais peso como samba ou até na questão pessoal.

A Viradouro chegava com Paulo Barros, a grande sensação dos últimos três carnavais. O desfile vinha cheio de expectativas. Quando vi que a Viradouro viria com a bateria em cima do carro alegórico que representava o tabuleiro de xadrez, Paulo Barros criou a maior interrogação na minha cabeça até então. Quando a escola entrou com os coringas embaralhando as cartas no Abre-Alas a Sapucaí levantou e a escola saiu com “É campeã”.

Eu tinha certeza que o feito de 1997 se repetiria dez anos depois, mas não foi assim.

A crítica carnavalesca malhou o carnavalesco, a escola ficou só na quinta colocação.

“Sou Viradouro e vou cantar.

Com muito orgulho. Com muito amor.

Esse jogo vai virar.

Eu quero ser o vencedor”

4 – Alabê de Jerusalém – a saga de Ogundana (2016)

Quando participei do Bar Apoteose comentando sobre o samba da Viradouro de 2016, Alex Cardoso me questionou se esse samba era melhor que de 1997. Minha resposta foi que não. E o não é pelo simples fato de que a escola ainda não desfilou e ainda não sabemos como será na avenida. O samba pode ser lindo, mas pode chegar na Sapucaí e não empolgar, o desfile não ser bom e a classificação da escola ser péssima. Lógico que o samba já está feito, mas sabe quando dá aquela sensação no futebol que você tem o craque, mas o resto não ajuda e o time não evoluiu? Então é isso. O samba de 2016 já está no TOP 5, mas pode ficar melhor posicionado.

O samba da parceria de Felipe Filósofo foi uma grande surpresa e é a prova que o samba-enredo é o gênero musical no Brasil mais rico, tanto que uma nova versão foi gravada pelo intérprete Zé Paulo Sierra em formato para ópera e ficou algo inexplicável. Pra mim, é o melhor samba de 2016 de pelo menos os grupos Especial e A, e um samba que já está na história da Viradouro.

“O rei dos reis que conheci que se espanta

e chora com essa guerra santa

que sangra esse planeta azul”

3 – Trevas! Luz! A Explosão do Universo! (1997)

Se o samba de 2016 ainda é o time com craque mas que ainda não ganhou nada, a Seleção de 1982, o samba de 1997 é a Seleção de 1970. Cheio de craques e com o título.

O ano de 1996 foi um desastre para a escola e tentava se recuperar. Joãozinho Trinta prometia uma revolução e para isso e conseguiu.

Além do carnavalesco, a seleção de craques tinha Dominguinhos do Estácio estreando no carro de som e Mestre Jorjão, que deu a grande explosão na Sapucaí. A avenida cantava o samba que não era o melhor, mas que empolgou e nem com uma expressão como ‘big bang’ desanimou.

Histórico não só pelo título, mas por ter contagiado todo o público.

Lá vem a Viradouro aí, meu amor!

É Big-Bang, coisa igual eu nunca vi!

Que esplendor!”

2 – Orfeu, o Negro do Carnaval (1998)

Deixei os dois últimos por escolhas pessoais e que têm muito a ver comigo. O CD do Carnaval de 1998 foi o primeiro do Rio de Janeiro que eu ganhei. Meu pai comprou por causa do samba da Mangueira em homenagem a Chico Buarque, mas eu logo peguei o disco. Não acompanha carnaval e quando vi aquela capa com o abre-alas da Viradouro de 97 me encantei. O disco tocou e a primeira foi a da Viradouro. No mesmo dia eu já tinha decorado o samba interpretado por Dominguinhos do Estácio.

Foi o primeiro ano que acompanhei o desfile e parei para esperar a atual campeã que defendia o título. Eu não sabia quem era Joãozinho Trinta. Não sabia o que era a Viradouro.  O desfile foi lindo. A Sapucaí levantou igual 1997 e saiu aos gritos de ‘Bicampeã”. Um erro aqui e ali e a escola ficou de fora do pódio e apenas na quinta colocação.

Hoje o amor está no ar

Vai conquistar seu coração

Tristeza não tem fim, felicidade sim

Sou Viradouro, sou paixão”

1 – A Viradouro canta e conta Bibi – Uma homenagem ao teatro brasileiro (2003)

Se em 1998 eu descobri a Viradouro, em 2003 eu me apaixonei pela Viradouro. A poesia do samba em homenagem à atriz Bibi Ferreira me fez encantar e pela primeira vez torcer verdadeiramente por uma escola. O desfile foi lindo e com a homenagem devida à essa grande dama do teatro. Foi o ano que fui atrás e entendi o enredo.

Mais uma vez Dominguinhos do Estácio no carro de som e Mestre Ciça na bateria fizeram muito bonito. A bateria chegou a reverenciar Bibi Ferreira. A escola fez a melhor apresentação do dia de desfile, mas com erros em carros e evolução acabou atrapalhando e a escola ficou na sexta colocação.

“Abram as cortinas

Que o show vai começar”

20 Replies to “TOP 10: Viradouro (por Henrique Brazão)”

  1. De viradourense para viradourense, gostei do TOP-10. Apenas discordo de 2004 (muito por ser samba reeditado de outra escola, claro que o Círio é um clássico!) e 1999 que não acho essa maravilha toda apesar de ser um grande samba

    1. O caso de 2004 é muito mais pessoal. Ainda escreverei um texto explicando o porquê de estar entre os 10.

  2. Lista bem interessante Henrique, gosto bastante da Viradouro, quando comecei a acompanhar Carnaval ela já estava no especial, e sou fã dos sambas do Gustavo Clarão, acho que vem daí minha admiração pela escola.
    Têm outros quatro sambas que para mim também poderiam estar na lista:

    1993 – Amor, Sublime Amor (“Clareia Mãe Oxum, clareia a minha fé…”)
    2000 – Brasil, visões de paraísos e infernos (“Navegando ao oriente, ‘Seu Cabral’, o jardim das delícias, descobriu, ‘Seu’ Caminha escreveu o que ele viu, maravilhas do Brasil…”)
    2002 – Viradouro, Viramundo, Rei do Mundo (“Pra vencer, os grilhões do dia a dia, pra esquecer, a solidão, a agonia…”)
    2005 – A Viradouro é só sorriso! (“Às vezes me entrego por simples prazer, juízo não nego, até posso perder, na Grécia brinquei da maneira que quis, em Roma fiz o povo mais feliz…”)

    Mas aí vai tirar qual dessa sua lista? Complicado…

    Obs: A Viradouro encontrou um excelente intérprete no Zé Paulo, mas para o ano que vem podiam contratar o Dominguinhos para formar uma dupla, sinto muita falta de ouvir aquele grito de guerra “Alô Niterói, alô São Gonçalo, olha a Viradouro chegando!”

  3. Lista muito bacana, Henrique! Mas como sempre tem que ter chatos pra dar pitacos nos rankings alheios, aproveito pra dar o meu: colocaria Amor Sublime Amor e Tereza de Benguela, este pra mim um samba espetacular.

  4. Ninguém gosta dos sambas da Viradouro no Acesso? Acho o que homenageou o Salgueiro muito bom, melhor que muitos que a escola apresentou no Especial (como 2007, do qual não gosto muito, à exceção do bom refrão). Da comunicação também, 2011. E queria conhecer melhor os sambas antigos da escola, de quando disputava em Niterói. Há de haver boas escolhas também.

    1. Gil, o samba que homenageou o Salgueiro estava na primeira lista que fiz do TOP 10. Aí reli e mudei uns dois, mas merece destaque também. Os sambas de Niterói eu confesso que preciso pesquisar mais, mas uns que ouvi são muito bons também.

    2. Caramba, verdade! Acho o samba de 2013 um sambão! O de 2011 também é excelente, adoro principalmente a parte “se até a dor precisa de alguém, eu sem você sou ninguém”. Lindo isso!

      1. Esse verso de 2011 é uma das coisas mais bonitas que já vi em um samba enredo. E tinha outra sequência de versos sensacional:

        “Quando a solidão me abraçou
        Pediu por favor
        Me deixa ficar”

        Eu teria colocado este samba fácil entre os 10 da escola

        1. Verdade Pedro, deixar esse e o de 2013 de fora foi realmente um lapso de minha parte. Acho que é porque ainda não me acostumei com a Viradouro no Acesso, para mim ela é escola de Grupo Especial, e sempre disputando título, foi assim que a conheci…

    3. O samba que homenageia o Salgueiro é muito bom, o problema foi o andamento “preciso tirar o pai da forca” que a bateria imprimiu ao desfile

  5. Sinto muita falta de 3 sambas, Tereza de benguela, comunicação e o de 2000.

    Aliás foi citado o samba de 2004, se o samba do Dominguinhos tivesse ganho a disputa acho que seria top 3, assim como o do arrepio do Gustavo (que depois foi aproveitado pra virar o hino da escola)

        1. Verdade, principalmente pela saída do próprio Gustavo e do Dominguinhos, mas acho que começou mesmo com a morte do José Carlos Monassa, cujas consequências foram péssimas para a escola, só não foram percebidas na época…

          1. Sendo justo, o samba do Gustavo pro Pará tb era ótimo, mas eu preferia o do Dominguinhos… e o Monassa não preferiu nenhum, rs

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