O assunto da semana natalícia foi Chico Buarque. Não, ele não lançou nova música, o que é uma pena. Só quase foi agredido por ter opinião. Não, caro amigo (isso é música dele), não foi em 1969 e não estou fazendo retrospectiva do dito ano. Foi em 2015.

Chico jantava no Leblon e ao sair do restaurante foi confrontado por jovens que lhe xingaram, falaram que defendia bandidos, o mandaram a Paris e a outros lugares que só o pessoal da peça dos macaquinhos curte.

Chico reagiu com fair play e por sorte ficou apenas nisso. Mas filmaram (como tudo é filmado hoje em dia) parou na internet e virou notícia.

Não vou entrar no mérito de Chico Buarque ser um dos maiores artistas que esse país já produziu. De ter um currículo inquestionável de serviços prestados à nossa cultura como compositor, poeta, dramaturgo e escritor. Maior do que qualquer um dos playboys que lhe confrontou. Currículo que dá a ele direito total de requerer a Lei Roaunet.

Esclarecendo outro equívoco reaça: o governo não dá dinheiro, ele aprova o projeto e o artista que corra atrás de empresas para conseguir o dinheiro. Se Chico Buarque não conseguir dinheiro dessa forma, quem nesse país irá? Eu que não.

Entro no mérito de xingarem e ultrajarem um senhor de 71 anos. Sim, Chico já é idoso e tanto faz o idoso ser uma velhinha numa fila de padaria ou Chico Buarque de Hollanda. Um idoso tem que ser respeitado. Não pode ser acuado por uma maioria agressiva apenas por pensar diferente.

Aí entro na outra questão. O Chico pode pensar e falar o que quiser. Vivemos numa democracia. Democracia que ele foi um dos que lutaram para existir. Chico foi censurado, ameaçado, teve de se exilar e garantir sua integridade para o jovem playboy ter direito de lhe xingar na rua.

Não acho que estamos vivendo uma era de ódio e intolerância. Isso não começou agora, os intolerantes simplesmente tomaram coragem de mostrar seu lado torpe e covarde. Estimulados por redes sociais, crise no país, o que for. Principalmente por lideranças de barro.

Gente como Eduardo Cunha, Silas Malafaia, Aécio Neves, Jair Bolsonaro, que nunca fizeram nada pelo país e estimulam o ódio e a intolerância para ganhos pessoais. Assim, os teleguiados seguem e fazem tudo o que o mestre mandar.

Brincadeira perigosa essa que remete a momentos da história que antecederam grandes cagadas. Estudem 1964 que irão perceber.

É intolerância com Chico Buarque, intolerância com o jornalista Bruno Laurence, xingado em um shopping na frente de seu filho de cinco anos apenas porque não torce pelo mesmo time do agressor.

Intolerância que levou uma senhora no Leblon a recriminar um homem que deu um picolé a um menino negro na rua porque esse estava com calor e sede alegando que atos como o do picolé estimulam “esses seres” a ficarem no bairro.

Intolerância… Hipocrisia… Todas essas pessoas estavam na quinta-feira reunidas com a família celebrando Jesus.

Só não percebem que quem ateia o fogo também pode se queimar.

Pai. Afaste de mim esse cálice.

Twitter – @aloisiovillar

Facebook – Aloisio Villar

4 Replies to “Afaste de mim esse cálice”

  1. Realmente concordo que esses senhores nada fazem pelo país, já a Sra. Dilma e cia fazem muito, pois estão levando o Brasil para a bancarrota, com inflação alta, desemprego em massa e falta de crédito no exterior e acobertando as roubalheiras dos cofres público e levando ao caos total.

  2. “De ter um currículo inquestionável de serviços prestados à nossa cultura”
    ERA inquestionável até ele defender a censura às biografias. Passou a ser questionável sim. E ele foi questionado na rua — não ameaçado, tanto que reagiu MUITO bem aos idiotas. Nem censurado. Sim, questionado, inclusive com xingamentos, mas não ameaçado. Pessoas podem ser questionadas — inclusive por idiotas, playboys, quem quer que seja. Democracia é assim. Não pode ser ofendido, claro.

    Sem exageros, por favor. Não precisa.

  3. Parabéns pela coragem de num mundo tão tomado de intolerância ter coragem de expor sua opinião. Cada vez lhe admiro mais. Parabéns!

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